Estava chovendo .Gotículas da chuva fria batiam incessantemente nas janelas de vidro sujas a sua frente. Na mão , uma pequena colher , enquanto uma xícara repousava em cima da pequena cômoda de madeira corrida. O conteúdo quente , esperava por seus lábios , enquanto uma fumacinha preguiçosa deixava seu aroma em cada pequeno canto daquele lugar.

Mais um dia , mais um caso resolvido. Os dias eram sempre assim , passavam rapidamente frente aos seus olhos. Em um calendário preso a parede a suas costas , os dias eram riscados em vermelho , e destacado neles os momentos raros de alegrias.

Jane suspirou. Até quando aguentaria esse tormento interior ? Até quando , conseguiria reunir forças , a fim de continuar sua luta pela busca de Red John ? Em sua mente , os rostos de sua esposa e filha surgiam a cada manhã e a cada anoitecer , e em seu dedo a aliança jazia impecavelmente lustrada e brilhosa. Um eterno símbolo daquilo que teve e perdeu. Olhando do presente , para o passado ; segundos apenas , o separavam da sua triste perda. E , em meio a todo o turbilhão de emoções , um rosto se fixava. O de Teresa Lisbon.

Não poderia a machucar , ou deixar que qualquer outra pessoa fizesse isso. Não era certo. Mas era correto , esconder esse sentimento tão vivente ? Era correto privar ambos , de um momento de pura paixão ?

Mas o que ela diria se ele a pegasse de surpresa ? Era engraçado pensar nas diferentes reações dela. Poderia até imaginar toda a confusão mesclado a aborrecimento naquela face tensa e perfeita. Os olhos verdes assustados , os lábios entreabertos e se negando a se permitir. Essa era a palavra : Se permitir . Lisbon teria que se permitir.

Tomado por uma animação inexplicável, Jane decidiu jogar seu trunfo. Sacou do bolso lateral , seu celular , discando o numero de Lisbon. Quatro toques depois , fora saudado pela voz impaciente de Teresa Lisbon.

– O que foi Jane ? – indagou com a voz baixa.- São duas da manhã. – bufou em aborrecimento.

– Serio ? – indagou sorridente.- Desculpe , não fazia ideia.

– É claro que fazia.- retrucou ela.- Para o seu bem eu espero que seja serio.

– Mas é claro que é ! – disse fingindo aborrecimento.- Quando foi que fiz ao contrario. ?

– Serio Jane ? A essa hora da madrugada ? Não estou com a mínima vontade de citar todas as inúmeras ocasiões.

Patrick Jane sorriu , adorava o humor acido da agente.

– Está certo , você me pegou. Amanhã conversamos , agora vá dormir.- e desligou.

– Espera Jane ! – gritou , tendo como resposta apenas o " Tun tun " ... – Droga , agora não vou conseguir dormir.

Satisfeito Jane , se espreguiçou se acomodando em seu sofá ainda na CBI. Por opção própria , permaneceu no local de trabalho , a fim de conferir alguns arquivos sobre Red John. Porém , quando sentiu a angustia lhe afetar mais fortemente , resolveu guardar os arquivos e preparar um chá. Fora quando a chuva se iniciou , junto com seus pensamentos. Mas agora , a carta estava lançada. Em poucos minutos , teria sua resposta.

Meia hora mais tarde , quando sentia que seus músculos começavam a relaxar em contato com o estofado velho daquele sofá , ouviu passos ligeiros e sons abafados. Com um sorriso no rosto , sentiu o perfume doce de Lisbon alcançar suas narinas como um golpe certeiro , bem no centro de seu peito já muito machucado.

Os passos cessaram , a poucos centímetros do sofá.

– Lisbon ... – sussurrou de olhos fechados. – Não precisava vir até aqui.

– Você sabia que eu viria , golpe baixo Jane ! – ela bufou arrastando uma cadeira e sentando-se nela.

Não iria negar , que além da primitiva curiosidade , uma oportunidade a mais de ver Jane era tentadora. Será que ele desconfiava , que por mais uma noite ela sofria com insônias , com seus pensamentos sempre no loiro ? Sempre pensando sobre o futuro. Sempre , se colocando no futuro incerto do consultor mesmo sem saber se deveria.Se era certo.

– Desculpe .- levantou as pálpebras sentando-se no sofá.- O que eu tenho para falar ... – fitou os olhos curiosos a sua frente.- Espera , fica de pé !

– Por que ? – quis saber.

– Apenas fique de pé. – ordenou com a voz mansa.

– Jane , eu não estou gostando nada disso.- informou ela receosa.- Nem pense em me hipnotizar !

– E por que eu faria isso ? – indagou arqueando ambas as sobrancelhas. Lisbon nada disso , apenas ficou de pé.- Belo pijama.- disse ele sorrindo ao fitar o par de calças e camisa de mangas compridas da agente.- Branco cai bem em você ...

– Jane ! – disse impaciente.

– Certo , desculpe ... – disse colando ambas as mãos uma de cada lado do ombro dela.- Lisbon se assustou com esse gesto.- Apenas relaxe...

– Jane.- disse contrariada. – O que pretende fazer ?

– O que eu deveria ter feito a muito tempo. – disse serio, fazendo Lisbon se preocupar.- Feche os olhos ...

– Não – se recusou sorrindo. – Nem pensar !

– Lisbon , por favor ...- pediu ternamente.

Teresa Lisbon , queria continuar se recusando , mas como poderia ? A voz calma acariciava seus ouvidos , limpando todo o seu ser de todos os sentimentos e ações impuras. A voz acolhedora , fez suas pálpebras pesarem.

Sorrindo , Jane se aproximou , jogando um pouco do seu halito quente em cima de Lisbon , que por sua vez prendeu o ar nos pulmões temerosa. O que ele estava fazendo ? E por que ?

Escorregando uma das mãos até a base da coluna de Lisbon , Jane a trouxe pra mais perto , sentindo toda a rigidez do corpo tenso. Fechando os olhos , aproximou seu rosto do dela , se curvando alguns centímetros devido a diferença de altura. Calmamente , escorregou a mão até mais além do meio das costas , alcançando a cintura , firmando seus dedos ali. A outra mão , escorregou então até o meio das costas dela. Lisbon , não conseguia mais pensar em nada , toda a sua concentração estava direcionada naquele homem esbelto e seus toques calmos e precisos.

Sorrindo , Jane acariciou o pescoço da agente com a ponta do nariz , sentindo o perfume sutil e a maciez daqueles cabelos escuros , rasparem em sua bochecha.

– Jane...- Lisbon sussurrou.

Com isso , finalmente os lábios se tocaram. Fora de inicio , apenas um roçar de lábios desconhecidos e ao mesmo tempo tão conhecidos. Pois , ambos conheciam cada pequeno movimento dos lábios , do parceiro. O contato leve e nada invasivo , fora calmo e sutil , pontuado apenas por leves puxões e beijos castos. Até que Jane se afastou , antes mesmo do contato se estender.

Sem entender nada , Lisbon desviou o olhar , pretendendo manter o máximo de distancia de Jane. O que ele estava pensando ? Por que havia feito isso ? Se sentindo confusa , Teresa Lisbon se abraçou , pensando em o quanto burra havia sido. Estava no escritório da CBI , as 2:45 da madrugada , vestindo seu pijama branco de flanela com um sobretudo marrom por cima.

–Lisbon eu ... – tentou se explicar. O que estava acontecendo ? Que sentimento era aquele ...?

– Não , fique aí ! – avisou erguendo uma das mãos.

Jane suspirou pesadamente , se odiando amargamente por ter cessado o contato com a agente. Nas inúmeras noites , em que se imaginava beijando a morena , achou que uma explosão de luxuria iria tomar conta do seu ser , porém um sentimento mais puro , mais serio inflou todo o seu ser. O ar , estava lhe faltando pois o gosto daqueles lábios não saiam de sua mente , e o calor daquele pequeno corpo junto ao seu era agora um marco inevitável.

– Lisbon , eu ... – passou uma mão pelos cabelos loiros. – Desculpa , eu só estava testando algo , mas como vi que você claramente não estava gostando eu ...

Testando ? Argh ! Como Jane poderia ser tão difícil. Lisbon , estava se sentindo pequena , diminuída , pois sua primeira reação teria que ter sido um soco bem direcionado no belo rosto bronzeado a sua frente. Porém , ao invés disso se abraçou pateticamente , sentindo falta daqueles lábios junto aos seus.

– Eu te odeio Jane ! – disse , caminhando até a porta do escritório.

– Espere ! – ele disse , agarrando o braço da agente , firme entre os dedos.- Me diga o contrario então.

– Eu não gostei ... – respondeu desviando o olhar.

– Nos meus olhos ! – pediu firme , fitando os grandes olhos verdes a sua frente.

– Eu vim até aqui , as 2:00 da madrugada , o que isso parece pra você ? – indagou aborrecida. O calor do corpo do consultor , invadia aos poucos o seu. – Eu sempre , encubro as suas borradas , sempre colocando meu trabalho em risco.- disse fitando os lábios finos e irresistíveis a sua frente. – O que tudo isso parece pra você ?

– Bem , parece que meu charme me salvou inúmeras vezes.- disse sorrindo.

– Ah , eu te odeio ! – gritou puxando seu braço do aperto do consultor. – Me larga Jane !

– Só depois de um beijo decente , aí você escolhe se realmente vai querer ir embora ... – disse , a voz calma e clara.

– Você realmente acha que eu vou aceitar isso ? – indagou zombeteira. – Posso não estar armada , mas ...

– Mas ? – incentivou ele.- Se você realmente , não estivesse gostando já teria me batido.- ele sorriu imaginando a cena.

– Jane , estou falando serio , me larga !

Sem dar ouvidos a agente , Jane pressionou uma das mãos , na cintura de Lisbon , a trazendo mais para perto. Sorriu abertamente , expondo os dentes perolados , antes de beijar os lábios vultuosos com ânsia. Enquanto uma mão repousava na cintura fina , a outra contornava a curva do pescoço , invadindo a vastidão de cabelos negros , sentindo a textura macia e o aroma dançar frente as suas narinas. Os lábios , de ambos se movimentavam sincronizados em uma dança sensual e muito esperada. Lisbon , sentiu o desespero do consultor em invadir o interior da sua boca , dando livre acesso para isso. A língua quente , acariciava a sua , enquanto chupava lentamente ao fazer isso. Sons roucos de puro prazer , escapavam dos lábios femininos , acendendo uma chama a muito adormecida em Jane.

Lisbon , arfava e sentia sua pulsação acelerada com os toques do consultor. Até que , suas próprias ações se tornaram desesperadas. Com ambas as mãos , Lisbon invadiu o paletó de Jane , retirando o mesmo rapidamente. Com as palmas das mãos , sentiu o tórax firme e definido , mesmo oculto pelo terno de três peças – apesar de restar somente duas peças no momento. Sorrindo , ela sentiu os lábios se afastarem calmamente dos seus , diminuindo o ritmo acelerado , depositando beijos castos em todo o seu rosto.

– Ainda me odeia ? – ele indagou em um suspiro , rente ao ouvido da agente.

– Com todas as minhas forças..- respondeu sorrindo , capturando os lábios novamente. – Com todas as minhas forças...