Sequelas escrita por Nightstar


Capítulo 5
Nova hóspede


Notas iniciais do capítulo

Gente, me perdoem a demora em atualizar, mas fazer o quê, minha imaginação andou muito instável nos últimos meses. Além disso, quando finalmente tive alguma, eu acabei tendo que viajar e não pude ecrever...¬¬*

Enfim, aí está o novo capítulo. Eu particularmente não gostei muito do material, mas fiz o melhor que pude. Além disso, eu mudei o número de anos que diferenciam a época dos titãs da época da heroína. Não é mais dezenove, e sim dezessete anos. Uma mudança boba, mas é que para mim fica mais compatível, ok?

Bom, boa leitura. Espero que gostem.



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“E então, ela ficará bem?”

 

“Vai sobreviver...” Ravena respondeu ao líder assim que cruzou as portas da sala. “Ciborgue está terminando o processo lá na enfermaria. Eu já fiz o meu melhor...”

 

“Espero que a recuperação seja breve. Suas feridas me pareceram preocupantes...” Estelar comentou de um canto da sala, onde há pouco brincava com Silkie. Os outros dois apenas acenaram em concordância...

 

... para depois voltar sua atenção a uma série de gemidos e reclamações provindos do sofá.

 

“Ainda com isso, Mutano?” Questionou a empata, indiferente. O outro pressionou ainda mais a pequena bolsa de gelo contra sua cabeça e se virou para encara-la.

 

“É claro! Parece até que minha cabeça foi sapateada pelo Trigon!”

 

“Bem, você não estava se gabando por ter nos poupado o trabalho de derrotar Mamute alguns minutos atrás? Por que mudou de opinião agora?”

 

“Eu tava vendo ao lado positivo da coisa naquela hora, mas agora que as conseqüências estão fazendo efeito...” O metamorfo então afundou mais sua cabeça contra a superfície macia do móvel. A outra titã apenas tentou ignora-lo. Ela havia utilizado seu poder de cura para amenizar as dores do rapaz minutos após o mesmo dar um fim àquela batalha, mas como logo precisou interromper para curar a garota baleada, o processo acabou ficando incompleto.

 

“Atitudes espertas como aquela são difíceis de vir de você, então acho que deveria usar com mais freqüência...”

 

“Desde que Ciborgue crie um equipamento de proteção para aquele cinto, me pague um seguro de vida e me deixe dirigir o Carro-T... talvez eu pense no assunto.” Ele disse com uma dose leve de humor, deixando claro que aquela sugestão estava bem longe de se tornar realidade. “Ugh... quer saber? Acho melhor eu ir pra enfermaria, deve ter algum remédio pra dor de cabeça por lá.”

 

“Aproveite que Ciborgue está lá e pergunte. Da última vez que você pegou um frasco sem sequer ler o que era...”

 

“Tá, tá, eu sei! Não precisa me lembrar disso!” Bufou, caminhando apressado às portas sem perder tempo para vislumbrar a pequena curva no canto dos lábios da jovem empata.

 

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Ciborgue estava na enfermaria analisando os dados que percorriam a tela do computador. Fazia as últimas checagens na situação da nova paciente que repousava em uma das camas, ainda inconsciente. Ao menos as balas já haviam sido retiradas de sua carne, e Ravena também ajudou muito ao curar boa parte dos ferimentos, como o corte razoável na região da nuca.

 

Enfim, ela estava apenas adormecida agora, e a julgar pela força de seus poderes, era uma questão de tempo até que recuperasse os sentidos completamente. Bom, chegando a essa conclusão, Ciborgue começou a ajustar um imobilizador no braço que fora perfurado pelas balas. O membro parecia ainda ter tinha muito que recuperar.

 

Esse trabalho simples foi concluído em poucos minutos, e logo um pequeno alarme soou provindo de um dos computadores da sala. O som roubou a atenção do titã automaticamente. Afinal, esse devia ser o alerta sobre uma informação encontrada no sangue recolhido da adolescente. Então, sem hesitar, Ciborgue se dirigiu ao aparelho e sacou uma estreita folha de papel que saía da impressora.

 

E foi quando leu aquelas informações impressas que ele entendeu o porquê de o alarme ter soado. O computador parecia ter encontrado alguma relação entre o código genético da paciente e um outro no banco de dados, o que de início satisfez o robô. Talvez aquilo significasse que ela se tratava de uma conhecida, e que os titãs somente não a reconheceram no princípio...

 

Mas bastou percorrer as demais informações da folha de papel com o olhar para que o sorriso desaparecesse dos lábios do adolescente, dando lugar a uma expressão confusa e surpresa. O que estava escrito lá lhe soava como um absurdo, ou melhor, um erro do aparelho. E isso o fez lembrar de dar uma revisão nos sistemas da torre depois, o que incluía, sem dúvidas, aquela máquina da enfermaria.

 

Ciborgue até pensou em apresentar os resultados para os outros colegas de equipe, assim poderia mostrar-lhes o quão ridículo era o erro e dividir umas risadas. Mas só não o fez porque, quando foi se dirigir às portas, sentiu algo agarrar bruscamente seu braço direito, fazendo-o liberar uma curta exclamação de surpresa e se virar na direção de quem o segurava.

 

“Não. Faça. Isso.” A voz dela era séria e áspera, dando a impressão de se tratar de uma ameaça.

 

Ciborgue arqueou uma das sobrancelhas diante da inesperada atitude, fitando por um momento o par de olhos irritadiços que se encontravam bem em frente. Após uns instantes de silêncio, ele finalmente disse algo, retirando seu braço da mão forte que o agarrava.

 

“Fazer o que?”

 

“Ora, não se faça de tolo!” Retrucou, aumentando um pouco o tom de voz e direcionando o dedo indicador para a face do titã. “Você ia contar para os outros, não ia?” Ciborgue mais uma vez ficou surpreso com seu comportamento.

 

“Bem, pra falar a verdade, ia. Algum problema com isso?”

 

“Sim. Eu não quero que eles leiam esses dados.”

 

“Por que? Isso não passa de um erro de computador.”

 

“Tem certeza?” Ela estreitou o olhar e depois o desviou para a parede em frente. “Devia rever os fatos de vez em quando, Ciborgue. O seu aparelho não está quebrado.”

 

“Pera aí, cê tá querendo me dizer que isso aqui está certo? O computador tá dizendo que seu DNA bate com o de Estelar e Robin. Isso é como se você fosse--”

 

“A filha deles.” Cortou-o, voltando a encará-lo seriamente com o canto do olho. Sua sobrancelha arqueada ligeiramente. “E se eu dissesse que sou?”

 

“Aí você seria louca! Tá que você tem semelhanças, mas isso é absurdo e--” Ciborgue então se calou. Mesmo estando com a boca aberta, nenhuma palavra ousava atravessa-la. Isso era devido ao fato de que as pupilas da jovem não eram mais visíveis, cobertas por um forte brilho verde, e também porque a mão livre dela, agora entortando uma barra de ferro ao lado da maca, ameaçava faiscar também.

 

“Escute aqui...” Ela rosnou ameaçadoramente. “Eu não sou  louca, entendeu?! E sim, eles são os meus pais! Satisfeito, ou por acaso precisa de mais provas?!”

 

Ciborgue então deu, inconscientemente, um passo para trás, processando as informações que acabara de receber em seu chip. Agora, vendo que ela possuía também o poder dos starbolts, ele finalmente se convenceu da verdade. A garota, de alguma forma, era a filha de Estelar e Robin, sendo isso já bem visível pelo seu rosto, olhos e cabelos. Só não assumira esse fato antes por este ser meio... impossível... e acabava encarando aquelas semelhanças como meras coincidências.

 

Enfim, após aquela súbita e pequena explosão por parte da jovem, ela se recolheu e voltou, com olhos estreitos, a dar atenção à parede, respirando fundo para se acalmar. Odiava sair do controle. Se havia algo que sempre se esforçava em controlar era o seu frágil temperamento...

 

“Mas então... como isso é possível?” Ele recomeçou, ainda confuso.

 

“Bem, pode-se dizer que sou do futuro. Dezessete anos, para ser mais exata... eu simplesmente fui mandada pelos titãs de lá para seguir Vox e impedir seus atos de uma vez por todas.”

 

“Os titãs?” Ciborgue questionou, passando uma das mãos pela nuca. Pelo que se lembrava, quando Estelar havia viajado vinte anos no futuro, os titãs estavam separados, e a tamaraneana, desaparecida. Talvez aquilo tivesse se modificado quando ela retornou para o presente, afinal, o grupo só decaíra pelo seu sumiço no portal de Warp, e, contanto que Estelar permaneça com o grupo, tudo ficaria bem. “Então Robin estava certo sobre uma possível ligação entre o aparecimento de você e Vox. O que acontece é que vocês vieram da mesma época...”

 

“Pode considerar desta forma.”

 

“Mas, se você é filha da Estelar e do Robin... por que não quer que eles saibam?”

 

Ela o encarou por um momento, e o olhar frio utilizado demonstrava claramente que o assunto tocado era sério. Depois disso simplesmente desviou o foco de seus olhos para o teto e, recostando sua cabeça no travesseiro novamente, tomou um longo e profundo suspiro. “Sou uma viajante do tempo, Ciborgue. Tudo que faço aqui pode mudar as coisas lá na frente. Se eles souberem da verdade, e se algum tipo de briga ocorrer entre os dois futuramente, não quero que ambos fiquem juntos somente para que eu exista. Preciso deixar isso rolar de maneira natural.” Diante da explicação, o robô acenou levemente com a cabeça, concordando que havia sentido em tais palavras. Talvez fosse melhor que ninguém mais soubesse de seu segredo, por mais que este fosse óbvio. Aliás, era evidente que nem ele mesmo deveria ter conhecimento sobre isso. Descobriu por acidente, apenas. “Escuta...” Ela prosseguiu depois de um certo período de tempo, passando a observa-lo com feição temerosa na face. “Prometa que não contará isso para mais ninguém, mesmo que não sejam meus pais.”

 

“Bem, pode sossegar que eu não abro o bico. E ainda, se for pros outros souberem, vai ter que ser por você. Eu não tenho nada a ver com isso.”

 

“Então aceita me dar cobertura quando o ‘senhor detetive’ ficar no meu pé?”

 

“Se tá falando do Robin, sim. É muito fácil fazer o cara mudar de assunto, até quando ele tá no meio de uma investigação importante lá no Laboratório do Crime...”

 

“Sei disso. Só comentei porque também sei que ele vai começar a me investigar. É típico do gênio dele.”

 

“Ah, não se preocupe com isso. Por mais que tente, Robin nunca vai descobrir seu segredo.” Ciborgue disse, movendo uma das mãos em um gesto relaxado. A jovem por sua vez franziu o cenho.

 

“Por que acha isso?”

 

“Tipo, ele pode ser o mestre em solucionar casos e tudo mais, mas quando se trata de algo acontecendo dentro da torre, principalmente envolvendo um de nós, o cara é mais cego que toupeira. Um bom exemplo é o fato de que Robin demorou ANOS pra se tocar que Estelar tava afim dele. Algo que ela costuma deixar bem claro a toda hora.”

 

Ao ouvir isso, ela não conseguiu evitar que um genuíno sorriso lhe cruzasse os lábios. Aquilo era uma verdade. Uma grande, grande verdade...

 

“Agora, posso te perguntar uma coisa?” Como resposta, ela acenou afirmativamente.

 

“Quando atirou em você, Vox estava apontando pro Robin, certo? Bom, só não entendo o porquê dele estar querendo matar o cara.” Se Ciborgue estivesse prestando mais atenção na garota, poderia ter escutado-a engolir seco. Mas claro, ele não prestou. “Por acaso você sabe de algo a respeito?”

 

Ela se calou imediatamente, não sabendo o que responder, ou melhor, o que inventar para cobrir a informação. Aquilo era um assunto que os titãs não poderiam saber, ou sua missão seria colocada em risco ainda maior.

 

Então respirou fundo, se ajeitou nervosamente na maca onde repousava, abriu a boca para liberar a primeira desculpa que surgira em sua cabeça e...

 

“Ciborgue!”

 

... festejou silenciosamente pelo golpe de sorte.

 

“Ei, Cib.” Mutano havia entrado no recinto bruscamente, surpreendendo os dois jovens e também fazendo com que um suspiro de alívio fosse exalado da paciente. “Eu tava lá na sala com a minha cabeça quase explodindo, então será que você--” Mutano, ao perceber que a garota não se encontrava mais inconsciente, acabou perdendo totalmente a atenção que estava dando ao amigo robô. Não tinha percebido a presença dela quando adentrou a sala.

 

“Ham... oi.” Ela disse, percebendo que o outro a fitava.

 

“Oi. Puxa, você acordou rápido...”

 

“Suponho que isso seja algo bom, não?” Sua resposta veio com uma dose leve de sarcasmo, de forma que passasse desapercebida pelos ouvidos de Ciborgue. Mas como o metamorfo já estava bem acostumado que esse tipo de voz, ele acabou notando instantaneamente.

 

“Ótimo... outra sarcástica na casa...” Reclamou em pensamento. “Enfim, eu sou Mutano, um dos titãs.”

 

“Bom, disso eu já sabia há tempos, mas tudo bem, me chame de Nightstar.”

 

“Nightstar? Nome legal. Mas como sabia de mim?”

 

“Eu... bom...” Ela passou a olhar para as paredes, como se isso lhe auxiliasse a pensar no numa resposta que não levantasse suspeitas. “Digamos que já ouvi falar de você... muitas vezes... antes...”

 

Foi então que sentiu o pesar de uma mão imaginária chocar-se contra seu próprio rosto. De onde foi que aquela frase ridícula viera? Teria ela se esquecido de que não se pode inflar o ego do garoto verde, ou ele ficaria insuportável durante horas? Realmente, aquela atitude foi como uma operação suicida. Da época de onde viera, cruzar a linha do ego de Mutano, mesmo já adulto, era uma das advertências básicas do manual de como ser um titã...

 

“Cara, então eu sou famoso??” Começou. “Peraí, é claro que eu sou famoso. Já fiz uma série de tevê e até as gatinhas lá de Tóquio me conhecem! Talvez tenham até criado um fã clube, afinal, quem resistiria a um cara como eu? Eu sou demais!”

 

“Eu mereço...” Os outros dois se entreolharam enquanto resmungavam em pensamento. Ciborgue, inclusive, encarou a jovem com uma expressão bem mais irritadiça, como se a culpasse pelo que fizera. Esta por sua vez apenas cruzou os braços para se defender da acusação, mesmo que soubesse que isso era verdade.

 

“É como daquela vez que fui convidado pra fazer um filme. Tá que eles me usaram só pra fazer os animais e depois me coloriram digitalmente, mas mesmo assim, eu tenho talento nato! Devo ser bastante procurado por aí e é só uma questão de tempo até que...” Nightstar liberou um suspiro e passou seu olhar para o titã transmorfo, que continuava a tagarelar como nunca enquanto andava em círculos pelo recinto, abanando as mãos e fazendo gestos freneticamente. Foi então que uma pequena lâmpada surgiu acima de sua cabeça, sendo acompanhada com um sorriso que faria qualquer um sentir calafrios. Sim, ela teve um plano. Algo perfeito para calar Mutano antes que Ciborgue o fizesse, afinal, o robô estava a segundos de saltar na garganta do mais novo.

 

Ela se inclinou levemente para um lado da maca com intenção de mirar melhor em seu alvo. Se Mutano não estivesse tão ocupado se gabando e se distraindo, seus sentidos aguçados teriam lhe alertado sobre uma possível ameaça ou mesmo sobre a estranha e leve elevação de temperatura no recinto. E se Ciborgue fosse um melhor observador, teria notado a fraca luz que surgira ao seu lado.

 

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“Será que a condição atual de nossa amiga já melhorou? Ciborgue está na enfermaria há muito tempo...” Estelar comentou enquanto sentava no sofá.

 

“Não se preocupe, Estelar. A essa altura, ela deve estar só descansando, e Ciborgue logo virá até aqui trazendo notícias.”

 

Foi então que os dois escutaram um berro praticamente sobre-humano provindo por detrás das portas da Sala Comum. Mesmo sendo emitido nos corredores, acabou assustando os três titãs presentes no recinto e, quem sabe, até estremeceu levemente o chão. Nem Ravena pôde conter o susto. Acabou fechando o livro que carregava nas mãos e encarou os colegas que, assim como ela, mantinham um olhar medonho no rosto.

 

“Suponho que isso não seja uma das notícias, correto?” Estelar questionou, olhando para Robin com temor cruzando-lhe a face. O líder por sua vez se pôs em pé e passou a escutar os lamentos e gemidos agonizantes em que o berro se transformara, ainda provindos dos corredores. Segundos depois, reconhecendo a voz do sofredor, rapidamente se dirigiu para o local de origem desses sonidos, sinalizando também com a mão para pedir que as duas heroínas o seguissem.

 

“Vamos!”

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Qualquer um que entrasse na enfermaria naquele momento acabaria, provavelmente, se surpreendendo com a cena que se procedia... ou apenas fazendo um esforço para segurar os risos com tal visão...

 

Mutano agora se encontrava correndo em círculos de maneira eufórica, soltando lamentos de dor enquanto mantinha as mãos na parte atingida pelo feixe de starbolt que Nightstar lançara. Ao menos o plano funcionou. A irritação que o garoto estava transmitindo agora havia dado lugar a uma situação bem cômica.

 

“Garota, te devo uma!” Ciborgue comentou entre risos para a jovem. “Mas não acha que foi muito cruel, não? Mutano não vai poder sentar por um bom tempo.”

 

“Não. Eu apenas adiantei o serviço. Você ia mata-lo caso eu não agisse, mesmo...” Disse depois de soprar levemente o dedo indicador que usara para lançar o starbolt, fazendo como se este fosse uma arma que tinha acabado de ser utilizada.

 

“Escuta, por que não faz isso durante o café da manhã, também? O verdinho vive irritando com a história de ‘não coma esses pobres animais inocentes’...”

 

“Eu até que gostaria, mas já me acostumei com essas brigas há anos e, além disso, preciso poupar energia também.”

 

“Pelo visto ele não vai mudar muito nos próximos dezessete anos, certo?”

 

“Exato.” Sorriu. Logo, o som de portas se abrindo roubou-lhe a atenção, e Nightstar observou os três titãs que adentraram o recinto pararem diante da cena.

 

“O que diabos está havendo aqui?” Robin questionou, olhando curioso para o amigo que persistia em correr pela enfermaria, praticamente inconsciente do mundo ao redor. Vendo isso também, Ravena logo decidiu pôr um fim naquela cena patética e conjurou uma de suas garras negras, segurando o metamorfo em pleno ar.

 

“Mutano, pare de choramingar e se acalme!” A empata exclamou, finalmente conseguindo que ele voltasse à realidade e parasse de se debater na aura negra. “Assim é melhor.” Ela então o libertou.

 

“Agora que se acalmou, será que pode falar de uma vez o que aconteceu?”

 

“Eu não sei direito, Robin. Eu tava conversando aqui e de repente... de repente...” Ele pausou por alguns segundos para encontrar a expressão correta. “Sei lá. Alguma coisa simplesmente me queimou por trás, e isso doeu muito!”

 

Assim, automaticamente, os quatro dirigiram seus olhares para os outros dois jovens que se mantinham no outro lado da sala.

 

Ciborgue até abriu a boca para se defender daqueles olhares acusadores, mas foi interrompido ao receber uma forte cotovelada da garota que se mantinha ao lado. Depois, com um semblante sério, ela deixou claro que aquela resposta não serviria para convencer os titãs e poderia até piorar a situação para seu segredo, já que aquele poder não era ou deveria ser conhecido por eles.

 

Entendendo isso, o robô começou. “Puxa, acho que acabei acertando o Mutano acidentalmente com o laser enquanto ele tava tagarelando sem parar... que pena.” Ele não procurou esconder o escárnio, afinal, seria recompensador ver a irritação de Mutano como resposta.

 

“Muito engraçado, ferro velho. Saiba que isso doeu demais!”

 

“Tô sabendo. Mas admita que você mereceu.”

 

“Eu mereci? Por que EU mereci?! Eu posso ter exagerado um pouquinho naquela hora, mas--”

 

“‘Um pouquinho’?!” Ciborgue e Nightstar repetiram em uníssono.

 

“Tá, tá, exagerei muito, mas nem isso é motivo pra me fuzilar.”

 

“Olha, não sei quanto ao latão aqui, mas para mim, é.” Ela permitiu que um sorriso cruel cruzasse-lhe os lábios. Ciborgue não demorou e copiou a ação.

 

“Puxa, a gente se conheceu há uns cinco minutos e você já me acha irritante?”

 

“Na minha opinião, ela até que demorou um pouco.” Ravena comentou no seu tom monótono, arrancando um olhar levemente irritadiço do metamorfo e algumas risadinhas silenciosas dos demais colegas. “Agora, será que você poderia parar com isso? Essa discussão não vai melhorar sua situação, Mutano.”

 

“Eu percebi.” Ele cruzou os braços e dirigiu um olhar frio para os dois jovens ao lado. “Mas eu ainda vou ter minha vingança.”

 

“Estaremos esperando por ela, então.” Nightstar disse, sorrindo. Não era a primeira vez que ouvira o metamorfo pronunciar essas palavras.

 

Robin, após revirar os olhos com aborrecimento pela discussão, finalmente notou a garota, que aparentava estar com grande parte das forças já restauradas. Ela não mais se encontrava deitada na maca, mas sentada na borda da mesma e com uma das mãos suportando o queixo, tendo apenas o braço imobilizado como sinal de que ainda não estava totalmente curada.

 

O líder dos titãs então, percebendo que os três tinham dado uma pausa na discussão, decidiu usar isso para mudar o assunto antes que aquela bobagem recomeçasse. “Bom, vejo que a nossa paciente melhorou rápido.” A atenção de Nightstar imediatamente se dirigiu ao titã, vendo que suas melhoras haviam sido finalmente percebidas.

 

“É, eu acho que sim. Mas já que tocamos no assunto, por quanto tempo vou ter que ficar com essa coisa no meu braço? Isso está me incomodando!...”

 

“Disso eu não tenho certeza. As balas acabaram atingindo em cheio seus ossos e os fraturou. Claro, Ravena ajudou na cicatrização, mas nem tudo foi recuperado.”

 

“Tá, Ciborgue, mas pelo menos tem um chute?”

 

“Bom, acho que umas semanas... ou dias, dependendo da força de seus poderes.”

 

“Que ótimo.” Murmurou, monótona.

 

“Bom, você pode ficar conosoco enquanto isso.” Estelar comentou, mas a garota não esboçou entusiasmo com isso. Na verdade, ela ficou levemente assustada com tal proposta, imaginando o quão embaraçoso seria permanecer naquela torre com pessoas que já conhecera no futuro, principalmente seus pais. Ela achou que, caso aceitasse, as chances deles perceberem tudo eram muito maiores...

 

“Erm... acho que não vai dar. Eu ainda preciso ir atrás de Vox e, bom, aproveitar que ele está mais vulnerável agora...” Essa realmente foi a pior desculpa que pôde pensar, mas, afinal, não teve muitas escolhas. Tinha que tentar algo.

 

“Ir atrás dele... assim?” O líder dos titãs apontava para o braço incapacitado da garota, deixando claro que aquela resposta não seria o suficiente para convence-los. “Seria melhor ficar com a gente até melhorar. Caso contrário poderá ficar ainda pior.”

 

Os outros concordaram com um aceno da cabeça, e, vendo que estava encurralada, ela respirou fundo e resmungou algo que, felizmente, os titãs não puderam compreender. “Tá, tá. Eu aceito ficar. Não tenho alternativas melhores, mesmo...!” Bufou, praticamente, essas palavras como se isso fosse uma penitência. Porém, mal as proferiu e logo sentiu seu corpo inteiro ficar dormente, sendo esmagado por um par de braços femininos como se estes se tratassem de uma prensa.

 

“Então seja bem-vinda, nova gloriosa amiga!” A tamaraneana exclamava enquanto mantinha o abraço. Bem, sorte que a garota era resistente quando se tratava de algo assim...

 

“Ugh... Estelar... meu braço ainda não se recuperou... lembra?”

 

“Oh, perdão, sempre me esqueço disso.” Ela se afastou e deu a oportunidade para a amiga retomar o fôlego perdido. Esta, como um sinal de que estava tudo bem, apenas sorriu e deu-lhe um aceno de cabeça.

 

“Cara, se você tá tão boa a ponto de sobreviver a um abraço tamaraneano, acho que teu braço já deve ter curado.” Ciborgue comentou.

 

“Não exagere!”

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Mais tarde, a torre parecia ter se acalmado um pouco. Os titãs haviam se espalhado pelo edifício logo depois de a nova hóspede ter sido finalmente liberada da enfermaria. Então Mutano foi para o sofá na tentativa de encontrar algo que lhe chamasse atenção na televisão, Ciborgue se dirigiu à garagem para polir o Carro-T, Robin decidiu ir para a sala de treinamento, e Estelar ficou no seu quarto fazendo Deus sabe o quê.

 

Mas é claro, dentre os mencionados faltou Ravena. Bom, ela, que poderia muito bem estar trancada em seu quarto para ler um livro, ou na cozinha, tomando um chá de ervas, acabou sendo encarregada a mostrar o quarto extra para a garota nova.

 

Robin disse que ela era a melhor opção para esse cargo já que, dentre os titãs, apenas ele, a empata e Ciborgue visitavam esse quarto, e que o líder e o robô já tinham outros afazeres a cumprir. Estelar não gostava muito de ir lá, apenas passava direto pelo quarto, sem se atrever a olhar para sua porta. Com Mutano era pior. O metamorfo evitava a todo custo entrar no corredor onde o cômodo se encontrava. Ele preferia pegar o caminho mais longo a usar esse corredor como atalho.

 

E o motivo era bem simples: aquele era o quarto da Terra.

 

Estelar, como a mais sensível do grupo, sempre lembrava do que havia ocorrido com sua amiga ao passar por aquela porta, e isso a entristecia demais. E Mutano, bom, nem é preciso dizer muito. Aquele foi um incidente bem doloroso para ele, algo que o marcou muito profundamente.

 

“Então é aqui que eu vou ficar?” Nightstar perguntou, encarando seu novo cômodo e sentando-se na cama.

 

“Sim. Esse quarto não é ocupado já faz um bom tempo, mas ao menos eu, Robin, e Ciborgue nos revezamos para mantê-lo limpo em caso de visitas.”

 

“Eu notei. Obrigada por me guiar até aqui.”

 

Ravena deu um sorriso fraco como resposta. “Bom, se precisar de ajuda com mais alguma coisa...”

 

“Não, no momento estou bem.”

 

Assim, com aceno positivo de cabeça, Ravena se envolveu em uma esfera negra e mergulhou no piso de concreto, provavelmente retornando a seu próprio quarto. Nightstar por um momento deixou um sorriso escapar por entre os lábios e, em seguida, olhando para os dois lados do corredor para ter a certeza de que estava sozinha, sacou dois objetos de seu cinto de utilidades e saiu em disparada pelos corredores.

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“Isso tem que funcionar.” Nightstar disse para si, agora sentada na borda do terraço da torre. Estava manipulando o interior de um objeto tecnológico prateado com um pequeno instrumento, modificando-o. Era semelhante ao comunicador dos titãs, mas este era prateado e com detalhes em azul escuro.

 

Pouco antes de viajar no tempo, a adolescente teve uma curta batalha com Vox. Como resultado dessa batalha, o vilão acabou tendo seu uniforme danificado pelas mãos da garota, e esta conseguiu arrancar certos fios e aparelhos do centro de energia da roupa.

 

Desde então ela vem guardando as peças no cinto, esperando encontrar algum propósito para isso durante a missão. Bom, o dia chegou. Nightstar agora tentava utilizar a tecnologia conseguida para desenvolver seu Comunicador Titã. Ela pensou que, se o uniforme de Vox era capaz de transporta-lo pelo tempo, talvez os aparelhos que arrancou deste pudessem fazer com que o comunicador lançasse o sinal para o futuro, na época de onde veio.

 

Bom, sorte que a garota era muito habilidosa  com tecnologia, devendo isso a Ciborgue do futuro, que lhe ensinou tudo o que sabe sobre o assunto em seu tempo natal. Graças a essa vantagem, bastaram apenas mais alguns minutos para que o comunicador tivesse sua modificação finalizada, e também para que a própria jovem o ligasse e digitasse um código no teclado do mesmo, esperando ansiosamente por uma resposta.

 

Porém, na tela do comunicador só se viam chuviscos.

 

Nightstar deixou um gemido frustrado escapar-lhe dos lábios, voltando a abrir o objeto e remodelando seus circuitos. Não iria desistir assim tão fácil. Então, após passar mais alguns minutos na tentativa de acertar aquele complicado código de peças, voltou a ligar o aparelho e digitou o mesmo código de antes. Agora os chuviscos haviam dado lugar a uma imagem turva e distorcida, mas ainda difícil de ser reconhecida.

 

Isso já era um avanço, ao menos. A adolescente decidiu fazer uma terceira, porém menor, modificação, vendo que seu objetivo estava próximo de ser alcançado. Então, repetindo o mesmo procedimento final, abriu a tela e a encarou intensamente, aguardando pela imagem que surgiria.

 

E Nightstar quase vibrou quando a imagem retorcida que apareceu tomou forma e revelou o interior de uma sala.

 

Aquela era a Sala Comum dos titãs do futuro. O aparelho deve ter transmitido seu sinal para a grande tela localizada numa das janelas do recinto, e por isso era possível observar o local todo pela pequena e circular tela do comunicador. Inclusive um rapaz de pele e cabelos curiosamente verdes que se encontrava sentado numa cadeira em frente ao painel de controle, com os pés colocados de maneira relaxada sobre o mesmo.

 

Ele aparentava ser mais novo que Nightstar, mas não muito, cerca de um ano, aproximadamente, e era o único presente na sala. Isso era estranho. Normalmente, haveria pelo menos dois ou três dos titãs naquele lugar. Talvez estivessem ocupados com outros assuntos, ou mesmo numa missão, enfim.

 

O adolescente poderia muito facilmente ter notado o rosto da garota que era projetado no enorme painel, porém, não o fizera. Estava ocupado demais reservando sua atenção a um livro. Nightstar não se impressionou com isso, na verdade, já estava acostumada a vê-lo dessa maneira.

 

“Arthur.” Chamou-o pela tela, mas ele não reagiu. Estava muito concentrado na leitura para ouvir o mundo ao seu redor. “Arthur!” Dessa vez converteu sua voz num grito, e, mesmo assim, a única resposta que conseguiu foi um resmungo que não pôde ser interpretado.

 

Nightstar revirou os olhos. Se pudesse, jogaria qualquer objeto na cabeça do rapaz verde, como sempre fizera quando ele não a atendia. Mas como isso era algo impossível de ser feito no momento, optou por aumentar ainda mais sua voz e chamá-lo pelo nome profissional. “Quimera!” Dessa vez, o método teve o efeito desejado. Assim que ouviu o chamado, ele fechou o livro com força, levantou-se da cadeira e se virou para a tela, querendo brigar com quem havia interrompido sua preciosa leitura.

 

“O que foi, cara--” Assim que o par de olhos violetas do jovem se dirigiu ao rosto de Nightstar, ele não se sentiu capaz de terminar a frase. “Mar’i? É você?”

 

“Quem mais seria?” Respondeu. Sua voz deixando claro a irritação. Mas Arthur, ignorando o comentário, acabou mudando de assunto.

 

“Você voltou da missão? Está na nossa época de novo?”

 

“Não.”

 

“Bom, então como está conseguindo se comunicar com a gente?”

 

“Digamos que dei uma reforma no Comunicador-T... mas isso não importa muito agora. Onde os outros estão?”

 

“Meu pai foi com o Ciborgue pra uma missão nas docas. Minha mãe tá trabalhando na enfermaria, eu acho. Já minhas irmãs devem estar correndo pela torre, tentando se matar... de novo.” Ele não economizou no tom aborrecido ao pronunciar a última parte. Sua aguçada audição provavelmente detectando a gritaria no fim dos corredores que se encontravam atrás das portas do lugar. “Enfim, um dia normal.”

 

“... e meus pais?” Arthur mudou a expressão de forma repentina, tornando-a desanimada, assim que ouviu a pergunta da amiga. Para responder, ele desviou o olhar do rosto preocupado de Nightstar e tomou um longo suspiro.

 

“Eles continuam em coma. Nada mudou, night.”

 

“Foi o que pensei...”

 

“Não fica assim. Eles já enfrentaram coisas muito piores antes e vão se recuperar. No momento o que importa é que você dê um chute em Vox por fazer isso.”

 

“Bom, nisso tenho que concordar com você, mas a missão ficou meio... complicada... agora.”

 

“O que está querendo dizer?” Perguntou, erguendo uma sobrancelha.

 

“Aquele canalha arranjou um novo serviço por aqui. Ele está querendo matar o Robin, agora.” Ela então redirecionou a tela para a direção de seu braço prejudicado, mostrando-o para o amigo. “Hoje ele quase conseguiu cumprir a missão, mas por sorte, eu entrei no meio como escudo, e Vox acabou enterrando duas balas no meu braço esquerdo.”

 

“E você está bem?”

 

“Bom, o Ciborgue daqui imobilizou o meu braço. Disse que ia levar algum tempo para que me recuperasse, então ficarei aqui até que minha melhora seja total.”

 

“Mas e Vox? Ele ainda está à solta, não?”

 

“Não é preciso se preocupar com ele, eu consegui destruir a esfera de energia do raje dele e está vulnerável agora. Não nos atacará tão cedo. Precisa consertar o traje para isso, e acho que será difícil já que as peças apropriadas estão a dezessete anos daqui...”

 

“Menos mau... bom, então sua única preocupação no momento será manter a missão sem revelar a verdade. Sabe que os titãs vão suspeitar...”

 

“Sei. E já que tocou no assunto, o Ciborgue descobriu.” Disse, revirando o olhar. Mas quando olhou para a assustadora expressão estampada na face do amigo pelo aparelho, achou melhor continuar antes que ele berrasse algo. “Calma, não me olhe assim. Quando eu estive na enfermaria, ele viu que meu DNA batia com os dos meus pais, mas ele prometeu me dar cobertura até o fim da minha estadia por aqui.”

 

“E é bom que isso funcione, ou você vai receber o discurso de sermões do ‘senhor missão perfeita’ quando ele acordar. Eu não gostaria de estar na sua pele nesse instante.” Nightstar não pôde evitar a silenciosa risada que deu, de forma que o rapaz, agora se ocupando em digitar algumas coisas no computador central, não ouvisse. “Ah, aproveitando que você nos contatou, Mar’i, vou avisar que a nossa máquina do tempo quebrou logo depois de você entrar.”

 

Ela imediatamente se virou para a imagem de Arthur. Sua face exibindo um olhar questionador. “O quê?!”

 

“Calma, você não vai ficar aí pra sempre. Ciborgue está tentando concertar, mas só estou te avisando isso para que você não se surpreenda caso o botão do seu cinto falhe.”

 

“Quer dizer que eu não vou poder voltar para o futuro por mim mesma?”

 

“Você aprende rápido, não?” Comentou, se virando para a tela com um sorriso astuto. “Bom, se a gente consertar a máquina--”

 

“Correção: quando vocês consertarem a máquina...” Ela usou uma mistura de seriedade e frieza na voz. Arthur por sua vez riu perante a pequena irritação.

 

“É, quando a gente consertar a máquina. Enfim, é provável que o controle no seu cinto continue desligado. Então você vai voltar pra cá se um de nós for aí e te buscar.”

 

“E a situação está ficando cada vez melhor...” Resmungou, monótona.

 

“Ah, que isso, não precisa fazer todo esse drama, estrelinha...” Arthur logo percebeu que utilizou a palavra errada ao receber o olhar mortal da garota. “Digo, night. A parte da viagem no tempo nem é tão difícil. Quando concertarmos a máquina do tempo, localizaremos o seu comunicador e vamos mandar alguém até aí.”

 

Nightstar acenou em concordância e depois deu atenção ao curioso som que seu comunicador passou a emitir. Um som avisando que o pequeno aparelho não poderia suportar aquela carga por mais tempo. Então, com um pesado suspiro, voltou a dar atenção àquele par de olhos violetas que ainda a fitava. “Bom, enquanto vocês trabalham aí, eu farei o possível para completar a missão. Mas agora tenho que desligar, infelizmente.”

 

“Ok, boa sorte aí na torre. Vou falar pra Arella e a Violeta que você entrou em contato.”

 

“Certo. Tchau.” A adolescente disse, fechando a tela e inserindo o comunicador no compartimento de seu cinto mais uma vez. Depois, dirigiu sua atenção à paisagem que se estendia logo em frente. O céu estava limpo, destacando o seu belo tom azulado e as dezenas de gaivotas que planavam no local, e o Sol se encontrava bem no alto. Para ela, aquele era um tempo perfeito para voar e apreciar o mundo em que vivia. Uma rotina que sempre tivera de onde veio. Algo que fazia todas as manhãs, para restabelecer a energia através da radiação solar, e às vezes também ao pôr do Sol, como apenas passatempo ou comemorando mais uma batalha bem sucedida.

 

Pensando nisso e relembrando das sensações que o vôo lhe causava, acabou se perguntando quando foi a última vez que cumprira aquela rotina. Desde que Vox surgira em sua vida, ela se manteve focada no inimigo e não mais curtira um dia bonito como aquele dessa maneira que tanto adorava. Voava apenas quando ia participar de mais uma batalha contra o maldito vilão. Bom, assim que pensou nisso, Nightstar se levantou e deu mais uma olhada no céu. Vox não estava lá para interrompe-la agora. Deveria estar em algum lugar se empenhando em consertar os danos em seu traje, o que a deixava livre por um período de tempo suficiente para se curar e até mesmo pensar nos acontecimento mais recentes. Então, como voar era o modo que utilizava para colocar os pensamentos em ordem, se encontrando bem na borda do edifício, a garota se preparou para saltar deste. Começando por respirar fundo, fechar os olhos, dobrar os joelhos e...

 

“Como veio parar aqui?” Uma voz conhecida soou por detrás da garota, assustando-a na hora e fazendo com que perdesse totalmente o equilíbrio. Numa reação automática, Nightstar sacudiu os braços para trás, mudando a direção da queda, e acabou caindo sentada na superfície de concreto.

 

“Não seria melhor você avisar antes de se aproximar de alguém??” Questionou. Irritação abundante na voz. Robin apenas ergueu uma sobrancelha por trás da máscara e estendeu a mão esquerda para Nightstar, oferecendo ajuda.

 

“Desculpe. É um mau costume.” Ela aceitou a mão estendida, cobrindo-a com a sua própria e segundo firme enquanto se levantava. “Mas agora, como veio até aqui? Ravena não me disse que te mostrou esse caminho.”

 

“Não mostrou. Vim por conta própria. Como as escadas ficavam bem no fim do corredor em que eu estava, eu só subi até aqui.”

 

“Bom, é melhor você nos avisar da próxima vez que decidir sair explorando a torre por conta própria.” Assim que notou a rispidez nessas palavras, Nightstar sentiu seu cenho franzir.

 

“Desconfia de mim, menino-prodígio?”

 

“Não seria a primeira vez que uma garota bancando a heroína chega na torre com más intenções.” Respondeu, cruzando os braços.

 

“Eu conheço essa história, Robin, mas caso não se lembre, eu não vim parar aqui porque quis. Estou aqui porque um canalha enterrou duas balas em mim e preciso de um lugar para ficar até minha total recuperação. Eu te garanto que não planejei ser baleada só para me infiltrar na Torre Titã e servir de espiã.” Se pudesse, ela cruzaria os braços assim como o líder dos titãs estava fazendo. Mas infelizmente seu imobilizador a impedia de desfrutar dessa ação. Ao menos a seriedade em sua voz já era o bastante no momento. “Minha missão é encontrar Vox, e não destruir os titãs. Mas se ainda não confia, basta me ordenar e eu partirei imediatamente.”

 

Robin permaneceu calado por um tempo, apenas fitando a adolescente diante de si, um pouco surpreso com o quão firme se tornou sua voz. Ela realmente tinha um ponto nessa história. Se fosse para destruir os titãs, provavelmente não teria sido salvo três vezes por ela, principalmente sendo que a terceira vez foi quando recebeu os tiros. Por isso, com um longo suspiro, ele liberou seus braços e respondeu. “Ok, eu confio em você. Só não nos surpreenda de novo saindo sem avisar. Não queremos que ninguém se perca na torre.”

 

Nightstar então curvou seus lábios em um sorriso astuto. “Só se você parar de se meter em encrencas, herói. Não posso ficar livrando a sua pele para sempre.”

 

“Bom, não posso prometer nada, mas vou tentar.” Ele então dirigiu sua mão na direção dela uma vez mais, dessa vez não como ajuda, mas como um sinal de que tivera a confiança conquistada. A jovem não hesitou em aceitar o sinal e logo repetiu o gesto feito, apertando a mão do titã e recebendo um sorriso do mesmo.

 

“Agora, se não se importa, vou tomar um pouco de ar puro.” Nightstar se virou e passou a caminhar na direção da borda do edifício. Assim que alcançou o objetivo, saltou em queda livre, mergulhando em direção ao solo como se fosse uma pedra, não aparentando dar a mínima importância ao fato de que era uma questão de tempo até que se chocasse nas pedras logo abaixo. Robin até fez menção de segui-la e salva-la com o gancho, como quando salvou Estelar de cair de um edifício ao ser surpreendida por um sladebot. Mas acabou mudando de idéia assim que alcançou a extremidade do lugar e foi surpreendido por um borrão escurecido, que passou num ângulo de noventa graus bem em frente a seus olhos, persistindo nesse mesmo percurso até atingir uma altura surpreendente no céu.

 

Nightstar adorava fazer essa manobra. De alguma forma, gostava de sentir a sensação de mergulhar no ar livre, para depois se virar bruscamente para cima e voar numa velocidade incrível. Muitas vezes, os titãs advertiam essa atitude por considerarem perigosa, mas ela basicamente não se importava. O movimento foi algo que aprendeu de sua mãe, afinal.

 

Robin apenas observava enquanto a adolescente cruzava o céu azulado com suas manobras e piruetas, basicamente brincando com as gaivotas que a acompanhavam em seu vôo. Depois de alguns minutos, decidiu deixa-la com seus próprios pensamentos, já que o dia tinha sido razoavelmente agitado para ela e até para ele mesmo. Então se dirigiu às portas da escadaria e desapareceu nas sombras desta.


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