A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 32
Capítulo final - A última gota carmesim


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito, eu sei, mas aqui chegou o último capítulo da história. Sim, acabou T-T. Foi muito bom escrever essa fic e agradeço a todos que leram. Logo, postarei o epílogo para fechar de vez a historia. Meus sinceros agradecimentos, outra vez, e boa leitura!

OBS: narrado por Yuzuriha



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Um novo dia chegou e os acontecimentos de ontem foram deixados para trás. Ou, ao mínimo, parte deles. De certa forma, ainda estou preocupada. O que será que vai acontecer daqui para frente? Sasha foi baleada e quase morreu! Pode ter coisa pior do que isso?

– Preciso deixar minhas aflições de lado. – falo comigo mesma, deitada de bruços sobre a minha cama, com meus braços dobrados abaixo do meu queixo.

De repente, me bate um frio sentimento: solidão. Por mais que o meu relacionamento com Yato não tenha sido o ideal, com certeza preenchia uma lacuna em meu peito. Ou talvez, passava a falsa sensação de que o fazia. Até hoje, não sei ao certo... Mas de uma coisa tenho absoluta certeza: preciso encontrar um verdadeiro amor. A cada dia que passa, minha convicção sobre tal necessidade aumenta mais. Mas, então, onde achar? Como procurar? E o mais difícil: como suportar essa dor que me consome por dentro, enquanto aguardo o incerto?

– Yuzuriha! – grita a voz de quem conheço: e muito bem.

Levanto-me depressa. O tom de voz dele é preocupante. Sim, é o Albáfica, sem sombra de dúvidas. Saindo do meu quarto e passando pela sala, vou até a porta. Nem procuro conferir no olho mágico e, com minha mão direita, giro a maçaneta e a abro.

– Entra todo mundo já! – exclama Asuka, mais atrás do Albáfica.

– O que está acontecendo aqui? – pergunto, sem entender absolutamente nada.

Literalmente, entra um verdadeiro exército no meu apartamento. O primeiro da fila é o próprio Albáfica, seguido por Manigold, Minos e o seu irmão caçula. Por último, Asuka, segurando uma faca de cozinha em sua mão esquerda. Enquanto ela passa a nos encarar, o restante se alinha diante da mesma, de modo submisso.

– É uma reunião de bons amigos, Yuzuriha. – afirma Manigold, de braços cruzados, ao se colocar ao meu lado direito.

– Para de graça, agora não é o momento! – reclama Albáfica, ao meu lado esquerdo.

Com seu pé esquerdo, a “ruiva invasora” empurra com força a minha porta, fazendo-a bater. Atordoada, olho para cada um dos presentes, tentando entender – afinal – o que realmente está acontecendo por aqui.

– Sentem-se! – exige ela, visivelmente descontrolada.

Sem muitas delongas, todos nós nos sentamos. Eu, Manigold e Albáfica nos assentamos no sofá de três lugares. Minos e Kazuya, no de dois. Ambos se encontram aqui mesmo, nesta grande sala, para os padrões de um apartamento – mas quem se importa com isso agora, não é verdade?

– Essa longa história deve acabar aqui. – declara ela, sendo observada por todos nós. – Digamos que estamos no último ato desta peça desprezível!

– Asuka, acalme-se. – pede Albáfica, atraindo para si o meu olhar. – Não vá cometer nenhuma loucura. Lembre-se, por favor, da nossa conversa de ontem.

– Não importa qual argumento use! – grita a ruiva, ainda mais exaltada. – Eu já cansei de atuar nesse teatrinho medíocre!

Admito que não sei como reagir diante dessa situação. Não faço a mínima ideia do que fazer agora, nem tampouco como enfrentar tal dilema. É quando, repentinamente, uma certa lembrança vem à minha mente: o quadro que Alone, irmão de Sasha me mostrou, no fim da noite de ontem. Uma mistura de terror e espanto passa a controlar cada célula do meu corpo. Seria possível que o que foi registrado naquele quadro estivesse prestes a acontecer?

– Não, não pode ser! Não pode ser! – repito para mim mesma, pensando hesitante: não devo acreditar na ideia de que o meu apartamento será manchado de sangue daquela forma como está no quadro de Alone! – Não pode ser!! Isso não vai acontecer, eu tenho certeza que...

– Todos vocês foram manipulados. – conta Asuka, ao se acalmar de uma hora para a outra, me fazendo dar total atenção à ela. – Assim como eu, foram marionetes nas mãos de um ser sem escrúpulos.

– Pare com isso. – pede o irmão caçula de Minos, tranquilo, apesar do momento. – Você não é nenhuma flor que se cheire também...

– Sim, não sou. – concorda sem questionar. – Porém, estou fugindo da polícia por causa de um crime que não cometi. Não fui eu quem tentou matar a Yuzuriha e você sabe disso!

– Tentaram me matar? – questiono, abismada. – Como assim?

Com um suspiro, Albáfica vira sua face para mim. Havíamos conversado pelo telefone durante a noite anterior, por alguns minutos. Ele me contara tudo o que aconteceu: desde o que Minos lhe fez até a aparição de Asuka no seu apartamento. Fiquei preocupada sim, mas tentei esquecer o assunto, pensando que ela acabaria presa e ficaria tudo bem. Pensei também que o quadro pintado por Alone – mesmo com ele insistindo em dizer que aquele não era um quadro comum – era mera coincidência. Talvez, agora, eu esteja mesmo percebendo o quanto estava enganada e o quanto errei ao ser tão negligente.

– O atentado que Sasha sofreu era para você. – afirma Albáfica, me deixando ainda mais impressionada. – Foi o que Asuka disse no caminho.

– De certa forma, acho que esse encontro aqui não é dispensável. – opina Manigold, logo em seguida. – Os pratos sujos precisam ser limpos, não concordam?

– Mas então... Quem tentou me matar e por qual razão? – procuro saber, mais perdida que cega em tiroteio.

– Não está claro para você ainda, querida? – lança a ruiva, com um suave tom de sarcasmo. – Foi Kazuya quem armou tudo isso!

– Isso é verdade, irmão? – desta vez é Minos quem se manifesta, voltando seu olhar para o adolescente e sendo correspondido pelo tal. – Foi você quem tentou cometer um homicídio?

O garoto, apesar de manter seu olhar fixo ao do mais velho, nada fala. Asuka, por sua vez, continua falando:

– É óbvio que esse garoto é um psicopata, um maníaco! Ele não vai sossegar enquanto não conseguir o que quer! Vidas para ele não são nada, enquanto forem como empecilhos para o seu caminho!

– Fale alguma coisa! – grita Minos, sem deixar de observar a face inexpressiva de Kazuya. – Não se comporte assim, como se não estivesse aqui!

– Esperem... – peço, surpreendendo a todos. – Há algo que não faz sentido.

– Do que está falando? – indaga Asuka, ao cruzar seus braços.

Com um leve suspiro, abaixo minha face e fecho meus olhos. Entretanto, após poucos instantes, os reabro e ergo meu rosto novamente. Desse modo, dirijo meu olhar para a ruiva. E decido explicar meu ponto de vista, questionando primeiramente:

– Você e Kazuya formaram uma aliança por perceberem que um poderia ajudar o outro a atingir sua meta, certo?

– Sim...

– O objetivo dele sempre foi ter o irmão. – prossigo, pois já estou ciente de todas as informações necessárias, adquiridas durante minha conversa de ontem com Alba. – Para isso, foi até mesmo capaz de induzi-lo a cometer um ato tão vil com Albáfica.

– Aonde quer chegar? – indaga a dona da faca que ameaça a vida dos demais presentes.

– Que sentido tem me matar? Se você, Asuka, diz que não tem relação com isso... Então que significado o atentado que deveria ter tirado a minha vida possui?

– Pergunte ao verdadeiro responsável. – sugere ela, movimentando sua face em direção a Kazuya.

Acabo atendendo ao conselho dela, voltando minha atenção para o garoto. E questiono, sem medo de encará-lo:

– Foi mesmo você quem tentou me matar? Por quê?

– Quer mesmo saber da verdade? – diz, ao sorrir.

– Estamos aqui para isso. – alega Manigold. – Ou você está achando que eu tenho medo de encarar essa doida com tanta gente aqui? Se bem que não seria nada mal ela te furar um pouquinho...

– Manigold! – Albáfica o repreende, franzindo a testa.

– Chega disso. – exige Asuka. – Quero ouvir o que esse moleque maldito tem a falar.

Após o comentário dela, Kazuya eleva ainda mais o seu sorriso. Um sorrir sádico, maquiavélico. Mal dá para acreditar que ele passa – e muito – de um adolescente mimado como qualquer outro “filhinho de papai”. O que esse garoto parece ser – ou talvez seja mesmo – avaliando apenas por sua expressão doentia, é um monstro sem coração.

– Fui eu sim quem tentou matar você. – ele responde, olhando atentamente para os meus olhos. – E tentaria de novo se eu tivesse chance.

– Por quê? – pergunto abismada como todos, exceto Asuka, que praticamente já sabia: aliás, esperava, creio eu...

É difícil acreditar! Por todo esse tempo, o irmão de Minos se passou por algo bem diferente. Como pode existir pessoas tão dissimuladas e sem limites neste mundo? Céus, até onde alguém pode chegar quando está motivado por seus objetivos egoístas?

– Eu tenho algo que me motiva. – corresponde, ainda sorridente. – Na verdade, o que eu tentei fazer foi incriminar Asuka e jogar nas costas dela a culpa de tudo o que aconteceu. Mas claro: essa preocupação foi desnecessária, já que nesse país menores de idade não são punidos como os demais criminosos. Porém, sem derramamento de sangue, o show não teria a mesma graça.

– Me diz que tudo isso é mentira, Kazuya. – pede Minos, ao se deixar levar por suas lágrimas de decepção. – Me diz que tudo isso não passa de uma brincadeira de mau gosto, de um pesadelo...

– Sinto muito, mas é tudo verdade, irmão. – afirma o adolescente, para o visível terror do Bezzarius mais velho. – Me aproveitei de você e de todo mundo para me divertir... Sabe como é, né? Vida entediante dá nisso...

– Então tudo o que Asuka falou era mesmo verdade... – comenta Manigold, um tanto quanto espantado, assim como eu, Minos e Albáfica. – Até agora é difícil de acreditar nessa história toda. Você é um psicopata, garoto! Não vale nem o chão que pisa!

De repente, Kazuya começa a rir sem controle. Suas risadas chegam a arrepiar a minha pele, por tão diabólicas que são. Sim, ele é um monstro! Não há definição melhor para o irmão de Minos: um legítimo monstro em pele humana!

– Você diz isso, “senhor garanhão ativo”, é porque não conheceu um certo alguém. – o garoto não perde a oportunidade, enquanto ri, sádico como nenhum outro.

– Outro alguém? – pergunta Albáfica, voltando seu olhar para Asuka logo depois. – Existem outros envolvidos nisso? – desta vez, é ela o alvo de seu questionamento.

– Não que eu saiba. – afirma ela, parecendo estar tão surpresa quanto nós, após ouvir o último dizer do inescrupuloso adolescente.

Repentinamente – ainda rindo – ele se levanta do sofá. Sem o aparente desejo de cessar suas gargalhadas, o patife grita:

– A verdadeira mente que comandou o enredo dessa trama foi Jessie Fingermon!

– Jessie Fingermon? – repito, atordoada.

– O que Jessie tem a ver com isso, pivete desgraçado!? – Asuka, mais revoltosa do que quando chegou aqui trazendo os demais “convidados”. – Não a envolva nos seus métodos sórdidos!

– Não estou mentindo, ruivinha pirada. – alega ele, encarando-a com seu sorriso contínuo. – A minha verdadeira aliança era com ela e não com você, que não passou de marionete.

– Então explique-se! – exige Albáfica, ao também se levantar. – Qual a participação dela nisso?

– Jessie queria se vingar do que a maluca aqui fez com ela. Vocês já devem saber o quanto essa doida é obcecada pela Jessie, ao ponto de cometer coisas que até Deus duvida! – ele vai explicando. – Nunca chegou a tentar matá-la, mas ainda assim a atingiu de várias formas. A verdade é que aquele gostosa já estava mais do que cansada e não estava querendo esperar a próxima investida de Asuka. Com meus próprios métodos, a procurei, a conheci e fiquei sabendo do seu ódio pela ex-namorada de Kardia, um dos amigos do Albáfica. E, como eu sempre quis o meu irmão, vi que essa era uma oportunidade única para alcançar isso!

– Inacreditável. – opino. – Você não tem limites.

– Não tenho mesmo não. Por outro lado, Jessie também não tem. – ele deixa bem claro, diminuindo as proporções do seu sorriso. – Tudo o que ela queria era se livrar da Asuka de uma vez por todas!

– Mas se era esse o objetivo dela, por qual motivo não a denunciou para a polícia quando teve chance? – Albáfica se manifesta. – E, para piorar: por que tentou matar Yuzuriha, que nada tinha a ver com tudo?

– Jessie queria manter a posse e imagem de celebridade bondosa e imaculada. – ironiza. – Queria que todos a vissem como uma pessoa capaz de perdoar qualquer um. E, além disso, pelo que me falou da última vez que conversamos, matar Asuka seria pouco para fazê-la sofrer como merece.

Após escutar isso, mudo meu foco de olhar para a ruiva que aqui está. Me levanto, enquanto observo a expressão perplexa dela. Julgando por esse fator, talvez eu possa dizer que Asuka está, completamente, sem estruturas. Mesmo assim, o irmão de Minos não para:

– Prometi minha ajuda a ela em troca de sexo ardente. E, poh... Aquela mulher é fogo!

Lágrimas brotam nos olhos da ruiva. Sinto como se, no fundo, ela não fosse tão monstruosa quanto eu pensei que era. Quem sabe, por alguma razão, Asuka tenha perdido o sentido de sua vida. E, desde então, venha – desesperadamente – procurando-a. E posso ter a certeza de que Albáfica pensa da mesma forma que eu: viver sem um motivo para isso é ainda pior que morrer tendo infinitas possibilidades pela frente.

– Enfim... Meu irmão eu sempre quis, mas também não iria dispensar uma mulher daquelas! E não é que ela gostou do meu desempenho na cama? Repetimos a dose algumas vezes, quando eu dava a desculpa a meu irmão de que iria dormir na casa de um amigo. Bem... Essa diversão toda foi boa enquanto durou! – ele completa.

– Vou acabar com a sua vida, moleque! – exclama Asuka, saltando para cima de Kazuya logo depois, sem suportar ouvir mais nada, pelo visto.

Albáfica e Manigold se apressam para impedi-la. Alba segura o braço direito dela, e seu amado segura o esquerdo. Debatendo-se furiosa, e entre lágrimas, ela grita sem parar:

– Soltem-me agora! Eu vou acabar com esse garoto maldito! Eu vou acabar com ele agora mesmo!

– E a Jessie? Vai acabar com ela também? – Kazuya a provoca, centímetros diante da ruiva. – Será que o fato de que aquela delícia prefere o que faço na cama ao que você faz é... Inaceitável?

– Cala a sua boca imunda! – grita Asuka, já com o rosto todo molhado, ainda detida por Albáfica e Manigold. – Eu vou te matar!

Sem pensar duas vezes, a ruiva usa seu pé direito para acertar o ponto fraco de Albáfica. Desnorteado, ele acaba soltando-a. E, ao manusear a sua faca – ligeiramente depressa – promove um corte no antebraço que Manigold estava usando para detê-la. Ele urra de dor, assim quando seu sangue jorra no chão. Por fim, acaba soltando-a também.

– Asuka, você vai destruir a sua vida! – grito, tentando impedi-la, correndo na direção dela. – Não vale a pena!

Tarde demais... No momento, ela já está sobre Kazuya. Ambos no chão. E, em luta corporal, eles disputam em prol da posse da tal faca. A faca que foi, também, abordada naquele tenebroso quadro de Alone. Eu poderia ter evitado essa situação, mas por pura negligência, não evitei. Quem sabe um aviso dos céus veio através do irmão de Sasha para mim, me dando a missão de evitar uma grande tragédia. Porém, falhei...

– Parem com isso! Ninguém precisa se matar! – grito, ao me posicionar acima de Asuka, tentando tirá-la de cima dele.

E consigo! Porém...

– Kazuya... – Minos diz, simplesmente, ao se agachar e tocar o rosto do irmão.

Está morto. Com a faca cravada em seu peito esquerdo, o garoto está morto. Entre suas próprias lágrimas, Asuka cede, quando a puxo com minhas mãos. Nós duas nos colocamos de pé, enquanto ela soluça sem controle.

– Kazuya... – repete Minos, começando a chorar também, observando o rosto sem vida do irmão menor.

Albáfica – já recuperado – assiste a situação, assim como eu, Asuka e Manigold – que usa sua mão para tapar o ferimento que a ruiva lhe causou. E, em poucos instantes, ela se solta das minhas mãos e se vira para o outro lado.

– Vou me entregar à polícia. Mas se algum de vocês acha que devo ser punida com a morte, o melhor momento é este.

É quando Minos se levanta e retira um revólver de sua cintura. Ninguém havia percebido que ele estava com um, o que acaba sendo mesmo impressionante. E, sem delongas, o direciona para ela com ambas as mãos. E grita:

– Vagabunda!

O som do disparo ecoa, me fazendo lembrar do terrível momento que vivi quando Sasha foi vítima daquele tiro. Aquele tiro que, agora, sei que foi responsabilidade de Kazuya Bezzarius. Contudo...

– Albáfica! – Manigold, abismado, clama por ele.

Meu grande amigo fraqueja, mas antes de cair ao chão, é acolhido pelos braços de Manigold. Por alguma razão, meu escritor favorito entrou na frente de Asuka e a salvou. Enquanto isso, descontrolado e apavorado, Minos abaixa o revólver e correm em direção a porta. A abre e sai do apartamento, sem que ninguém dos presentes se importe com isso.

– Eu chamei a polícia discretamente enquanto Asuka nos trazia para cá. – alega Albáfica, sangrando muito: foi atingido em uma região próxima ao seu peito esquerdo. – Logo, tudo se resolverá.

Manigold, com os olhos úmidos, se abaixara levemente, apoiando-o em si. Me agacho diante deles e também não consigo segurar a emoção. Como fui burra! Eu poderia ter feito a diferença e contribuído para um desfecho diferente! Mas...

– Amei viver momentos tão bons com vocês dois. – ele afirma, enquanto o sangue não para de escorrer, mesmo com a desesperada mão direita de Manigold tentando impedir. – Não podia exigir felicidade maior.

– Vai dar tudo certo, Alba... – alega o outro, assim que pego o telefone em meu bolso para chamar uma ambulância o mais depressa possível.

– Não adianta. Não tem mais jeito para mim, mas tem para vocês. – afirma, sorrindo com certa dificuldade. – Hoje sei que amo os dois, mas de modos diferentes. Gostaria de ter mais tempo para entender tais sentimentos, mas não terei essa oportunidade.

– Pare de falar besteira! – exclamo, ao colar o celular em minha orelha direita, esperando que alguém me atenda. – Você vai viver!

– Vocês podem realizar um desejo meu? – pergunta Albáfica, assim que um feixe de sangue passa a escorrer do canto direito de sua boca: sem cessar, ele alterna seu doce olhar entre nós dois.

– O que você quer? – Manigold pergunta, sem suportar o choro.

– A palavra de vocês: me prometam que serão felizes.

– Seremos, assim como você também será. – afirmo.

– Isso mesmo! Você será feliz vivendo como nós viveremos! – Manigold, por sua vez.

– Obrigado Manigold. Obrigado Yuzuriha. – ele agradece, como se já pudesse ter certeza de que está indo embora... Para sempre. – E você também, Asuka. – diz, dirigindo-se para a ruiva, desta vez. – Ainda tem chances de ser feliz...

As pálpebras de Albáfica, lentamente, vão se fechando. Sem deixar de sorrir, ele apenas diz por último:

– E então... Sejamos felizes.

Meu celular cai ao chão. Afinal, agora tenho a certeza: ele se foi. E enquanto Manigold se atrela ao corpo de Albáfica, gritando desesperadamente e chamando por seu nome, fecho meus olhos, sentindo uma atordoante dor remoer meu coração. Mesmo no fim de sua vida, ele desejou a nossa felicidade. Mesmo partindo para o outro mundo, os olhos de Albáfica não demonstram ódio, rancor, ira, raiva ou medo. Posso sentir que até mesmo Asuka, agora, não consegue se manter distante dos sentimentos por ele deixado. Ou melhor, do único e mais raro sentimento, aquele que, do início ao fim, habitou a alma do meu inesquecível amigo. O mais puro e sublime poder: amor...


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