Fiquei sentada na cama com a cabeça entre os joelhos tentando organizar meus pensamentos. O mesmo sonho que vivia se repetindo todos os dias não era apenas um pesadelo qualquer, de alguma forma a garota queria deixar um recado pra mim e durante todo esse tempo eu não percebi.

Olhei pelo quarto escuro e o vi ali deitado, será que estava dormindo?

– Felipe! Felipe! – chamei em voz baixa. Ele apenas se movimentou e pareceu não acordar.

– Felipe! – falei mais auto dessa vez e se mexeu de novo e depois se levantou ficando sentado na cama.

– Bianca? – esfregou os olhos e se levantou assim que me viu sentada na cama. =- O que foi?

– O sonho! – falei baixo.

Ele se levantou e caminhou cambaleado ate sem sentar na beira da minha cama e me olhar no escuro.

– Você teve pesadelo de novo? – ele tentava ver meu rosto no escuro.

– A garota, a criança, tudo o que acontecia agora faz sentido!

– Bianca do que você esta falando, eu não entendo! – ele finalmente me fitou.

– A criança do sonho Felipe, é você! – o vi ficar surpreso e me olhar meio desconfiado.

– Por que sonharia comigo quando era criança? Isso não faz sentido!

– A garota falou alguma coisa sobre não deixar a conexão acontecer e...

– Conexão? – ele interrompeu.

– Ela falou sobre isso.

– Como era essa garota? – ele fitava ainda no escuro.

– Eu não sei, não dava pra ver o rosto dela, porque ela estava usando um capuz e eu só via os cabelos compridos...

– A mesma garota do meu sonho! – ele refletiu. – O que ela disse exatamente?

– Disse pra eu não deixasse a conexão acontecer! – ele se levantou e acendeu a luz e andou de um lado pro outro no quarto.

– Por que você teria sonhos parecidos com os meus e com a mesma garota dizendo as mesmas coisas? – ele me olhou.

– Talvez seja um aviso. – falei e voltou a se sentar e me encarar.

– E por que você acha que a criança era eu?

– Os olhos eram exatamente iguais aos seus e quando eu me machuquei e coloquei as mãos na cabeça, ele imitou o gesto como se sentisse o mesmo, era um menino, eu tenho certeza e pareceu compartilhar da minha dor quando a... – pensei um pouco me lembrando da parte que a garota me derruba.

– O que Bianca?

– A dominadora do ar! É isso! – me sentei ao seu lado. – A dominadora do ar, é ela a garota dos sonhos!

Rick

Tinha um vazio na minha mente, no meu coração, era isso, eu estava vazio. Nada mudaria o que aconteceu e talvez ela nunca mais me perdoasse e pior, talvez esquecesse.

Eu me sentia um completo idiota principalmente quando todos me olhavam comprovando isso, mas eu sabia o que tinha acontecido, minha mente estava confusa demais naquele dia e eu nunca faria isso se estivesse consciente.

Mas quem queria ouvir a minha parte da historia, simplesmente ninguém. Ate mesmo a Kate que era minha opção de provar pra Bia que não estava mentindo não queria me ouvir e ate acho que se me atravesse a ir falar com era capaz de arrancar minha cabeça fora e isso não seria nada legal.

A Jullya às vezes me dava um sorriso sínico e de verdade, a minha vontade era matar essa garota. A Bia nem olhava mais na minha cara e todos viviam fazendo caretas pra mim. O pior de todos era o tal de Felipe, o certinho. Andando pra lá e pra cá e sempre com a mesma cara mal-humorada de sempre e eu definitivamente não entendia o que ele tinha de especial.

Os únicos que ainda eram meus amigos mesmo eram o Alisson e a namorada de borracha dele, pelo menos alguém acreditava em mim e ele estava sempre me apoiando.

Ate mesmo o João que era sempre educado e nunca comentou esse assunto comigo, não deixava de me olhar decepcionado e isso era horrível, se sentir como um traidor e agora sozinho.

Nem mesmo dias ensolarados como o de hoje não me deixavam alegres, era meio difícil ficar quieto ainda mais quando não se tinha forças para se levantar. Vesti uma roupa qualquer, isso pouco importava. Tomei um café rápido e fui ate a sala do João onde todos estariam reunidos. A Claudia veio bater na minha porta e dizer que teria uma reunião com o João, parece que era bem importante e apesar de todas as merdas que aconteciam na minha vida eu não podia deixar de esquecer quem eu ainda era.

Entrei na sala encontrando quem eu não queria ver: O Felipe mal-humorado. Estava também a Bia e a Kate? O que ela estava fazendo aqui? O João tinha descoberto sobre a amiguinha vampira?

Dei um cumprimento baixo e me sentei numa cadeira perto da porta e fiquei observando em silêncio todos ali. Logo o João entrou na sala junto a Claudia que sorriu pra mim.

– Que bom que vieram! – ele falou educado. – Bom... Parece que temos novas pistas da nossa dominadora! – de novo esse papo. Já fazia um tempo que ele e a Claudia estavam procurando essa garota e nem rastro dela.

– Parece que ela saiu da cidade e foi a para a Floresta Araucária! – a Claudia explicou.

– Esse lugar, eu fiquei lá quando era criança! – o Felipe falou fazendo meus ouvidos tremerem só de ouvir sua voz.

– O que pode ter lá que é do interesse dela? – o João perguntou pra ele.

– Eu não sei bem, mas é o lugar onde tem uma das cedes mais importantes da FEM, talvez seja por isso!

– Por que ela seria idiota o bastante para no covil do inimigo? – falei e todos se viraram pra mim.

– Talvez por vingança! – o Felipe respondeu.

– Deve estar procurando alguém! – a Kate falou.

– Iremos pra lá a procura da dominadora, precisamos encontrá-la o quanto antes! – o João falou.

– Todos? – a Bia perguntou com sua voz linda.

– Sim Bianca. Preciso dos três dominadores e da vampira aqui! – ela apontou pra nos e depois para a Kate. – Ela poderá ajuda-los.

– Mais você não vai? – a Bia perguntou.

– Esta será uma missão de vocês! – ele sorriu. – Preparem suas malas, amanhã mesmo estarão viajando!

Claire

Três dias atrás...

Olhei a floresta familiar e sorri satisfeita, eu finalmente cheguei ao meu destino e agora faria como o prometido. Não dava para ficar na cidade, acho que seria meio idiotice ate porque eu tinha que voltar na floresta no outro dia, então decidi acampar por aqui e claro que passei despercebida porque não pode ficar na mata e ate porque a cede da a FEM esta aqui.

Eu só precisava entrar lá na droga de clinica da FEM matar um por um.

Deixem a mochila ali mesmo e sorri feliz ao ver que não tinha nada por perto e as árvores era um ótimo disfarce. Montei a barraca antes que escurecesse.

Fiquei ali no alto de uma montanha olhado algumas luzes lá em baixo e a lua brilhando no céu, só era uma questão de tempo para amanhecer e minha vingança começar. Nada mais importava, a não ser vingar a morte dos meus pais.

Virei automática quando ouvi alguém se movimentar atrás de mim. Levantei ficando em alerta. Mas que ótimo!

Moveu-se mais uma vez, respirei sentindo um cheiro estranho, um vampiro? Mutante?

Ouvi seu corpo se mover devagar e pegar algo do chão e jogar em minha direção. Não pensei duas vezes e concentrei estendo as mãos e a onda de ar se formar interrompendo o objeto.

Concentrei de novo e meus pés ficaram leves, girei e avancei em cima do invasor pegando seu pescoço fazendo seu corpo bater numa pedra.

Arregalei os olhos ao ver seu rosto pálido, os cabelos pareciam pretos bem cortados, olhos negros.

– Quem é você e o que quer? – perguntei apertando mais o seu pescoço.

– Que bom que está de volta dominadora! – ele girou e inverteu a posição agora me apertando na pedra.

– Sem intimidades! – ergui a mão e seu corpo voou para longe.

Ele se levantou rápido e eu não conseguia acompanhar a sua velocidade, era um vampiro.

Ele conseguiu me derrubar ficando por cima de mim.

– Onde estão os outros elementos? – sua voz era fria.

– Eu não sei! – falei ríspida.

– Para de mentir lindinha! Onde estão?

– Já falei que não sei seu idiota! – levantei as pernas usando minha força e bati no seu corpo conseguindo tira-lo de cima de mim.

– Estão com uma coisa que me pertence! – ele voltou a falar.

– Eu não sei onde estão e também não me interessa! Me deixa em paz ou não respondo por mim!- eu realmente não estava com paciência para falar com um sugador de sangue idiota.

– Olha aqui dominadora, você vai falar por bem ou por mal? – ele usou sua velocidade sobre-humana e ficou na minha frente.

– Nenhuma das opções. – tirei uma das estacas da minha bolsa e lancei nele acertando seu braço, sorri ao ouvir ele gritar. Abri os braços para pegar mais ar e logo meus pés não estavam mais no chão. Senti meu corpo estremecer por dentro e meus olhos mudarem e meu poder me dominar.

Eu estava no controle, mas era algo só meu, que eu fazia e que agora dominava com perfeição, eu era dominadora do ar e não o contrario, eu tinha que fazer do meu jeito e era assim o tempo todo.

As árvores a nossa volta balançavam fortemente com o vento que saia de mim e ele parecia meio assustado com minha atitude.

– Se manda vampiro! – falei com a voz estranha que sempre ficava quando eu dominava o poder com todas as forças.

– Se encontrar com eles dominadora apenas diga que eu estou por perto e vou atormentá-los enquanto a vampira não vier falar comigo!

Ignorei sua fala e joguei uma onda de ar e ele colocou as mãos no chão enquanto seu corpo se arrastava ate para perto do topo da montanha.

– Da próxima você eu tenho certeza que você não conseguir voar! – falei e logo ele não estava mais ali.

Desci pousando meus pés no chão e senti o ar sair de mim. Suspirei e andei de volta a minha barraca que espero que esteja ainda armada.

E estava sim. Deitei apagando a lanterna, pois a ultima coisa que eu queria era chamar atenção. Logo seria um novo dia e se eu tivesse que sujar minhas mãos de sangue seria pelo sangue certo, o sangue dos assassinos dos meus pais.

A dominadora do ar estava de volta.