A coroação de Ryan foi linda, ele estava um pouco nervoso, mas eu tinha certeza de que ele seria um ótimo Rei para Nárnia. Mais tarde Pedro, Edmundo e eu nos despedimos de nossos amigos. Abracei Genevieve com força, ela tinha se tornado uma grande amiga.

— Confesso que gosto mais de você como Genevieve do que como Sophia. – brinquei e Gene riu.

— Você foi ótima Lucia, gostaria de passar mais tempo juntas, vocês têm mesmo que ir? – ela perguntou, tinha um ar triste e mesmo que conversasse comigo, seu olhar sempre fugia e procurava por Edmundo.

— Sim, mas ainda vamos nos ver, tenho certeza, Aslam sabe o que faz.

Genevieve assentiu e eu fui me despedir de meus outros amigos, Edmundo parecia evitar o momento em que se despediria dela, tive que dar uma cotovelada nele para que fosse logo.

— Adeus princesa de gelo.

— Rei Edmundo. – Genevieve fez um cumprimento formal e ele fez o mesmo, mas ela o segurou antes que ele lhe desse as costas. – Não quero que você vá.

— Não quero ir. – ele disse e beijou sua testa.

Eles se afastaram, eu não gostava de ver Edmundo tão triste, era como rever a cena de Caspian e Susana, acho que agora ele a entendia.

Pedro segurou a minha mão quando Aslam fez aparecer o portal que nos levaria a outro mundo e eu apertei a sua, não queria me separar dele, mesmo que soubesse que ia acontecer quando fossemos para aquela realidade desconhecida. Nos despedimos de Aslam e Edmundo foi o primeiro a passar, Pedro foi depois, mas eu me demorei o bastante para ver Genevieve ir até Aslam e vê-lo acenar positivamente para ela, Genevieve atravessou o portal comigo, depois disso, tudo escureceu.

[...]

Acordei já atrasada. Era o primeiro dia em meu trabalho, enfim eu estava formada e seria uma enfermeira, ajudar as pessoas me deixava empolgada. Morava em um pequeno apartamento meio bagunçado em Londres, pulei da cama e me troquei, fui até o banheiro onde lavei o rosto e escovei os dentes. Quando olhei meu reflexo no espelho, me lembrei do sonho que fez com que eu dormisse até tão tarde, eu estava sonhando de novo com aquela floresta, me lembrava de algumas coisas, alguns flashes, eu tinha três irmãos, dois garotos e uma garota, havia um leão lindo, grande e muito bom, era um lugar tão lindo que eu sequer queria acordar, eu era uma rainha, mas também seria uma rainha destemida ali, seria um dia longo e cheio de pacientes que eu poderia ajudar.

Coloquei o crachá do hospital no bolso da camiseta polo cinza que usava, penteei os longos e cheios cabelos castanhos com os dedos, peguei a bolsa e saí. Tranquei o apartamento e em passos rápidos rumava para o hospital.

O relógio em meu pulso marcava 8h05min, eu devia estar no hospital às 7h45min, estava vinte minutos atrasada em meu primeiro dia no emprego. Olhava para o relógio enquanto atravessava a rua e algo grande me atingiu em cheio e tudo escureceu.

Meu corpo estava meio dolorido e minha cabeça doía quando abri os olhos e vi a multidão que se aglomerava à minha volta, levei a mão à cabeça, sangrava um pouco, mas eu estava bem, tinha que levantar e seguir meu caminho. Fiquei um pouco envergonhada com toda aquela gente me olhando e murmurando coisas, mas um homem se destacou na multidão.

— Não se preocupem, eu sou médico. – ele disse e se ajoelhou ao meu lado. Seus olhos eram de um azul muito lindo e de repente às pessoas em volta não passavam de borrões e as conversas se calaram. – Hey, você está bem? Qual é o seu nome?

— Sou... Sou Lucy Henley.

— Muito prazer Lucy Henley. – ele sorriu. – Sou Peter Pevensie, venha, você precisa ir a um hospital.

— Não. – eu disse subitamente. – Quer dizer, sim, eu preciso ir a um hospital, mas não como paciente, eu...

— Calma, você acabou de bater a cabeça com força no chão, precisa de ao menos um curativo.

Ele me ajudou a levantar e me levou até um carro, pediu que eu me sentasse, eu estava um pouco tonta.

— Posso ver essa ferida? Eu sou médico no St. Mary.

— Obrigada, eu... Eu estava indo para lá, vou ser uma das novas enfermeiras se não for demitida por estar 45 minutos atrasada em meu primeiro dia. – ele riu. Nós dois estávamos sentados nos bancos de trás e ele pressionou um pano em minha cabeça.

— Você vai fazer um raio x disso. – ele disse mandão e o que passava na minha cabeça é que ele poderia ser um de meus chefes, ótima maneira de conhecer o chefe, deve me achar uma estabanada.

— Hey, já acabou de bancar o herói Peter? Podemos ir? Estamos atrasados. – ouvi alguém se pronunciar no banco do motorista, nem tinha notado sua presença ali, um homem de cabelos e olhos negros, mas se parecia um pouco com Peter.

— Por que será que estamos atrasados, não é Ed?

— Não é por minha causa, é? – perguntei, não queria prejudica-los.

— Não, - Peter me tranquilizou. – Alguém aqui demora para acordar. – disse olhando para o homem no banco de motorista. – Este é meu irmão Edmund.

— Olá! Desculpe se prefiro sonhar que sou um rei ao invés de acordar cedo para ir trabalhar.

— Preguiçoso e você? Em rei? Que piada. – Peter riu e Edmundo começou a dirigir, um pouco rápido demais, eu ainda estava um pouco tonta.

— Imagine o que a garota vai pensar de mim, sou Edmund Pevensie, muito prazer. – disse com um sorriso de canto meio conquistador que me fez franzir a testa e me deu vontade de rir.

— Lucy Henley, o prazer é meu.

Conversamos durante a viagem, Edmund também era médico, mas era de outra especialidade, Peter era clínico geral, enquanto Ed era cardio, eu estava no carro com dois dos meus chefes, tinha acabado de ser atropelada e estava uma hora atrasada para o trabalho, com certeza aquele ano seria bem inusitado.