POV Katniss

O pior não era o fato de ele ter beijado Glimmer.Isso já aconteceu outras vezes,não foi?O que mais doeu,foi que eu caí na dele.Eu caí como uma patinha.
Eu prometi a mim mesma não me envolver,não me apaixonar por ele.Jurei que não deixaria que isso acontecesse,e eu tinha um milhão de motivos para isso.

Achei que talvez fosse ser diferente.Quem sabe?Mas desde o começo eu sabia que só estava enganando a mim mesma.Eu sentia raiva de mim, de mim por ter acreditado,não só nele como nela...

Uma mescla de ódio e mágoa subiu pela minha garganta e depositou um nó lá.Na entrada do hospital estavam Gale,Madge e Cato,que tentaram falar comigo,mas no momento eu só queria correr,sair dali o mais rápido possível.
Era tão avassalador e tão profundo que eu me sentia um animal acuado.

Com a mão erguida,chamei um táxi.O moço parou,e olhou para mim,para meus olhos vermelhos,mas não falou nada.Seria melhor assim.

Não havia nada entre a gente.Nada oficial ,pelo menos.
Eu sei que estava sendo boba.Mas ás vezes eu tenho que ceder um pouco,chorar um pouco,sentir um pouco.Não adianta passar a vida inteira dentro de um escudo.

“A gente tem que baixar a guarda,engolir o orgulho,se deixar levar.Se perder para se encontrar.”

Balancei a cabeça ao me lembrar disso e pulei para dentro do elevador.
A decepção é muito maior quando você realmente acredita que a pessoa poderia mudar por você.

Não era justo.Ele entrava na minha vida de uma hora para outra,causava essa bagunça e ainda me deixava mal.

Eu entrei no meu quarto bagunçado de um modo lento.Larguei as chaves e a bolsa sobre a mesinha de canto e me larguei no sofá.Durante todo o caminho,o nó em minha garganta apertara,mas eu me recusava a chorar por ele.
Mas agora,sozinha,sem ninguém,eu soltei um prolongado suspiro que foi seguido por lágrimas.As mais amargas e com mais gosto de “eu te avisei”

Lágrimas de,por mais resistente que eu estivesse,um coração machucado.

POV Peeta

PUTA QUE PARIU.Um pouco de boa sorte nessa vida é pedir demais,meu Deus?

Empurrei Glimmer,com raiva.Ela me olhou chorosa,aparentemente magoada.

–O que deu em você,Peet?

–Não,a pergunta é o que deu em VOCÊ!Qual é o seu problema?-Perguntei,furioso.

Mas não esperei resposta.Ainda com o pé ferido enfaixado,saltei da cama e tentei correr até a porta.Ok,essa droga de machucado avacalhava um pouco,mas graças aos remédios [seja lá qual forem] que tomei,ele não doía mais.De qualquer forma,eu não me importava.

Saí como um louco pelo corredor do hospital,quase atropelando o doutor Plutarch no caminho.Será possível que eu só faço merda na minha vida?
Porque,se antes eu tinha alguma dúvida de que Katniss me pegara de jeito,essa dúvida sumira naquela clareira,á luz da fogueira e ao som da sinfonia natural.
Mas agora Glimmer conseguiu estragar tudo.

Quando passei pela porta do hospital,ela não estava lá.Marvel,Madge,Gale e Clove estavam conversando calmamente,quando eu praticamente me joguei entre eles e agarrei a camiseta de Marvel.

–Me leva até o hotel agora.-Implorei.

–Peeta,Katniss passou aqui mais cedo.Parecia muito chateada,o que você fez?-Perguntou Madge,séria.

–Ela...-Tomei ar,arrependido.-Ela entrou no quarto e viu Glimmer me beijando.

O que piorou meu estado foi a reação deles.Eles abaixaram a cabeça e a balançaram negativamente,com a mão na testa.Não existe maior sinal de “você ta fudido”

–Cara,já era.Ela nunca vai te perdoar.-Disse Clove.

–Talvez,mas eu preciso tentar.Marvel,me leva lá AGORA.-Eu quase gritei.Marvel tirou a chave do bolso e me levou até o jipe,que por sorte não estava muito longe.

Enquanto ele dava a partida,eu tamborilei nervosamente os dedos sobre o painel.Eu ia matar a Glimmer.Depois de tanto tempo para descobrir que Katniss realmente gostava de mim ela conseguiu cagar com tudo.Qual era o raio do problema daquela garota?

–Peeta,se acalma.Eu nunca vi você assim.-Marvel disse,enquanto virava a esquina á toda velocidade.

–Não dá,cara,eu gosto mesmo dela.

Marvel não me falou mais nada durante o caminho.
Minha cabeça estava a mil.Ela não se dera ao trabalho de ir ao hospital me ver...Isso me quebrou.

Havíamos chegado ao hotel.Eu não esperei Marvel estacionar,tal era minha ânsia de vê-la,de lhe explicar que não era bem assim.Pulei do carro,ignorando a dorzinha incômoda no meu pé e entrei no hotel como um furacão.
O mundo se resumia a mim,a Katniss Everdeen e o caminho que precisava traçar para chegar até ela.
Não havia paciência suficiente para elevador.Eu suava frio.Tomei o caminho da escada,subindo de dois em dois degraus,ofegando,suando.Eu precisava dizer a ela,que o que ela viu não significou nada,consertar a burrada,fazê-la me amar mais uma vez.Porque era isso o que eu queria.Esse era o motivo de tanta correria,euforia e raiva.Ela.Tudo sempre se resumiu a ela.

Derrapei na curva para o corredor.Talvez ainda desse tempo- eu pensava enquanto parava em frente a porta e esticava a mão para bater.
Uma,duas,três vezes.Ninguém me atendeu,mas eu sabia que ela estava ali e eu bateria até ela abrir a porta.

–Katniss,sou eu,Peeta,me deixa falar com você.-Pedi.

–Vai embora daqui,Mellark.-Ela gritou.

–Katniss,abre essa porta...Não foi isso que você viu.-Eu disse,batendo mais uma vez.
O trinco se mexeu,e a porta se abriu com estrondo.Ela não estava só triste,ou chateada,estava furiosa.Eu nunca a vira naquele estado.Seus olhos estavam vermelhos,e ela enfiou o dedo no meu nariz ao gritar:

–O QUE EU VI,FOI VOCÊ BEIJANDO GLIMMER!POR TUDO O QUE DISSE,POR TUDO QUE FEZ,EU ACHEI QUE REALMENTE ESTIVESSE GOSTANDO DE MIM!E ME DEIXEI LEVAR!EU FUI A BOBA NESSA HISTÓRIA TODA.AGORA,SE TEM UM POUCO DE VERGONHA NA CARA VAI SAIR DA MINHA FRENTE!

Eu merecia.Merecia todos os gritos que ela quisesse me dar.Mas quando ela entrou novamente no quarto,eu pus o pé antes que a porta batesse.E entrei.Ela estava sentada no sofá,com os braços cruzados.Ela tremia.Deveria estar me odiando,mas eu estava decidido a explicar tudo.

–Vamos conversar...

Ela se virou como uma leoa,quase espumando de raiva.

–Então vai.-Seu tom era baixo e cruel.-Tenta.

Suspirei fundo e passei a mão pelos cabelos.Meu sangue fervia da adrenalina por ter corrido todo esse tempo e eu estava ofegante e dolorido.

–Bem,a Glimmer...eu...eu não beijei ela,ela me beijou.-Fui franco.

Katniss soltou um sorrisinho sarcástico.

–Então agora você quer que eu acredite nisso?Tudo o que eu achava sobre você estava certo.Você é um idiota.Eu...eu não acredito que me deixei envolver.E depois de tudo isso,eu só fui quebrar a cara mais uma vez.-Seu tom de voz era embargado,e os olhos brilhavam de lágrimas que não escorreram.-Saia do meu quarto.

–Por favor,me dá uma segunda chance.-Pedi.Eu me sentia horrível.

–Não existem segundas chances,Peeta Mellark.Nunca nada volta a ser como era antes,pois sempre vão existir marcas provando o que aconteceu.Para mim,não existem segundas chances.Eu tenho um coração e não dois.-Ela disse,ainda trêmula.

–Katniss,eu...-Comecei,mas ela me obrigou a ir até a porta.

–AGORA!-Berrou.-Se não sentia nada,deveria ter me falado logo de uma vez.

–Eu nunca disse que não sentia.E esse foi o meu erro,ter guardado para mim o que eu queria ter berrado para o mundo inteiro.-Eu disse,parando no portal.Havia um gosto amargo na minha boca.

–Vai embora,por favor.-Ela implorou.

–Katniss,eu te amo.-Falei.Nunca fui tão sincero em toda minha vida.

Nesse momento,seus olhos brilharam inocentemente.Eles lacrimejaram.Ela levantou a mão direita.Achei que fosse me puxar para um beijo.Comecei a me deixar levar...

E um estalo.

Katniss me dera um tapa.Eu a fitei,incrédulo.

–SOME!-Gritou.-DA MINHA FRENTE,DA MINHA VIDA!

E bateu a porta.Dessa vez,ouvi a fechadura se mexer.Fiquei um bom tempo olhando para a porta,esperando-a voltar,como na primeira vez.Talvez fosse tudo isso um sonho muito ruim.
Mas não era.E quando me dei conta disso,me virei para o meu quarto,olhando para o nada,sentindo os olhos marejarem.

Quando entrei lá,o silêncio.

“Imbecil.Babaca.” Disse uma voz em minha cabeça.Senti tudo pesar.Os olhos,as feridas.Não as feridas no meu pé,ou a ardência do tapa.As feridas em outro lugar,que me rasgavam por dentro.

Despi-me lentamente.Abri o chuveiro e deixei que a água morna corresse por todo o meu corpo,na esperança de me lavar por dentro também,limpando toda aquela tristeza enorme.

O celular tocou,e eu atendi,tentando disfarçar minha voz

–Alô?-Perguntei.

–Peeta,o doutor Plutarch está preocupado.Ele disse que deveria ter dito a ele que queria sair,mas disse também que está tudo bem.Só o aconselha a evitar grandes descargas emocionais e em hipótese alguma beber,ou a ferida pode reabrir.-A voz de Cato disse do outro lado da linha.-Te vejo mais tarde cara.

–Ok.Tchau.-Eu respondi,sem emoção.

Eu a havia tido por tão pouco tempo,e a deixei escapar entre meus dedos.
Eu não me importava muito em dispensar as garotas com quem ficava,e nem em ser dispensado.Mas dessa vez...eu nunca me senti pior.

Me joguei na cama,vestindo apenas uma bermuda e fechei os olhos.
Ela tinha razão.Eu era mesmo um idiota.