POV Liam

Depois de intervir nos caras batendo em Dylan e depois de levar uma sequência de socos em várias partes de meu corpo, dei um sorriso do tipo “vá em frente, já to todo fodido mesmo”, um sorriso banhado em sangue, o gosto de ferro já dominava minha cabeça. Pensei em continuar lutando, tentando tirar o cara de cima de mim, tentar por Megan, mas não por mim. Mas deixei levar, eu conseguiria espancar o cara até ele sair de mim, mas sabe quando você está afundando e percebe que é mais fácil se afogar do que continuar respirando? Eu meio que desisti de respirar, logo eu que sou o que empurra as pessoas para viver a vida, que quando a Megan tá pra baixo dou o sermão do “não desista e bla bla bla”, mas tava cansado. Cansei da vida.

Minha vida virou de cabeça pra baixo quando meus pais, que já não pareciam mais casados, resolveram sair de casa, cada um pra uma família diferente, largando meu irmão, Tony, e eu sozinhos na nossa casa de três andares. Sempre olhavam pra nossa família como se nós fossemos sinônimo de perfeição, o que realmente não somos. Tava tudo de cabeça pra baixo, Tony começou com as drogas, ele já ta na faculdade e lá é tudo lícito e fácil, ele chegava em casa drogado, gastava seu dinheiro todo com drogas, por isso que eu resolvi ficar mais tempo na casa da Megan, queria mascarar minha infelicidade. Mas não dá pra fugir, tentei conversar com Tony, mas ele fica todo agressivo, rude e estúpido, tudo o que ele não é. Então eu larguei de mão.

Tony sempre me oferecia os bagulhos loucos que ele fumava, mas eu nunca me interessei, mas depois de tudo isso, e ainda mais depois das minhas suspeitas de que Dexter é fura olho e a gota d’água foi isso que eles fizeram com o Dylan. Como eu disse, cansei da vida. Apanhar seria mais fácil, mais cômodo, um jeito de que Megan aceitaria.

A próxima coisa que eu me lembro é de estar meio desacordado no sofá da Megan observando-a a fazer o curativo de Dylan. Depois ela veio até mim, fez meu curativo e me deu um remédio. Após isso, eu cochilei e acordei com Danny e Megan me levando pro quarto dela. Eles me deitaram na cama, Danny saiu do quarto e Megan sentou do meu lado, me arrastei para encostar minha cabeça em suas pernas.

- Ei – ela me dizia carinhosamente, enquanto mexia no meu cabelo – tá melhor?

- Um pouco – disse olhando pros seus olhos azuis, como eu queria que ninguém mais no mundo existisse

- Vou ter que ir no bar – ela disse meio triste – tenho que dispensar o pessoal e avisar que a gente só vai abrir semana que vem, coisa rápida, em meia hora já to de volta. Tudo bem? – ela me perguntava, fiz que sim com a cabeça. Ela se levantou, trocou de roupa e saiu, rápida como um trovão.

Meu trovão, só meu.

POV Megan

Cheguei no bar as pressas, comuniquei que iria fechar por uma semana, o pessoal pareceu entender que eu tava passando por momentos complicados. Ninguém ficou triste ou criou barraco, fechei o bar e voltei pro carro. Sentei no banco do motorista e respirei fundo, me recompus e tentei pensar em tudo o que aconteceu.

Não entrava na minha cabeça como que o Liam e o Dexter que são caras super fortes e pá não conseguiram parar dois caras, tá, eu sei que os caras eram brutamontes, mas se eu com duas garrafas consegui, os meninos que fazem academia, futebol, basquete e luta deveriam conseguir quebrar eles no braço!

Não que eu ache que eles apanharam de propósito, as mãos de Dexter estavam completamente machucadas, ele bateu até onde pode. As mãos de Liam, não me lembro se tinham sinais de lutas, mas Liam jamais iria deixar alguém bater nele assim de graça. Mas tinha algo estranho, Liam estava estranho essa semana, parecia no mundo da lua, distraído com qualquer coisa. Depois eu penso nisso, tem muita coisa ruim acontecendo.

Balancei a cabeça na tentativa frustrada de fazer os pensamentos ruins desaparecem, liguei o carro e dirigi pra casa. Estacionei o carro e entrei. Danny tava na cozinha fazendo sanduíche, Mandy tava sentada no sofá com Dylan. Eles são tão fofinhos juntos, muito meiguinho. Se bem que eles combinam *risos*. Coloquei a bolsa na mesa junto com a chave do carro, subi pra ver Liam.

Ele ainda dormia em minha cama, aproveitei pra tomar um banho rápido e trocar de roupa, lavei o cabelo e os deixei secar ao natural, a preguiça de pentear era grande. Coloquei um short de malha e uma blusa preta. Verifiquei se Liam tinha febre e depois troquei seus curativos. Ele ainda dormia pesadamente. Deitei-me ao seu lado, estava tão cansada que acabei pegando no sono.

POV Dexter

Acordei no quarto de Danny meio assustado, não me lembrava direito o que estava fazendo ali. Quando fui me mexer, senti uma grande dor na região do abdômen e vi minhas múltiplas fraturas e curativos. Foi aí que uma vaga lembrança de ser espancado e amarrado em uma pilastra vieram. Não consegui me mover muito na cama, resolvi ficar lá mesmo. Danny entrou no quarto com comida, meu estomago roncou. Tava morrendo de fome.

- Ainda bem que cê acordou, porque eu iria te acordar de qualquer jeito – ele disse descontraído e colocou o prato na cama, bem na minha frente, e o copo com suco na mesinha ao lado. Danny se sentou na cama, com cara de quem quer conversar. Comecei a comer

- Tá muito bom, cara – falei com a boca parcialmente cheia. Ele riu fraco

- Ô educação mórbida, mastiga primeiro, depois fala – ele tava falando que nem a Megan

- Credo, cê ta igualzinho a Megan. – comentei rápido

- É, acho que é a convivência, tenho que parar de absorver o que ela fala. – ele falou com a mão na nuca

- Quem mais tá aqui? – perguntei cortando o silencio, Danny gosta de falar e eu também

- Liam, Dylan, Megan e Mandy – ele falou olhando pro teto repensando pra ver se não tinha esquecido de ninguém.

-Hm. – balbuciei de boca cheia – Como tá o Dylan? – perguntei preocupado

- Tá melhor, Mandy o levou no pronto socorro, com ele foi mais sério. Contigo e com o Liam foi um pouco mais leve, vocês não quebraram nada. Dylan tá com duas costelas quebradas, ferimentos múltiplos e algumas lesões um pouco mais sérias – ele falou como se tirasse um peso enorme das costas

- Espero que ele fique bom logo – falei pensando no que vou fazer contra os caras que bateram na gente

- O que a gente faz agora? – Danny perguntou como se lesse minha mente

- Por enquanto, vamo tentar sobreviver. Semana que vem a gente planeja alguma coisa – disse terminando de comer meu sanduiche – Até porque nesse estado que eu, Dylan e Liam estamos, se conseguirmos descer as escadas já vai ser muito. Vamos esperar

- Mas cê não acha que já deveríamos estar pensando no que fazer? – ele falou com uma ponta de raiva – não podemos deixar barato!

- E não vamos – falei sério – Agora, pastel, me ajuda a levantar. Quero ficar na sala e fingir que não to todo fudido

Danny sorriu e me ajudou a descer, ele era mais forte do que eu pensava. Danny estava se mostrando um ótimo amigo, muito bom de conversar com ele, porque ele simplesmente escuta. Tem dias que eu só quero falar, só preciso de alguém que me escute.

Danny me ajudou a sentar na poltrona, Mandy e Dylan estavam em um sofá e Danny se deitou esparramado no outro. Gostei de ver Mandy juntinho com Dylan, eles são legais juntos, combinam. Tava passando um filme muito enjoado, desligamos a TV e Mandy foi buscar algo pra comer, ficando na sala eu, Dylan e Danny

- Ei Dylan – falei chamando a atenção dele que seguia Mandy com os olhos

- Fala patrão – ele disse ainda sem olhar pra mim. Peguei uma almofada e taquei na cara dele, aí ele olhou pra mim

- Ô lezo apaixonado, to falando contigo. Sabe, seu melhor amigo da vida toda, da pra olhar pra mim?! – falei parecendo um garotinho de quatro anos querendo atenção dos pais. Dylan olhou pra mim bravo e Danny riu

- Fala piranha – ele falou cínico. Dylan e eu temos esses apelidos bonitos, piranha, piriguete, beira de estrada, 0800, coisas bonitas de uma amizade.

- Tá todo xonado da Mandy né?! Cê não perde tempo hein cachorro, nem quando tá todo lascado e caindo aos pedaços – falei e Danny já tava quase caindo do sofá de tanto rir

- Tô nada – Dylan negava, mas tava na cara

- Vei, que isso escrito na sua testa?! – falei zuando ele. Dylan passou a mão na testa – Tô vendo escrito “AMO A MANDY” ou é impressão minha?! – falei e Dylan percebeu que era zoação. Danny e eu caímos na risada e Danny, caiu, literalmente.

- Ah vei para, assim ela vai reparar – ele falou baixinho, ela tava voltando com meus remédios e os do Dylan, ele olhou pra mim nervoso – Tô com cara de muito fudido ou mais ou menos? – ele perguntou apressado, eu ri

- Muito fudido – falei rindo, mas era mentira, ele tava mais ou menos

- As mina pira num menino quebrado – ele falou tentando melhorar sua situação – que assim elas tomam conta – ele fez cara de cachorrinho caído da mudança, todo mundo rui, mas daí Mandy chegou na sala e a risada acabou

- Quisso?! Sou tão feia assim que a risada acaba?! Poxa vida – ela falou irônica, Dylan corou

- Que nada, linda. – Danny provocou Dylan com o “linda” – Só piada de marmanjo

-Tá né. – ela disse me dando os comprimidos fazendo a mesma coisa com Dylan – Dy, vou precisar que você tire sua camisa, porque tenho que passar isso – ela disse mostrando um tubo de pomada azul – nos roxos pra sarar logo – Dylan ficou vermelho feito um pimentão, eu comecei a rir – Não ri não Dexter, o próximo é você. E isso tem cara que arde – ela disse cínica, já adorei Mandy. Engraçada demais.

POV Dylan

Quando Mandy falou que eu tinha que tirar minha camisa, juro que não fiz por mal, mas já pensei besteira. Mas daí ela mostrou a pomada e zuou com o Dexter, tentei ficar mais tranqüilo. Ela me ajudou a tirar minha blusa e pude ver que ela secava meu abdômen, não querendo me gabar, mas já me aproveitando, sou um ótimo partido.

Quando ela encostou sua mão no centro das minhas costas, porque ela tinha que tirar o curativo, passar a pomada e voltar com o curativo, ao sentir o toque de suas mãos macias, eu arrepiei. Mas ela pareceu não se importar, continuou a fazer o procedimento, com muito carinho e zelo. Os meninos ficavam me zuando fazendo corações, mandando beijinho, são uns viados esses meus amigos mesmo. Ainda bem que ela não tava vendo. Quando ela virava pra eles, eles paravam e olhavam sérios, e quando ela voltava pras minhas costas, eles voltavam com as palhaçadas.

Quando ela terminou me avisou

- Aqui diz que tem que esperar no mínimo uma hora pra colocar algo por cima de onde a pomada foi utilizada, então cê vai ter que ficar sem camisa por um tempo, mas de boas porque tá meio quente – ela disse se explicando e ficando parcialmente corada, eu ri. Ela ficava muito fofa quando ficava corada

- Tudo bem – falei sorrindo. Ela sorriu de volta, como se não tivesse mais ninguém na sala.

Ela se voltou pra Dexter

- Sua vez, madame – ela falou rindo. Se aproximou dele e sem cerimônias ele já tirou a camisa.

Ela pareceu não analisar Dexter como fez comigo, se ateu aos ferimentos. E gente, sou homem, mas o Dexter é bonito e como homem tenho que admitir isso também. Mas Mandy não percebeu isso, ficou passando a pomada e depois que guardou a pomada na caixa falou

- Os preguiças querem mais alguma coisa?! Vou na cozinha guardar isso na caixa de remédios e já trago o que as princesas querem – ela falou irônica

- Umas cervejas beeeeeeeeem geladas iriam cair muito bem, daqui a pouco tem jogo ao vivo e tals – Dexter disse na preguiça

- Tá, eu trago. E pra comer? – ela perguntou indo pra cozinha

- Pipoca! – Dexter, eu e Danny falamos em conjunto. Começamos a rir, Mandy também.

Nos ajeitamos no sofá e Danny colocou no canal do jogo, não demorou muito e Mandy veio com as cervejas. Trouxe logo um monte. Ela se sentou do lado de Dylan e abriu uma garrafa pra ela. O jogo tava pra começar quando Megan desce das escadas no desespero, com uma cara brava e de quem acabou de acordar.

- Gente, o Liam sumiu! – ela dizia preocupada, descabelada e desesperada. – Não tá aqui em cima! Nem no banheiro, nem no meu quarto, nem na sacada, nem no quarto da Ellen, nem no do Danny! Eu tava dormindo, e ele também, agora quando acordo ele não tá mais lá! – ela dizia rápido, gesticulando as mãos como se fosse mais fácil de compreender. – Cadê o Liam?!?! – ela dizia em pleno desespero.

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