O sol se eleva, altivo pela manhã, e com a luz do sol vem a obrigação de acordar e encarar o mundo mais uma vez. Uma batalha diária, até entanto normal a todos.

Uma cena um tanto quanto estranha logo é presenciada naquele período.

 Nekomura, Hiroto e Nezumi, ainda envoltos em sono. Nekomura esticado na cama, Hiroto em forma de gato, encolhido perto ao pescoço de Nekomura, e Nezumi encima do peito dele.

Nekomura ergue os braços em um gesto de se espreguiçar, boceja, coça os olhos e diz a si mesmo:

- Ainda bem que hoje não tem aula, imagine mais um dia maçante nessa semana louca!

Ele nem notara que Hiroto estava aconchegado até demais, por enquanto. Viu que a distância entre os dois estava um tanto incômoda, e soltou um grito que ele mesmo abafava com a boca.

-Ma-ma-mas que liberdade é essa?! –bradou Nekomura. Estava um pouco corado.

- Eu não disse que queria uma distância?!

Os dois acordaram, meio atordoados com o sono, sem entender o que acontecia.

- Me desculpe, é que eu sou sonâmbulo. Nem percebi que havia avançado essa distância na cama. –dizia Hiroto, um pouco desconsertado.

- Não fique tão bravo assim, Neko! Não estamos acostumados a dormir como animais. –explicava Nezumi, tentando acalmá-lo.

                                       * * *

- Bom dia, Nemui-san! –dizia a Sra. Natsuyama enquanto punha o café da manhã na mesa.

- Bom dia, mãe. Eu queria te perguntar uma coisa. Um pedido.

- E o que seria esse pedido?

- Bem... Você sabe que anos atrás eu tinha pedido um animal de estimação, quando eu era pequeno.

- E você iria me pedir um? –interrompia secamente Nekomura. – Você sabe que não sou fã de animais domésticos, eles fazem cocô, xixi, soltam pelo em tudo quanto é lugar.

Mas a ideia de Nekomura se sentir solitário, algo que a Sra. Natsuyama sabia, estava martelando os miolos dela. Seria uma boa oportunidade de fazê-lo mais feliz, mais realizado.

- Então... Está bem. Pode adotar um bicho. –Nekomura comemorava em silêncio.  - Mas na primeira mancha, na primeira poça, você irá cuidar dele... Ou dela... Sei lá.

- Eu já tenho eles separados na casa do... da... Da Mira! –completava Nekomura.

- Eles? Plural? Não quero um... - Mas são só um gato e um rato. –interrompeu.

- Você sabe, sua responsabilidade.

A tarde chega, Nekomura decide almoçar no quarto, disfarça e repete duas vezes seu prato para Hiroto e Nezumi comerem também.

Um círculo de luz surge no piso do quarto, mas Hiroto e Nezumi já presumem ser Kin.

- Bom dia! –dizia Kin com uma animação fora do normal.

- Bom...dia. –falou Nekomura ao ver a expressão de felicidade. – Por que está tão feliz?

- Eu vou pedir uma coisa que você talvez não aceite logo de cara, algo que eu estava pensando desde ontem... –dizia com o dedo indicador no queixo.

- E... O que seria? –perguntou Nekomura, sem nenhuma ideia do que ela iria pedir. O que podia ser tão urgente assim?

- Eu cansei de ser covarde, me esconder no mundo humano só para fugir do meu pai. Por isso estou disposta a seguir um plano que eu creio que seja a melhor opção até agora. E também eu acho que pra você saber o que é mesmo, eu vou ter que te mostrar pessoalmente.

Ela tira a espada da bainha e começa a conjugar palavras estranhas, fazendo a espada acender como brasa.

Seus olhos violetas se avivam mais e ela desenha um círculo, não um círculo de invocação normal, com o que ela e os outros se locomovem, mas sim um círculo mais elaborado, com mais escritos desconhecidos e duas vezes mais amplo do que o normal.

- Pulem. –pedia Kin a Nekomura, Hiroto e Nezumi.

- Ma-mas eu nem sei aonde isso vai parar! E se... –Ele é interrompido por Nezumi que o agarra e empurra portal adentro, fazendo os dois caírem. Hiroto e Kin pulam logo em seguida.

                                            ***

Com a mesma sensação de ir em um portal de invocação, Nekomura acorda com a visão embaçada.

- Aonde eu estou? –perguntava Nekomura, confuso ao ver que estava em uma floresta densa e pouco iluminada, cheia de altos cogumelos e plantas com tons fortes, como o roxo, o vermelho e o verde-oliva.

- Sinto saudades desse cheiro de madeira e chuva. –dizia Hiroto em um tom nostálgico.

- A primeira coisa que eu vou fazer será uma perfeita carpa frita pra todos nós. –Nezumi falava com a mão na barriga, mostrando fome, ou até mesmo saudade da comida.

- Ninguém me respondeu ainda. Aonde estamos? –perguntava eufórico.

- Eu lhe apresento, meu mundo. Ou pelo menos a parte do meu mundo que corresponde ao Hiroto e à Nezumi.

Com um grande gesto teatral com os braços, Kin diz:

- Bem vindo à Sadko, a floresta submersa!