A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 10
Capítulo 10




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Alice e eu ficamos fora durante a tarde toda, tempo suficiente para contar a ela minhas aventuras do dia anterior. Eu sabia que Edward estava fora, certamente com a humana, então não precisava me preocupar em voltar cedo para casa. Ele se preocupava muito comigo, e eu queria acreditar que era só por pena da minha história. Ríamos juntas ao cogitar a reação de Edward se soubesse do motivo da minha fuga.

- Acho que ele vai pirar... – riu Alice, andando em cima de um tronco espesso, se equilibrando. – Ficará furioso ao saber que você se aventurou com um humano, e ainda se alimentou dele... Até imagino sua reação.

- Não exagere Alice. – bufei. – Edward é um bom garoto, e ficamos muito próximos pois ambos sabemos o que é amar uma pessoa e ficar sem vê-la por muito tempo...

Alice deu um sorriso um pouco triste e pulou em um salto incrível até o galho alto em que eu estava sentada, a mais de 20 metros do chão. Ela olhou para o horizonte e pegou minha mão.

- Acho que todos nós entendemos a dor de vocês. Eu por exemplo, não me imagino ficando muito longe de Jasper... – ela franziu a testa desaprovando a hipótese. – Vocês sofreram muito.

- No meu caso, eu ficarei pra sempre sem ver aqueles que eu amei. Os dois homens mais importantes da minha vida. – murmurei distraída. – Meu pai Apollo, e meu querido Max. – olhei para Alice. – Eu ainda lembro do sorriso dele... E ele me contando histórias sobre as estrelas que caem na terra, ouço a risada dele, sinto o corpo bronzeado dele ao meu lado à todo instante...

- Oh, Serena. – ela me abraçou soltando o ar. – Não chore por favor.

- Não tenho o direito de chorar, depois do que fiz ontem. – respondi com um meio sorriso amargo. – Sei que Max entenderia, mas me senti um pouco culpada. Meu consolo, é que não há outra opção pra mim. Só posso acalmar minha fera, libertando-a.

- Eu te entendo. Aliás você parece bem melhor depois de ontem. – ela sorriu e pegou minha bochecha, mudando de assunto. – Você está mais corada, não está mais com olheiras. Sua pele está mais brilhante, seus cabelos estão mais sedosos...

- Ok, Alice. Eu já entendi. – ri, olhando para o chão lá em baixo. – Você fala como ele...

- Ele quem? – perguntou ela divertida.

- Como Edward! – ri novamente empurrando-a para o lado. Ambas suspiramos.

- Sabe, você foi uma das únicas coisas boas que chegaram aqui. – disse ela, sorrindo depois de um tempo. – Todos ficaram mais alegres com a sua chegada. Até Rosalie e Carlisle que estavam inseguros quanto a você ser perigosa ficaram relaxados. Rosalie se tornou um pouco menos invejosa, Jasper está um pouco mais amigável, eu fiquei menos confusa com minhas visões e até Edward está mais feliz... – ela fez uma pausa. – Quando ele conheceu Bella, a vida dele se iluminou. Agora que você chegou, ele parece feliz por completo. Ele toca músicas mais alegres no piano, usa roupas um pouco mais de cor.

- Ele me contou sobre o passado dele em uma noite... É realmente muito triste. – sussurrei. – Mas sabe? Eu acho que a felicidade dele está vinculada com seu casamento, e não comigo. Eu não sou nenhum anjo divino pra ajudar a todos, Alice.

- Não mesmo... – ela riu com o olhar que lhe lancei. – Serena, você é uma mulher tão simples... Uma mulher simples em um corpo de uma adolescente, é claro. Mas você acaba descomplicando os problemas, e é tão mais fácil viver assim. Você faz todos que andam próximos a você, compreenderem que é preciso aproveitar os momentos bons da vida e esquecer os ruins. Percebi que tudo é tão fácil... E quem dificulta tudo somos nós. Nós criamos problemas que não existem, parece que nunca estamos satisfeitos com nada... E você ajudou a iluminar tudo. – ela suspirou olhando um ponto fixo e depois se virou para mim. – Você se tornou a minha melhor irmã, eu te amo!

Eu dei um meio sorriso para minhas mãos em meu colo. Não consegui responder nada coerente, e apenas refleti sobre suas palavras. De certo modo, ela estava certa. Dei um abraço forte nela, seu curto cabelo preto fazendo cócegas em meu rosto.

   - Como Edward não ficaria feliz em ter você por perto? – ela perguntou em meu ouvido, ainda me abraçando. – Como alguém não ficaria feliz com você por perto?

- Obrigada Alice. – falei em seu cabelo. – Isso era tudo que eu precisava ouvir no momento, irmãzinha.

Eu observei seu rosto, ela parecia a ponto de chorar se ela conseguisse ao menos fazer isto. Nos sentamos direito no galho novamente, olhando o sol se pondo lentamente.

- Sabe, eu tenho uma dúvida. – disse ela de repente.

- Pode mandar. Eu aguento. – falei colocando um punho em cima do coração, enfaticamente. Ela sorriu e tombou a cabeça para um lado levemente, fazendo o delicado brinco de ouro cintilar no sol.

- Você não pode mesmo se transformar em lobo?

- Não. – respondi sorrindo. – Max tentou me ajudar com isso, mas nunca deu certo.

Uma dor aguda me atingiu na barriga novamente. Alice se aproximou rapidamente, enquanto eu arfava.

- Serena! O que houve? – gritou ela, assustada.

Tentei me concentrar em minha respiração, e não consegui falar. Uma nova pontada me atingiu. Eu agarrei o tronco da árvore com força. Me esforcei para dizer:

- Está tudo bem... Isso aconteceu ontem também, e logo passou. Vai passar em breve.

- Tem certeza? – perguntou ela. – Acho melhor te levar para Carlisle.

Outra pontada. Soltei um rosnado sem querer, assustando Alice. Olhei para ela tentando acalmá-la mas não funcionou.

- Meu Deus, vamos. – ela me pegou apressada. – Você precisa voltar.

E ela pulou aquela altura imensa e me carregou correndo de volta à casa dos Cullen.

Carlisle passou algumas horas me examinando. Eu fiquei deitada na maca, sem fazer nenhum movimento, pois sentia que todos os nervos do meu corpo estavam estirados. Sentia que um garfo entrava em meu ventre e torcia tudo o que havia lá, a dor era nauseante. Eu urrava de dor, enquanto Carlisle checava  os resultados de todos os exames, procurando alguma resposta.

- Não há nada... – dizia ele aflito. – Não encontro nenhum resultado!

Alice, que estava sentada na cadeira do lado da maca se levantou depressa e checou os papéis também.

- Tem certeza? – perguntou ela.

- Sim. Fiz todos os tipos de exames, sanguíneos, de pressão, temperatura. Fiz até exame de gravidez.

- Mas como assim... Ela deve ter alguma coisa. – dizia Emmet do outro lado da sala.

Carlisle me observava com os olhos preocupados, ele se sentia impotente. Ouvia Emmet discar um número no celular.

- Não Emmet! – falei em meio à dor. – Está tudo bem, não precisa ligar para ele.

- Edward precisa vir para cá. Ele pode ajudar. – Emmet respondeu com o celular na mão.

- Ele não saberá nada que Carlisle desconheça. Ele ficará preocupado, por favor isso já vai passar. – murmurei.

- Serena tem razão Emmet. – Carlisle falou com uma mão na têmpora. – Ele ficará preocupado e é bem provável que ele não saiba de uma solução para isso.

- Nós vamos encontrar uma forma de fazer isso parar. – Alice pegou em minha mão ao falar.

- Não estou doente, ficarei bem. – tranquilizei a todos.

Carlisle pediu para que todos se retirassem dali, para que ele continuasse com os exames até descobrir algo plausível. Um a um foram se dissipando inclusive Alice. O doutor me observava franzindo a testa.

- Tenho uma suspeita. – falou ele bem baixo, evitando que os outros escutassem. – Mas é um pouco... impossível.

Eu o fitei esperando pela resposta. Minha mão se agarrando ao lençol branco.

- Talvez, isso que você tenha seja cólica. – ele olhou para a máquina de batimentos cardíacos. – Cólica menstrual.

Eu não pude evitar a gargalhada. Ele estava sendo absurdo.

- Eu sei que você é uma sobrenatural híbrida de três raças bem distintas... E que isso é impossível de acontecer, mas e se... – ele puxou uma cadeira para perto de mim e se sentou. – E se isso realmente estiver acontecendo?

- Carlisle. Isso é absurdo. – respondi levantando uma sobrancelha.

- Pense bem, humanos e lobisomens podem procriar. É como lógica, você tem 2/3 de possibilidade de procriar também. É uma chance bem razoável... – o doutor afirmou.

- Eu... – disse perplexa, entendendo o significado daquilo tudo. – Não sei o que dizer. Falando assim, isso parece bem provável... Mas a dor é extremamente forte, e definitivamente não me parece uma cólica menstrual.

- Sim, mas não sabemos nada sobre as cólicas de uma loba. Podem ser bem fortes talvez, já que o corpo é super-adaptado e mais adaptável. E se esse realmente for o caso... Teremos que ter muito cuidado, pois não sabemos que influencia isso pode ter no seu comportamento. – refletiu ele misterioso.

- Ok. Então o que faremos? – perguntei nervosa, pensando em milhões de possibilidades (quarentena sendo uma delas).

- Não temos muitas opções. A única coisa que consigo fazer por você e te dar um anti-inflamatório formulado. Eu... gostaria de poder fazer mais.

- É só isso? Então eu quero tentar. – disse arfando. – Apenas faça isso parar. É muito incômodo. – me sentei na maca.

Tirei todos os fios que estavam ligados em meu corpo e coloquei uma mão na cabeça, massageando a testa. Carlisle se movia como um vulto, desligando os aparelhos e anotando coisas que eu não entendia.

Esperei durante mais uma hora até que ele finalmente tivesse terminado.

- Pronto... – ele se aproximou com um copinho cheio de um líquido vermelho. – Beba tudo.

Engoli a substância amarga e tossi. O gosto era detestável.

- Não tive tempo de colocar um sabor de morango. – desculpou-se com um sorriso amarelo. – Acho melhor você descansar durante essa noite. Já são 2 horas da manhã. Edward chegará em breve.

Ele me ajudou a sair da sala e eu subi as escadas cansada, com o corpo todo tenso.  Entrei em meu quarto sorrindo levemente para as paredes rosa-pálido. Não gostava de rosa, mas gostava daquele rosa. O meu rosa. Coloquei um pijama azul marinho de mangas compridas e fui até o banheiro lavar meu rosto. Os olhos vermelhos-vívidos me encaravam cansados no reflexo do espelho. Eu parecia bem melhor do que no dia anterior realmente, mesmo cansada do jeito que eu estava. Apaguei todas as luzes do quarto e me joguei na cama, me cobrindo com o cobertor. Apalpei o controle remoto do rádio do meu quarto e o liguei. A voz grave do locutor enchia o quarto com o som baixo:

- "Foi constatado um incêndio no Hotel Four Seasons em Seattle, exatamente ás 8h32 minutos de hoje. O motivo do incêndio não foi identificado ainda. Um homem estava no apartamento mas não foi ferido. A vítima, Andrew Dempsey, nos contará mais detalhes..." – a voz parou e outra voz continuou. Uma voz muito familiar.

- "Eu me lembro de que estava no bar. E então eu vim para meu apartamento aqui no hotel . Dormi, e no dia seguinte quando acordei, o meu vaso de cerâmica egípcia estava pegando fogo! "– o homem falou. Reconheci sua voz, ele era o homem com quem eu tinha saído ontem à noite. Coloquei a mão na boca para abafar o riso. O movimento fez meu ventre doer novamente. O locutor perguntou:

- "E você estava sozinho quando foi para o apartamento?"

- "Sim, eu estava sozinho..." – a voz familiar riu sarcástica.

Sorri com as palavras de Andrew, e saber que ele sobrevivera sem muitos machucados me fez alargar o sorriso. Ele era um bom homem, merecia ser feliz. As dores de meu ventre amenizavam gradativamente, e o sono foi me invadindo.  Desliguei o rádio e pousei o controle na mesinha de cabeceira. Desejei uma boa noite para Andrew, e uma boa noite para Max. Assim adormeci encolhida, temendo uma nova pontada na barriga, que não veio. 


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