“Sempre imaginei como seria te amar...”.

“Não me conformei em apenas te olhar...”.

“Escuta minha voz no seu coração, eu quero te abraçar”.

Éramos amigos, desde criança e eu, desde aquele tempo, já pensava nisso. Achava que era coisa passageira, que era apenas um carinho de irmão, mas, com o tempo, fui percebendo que você era sério demais e que nunca repararia em mim, tampouco nos meus sentimentos.

“Sempre te esperava escondido muito perto.”

“E, naquele instante você me pegou...”

Passei então a apenas te olhar, escondido dentre as pilastras do Santuário. Foi então que, um dia qualquer, o Grande Mestre lhe deu uma missão: treinar um jovem garoto na Sibéria Oriental. Chorei... Não sabia quando ia te ver novamente. Meu coração gritava de saudade, não suportava ficar longe de você. Nesse momento que percebi que isso era paixão. Foi então que algo aconteceu...

>Lembrança: início

–Milo, mon ami! Senti sua falta...

Somente a voz de uma pessoa naquele Santuário faria minha pele se arrepiar daquela forma. Você tinha retornado. Olhei para a porta de minha morada zodiacal, a Casa de Escorpião, e te vi, dando aquele sorriso frio, de canto, e caminhando em minha direção, enquanto abria os braços:

–Camus!!

Não resistir e saí correndo na direção daquele francês que vivia em meus sonhos. Logo senti seus braços másculos me envolvendo. Reconfortei-me, e suspirei profundamente. Por um momento, senti que estava sonhando, e deixei escapar o que realmente sentia:

–Senti... Sua falta...

Colei meus lábios aos seus, inconscientemente. Estranhamente, você não resistiu. Minha deusa! Finalmente estava em seus braços, e sentia seus lábios juntos aos meus. Escutamos passos saindo das escadarias. Interrompi o beijo e me afastei, com o rosto bem ruborizado. Um soldado vinha lhe informar que o Grande Mestre desejava lhe ver. Antes que você partisse, lhe puxei pela capa:

–Perdão...

Você apenas sorriu e seguiu o soldado, desaparecendo rumo as outras casas zodiacais. Comecei a pular dentro de minha morada. Nunca havia sentido tal felicidade antes.

“Não pude evitar dessa vez, por isso te beijei”.

“Agora sei o que é amar, vem pra perto um pouco mais”.

“Agora sei o que é amar, vem comigo sonhar”. 

>Lembrança: Fim

Você ficava pouco no Santuário. Estava sempre viajando. Até que, em um dia de outono, voltou para ficar. Havia terminado o treinamento de seu discípulo. Enfim te teria para sempre. Porém, quando você voltou, foram poucas às vezes que me dirigiu a palavra.

“Sempre desenhava na mente o seu rosto”.

“Em qualquer lugar escrevia o seu nome”.

De repente, a notícia de que Cavaleiros de Bronze renegados, acompanhados de uma falsa Athena estavam a caminho do Santuário chegou até mim. Soube, por meio de um soldado, que um desses jovens fora o discípulo que você tanto se dedicara a treinar. Não vi momento melhor para ir até sua morada.

>Lembrança: Início

–Camus! Camus! Soube da notícia?

Entrei em sua Morada Zodiacal sem pedir licença. Não o achei em lugar nenhum. Comecei a caminhar pelo local e vi uma porta aberta. Decidi apenas espiar por sua fresta. Lá estava você, deitado usando apenas uma calça de couro preta. O que era aquilo? Que homem era aquele deitado na minha frente. Engoli seco e abri a porta lentamente. Seu sono era leve e, apenas com a pequena rangida que a porta deu, você despertou:

–Milo? O que faz aqui?

Fiquei mudo. Abri a boca, mas as palavras não saíram. Você ficou me olhando sem entender. Até que fui me aproximando lentamente e poucas palavras saíram de minha boca:

–Soube que seu...

Você se sentou na cama e tomou a palavra:

–Isso não importa Milo. Aqueles Cavaleiros de Bronze não passam de crianças. Acham mesmo que podem enfrentar o Gran-

Atirei meu corpo sobre o seu. Nossos olhares se encontraram. Você estava com uma expressão que misturava espanto e raiva, porém, nos seus olhos eu senti que você realmente queria aquilo.

–Nunca julgue um livro pela capa. Eles podem nos surpreender, assim como te surpreendi agora. Eu quero acabar com isso, antes que essa guerra estoure.

Você cerrou os olhos e enfim se entregou a mim. Foi o momento mais feliz de toda minha vida.

“Perdoe, mas eu não pude evitar dessa vez, por isso te beijei”.

>Lembrança: Fim

Como lhe disse, não devíamos ter julgados os Cavaleiros de Bronze. Você pereceu nas mãos do seu amado discípulo, não sem antes lhe passar um último ensinamento. O Grande Mestre foi deposto de seu trono e Athena assumiu seu lugar. Passei a viver apenas com as lembranças daquele dia em que você foi meu. Lembra daquele dia era a única coisa que coloria aqueles dias cinzentos que minha vida havia se transformado sem você, sem seu amor.

De repente, sinto seu cosmo, mas diferente. Soube que tinha ressuscitado, mas do lado do inimigo. Novamente chorei. Primeiro por não poder te ter, segundo por ter que lutar com você e, terceiro, por te ver perseguir a deusa que juramos proteger e não medir esforços para tal. Usando uma técnica proibida. Meu amor tornou-se ódio. Minhas lágrimas tornaram-se sangue e você era o responsável por isso. O homem que tanto amei perseguindo nossa deusa, eu não podia aceitar.

Persegui-te até o inferno, mesmo com a força reduzida. Fiquei preso em Cocytos, apenas planejando vingança eterna. Foi quando o cosmo terno de Athena me libertou. Aqueles Cavaleiros de Bronze, que um dia chamamos de inimigos, iriam até a terra proibida salvar a nossa deusa. Quase morri tentando ajuda-los, quando novamente sinto o cosmo de Athena. Ao me virar, deparo-me contigo e com todos nossos companheiros mortos. Queria te abraçar, mas sou um Cavaleiro de Ouro e tenho meu orgulho. Resisti até o fim. Já inflamava meu cosmo até o limite, sentia o meu corpo fritar quando senti sua energia atrás de mim e aquele sotaque francês em meu ouvido sussurrar:

–Je t’aime, Milo de Escorpião.

“Agora eu sei o que é amar, vem comigo sonhar”.