- Você está apaixonada pelo Rodrigo?! - gritou Camila com os olhos mais arregalados que eu já vi.

    - Camila, pelo amor de Deus, fica quieta! Ele está na casa ao lado, lembra?

    Depois do nosso afastamento eu percebi que não dava para esconder mais nada da Camila. Por isso que quando, depois de tomar café na casa do Rô, ao ver que ela viera me visitar, eu contei tudo a ela.

    - Não dá pra eu ficar quieta, caraca, não dá! Eu sempre torci por vocês dois, ah!, que perfeito!

    - Camila, calma! Acho que eu não estou mesmo apaixonada por ele, acho que é mais uma atração passageira...

    - Amiga, se é verdade isso tudo aí que você falou... Esses são os sintomas exatos! Você está apaixonada por ele, com certeza.

    - E como assim você sempre torceu por nós dois? Desde quando?

    - Ah, desde que o Rô confessou pra mim que era doidinho por você.

    - O que? Você sabia?

    - Juliana, só você não sabia. E quando eu digo "só você", é porque era apenas você, mesmo! Quer dizer, até um professor já veio me perguntar se vocês namoravam. 

    - Sério?! Ai, credo. Que vergonha... 

    - É, na história de todas as paixões não correspondidas, você foi a mais lerda pra perceber. Se bem que, pera, agora é correspondida! Ah! Vocês vão namorar, que lindo, Ju!

    - Camila, não viaja. Ele está com a Sarah. E ela faz ele feliz. Eu não pretendo prolongar essa paixonite. Não mesmo. Vou fazer de tudo pra parar esse sentimento.

    - Juliana, minha filha, você sabe que não é simples assim. 

    - Vai ter que ser. Vou me concentrar nos defeitos dele, quem sabe assim eu pare de gostar dele. 

    - Duvido que vai dar certo mas tá bom. Preciso ir agora, amiga. Prometi ao Rafa que eu ia ver um filme com ele, um que vai passar na tevê aberta agora. Beijos e me conta tudo depois!

    Camila estava saindo do quarto quando Rodrigo estava entrando. Ela sorriu para ele de um jeito incomum e percebi que ele achou esquisito, mas não falou nada.

    - Então, Jujuba, vamos para o clube de novo? 

    - Hm, não estou muito afim, na verdade.

    - Ah, não, vamos! Foi tão divertido ontem.

    Já ia responder que não. Já ia dizer que não estava afim de ficar de vela. Mas então ele segurou minha mão. Senti minhas bochechas queimarem. Virei o rosto para ele não ver. 

    - Tá. Tá, vamos. 

    - Legal - ele sorriu - Então vai se arrumar. 

    Tudo se repetiu. Minha roupa não tão chique, Sarah chique, Rodrigo centro das atenções, pai influente, batata-frita, etc. A única diferença aconteceu quando eu estava indo para a piscina com Rodrigo. Sarah nos chamou e disse que queria nos apresentar a alguém.

    - Gente, esse é meu primo, Gustavo. Ele está na faculdade de direito, tem 22, mora num duplex sozinho, e, sabe o que mais Juliana, ele é solteiro! 

    Gustavo era alto e muito, muito forte. Se eu o visse de longe, com certeza desconfiaria que era alguma celebridade por causa de sua beleza simétrica e perfeita. 

    Sarah empurrou ele para perto de mim e puxou Rodrigo para perto dela. Percerbi ela sussurrando algo no ouvido dele. 

    - Juliana, o Gustavo não conhece esse clube. Que tal você mostrar a piscina aquecida pra ele, ein? 

    - Hm - falei, envergonhada com a situação - Tá. E vocês?

    - Ah, a gente prefere ficar aqui, por enquanto, né Rodriguinho? - ele não falou nada - Depois a gente encontra vocês lá! 

    Gustavo me virou pelo braço e, depois de uma certa distância, falou:

    - Peço desculpas pela minha prima. Ela sempre tenta bancar o cupido mas fica uma coisa tão artificial que é vergonhoso. Além do fato de que nunca dá certo. Eu não posso nem comentar com ela que acho tal garota bonita que ela já quer me juntar com a menina. 

    - Tudo bem. Espera, você disse pra ela que me acha bonita?

    - Hm - ele riu com as bochechas rosadas - É.

    - Ah, obrigada. Bom, esta daqui é a piscina favorita da sua prima. A água é simplesmente... Fervente. Sério, é uma tortura, não me faça entrar de novo! Não nesse calor. 

    - Ufa! - disse ele, rindo - Que bom que você não é que nem ela. Odeio piscina quente. Parece que não é piscina. Quer dizer, eu cresci com a ideia de que água quente é só pra tomar banho e piscinas servem para se refrescar!

    Fomos para a piscina mais gelada de todas, segundo um salva-vidas bronzeado. Gustavo era muito divertido, contou-me das furadas que Sarah o fez ter. No quesito "juntar pessoas" ela era simplesmente péssima. Ele era muito interessante também. Cheio de coleções.

    - Eu coleciono clássicos em VHS. Meu avó me deu os que ele tinha e eu compro várias pela internet. Eu acho fitas tão melhores que DVDs... Não sei porque. Acho que é porque me lembra muito da minha infância. Além do fato de que eu gosto do som abafado, e do jeito que a imagem fica. 

    Algo que eu sentia falta era isso. Também lembrava muito de quando eu era criança. Acho que ele percebeu minha cara de interessada porque logo depois ele disse:

    - Se você quiser ir lá pra minha casa ver...

    - Quero! - falei, soando empolgada demais.

    Bem nesta hora Rodrigo e Sarah chegaram. Rodrigo mergulhou na piscina mas Sarah preferiu ficar apenas na borda, já que achava aquela água muito gelada. Rodrigo ficou do meu lado.

    - O que vocês estavam conversando? - perguntou ele.

    - A Juliana vai na minha casa depois daqui, pra ver minha coleção de filmes em VHS.

    - Eu também tenho uma coleção de filmes. Só que em DVD - disse Rodrigo - Por que, alô, estamos no século vinte e um - começou a rir sozinho - Certo?

    - Ah, eu acho legal - defendi-o.

    - Juliana, você vai amar o apartamento dele! - falou Sarah.

    O clima tornou-se um pouco incomodo. Falei que ia beber um refrigerante. Rodrigo quis vir junto.

    - Então você vai na casa dele? - perguntou Rodrigo.

    - Hm, vou. Porque?

    - Porque? - ele riu - Bom, eu não acho uma ideia tão boa. Você nem conhece o cara. Ele pode ter intenções ruins. 

    - Ele é o primo da sua namorada, Rodrigo. Acho que ela não tentaria me empurrar um assassino ou um estuprador, né.

    - Não é isso. Você sabe. Ele é mais velho.

    - E daí?

    - Daí que o Leandro também era mais velho. E nós sabemos como isso acabou.

    - Não viaja. Eu só quero ver a coleção dele. 

    - Eu não duvido das suas razões, duvido das dele.

    - E quais seriam?

    - E se ele te beijar ou algo assim? 

    - Porque isso seria tão ruim?

    - Porque... Que interrogatório, Juliana, meu Deus. Só estou tentando te protejer. 

    - Eu sei. Eu sei, obrigada. Mas você não precisa se preocupar. Ele não quer nada comigo, Rô. E eu não quero nada com ele. 

    - Porque? Quer dizer, você está solteira. E ele também. 

    - Você quer que eu fique com ele?

    - Não. Sim. Não sei, Juliana, faz o que quiser. 

    - Então tá.

    - Então tá.

    Depois dessa conversa extremamente esquisita, eu e Rodrigo voltamos para a piscina. Nós conversamos com os outros e então Sarah decidiu que já estava na hora de ir. Rodrigo, por algum motivo, queria ficar mais na piscina, mas ela insistiu. Nos dividimos ali. 

    Gustavo e eu fomos até o apartamento dele, em seu carro conversivel. Seu duplex era absurdamente grande, do tamanho de uma casa. Ele me levou direto para ver a enorme estante cheia de VHS'. Estava olhando quais ele tinha quando vi um filme que eu e Rodrigo amávamos: Curtindo a Vida Adoidado. Tirei-o da prateleira e acariciei a capa. 

    - Esse é um bom filme - disse Gustavo.

    - É - falei, suspirando.

    Gustavo virou meu rosto e foi se aproximando. Ele era tão maravilhoso. E pelo jeito gostava de mim. Então porque eu estava odiando a situação? Foi aí que eu vi que Camila estava certa. Não era nada fácil esquecer as pessoas. 

    - Não - falei, virando a cabeça.

    - Desculpa.

    - Não é você. Mesmo. É só que...

    Olhei para o VHS ainda em minhas mãos. 

    - Te lembra alguém né? Esse filme. 

    - É.

    - E você está apaixonada por esse alguém.

    - Infelizmente.

    - Bom... Deveria ter desconfiado. Você foi uma das únicas garotas que não ficou nervosa ao conversar comigo. Enfim, conta pra ele. 

    - Não dá. Ele é meu amigo. E namora.

    - Mesmo assim eu acho que ele merece saber. 

    Voltei para casa com esse pensamento. Rodrigo merecia saber. Mas será que isso tornava o ato certo? Eu tinha o perigo de perder a melhor amizade que eu já tive. Será que valia a pena arriscar?

    Ao entrar no meu quarto, ele estava lá. 

    - Que demora ein Juliana - falou Rodrigo, indo me abraçar - O que que você fez tanto com o Gustavo? 

    - Quer saber mesmo? Até os detalhes mais sujos?

    - Não acho graça.

    Comecei a rir. 

    - Que preocupação toda é essa, Rô?! - empurrei ele de brincadeira - Se eu não te conhece, diria que você está com ciúmes.

    - Não estou, boba. Estou só...

    - Me protegendo - interrompi - Eu sei. Mas não precisa. Eu sei me cuidar. 

    - Mas eu quero cuidar de você.

    Bem nesta hora, Camila entrou no quarto. 

    - Juliana - falou ela, chorando - Uma coisa muito ruim aconteceu. 

    - O que? Aconteceu alguma coisa com o Rafael? - falei pois foi a primeira coisa que veio na minha mente quando ela entrou no quarto.

    - Hã? Não! Meus pais voltaram da viagem.

    - E o que tem de tão ruim nisso? - perguntou Rodrigo.

    - Nada, é só porque eles voltaram mais cedo do que planejado. Acho que os pais do Rafa ligaram e explicaram o que tinha acontecido. Meu quase-suicídio e tal. Enfim, meus pais voltaram, foram direto pro hospital e me expulsaram de lá! Vou resumir: eles disseram que, por causa das "más influências" que me cercam, eu vou terminar o semestre num internato em outra cidade. 

    - O que?! - gritei, aterrorizada.

    - Eu sei! E, tipo, eles já querem me matricular lá daqui a poucos dias! É um internato só com garotas, Juliana! Eu vou enlouquecer! Os pais só podem visitar nos finais de semana. Os amigos e outros familiares só podem visitar uma vez no mês! Me diz se eu mereço isso. 

    Eu a abracei e disse:

    - A gente vai dar um jeito nisso, Cam. Não se preocupe. 

    Eu só queria ter alguma ideia de como.