Annabeth Pov

Eu estava extremamente ansiosa para conhecer o tal “namorado secreto” da minha mãe. Acho que estava mais nervosa do que ela.

De tempos em tempos a sra.Atena verificava se algum móvel, prato ou qualquer parte da decoração estavam fora do lugar.

Óbvio que tudo estava impecável nos mínimos detalhes, mas vá dizer isso para a neurótica da minha mãe?

Só faltava ela trocar de vestido pela centésima vez, e então eu acabaria surtando ou acabaria entrando na dela.

– Você acha que esse vestido está muito amassado? – Atena vem até mim, que por sinal estava extremamente compenetrada no livro que lia.

A encaro com a sobrancelha arqueada fechando o livro que prendia minha atenção.

Não sei onde está o “amassado” em seu vestido azul escuro, mas sei que nunca vi minha mãe tão radiante e bonita quanto agora.

– Para com isso, mãe. – Reclamo, com impaciência. – Você está linda, tudo está perfeito e ponto final!

Ela morde os lábios nervosamente. Nunca via a sra - perfeccionista - Atena parecendo uma adolescente apaixonada.

É até engraçado.

A campainha toca, encerrando as ações nada comuns da minha mãe.

Trato de guardar meu livro atrás das almofadas do sofá, tomando o cuidado de escondê-lo bem (eu e meu jeito neurótico em relação aos livros).

Passo as mãos por meus cabelos loiros, e prontamente dirijo-me à porta, já que minha mãe parece extremamente nervosa até para ir ao hall de entrada.

Percy Pov

A porta abre diante de meus olhos, e fico boquiaberto e momentaneamente confuso por ver a figura diante de mim.

Ela parece tão confusa e surpresa quanto eu, pois estaca, sem reagir.

Ao mesmo tempo falamos, embora não sejam os mesmos nomes.

– Percy?

– Annabeth?

Meu pai permanece neutro, como se esperasse por isso há mais tempo que nós. Passa por Annie, cumprimentando-a com um aceno de cabeça, antes de adentrar a casa.

– Você é a namorada secreta do meu pai? – questiono, com o cenho franzido.

Em resposta, Annie revira os olhos e me dá as costas, enquanto atravesso a soleira da porta, ainda mais confuso do que antes.

Será que eu fui trocado pelo meu próprio pai?

No entanto, minha conclusão precipitada é facilmente descartada quando avisto a sra.Chase e o meu pai aos beijos na sala de estar, aparentemente “cumprimentando-se”.

– Você é mais lerdo do que eu imaginava ser, Cabeça de Alga. – Annabeth arqueia uma sobrancelha para mim, que acabo por ficar quieto.

Meu pai e minha sogra separam-se, encarando-nos com sorrisos maiores do que a cara.

– Surpresa! – o sr.Poseidon exclama em tom comemorativo, e Annie e eu nos entreolhamos, contendo o riso.

– Vocês dois juntos? Por essa eu não esperava. – diz Annabeth, em tom de brincadeira.

– Se vocês podem ser felizes, por que não podemos também? – Atena abraça meu pai, embicando os lábios ao defender-se da provável brincadeira da filha.

Pronuncio-me, não suportando o silêncio da minha parte.

– Acho legal vocês dois juntos – digo, atraindo a atenção deles. – Quero dizer, vocês combinam, e são legais... Estamos em família, certo?

Poseidon e Atena sorriem, como que aliviados com nossa aceitação.

– Já que está tudo bem para vocês – meu pai sorri para sua namorada, abraçando-a mais forte. – Pretendemos nos casar daqui alguns meses.

– Uau, isso é ótimo! – exclama Annabeth, radiante.

Atena sorri para nós, tão radiante quanto a filha.

– E já que estamos todos em família, e logo, logo, Poseidon e eu nos casaremos – minha sogra/boadrasta diz, com certa animação. – Então, pensamos que seria uma boa morarmos em uma casa só. O que vocês acham?

Encaro Annie, que parece tão animada, quanto eu com tal ideia. Morarmos juntos? Isso é mais do que ótimo.

Será como uma vida de casados, apenas sem as formalidades que são impostas para consumar o casório.

Só de pensar em viver com Annabeth em uma mesa casa, um sorriso encurva meus lábios.

– Não vejo a hora de vocês se casarem – digo, com os olhos fixos nos acinzentados da minha namorada. – Se precisavam de uma autorização, já tem em dobro.

E finalmente as coisas estão se encaminhando para nós dois, de um jeito melhor do que eu esperava.

(...)

Seis meses depois...

O casamento de Atena e Poseidon foi realizado na casa de praia da família Jackson, com uma cerimônia simples, sem exageros.

Logo que o padre permitiu que os atuais marido e mulher selassem os lábios, a salva de palmas foi inevitável.

Eu estava mais do que feliz pela união do meu pai, mas ainda sim a felicidade de meus amigos é sem preço para mim.

Thalia e Luke, Chris e Clarisse, Nico e Rachel e até mesmo Leo e Emily se acertaram de uma vez. Vê-los tão bem me conforta de uma maneira surpreendente.

Sentado à beira da praia, acompanhando o movimento das ondas, penso em tudo pelo que já passei.

Minha vida nunca foi fácil, mas não é por isso que desanimei. Mesmo sem ter uma mãe de verdade ao meu lado, eu tive meu pai. Mesmo com a perseguição de Cronos à mim e aos meus amigos, consegui unir forças para seguir em frente e enfrentar meus medos.

E pela primeira vez, sinto-me extremamente confiante em relação ao futuro. Só por saber que não existe mais motivos para eu fugir ou me esconder...

– Pensando em quê, Cabeça de Alga? – Annabeth senta-se ao meu lado, fixando seus olhos no pôr do Sol que banha o mar.

Uma brisa suave balança meus cabelos, ao mesmo tempo em que o barulho das ondas ecoa em meus ouvidos.

– Em como estamos bem agora – respondo, imerso em pensamentos que já não envolvem mais o passado, e sim o futuro. – E em como amo você – acrescento, encarando a Sabidinha. Suas bochechas adquirem um tom avermelhado, algo que eu considero engraçado.

– Eu também amo você, Percy – Annie sorri timidamente, e não reprimo a vontade de beijá-la, sentindo seu gosto e tendo certeza de que nossa história está longe de ter fim.

Daqui dez ou quinze anos, estarei imerso em pensamentos, revivendo cada parte do meu passado. O melhor de tudo, é que não terei medo ou angústia das coisas pelas quais já passei, porque saberei que apesar de tudo, uma vida mais que perfeita aguarda-me no fim da escuridão.

Depois irei despertar de meus devaneios, percebendo que Annabeth me chama para jantar, enquanto ralha com nossos dois filhos que ao invés de lavarem as mãos, continuam correndo pela casa.

Sorrindo, percebei que meu passado deixou de ser imperfeito no instante que Annabeth entrou em minha vida, e graças à ela sou o cara mais feliz do mundo.

É verdade que pessoas vivem e morrem, e que nada é levado dessa vida quando você bate as botas. Eu mesmo já acreditei nessa teoria grotesta. No entanto, hoje posso citar algumas contradições; primeiro que nada é algo extremamente melancólico e vazio, sem falar que você não usa essa palavra para expressar sentimentos – tipo, “eu sinto nada por você”.

Em segundo, quando se parte dessa para melhor, certas coisas podem ser levadas sim – mas não falo de carros de luxo e mansões. Não, não.

As coisas que valem a pena serem levadas são os sentimentos mais ternos que você guardou dentro de si. São as pequenas coisas que parecem pouco agora, mas que no futuro serão lembranças e farão parte de sua vida.

Acaricio os cabelos loiros de Annabeth, ainda ouvindo o vai e vem das ondas a beira da praia.

Annabeth Chasse é, e sempre será, meu passado, presente, e futuro.