- Mãe, o que custa? Desde que viemos pra cá eu ainda não vi meu pai - insisti.

Mas minha mãe estava segura de si, e não ia dar pra trás. Ela não ia repensar sobre o assunto, estava estampado em sua cara. Estava a mais de meia hora pedindo para que ela me deixasse ir para Londres. Pensei comigo que, já que eu nunca havia pedido isso antes, ela provavelmente estava pensando que eu tinha segunda intenções por ir pra lá. E, na verdade, eu tinha. Mas não era uma má segunda intenção.

Bem, descobrimos que aquela foto, a qual tinha a mãe e o possível pai de Percy, fora tirada naDenmark Street, em Londres. Consequentemente, por eu ter um pai que mora lá, botei a ideia, um tanto absurda, de que poderíamos ir para Londres. Percy me disse antes de sair que conversaria com sua mãe, e diria que gostaria de fazer uma viagem ou algo assim. Mas eu, isso seria um problema, já que minha mãe não me quer com o meu pai. Uma ideia ridícula, em minha opinião.

Talvez porque meu pai era um tanto irresponsável, e não tinha a mínima noção de como era ter uma adolescente como filha. Enquanto eu morava por lá, ele raramente parava em casa. E, quando chegava, eu já estava dormindo. Não pegou nenhuma de minhas revoltas ou brigas. Não havia sentindo o gostinho um tanto amargo de Annabeth Donnovan Chase. Mas eu não ia privá-lo desse prazer, claro. Se fôssemos mesmo para Londres, ele ia sentir um pouco o que minha mãe passou a vida toda.

- Annabeth, pela milésima vez, você não vai para Londres! - minha mãe gritou, afagando a cabeça logo após - E este assunto se encerra aqui!

- Mãe, eu estou praticamente de férias, minhas notas estão ótimas, eu quase nunca saio de casa... E estou com saudades de Thalia, poxa, faz tempo que não a vejo. Mãe... Por favor... - digo mais uma vez, desta vez tentando apelar para seu lado emocional. Fiz questão de mencionar Thalia. Estava, imaginariamente, com os dedos cruzados, esperando que ela aceitasse.

Atena então arqueou a sobrancelha. Ela me encarava com um olhar familiar, aquele era seu olhar de dúvida. Provavelmente, ela ia deixar, mas fazia aquele olhar quando seu subconsciente teimava em fazê-la pensar o contrário.

- Por que quer ir para Londres? - ela perguntou, ainda fazendo a mesma cara.

- Já disse, quero ver meu pai, e ver Thalia também. Na verdade, quero principalmente ver Thalia. - disse com um sorrisinho no rosto. Estava um tanto forçante, porém contava com aquilo para que amolecesse o coração gelado de minha doce mãe.

- Mais algum motivo? 

- Não.

- Mais alguém iria junto com você? - minha mãe perguntou, desta vez me encarando com aquela cara que diz "Eu sei que você está me escondendo alguma coisa e também sei o quanto você mente mal".

- Não... - respondo, mas meu tom de voz denunciara tudo. Droga, eu realmente odiava não saber mentir bem.

Minha mãe então me lançou outro olhar, mas este vem acompanhado por palavrões então não vou descrevê-lo. Ela apenas provavelmente tinha quase absoluta certeza de que minha súbita viagem para Londres estava completamente ligada a um certo garoto que visitara nossa casa hoje. Será que ela estava escutando o que estávamos conversando? Provavelmente. Minha mãe sabia ser um tanto "chata" quando o assunto é algum segredo ou algo que ela não possa ficar sabendo.

- Annabeth, quem é o garoto? - ela me perguntou ainda parada em minha frente, desta vez cruzando os braços esperando por uma explicação.

Suspirei. Game over Annabeth, melhor dizer para ela.

- Preciso ajudar um amigo. Sabe, ele descobriu que o pai dele mora em Londres, e como papai mora lá e eu ainda não fui vê-lo, pensei que poderíamos matar dois coelhos com uma machadada só. - digo como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Mas minha mãe não pareceu ficar satisfeita com aquilo.

- Por Deus, Annabeth, você viajar para o exterior com um garoto só para que ele conheça o pai? Ora, francamente! Já pensou se ele não tem boas intenções com você? E se ele te matar ou algo assim? Já pensou no desespero do seu pai? Ele ia enlouquecer! E eu mais ainda, por ter deixado você ir! 

Arregalei os olhos. De onde vinha todo aquele cuidado? E tão de repente? Era estranho, porque na maioria das vezes minha mãe sequer se importava se eu escovara meus dentes ou não antes de ir dormir. E agora isso.

- Mãe, eu não sou mais criança! Caramba, eu sei me cuidar. E ele não UM garoto. É o Percy, aquele que esteve aqui mais cedo. Quem teve a ideia fui eu, e não ele. Ele na verdade está com medo, porque não sabe como aquele homem vai reagir. E, para falar a verdade, não há 100% de certeza de que ele seja seu pai mesmo.

Minha história, aos olhos de minha mãe, estava ficando cada vez pior. Ela parou por um minuto e me encarou pasma. Era como se não estivesse acreditando no que eu dizia. Que mais eu poderia fazer? Já tinha dito qual era meu real objetivo.

- Além do mais, também estou com saudade de Thalia. E do meu pai, mas bem mais de Thalia. - acrescentei.

Dona Atena ainda parecia não gostar do que estava ouvindo.

- E você mesma disse que meu pai queria me ver. Se fôssemos para Londres, todo mundo sairia ganhando. - digo na tentativa de ser convincente.

Minha mãe suspirou. "Venci!" pensei. Ela sempre suspirava quando eu ganhava uma discussão nossa. Já estava quase lançando meu sorriso triunfante quando ela finalmente disse:

- Só permito com uma condição.

Revirei os olhos. Mas assenti, valia tudo quando o interesse era alcançar um determinado objetivo.

- Vou conversar com seu pai primeiro. - ela disse.

Sorri. Por mim estava tudo tranquilo. Afinal, Percy e eu não faríamos nada de errado mesmo. Ela poderia deixar todas as câmeras de Londres apontadas para nós, não ia me importar nem um pouco. E ainda daria um tchauzinho e um sorriso para as câmeras.

- Claro, fique a vontade. Isso quer dizer que posso começar a arrumar minhas aulas? Afinal, semana que vem será nossa última semana de aula. - eu disse sorrindo heroicamente. Estava completamente me achando por dentro. E feliz, acima de tudo. 

- Sim, Annabeth, isso quer dizer que você pode começar a arrumar suas malas. - ela disse, se sentindo derrotada.

- Obrigada, é um prazer fazer negócio com você, mãe! - digo, e subi correndo para o meu quarto.

Claro, eu e meu charme conseguimos novamente. Minha mãe, provavelmente, estava discando o número de meu pai agora mesmo. Ia dizer para ele que eu e meu suposto namoradinho estávamos fazendo planos para irmos a Londres e ficarmos sozinhos por lá, para poder fazer coisas impróprias longe dos nossos pais. Ia dizer para ele que tínhamos que ter um determinado horário para dormir, e para levantar. Alguns guardas teriam que ficar de guarda na porta de nossos quartos para impedir que saíssemos de madrugada. Conhecendo minha mãe, ela falaria isso tudo e muito mais. Além de falar que Percy era meu namorado, claro.

Mas, deixando minha mãe um pouco de lado, assim que cheguei em meu quarto, disquei o número de Percy e coloquei o celular na orelha. Ele chamou três vezes e logo escutei uma voz sonolenta atender o telefone. Percy certamente devia estar dormindo desde que chegara em casa.

- Boa tarde bela adormecida, atrapalhei seu sono de beleza? - digo rindo.

Percy riu do outro lado e pude escutá-lo bocejar. 

- Na verdade, sim. E, a julgar pela alegria em sua voz, e na lembrança de que me prometeu falar com a sua mãe assim que eu saísse de sua casa, presumo que tenha uma boa notícia para mim.

Dei risada. Realmente, ele sabia me decifrar.

- É, você adivinhou.

- Então iremos para Londres, é isso mesmo?

- Isso mesmo. Vou matar a saudade de casa. - digo, com uma ponta exageradamente grande de emoção.

- Você realmente ama Londres. Algo de especial aconteceu lá?

Dei risada. Na verdade, muita aconteceu em Londres. Coisas boas, maravilhosas, as quais tenho prazer em relembrar, prazer em reviver em minhas memórias. Porém muita coisa ruim também me aconteceu lá. E estas, eu preferia sequer pensar sobre. Eram lembranças que me machucavam.

- Muita coisa. - respondo, tentando não passar emoção alguma. Mas, como minha mãe disse, eu era uma péssima mentirosa.

- Quando vai me contar sobre isso? - ele perguntou. E podia sentir que Percy sabia que eram lembranças muito especiais e um tanto pessoas.

- Não sei ao certo, vai depender do seu comportamento enquanto estivermos em Londres. - digo rindo, pois isso poderia quebrar um pouco a tensão do momento. Pensei eu.

- Um dia talvez? - Percy me perguntou.

Ri, afinal já tinha escutado aquilo antes.

- Um dia talvez.