– CAPÍTULO TRÊS –

"YOUR FUCKIN' CLUB"

– SUA PUTA! – Marvel berrou, segurando a faca na altura dos olhos. – Furou meu olho!

Os outros se viraram para ver Marvel que se debatia no chão; Cato pôs a mão na cabeça e Peeta parecia não acreditar.

Clove ficou em pé, alarmada. Pela forma que ela havia jogado a faca, não faria mais que um arranhão. Ela só queria provocar um corte, alguma coisa suficiente pra calar a boca daquele imbecil, não... isso. Ela continuou com a postura tensa, até que Glimmer a olhou despreocupada.

– É tudo fingimento. – disse a loira. – Apenas ignorem.

Peeta se abaixou ao lado de Marvel e verificou.

– É, não tem sangue – disse ele, confirmando.

– Eu disse pra vocês ignorarem, não disse? – Glimmer perguntou de modo triunfante.

Marvel se levantou, tirando a faca de perto dos olhos intactos.

– Ô... loira – ele disse, olhando bem nos olhos de Glimmer. – Você não poderia me ignorar nem mesmo se tentasse.

Por algum motivo, Marvel parecia ter ficado mais ofendido com as palavras de Glimmer do que com a atitude de Clove. Prova disso foi que ele apenas andou até a mesa da morena deixando a faca sobre ela. Naquele breve segundo, eles trocaram um olhar cheio de subentendidos, como se estivessem se desculpando simultaneamente: ele pelo que dissera, e ela, pela faca. Clove pegou a faca rapidamente e voltou a afiar seu lápis como se nada houvesse acontecido.

– Você tá branca feito um fantasma. – Cato disse, voltando a sentar ao seu lado. Clove apenas lhe deu um olhar mortal.

– Por que a gente não fecha a porta? – Marvel disse de repente, olhando de relance para o escritório de Snow. – Não dá pra fazer nada com o Snow vigiando...

– As portas tem que ficar abertas – disse Peeta como se fosse óbvio.

– É mesmo? – Marvel debochou.

– Por que você não cala a boca e deixa o pãozinho fazer a redação? – Cato perguntou com impaciência.

– Babacas. – Clove revirou os olhos.

– Hey! – Glimmer replicou. – O garoto do pão tem nome também!

– Pãozinho? – indagou Marvel.

– Peeta. – disse o próprio, frisando seu nome.

– E não é a mesma coisa? – insistiu Cato, explicando por fim: – Peeta significa pão em grego.

Marvel fez cara de espanto.

– Oh, ele sabe um idioma diferente! – disse ele com deboche. – Tem que ser inteligente pra ser... lutador!

Naquele momento, Peeta ficou aliviado ao ver que a discussão tinha se limitado novamente aos outros dois.

– A sua opinião nem conta – disse Cato com arrogância. – Se você sumisse dessa escola, não ia fazer a menor diferença; ninguém iria notar.

Um silêncio incômodo pairou no ambiente. Marvel pensou por um momento e voltou a falar:

– Certo, eu já sei o que eu tenho que fazer – e concluiu com deboche: – Vou sair daqui e me juntar à equipe de luta!

– Não vamos aceitar – Cato respondeu direto.

Marvel deu de ombros. E, olhando para Peeta, acrescentou cínico:

– E o Conselho Estudantil, que tal?

– Nem pense nisso – ele disse com certo pânico.

– Estou magoado – Marvel retribuiu com sarcasmo. – O que vocês fazem exatamente?

– São vários clubes – Peeta respondeu. – No Clube de Física, por exemplo, falamos sobre as propriedades da Física.

– Hm, então é social? – interpôs Marvel. – Demente e triste, mas social. Ok.

– Eu acho que dá pra considerar social – concordou Peeta, sem perceber o deboche do outro –, porque no fim do ano fazemos um evento no Hotel The Capitol com outros Clubes de Física, de várias escolas.

– Vocês bebem e se drogam? – Marvel quis saber. – Ficam doidões?

– Não! – Peeta pareceu indignado. – A gente se arruma e tal, mas não se droga não.

– Haha, só idiotas como você fazem isso. – Glimmer comentou, olhando para Marvel.

Peeta continuou a explicação.

– No ano passado eu peguei os sapatos do meu pai emprestado, e minha mãe ficou furiosa e disse...

Cato o interrompeu grosseiramente:

– Aí, se vocês ficarem de blá-blá-blá, o Snow vai aparecer aqui pra ver o que tá acontecendo. – ele disse aborrecido. – Eu tenho um campeonato sábado que vem e não vou perder mais um dia por causa de vocês.

– Oh, isso seria uma grande perda, não? – Marvel voltou ao tom de deboche. – Um campeonato inteiro de luta!

– Você não sabe nada sobre isso, seu viadinho. – falou Cato. – Nunca competiu na sua vida.

– Eu sei, e eu me sinto tão vazio por causa disso... – continuou Marvel, pontuando: – Eu sinto uma grande admiração por caras que ficam rolando no chão agarrados com outros caras... – e perguntou: – Aí, tem certeza de que eu sou o viadinho aqui?

Cato levantou furioso pela segunda vez; pouco ligando para as consequências, estendeu a mão para Clove.

– Me dá a sua faca, garota! – ele mandou.

– Não! – Clove apertou mais os dedos em torno da faca com firmeza.

– ME DÁ A PORRA DA FACA! – ele gritou. – Que agora eu vou furar o olho daquele babaca pra valer!

– NÃO! – repetiu Clove.

Marvel riu em meio à discussão e Glimmer apenas falou com tranquilidade:

– Vocês não percebem que ele só faz isso pra provocar e ficam dando moral – ela apontou Marvel com a cabeça, chamando a atenção dos demais. – Sem plateia, o palhaço vai embora.

Cato olhou para Clove; o que a loira dizia parecia fazer sentido.

– Que eu saiba – Marvel se defendeu –, esse é o papel das líderes de torcida, que vem a ser... você.

– Sabe por que caras como você vivem desfazendo de tudo? – Glimmer perguntou.

– Tô louco pra saber – disse Marvel, mantendo o sarcasmo.

– Porque você tem medo. – ela respondeu direta.

– Vocês riquinhos se acham tão espertos – ele prosseguiu com o cinismo. – É exatamente por isso que eu não faço nenhuma atividade extra.

– Você é um covarde – Glimmer continuou. – Tem medo de ser rejeitado; você não se enturma e daí sacaneia tudo.

– Sei... – Marvel fingiu ponderar. – Será que isso não tem a ver com o fato de você e seus amigos serem uns completos idiotas, meu bem?

– Você...! – ela parecia exaltada agora. – Você é o problema! Se você tirasse um minuto que fosse pra pensar, e...

Ele a cortou, dizendo cínico:

– Eu não preciso pensar pra saber que eu não quero me associar ao seu clubinho de merda, Glimmer!

– Clubinho de merda? – ela repetiu, com raiva. – Lava essa boca antes de falar mal dos meus amigos, maconheiro filho da puta!

– Oh, um palavreado tão chulo vindo de uma boca tão pura...

Cansada de tanta bobagem, Clove resolveu se manifestar:

– Ah, qual é, por que vocês não terminam essa DR¹ lá na sala do Snow?

Marvel e Glimmer pararam e olharam para Clove.

– DR? – eles perguntaram juntos.

Um sorriso venenoso surgiu nos lábios de Clove antes que ela pudesse dizer:

– É, eu já vi vocês. Muitas vezes, sim. E duvido que o Snow não saiba que vocês vivem se pegando em todos os lugares dessa escola...

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¹ DR: Discutir a Relação, Discussão de Relação, Briga de Casal