A Volta da Garota Sobrenatural escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 8
Capítulo 8 - Escolha


Notas iniciais do capítulo

Título bem emblemático, não?

Preparem-se!

Have fun!



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Quando Dean acordou naquela manhã e foi até a cozinha não conseguiu disfarçar a surpresa. Alguém tinha preparado o café da manhã. Sorriu ao ver uma torta de maçã entre outras coisas na mesa. Parou ao perceber que uma música tocava na sala. Foi até lá, mas não sem antes pegar um pedaço da torta. Então viu que Mia estava tirando o pó das estantes enquanto Castiel a observava.

– Mia, o que você está fazendo? Espera um pouco, você está ouvindo... Madonna? – reconheceu Dean.

Sem parar o que estava fazendo, Mia respondeu num ritmo acelerado:

– Oh! Bom dia, Dean! Gostou da torta? Pelo visto, sim. Bem, sim, eu estou ouvindo Madonna. Desculpe, sei que você não é muito fã de pop, mas, às vezes, só a Rainha do Pop me acalma. E eu adoro essa música. Like a prayer, sabe? Deus! Não que eu esteja nervosa, na verdade, só um pouco ansiosa. Você sabe, agora que encontramos o ritual... Temos que correr contra o tempo. São Francisco não fica muito perto daqui. E eu tenho que confessar que não consegui dormir muito bem esta noite, depois daquele pesadelo e de você ter apontado uma arma para mim. Ah! A propósito, sabe, eu acho que aquilo foi um pouco de exagero, mas tudo bem, sem ressentimentos, juro. Ok, eu superei. Então, eu pensei “por que não mostrar isso?” Quero dizer, por que não preparar um café da manhã maravilhoso para mostrar que está tudo bem? Sério, eu já esqueci aquilo. Na verdade, eu acho que eu estava agindo de um jeito meio estranho ontem, o que justifica você ter pensado que eu era uma ameaça ou coisa assim. Mas você tem que entender que depois das coisas que o Crowley disse... Eu fiquei um tanto... Apavorada. Ah! Mas não se preocupe. Eu também superei isso. Sabe de uma coisa? Meu lema de vida é: sinta medo e o enfrente. Então se o Crowley quer vir, que ele venha. Eu estou pronta. E por falar nisso, eu faço questão de eu mesma mandá-lo para o Inferno. Será uma honra. Bem, mas aí eu fiquei aqui pensando depois que eu preparei o café e não tinha nada pra fazer, então eu comecei a limpar e a limpar tudo... Deus, isso aqui está muito sujo... Talvez vocês devessem pensar em contratar uma empregada... Não que eu esteja me intrometendo... A casa é de vocês, vocês mandam e decidem o que é melhor, mas... Enfim, antes de partirmos para São Francisco eu pensei em arrumar um pouco essas coisas e...

– Mia, Mia! – interrompeu Dean – Quanto de café você já tomou hoje?

Só então Mia parou o que estava fazendo e respondeu um tanto incerta:

– Muito. Isso não importa. Quem está contando?

– Seis xícaras. – precisou Castiel – Até agora.

– E daí? Ok. Talvez eu tenha exagerado um pouco, mas eu estou ansiosa com esse lance do ritual. Finalmente o encontramos e embora o pesadelo tenha sido esquisito, estou feliz por ter ajudado e... - continuou ela.

– Mia. – interrompeu Dean novamente – Sobre o ritual... Nós precisamos conversar.

– Certo, eu estou ouvindo. – disse ela sentando-se.

– Não vai rolar. – começou Dean.

– Como assim “não vai rolar”? – quis entender ela.

– É muito perigoso. – revelou Castiel.

– Temos que encontrar outro jeito. – completou Dean.

Mia levantou e desligou o rádio ao mesmo tempo em que Sam apareceu na sala.

– Vocês estão brincando, certo? – temeu Mia. – Nós temos o ritual, nós sabemos onde o Crowley vai estar... Qual o problema? Por que esperar?

– O problema é que... – tentou explicar Sam, mas não encontrou as palavras certas – Dean está certo. Temos que encontrar outro jeito de atrasar o Crowley.

– O quê?! Não... – discordou ela.

– Mia, - interrompeu Castiel dando um passo a frente – de acordo com as anotações de Samuel Colt, o ritual só pode ser realizado por uma alma feminina...

– Certo, eu estou bem aqui se você não reparou... - lembrou ela.

– Não é isso... – tentou explicar ele.

– Então é o quê? Vocês acham que eu não sou capaz de fazer isso? – indagou ela olhando para eles. – Tudo bem, eu admito que, às vezes, eu sou meio atrapalhada, mas eu sei a importância disso, ok? A importância de mandar o Crowley pro andar de baixo, de fechar as portas... Eu não vou cometer erros dessa vez... Eu prometo. Vocês podem confiar em mim.

– Mia, não é questão de confiar ou não, acredite, nós confiamos em você, mas... Nós não podemos deixar você fazer isso. – reforçou Sam.

– Por que não? – perguntou ela cada vez mais entendendo menos.

– Porque... Porque tem que ter outro jeito, ok?! – insistiu Dean – Porque nós somos uma família e uma família cuida um do outro, então nós vamos cuidar de você. Vamos encontrar uma forma de despistar o Crowley, de salvar os seus amigos e...

– O que vocês estão escondendo? – cortou ela – Sobre o ritual? O que vocês realmente não querem me contar? O que é tão grave que vocês não podem me contar?

– Mia, você tem que esquecer este ritual... – aconselhou Castiel.

– Por quê?! - insistiu Mia.

– Porque nós não sabemos o que o ritual pode fazer com você. - contou Dean por fim - Mas... Provavelmente ele te mataria.

Ao ouvir as palavras de Dean, Mia se lembrou instantaneamente do pesadelo daquela noite. Mais precisamente da parte em que ela se afogava. E lembrou do que o fantasma de Ric disse sobre ela ser a próxima. Mia tinha previsto a morte sobrenatural do seu professor há dois meses, tinha sonhado com a placa do Impala e no dia seguinte conheceu os Winchesters, tinha sonhado com o fantasma de Ric tentando matá-la e com o livro onde o ritual de Samuel Colt estava. E embora não quisesse admitir, estava claro que tinha sonhado com a sua própria morte. E se aquela parte do pesadelo também se concretizasse? E se aquilo fosse mais uma premonição? Até que ponto o pacto que seus pais fizeram a afetou? Sobrenaturalmente falando. E se ela estivesse prevendo a própria morte? E se Castiel estivesse errado quando a trouxe de volta à vida e agora a natureza estivesse tentando equilibrar as coisas? O ritual podia matá-la... Então provavelmente todas aquelas suspeitas estavam certas. Talvez o seu destino fosse morrer. De novo. Mas desta vez, tinha a impressão de que não voltaria...

– Mia, você ouviu o que o Dean disse? - interrompeu Sam estranhando o silêncio dela.

– Sim. Eu ouvi. - respondeu ela com um olhar vago.

– E o que você acha disso? - perguntou Dean esperando que ela entendesse a gravidade e desistisse de seguir com aquele plano.

Mia piscou como se estivesse acordando de novo, levantou e disse com mais firmeza:

– Eu acho que vale a pena correr o risco. E eu vou.

– Eu não vou permitir. - opôs-se Castiel.

– Nós não vamos permitir. - completou Dean.

– Talvez vocês não tenham escolha... - disse Mia lembrando da premonição.

– Como assim? - estranhou Sam.

– Você está escondendo alguma coisa, não está? - sentiu Dean.

– Com o que você sonhou? - perguntou Castiel sentindo que o que Mia escondia tinha relação com o pesadelo.

– Nada. - mentiu ela - Mas, às vezes, coisas ruins acontecem. Simplesmente acontecem e não podem ser evitadas. E isso não é culpa de ninguém. Vocês sabem disso melhor do que eu. Ou deveriam saber.

– Com o que exatamente você sonhou? - insistiu Castiel se aproximando dela preocupado.

Sam pensou um pouco e então concluiu:

– Você sonhou com a sua morte. Não foi?

Mia não respondeu, mas o seu olhar confirmou.

– E aí está mais um motivo para nós não deixarmos você fazer isso. - reforçou Dean.

– Vocês não entendem? - recomeçou Mia - De um jeito ou de outro eu vou morrer. Então que pelo menos seja por alguma coisa.

– Você não vai morrer...- prometeu Castiel.

– Escuta, Mia - pediu Dean - Nós estamos cansados de ver as pessoas a nossa volta, amigos, família, se sacrificarem por um bem maior. Então, o bem maior pode esperar dessa vez. Então se nós dizemos que você não vai morrer por isso é porque você não vai morrer por isso, ok? Nós vamos encontrar outro jeito. Fim de papo.

– Dean... Não tem outro jeito... - afirmou Mia pensando no que Crowley faria com seus amigos se ela não prosseguisse com aquilo. - Além disso, eu não sou uma criança. Eu posso fazer minhas próprias escolhas. E eu escolho me sacrificar por isso. Fim de papo.

– Nada de fim de papo. - discordou Dean - Nós vamos encontrar outra saída. Tem que haver outra saída...

– Não tem...- disse Mia.

Então Sam teve uma ideia e resolveu intervir:

– Escutem, vamos fazer o seguinte: Vamos tentar achar outro ritual, ok? Outra coisa que possa nos ajudar a atrasar o Crowley e salvar os seus amigos. Foi como você disse, Mia, nós temos um acervo sobrenatural aqui. A dica da Meg pode não ser a única saída. Então nos dê uma chance. Um tempo para encontrar outra saída. Até hoje a noite.

– E se não encontrarmos outra saída? - quis saber ela.

– Então faremos do seu jeito. - comprometeu-se Sam.

– Não... - discordaram Castiel e Dean ao mesmo tempo.

– Feito. - concordou Mia.

Garth e Kevin chegaram na sala. Tinham ouvido o final da conversa.

– Eu pensei que já tínhamos o ritual certo para o Crowley...- disse Kevin.

– Mudança de planos. - disse Sam pegando um pilha de livros para cada um deles - Temos que encontrar outro ritual. De preferência, um que não mate a pessoa que o fizer.

– Eu vou fazer mais café. - anunciou Mia indo até a cozinha.

Castiel a seguiu com os olhos. Estava preocupado. Não sabia explicar por que, mas sentia que se algo acontecesse a ela, ele não poderia consertar as coisas dessa vez. Aquilo o deixava com medo.

Mia abriu o armário e pegou o pó de café. Quando fechou o armário viu Castiel a olhando. Ele tinha a seguido. De novo. Ele sempre fazia isso. Era engraçado, um tanto inconveniente, mas Mia percebeu que começava a gostar daquilo. Era como ter um anjo da guarda, só que era algo mais...

Mia colocou o pó de café na pia e abraçou Castiel. Ele correspondeu ao abraço. Aquilo era estranho. E bom. Apesar de tudo, ia sentir falta dele.

– Eu sinto muito. - lamentou ela sem se afastar dele.

– Sobre o quê? - estranhou ele.

– Sobre aquela conversa. No fim, eu acho que não vamos ter tempo para ela... explicou a garota.

– Não sinta. - pediu Castiel – Eu digo que nós a teremos.

Mia se afastou e retomou o que tinha começado. Depois levou café para todos e se juntou a eles na pesquisa. Fizeram aquilo o dia inteiro. A tarde inteira. A noite inteira. Não tinham encontrado nada que pudesse substituir o ritual de Samuel Colt.

Mia resolveu fazer mais café. Estava com medo. Sabia que não havia outra saída. Mas não era disso que tinha medo. Tinha medo deles não admitirem isso e continuarem aquela busca por toda a madrugada. E pra quê? De um jeito ou de outro o seu destino já estava traçado. Podia ter fugido dele da última vez, mas... O destino sempre volta pra bater na nossa porta. Não podia mais fugir disso. Não podia mais se enganar. Tinha que fazer o que tinha que ser feito. Tinha que convencer Sam, Dean e Castiel a deixarem ela fazer isso. Era sua escolha. Por mais que eles se preocupassem com ela, eles não podiam ajudá-la agora. Ninguém podia. Ignorar isso só iria piorar as coisas. Enquanto isso, os seus amigos, colegas, professores, pessoas inocentes continuavam em perigo. E sem saber. Ela tinha que fazer alguma coisa.

Enquanto folheava um dos livros, Mia observou todos trabalhando naquela pesquisa que não ia dar em lugar algum. Não havia outro jeito de mandar o Crowley para o Inferno. Eles sabiam disso. Mas não queriam admitir. Não queriam dizer isso pra ela. Não sabiam como. Então, ela teria que dizer. Então teve uma ideia e resolveu seguí-la.

– Eu vou fazer mais café. - disse ela se levantando.

– Mia! - chamou Dean – Ah... Na verdade, uma rodada de cerveja seria ótima.

Mia sorriu, assentiu e foi até a cozinha.

Castiel não a seguiu desta vez. Ótimo. Teria tempo para fazer o que estava planejando. Mais ou menos quinze minutos depois, ela voltou para a sala levando as garrafas de cerveja. Abertas.

Então sentou-se e voltou a folhear um dos livros, mas já não procurava outra saída. Não havia o que procurar. Os observou enquanto bebiam a cerveja. E os observou ficarem sonolentos. Castiel notou que algo estava errado. Enquanto isso, Mia foi até o seu quarto e quando voltou encontrou Sam, Dean, Garth e Kevin dormindo sobre os livros.

– O que você fez com eles? - estranhou Castiel enquanto tentava acordá-los.

Mia pegou uma bolsa e começou a colocar algumas coisas dentro. Sprays, água benta, sal.

– Não se preocupe. Eu só estou dando uma boa noite de sono pra eles. - respondeu Mia.

– Você os dopou... - deduziu ele a olhando surpreso.

– Eu só os poupei de terem que me dizer o que eu já sabia. Que não existe outro jeito. Eles nunca admitiriam. Nem você. Mas, por algum motivo eu fiquei receosa em te dopar. Eu não sabia se iria funcionar... Então... - explicou a garota.

– Eles só queriam te ajudar... - desaprovou Castiel.

– Eu sei. Mas eles não podem. Ninguém pode. Então por que continuar mentindo pra nós mesmos? Por que não acabar com isso de uma vez por todas? É o certo a se fazer. No fundo você sabe disso. - ponderou ela.

Mia pegou o livro da capa azul e abriu na página 237. O fechou e o colocou na bolsa.

– O que você pensa que está fazendo? - indagou Castiel desaprovando aquilo.

– Exatamente o que você está pensando. - respondeu ela colocando a bolsa nas costas e saindo da sala.

– Não! - repreendeu Castiel ficando no seu caminho. - Você não vai fazer isso.

– Sim, eu vou. Eu preciso. - afirmou Mia o empurrando de leve para conseguir passar.

– Eu não vou deixar você fazer isso. - insistiu ele a seguindo.

Mia parou e sem se virar para ele respondeu sentindo um nó crescer em sua garganta:

– Eu acho que você não vai ter escolha.

– Eu não vou te perder de novo... - deixou escapar Castiel.

– Por favor, não faça isso ser mais difícil do que já é. - pediu Mia se virando. - Olha, talvez eu morra nos próximos dias, então eu admito, ok? Você é... Lindo. Sexy e adorável, e obviamente nós temos alguma... coisa, mas por favor não me impeça de ir. Eu preciso fazer isso. Eu preciso fazer isso sozinha.

– O que você quer dizer? - estranhou Castiel e então notou algo na mão de Mia. - Por que você está sangrando...?

– Eu sinto muito. - desculpou-se Mia abrindo a porta.

Então Castiel reconheceu o símbolo desenhado na porta com sangue.

– Você não me deixaria ir e não pode ser dopado... Então...- tentou explicar Mia enquanto colocava a mão em cima do símbolo.

– Não! - gritou Castiel.

– Me desculpe. - disse Mia vendo um clarão iluminar a sala e Castiel desaparecer em seguida.

Mia respirou fundo, olhou para aquele lugar como se quisesse se despedir e então fechou a porta. Andou pela estrada por um tempo. Então começou a chover. Continuou andando. Talvez Dean a perdoasse por tê-lo dopado, mas com certeza nunca a perdoaria se ela pegasse o Impala emprestado. Tinha que encontrar outra saída. Ouviu um barulho e então fez sinal para um caminhão que passava. Ele parou e abriu a porta.

– O que uma gracinha como você faz sozinha nessa estrada a essa hora da noite? E com essa chuva? - perguntou um motorista velho e asqueroso enquanto sorria e examinava Mia da cabeça aos pés.

– E foi daí que surgiu a expressão “comer com os olhos". - resmungou Mia enquanto pegava algo preso na sua cintura.

O homem parou de sorrir quando viu que Mia apontava uma arma para ele.

– O que há de errado com você? - indagou o sujeito.

Mia sorriu antes de responder com ironia:

– Eu não sei. Acho que eu tomei muito café hoje. Desça do caminhão! Agora!


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Notas finais do capítulo

Sim, eu adoro Madonna.Em breve o próximo capítulo!