A Filha Do Sol escrita por Let B Aguiar, Taty B


Capítulo 22
Fazemos um tour pela cidade do amor


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoar! Mais um capítulo dessa história para vocês...Espero que estejam gostando e não desistam da leitura! Se possível, deixem sua opinião nos comentários... Enjoy x



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A rua estava abarrotada de pessoas bonitas, apressadas e mal educadas que passavam trombando por nós, como se fossemos invisíveis. Eu estava começando achar que éramos transparentes mesmo, porque ninguém pareceu prestar atenção ao fato de que três adolescentes maltrapilhos surgiram no meio da rua. A maioria das pessoas andava apressada, falando no telefone ou conversando com alguém. Deveríamos estar no centro da cidade, pois os turistas andavam no meio da rua e as casas antigas pareciam pontos turísticos. Ao menos o clima estava agradável. O verão europeu nem se comparava ao americano.
– Je suis sorti de mon chemin! – berrou um homem dentro de seu carro, buzinando como um louco para nós. Argh, taxistas. Já havia tido aulas de francês em alguma escola que estudei, mas eu nunca me interessei pela língua por achá-la muito difícil de falar. Afinal de contas, como eu queria aprender francês se nem o inglês eu dominava cem por cento?
Peguei Leo e Ryler pelo braço e os arrastei para a calçada, na frente de uma loja.
– Me digam que algum de vocês sabe falar francês.
– Tinha esperanças de que você sabia. – Leo disse. – O que nós vamos fazer? Paris é imensa, a gente nunca vai achar o covil da bruxa!
– Odeio ter que concordar com o Leo, mas ele está certo. – Ryler falou a contra gosto – Nós não podemos rodar essa cidade inteira a pé. Até porque é impossível!
Usei toda minha massa encefálica para pensar numa solução. E não havia nenhuma solução a não ser...
– Então vamos roubar um carro.
Leo deu um sorriso lunático.
– Gostei dessa ideia.
– Eu não. – Ryler nos repreendeu. Ele se voltou para mim. – Pattie, isso é muito perigoso. E se algum policial nos ver? Nós todos vamos ser presos! É muito arriscado, e além do mais, nós nunca vamos achar uma rua vazia com um carro parado nela.
– Você vê outro jeito, espertão? – falei, irritada. – Se sim, por favor, me diga por que eu não consigo ver outro!
Leo se colocou entre nós, apartando a briga que começaria. Eu não aguentava mais brigar com o Ryler, mas algo dentro de mim, uma força inexplicável, me impedia de fazer isso.
– Está bem. Vamos achar um carro. Ryler, se algum policial nos ver, não se preocupe! Nós temos uma menina bonita com lábia boa para distraí-lo, e com a minha agilidade não vamos levar mais de três minutos para ter um carro em mãos. Quem sabe você não possa socar um policial? Acho que está precisando, para extravasar o nervosismo.
Ryler trincou os dentes e mais uma vez tive a impressão de que se segurou para não arrancar as orelhas de elfo de Leo.
Andamos no meio daquela gente cheirosa, o que camuflou um pouco nosso cheiro de fossa. Estávamos a cara de Paris, afinal.
Depois de vinte minutos procurando por uma rua parcialmente deserta, entramos numa travessa esquecida pelos turistas. E por sorte, um Cherry estava estacionado ali.
– Sou eu ou esse carro parece estar nos esperando? – perguntei desconfiada.
– Prontinho para ser arrombado. – Leo parecia satisfeito – Cara, eu ainda estou fedendo?
– Duvido que ainda estejam fedidos depois de andar no meio de tanta gente perfumada. – Ryler deu de ombros. Reparei que seu nariz estava um pouco vermelho.
– Você é alérgico a perfume?
Ryler coçou o nariz.
– Não exatamente. O cheiro de perfume só irrita meu nariz. Principalmente quando são aqueles fortes como os da Dolce & Gabbana.
Não soube o que comentar e então andamos soturnamente até o carro. Leo agaixou-se ao lado da porta do motorista e começou a cutucar a fechadura com uma chave diferente que tirou de seu cinto. Ryler e eu encostamo-nos ao carro, acobertando Leo e esperando que ele terminasse o serviço. “Finalmente teremos um pouco de descanso” , foi o que pensei enquanto aguardava. Até uma pena cair no ombro de Ryler.
Nós olhamos para cima e no alto do telhado de uma casa, cinco bichos alados horríveis estavam nos encarando. As coisas desceram voando até onde estávamos e cacarejaram. E o mais bizarro de tudo era que elas não eram completamente galinhas; tinham o rosto de uma mulher humana muito feia, diga-se de passagem. O corpo se assemelhava ao de uma galinha, cheio de penas marrons, e as patas eram pés humanos com unhas imensas e nojentas. Suas mãos também se pareciam com mãos humanas, mas possuíam garras enormes. E a vida toda eu acreditei que galinhas não voavam.
Leo nos fitou, preocupado.
– Só matem as harpias.
E assim fizemos. Ryler pegou sua espada e partiu para cima das harpias. O problema: elas não ficavam no chão. Mas este problema podia ser solucionado facilmente. Levei uma mão à minha mais nova aljava e preparei uma flecha. Mirei diretamente no peito de uma harpia que vinha voando em minha direção e PUF! Ela transformou-se em pó dourado. Ryler atacou duas harpias ao mesmo tempo. Ele lutava como um gato, atacava brutalmente e desviava com uma agilidade tremenda. Uma harpia voava em direção a Leo, com as garras prontas para atravessar suas costas, e eu disparei uma flecha bem em sua barriga. Leo olhou assustado para trás e riu. Deuses, esse menino era insano! Como ele podia rir numa situação dessas? Agradeci mentalmente à Psiquê de todas as formas possíveis por ter me presenteado com um arco e flecha tão bons.
Quando Ryler golpeou a última harpia, cortando-a no meio e vendo-a transformar-se em pó dourado depois de carcarejar, ele embainhou a espada e andou em minha direção. Eu não esperava que alguma coisa nos atrapalhasse nesse espaço de tempo tão curto, mas modéstia à parte, para quem foi pega de surpresa, eu me saí muito bem.
Ryler sorriu e me deu um selinho.
– Você se saiu muito bem. Ainda estou curioso para ver se minhas aulas de esgrima terão algum efeito.
– Logo você verá. – dei um sorriso brincalhão – Você parecia um animal matando aquelas harpias!
– Coisa de filhos de Ares.
Escutamos o barulho de motor roncando. Leo tinha aberto a porta do carro e sentou-se no banco do motorista. Ele fez um sinal negativo com a cabeça.
– O sistema de segurança desses carros é sempre tão fácil de burlar. Que decepção. Bom, mas nada que umas boas ferramentas, mãos ágeis e um cérebro desenvolvido como o meu não resolvam.
Levantei uma sobrancelha para ele.
– Oh, sim. – ele exclamou. – Obrigado por não deixar aquela mulher-galinha me comer.
– De nada.
– Quem vai dirigir? Hã, eu não tenho habilitação. – Leo voltou seus olhos diretamente para Ryler, que não teve escolha a não ser assumir a responsabilidade.
– Certo. Vamos conhecer a Torre Eiffel.

Pensei que nenhum lugar tinha o trânsito tão caótico quanto Nova York e Londres, ou até mesmo Nova Déli. Mas Paris superava todas as expectativas. Quanto mais perto chegávamos do centro, onde o Louvre e a Torre Eiffel se localizavam mais difícil era andar de carro. Ryler tinha que frear para pedestres passarem. Enfim, levamos quarenta minutos até chegar em nosso destino.
Ryler estacionou o carro numa rua qualquer nas redondezas da Torre Eiffel. Já que não iríamos mais ficar com o carro, qual o problema do dono recuperá-lo com uma multa no pára-brisa?
A Torre Eiffel e o Museu do Louvre ficavam muito próximos um do outro. O Rio Senna também, já que ficava aos fundos da Torre. Nunca pensei que Paris fosse tão bonita; fiquei imaginando como seria a vista da cidade à noite. Eu sempre tive vontade de ir à França, mas em passeio. Nunca na vida eu iria adivinhar que minha primeira vinda a Cidade Do Amor seria no meio de uma missão e com dois garotos que não se davam à tira colo.
– Paris é realmente bonita. – Ryler observava os arredores. Ele estava olhando fixamente para um chafariz histórico no meio da praça em que estávamos.
– É verdade. – Leo concordou. – Se em todas minhas missões eu conhecer algum país, posso fazer isso para o resto de minha vida.
– Queria ter tempo para visitar a cidade. – murmurei.
Ryler colocou uma mão sobre meu ombro.
– Quem sabe não temos tempo para comprar alguns souvenires para sua mãe? Uma miniatura da Torre Eiffel, talvez?
Sorri fraco com a sua tentativa de ser positivo. Ele sabia que não teríamos tempo. Apesar de querer visitar vários pontos turísticos da cidade e presentear minha mãe, eu tinha que me focar na missão.
– Devemos subir na Torre Eiffel? – perguntei, encarando uma das sete maravilhas do mundo. A torre era gigantesca, e eu desejei vê-la iluminada.
– Por que?
– Nós temos que começar por algum lugar, não é? Já que estamos aqui, vamos subir até lá.
Andamos até a entrada da torre, e surpresa! Deparamo-nos com uma fila gigante de mais de 100 pessoas para comprar o ingresso. Bufei, frustrada de verdade. Tal imprevisto não podia acontecer. Nós não tínhamos tempo sobrando para ficar numa fila que nos tomaria, provavelmente, uma hora ou mais.
– Você só pode estar brincando comigo. – Leo resmungou. – A gente vai ter que ficar nessa fila? Sério?
Coloquei meu cérebro para funcionar de novo, dessa vez em procura de uma solução plausível. E achei uma digamos que genial e cara de pau ao mesmo tempo.
– Sigam-me e tentem entender o que farei.
Andei apressadamente até a bilheteria. Uma homem me xingou por passar em sua frente e eu encostei no balcão.
– Com licença. Você fala inglês?
Uma menina, que deduzi ser da minha idade, me olhou entediada. Ela tinha os cabelos castanhos, olhos verdes, pele branca como a neve e um piercing no nariz. Se não fosse pela cara de tédio, seria bem mais bonita.
– Sim. O final da fila é lá atrás.
– Olha, minha mãe está lá em cima. Eu desci porque estava passando mal por conta da altura e agora preciso voltar. Meu celular está sem sinal, se não eu telefonava para ela. Você precisa me ajudar a passar na frente, é urgente. Por favor, ela pode pensar que eu fui raptada.
Menti o melhor que pude. Pelo jeito, meu melhor era o pior que alguém podia fazer.
– Sinto muito, mas não posso fazer nada por você. Próximo! – ela exclamou.
O homem atrás de mim fez menção de encostar no balcão e eu o barrei. Fiz um sinal para Leo e Ryler se aproximarem.
Quando a moça da bilheteria viu Ryler, pude ver seu queixo cair. Ela arrumou o cabelo e desceu o decote V da camiseta. Uma ponta de ciúmes invadiu meu peito, mas fazia parte. Esse era o plano.
– Esses dois são meus amigos e nós realmente precisamos subir. Por favor, você tem que nos deixar passar. – insisti.
Ryler encostou-se ao meu lado no balcão e sorriu. Mas não deu um sorriso qualquer; ele sorriu como um cafajeste.
– Olha, minha linda. – ele começou, depositando firmeza em suas palavras – O negócio é sério. Nos deixe passar, por favor, sim? Prometo que isso não vai te prejudicar. Podemos até pagar mais se for preciso, mas nos passe na frente. Você vai fazer isso por mim, não vai?
Parecia que Ryler havia sido possuído por um filho de Afrodite. A menina se encantou com as suas palavras e ficou hipnotizada por alguns segundos, até cair na real. Sorte dela, porque eu estava prestes a dar um belíssimo soco bem no seu nariz.
– Eu não sei. – ela soou insegura – Se alguém descobrir vou ser despedida.
– Ninguém vai descobrir. – Ryler falou com convicção – Eu prometo. Posso até voltar aqui depois para acertar as contas, se você quiser. Só nos dê os ingressos, ok?
A garota assentiu atordoada e pegou três ingressos na gaveta. Ryler estendeu vinte dólares para ela, que pegou os ingressos. Ele deu uma piscadela para a menina e saímos da fila.
– Isso foi mais fácil do que pensei. – Ryler suspirou. – Seus ingressos.
Nós pegamos nossos ingressos e continuei encarando Ryler, esperando que dissesse algo que soasse tão convincente quanto sua encenação.
– Acho que alguém está com ciúmes. – Leo cantarolou, se divertindo com a situação.
Ryler me olhou e passou a mão em minha bochecha. Não tinha como negar: eu estava morta de ciúmes. Por mais que aquele tenha sido meu plano, não esperava que a garota fosse tão baixa assim. E muito menos que Ryler pudesse ser tão cafajeste.
– Eu nunca te trocaria por aquela vadia.
Ri do modo que ele se referiu a garota.
– Que bom, porque eu iria te matar se fizesse isso. Fiquei feliz por ter entendido meu plano tão rápido, você superou minhas expectativas. Pensei que era mais lerdo.
Ryler fechou a cara imediatamente. Pra que eu fui dizer isso? Havia esquecido que ele se ofendia com tudo.
– Tudo bem, pombinhos. – Leo quebrou o gelo. – Parem de enrolar antes que alguém nos pegue.
Ryler não retrucou, apenas permaneceu emburrado, e começamos a subir as escadas atrás de uma multidão de turistas que também pagaram pelo ingresso. Ouvi alguns nos xingando por termos cortado fila. Não queria nem pensar se alguém resolvesse arranjar briga conosco.
Na verdade, eu não sabia por que estávamos fazendo isso. Eu apenas senti o ímpeto de subir, e Leo e Ryler não protestaram contra isso. Era estranho.
As escadas pareciam intermináveis. Não sei se o cansaço nos desgastara, mas foi difícil subir as centenas de degraus até o observatório com praça de alimentação e loja de souvenires. Eu e Leo não parávamos de reclamar de dor nas pernas. Ryler estava se irritando conosco.
– Vocês são dois mariquinhas! – ele rosnou, pisando forte, não demonstrando nenhum sinal de cansaço.
– Você é do exercito, cara! – Leo se defendeu – Se você reclamasse de subir uma escadinha de nada já podia voltar e pedir baixa!
Quando finalmente chegamos ao observatório, eu e Leo nos rastejamos até uma mesa vaga e nos sentamos ali mesmo, ignorando a vista maravilhosa da cidade.
– Não acredito que subiram até aqui e não vão querer observar a vista! – Ryler indignou-se. Eu estava com o tronco inclinado, a cabeça apoiada nos braços, tentando reunir um pouco de energia até para resmungar.
– Uau. Que. Gostosa – Leo sussurrou e eu ergui a cabeça para ver do que, ou de quem ele estava falando. Ele olhava fixamente para uma belíssima ruiva, que vestia um tailleur púrpura e usava um sapato de salto de pelo menos 15 cm. Ela se encontrava atrás de um stand parecido com aquelas de degustação grátis que vemos nos supermercados. Distribuía sorrisos e amostras grátis de algum produto não identificável a todos que passavam perto dela. O que me surpreendeu foi o fato de ninguém tentar evita-la, e aceitar as amostras automaticamente.
– Qual será o nome dela? – Ryler balbuciou, olhando fixamente para a moça, assim como Leo. Os dois pareciam estar hipnotizados. Bufei, tentando decidir qual dos dois estava me irritando mais.
– Vocês estão notando a minha existência? – exclamei, numa tentativa inútil de atrair a atenção deles. Ryler sequer me olhou, apenas traçou uma linha reta até chegar ao stand da propagandista. Segundos depois, Leo levantou-se e traçou o mesmo percurso. Fiquei com cara de tacho por alguns instantes, até resolver tomar uma atitude e ir atrás daqueles dois panacas.
Ao chegar mais perto, vi a ruiva entregar um cartão para cada um deles. O sorriso dela era encantador, tão brilhante que cheguei a suspeitar que talvez pudesse ser uma irmã europeia. Quando me viu, seu sorriso perdeu um pouco da intensidade e eu senti algo estranho, como se uma aura muito poderosa flutuasse invisível em volta de todo seu ser. Ao ouvi-la falar, tive mais certeza ainda de que minha intuição fazia sentido.
– Olá querida! Quer provar algum de nossos cremes anti-oleosidade? Sua pele é maravilhosa, mas está precisando de um trato. – sua voz penetrou meus ouvidos com muita intensidade. Por pouco não respondi que sim, precisava demais daquele creme anti-oleosidade. Só que algo dentro do meu cérebro exclamava ‘Não faça isso, ela está te manipulando!’.
– Não, obrigada. – respondi friamente, tentando ler o nome da empesa bordado no seu tailleur. Era uma péssima hora para a dislexia me atrapalhar.
– De qualquer forma, pegue o cartão de nossa loja! – ela me entregou um cartão roxo, adornado por letras brancas e espalhafatosas. – Se mudar de ideia e quiser provar o produto, é só ir até a Ecric! Temos o melhor atendimento e ...
– Ok! – cortei a mulher, pois sua voz reproduzia um barulho no meu campo auditivo que se assemelhava ao de uma abelha. – Vamos, garotos.
Enquanto dizia isso, Leo pegava um creme para acne e o abria na intenção de passá-lo em seu rosto. Eu instintivamente dei um tapa em sua mão, impedindo que ele usasse o produto.
– Já disse para irmos embora! – puxei os dois pelo braço e saí de perto daquela mulher estranhíssima. Os arrastei até ficarmos perto do parapeito do observatório. Aos poucos, eles foram voltando a si, como se saíssem de um transe.
– O que aconteceu com vocês? – eu ralhei, colocando as mãos na cintura. Ainda segurava o cartão da Ecric.
– O que? – Ryler parecia tão perdido quanto cego em tiroteio.
– Como assim o que? Vocês praticamente babaram em cima daquela ruiva de tailleur púrpura! Não me escutavam! Pareciam dois robôs!
– Ah, não! – Leo passou uma mão pelos cabelos. – Isso é sério? Então acabamos de nos encontrar com uma das assistentes da Circe.
Ryler ainda estava em alfa. Eu estalei os dedos na frente do seu rosto para ver se ele voltava ao normal. Ele piscou e seus olhos voltaram a se focalizar em mim.
– Como eu andei até aqui? – Ryler perguntou, mas foi ignorado.
– Isso significa que estamos perto. – eu refleti, e lembrei do cartão amassado em minha mão. Eu o trouxe mais perto dos meus olhos e li novamente o nome da loja. E do mesmo jeito que a dislexia me atrapalhara, naquele momento ela foi capaz de me ajudar – Circe! O nome da loja é Circe ao contrário. Precisamos ir até essa loja.
– Circe já deve estar nos esperando – Leo foi racional. – Não podemos simplesmente entrar na loja, de cara limpa assim. E o nome dessa loja é uma coisa tão óbvia que me deu gastrite.
– E o que vocês sugerem, então? Como vamos arranjar roupas limpas? – levantei essa questão, e começamos a pensar juntos.
De repente, Ryler arregalou os olhos e colocou as mãos dentro dos bolsos de sua bermuda. Ele simplesmente tirou dois bolos de notas de euro de dentro deles. Leo soltou um palavrão.
– Eu não sei como isso apareceu no meu bolso! – ele se defendeu, mesmo sem necessidade. Nós ficamos ao seu lado o tempo todo.
– Deve ter sido Hermes. – conclui. – No final das contas, ele não é de todo mau. O que acham da gente trocar essas roupas fedidas? Só me deixem comprar um souvenir para minha mãe! Er... Não quis soar indelicada.
– Vai logo, Pattie. Ryler, você é o dono da grana, dê a verba para sua namorada. Droga... Hermes podia ter colocado uns trocados no meu bolso também... – os ombros de Leo murcharam e Ryler reprimiu uma risada maldosa. Peguei dez euros e fui comprar alguma lembrancinha para mamãe. Acabei escolhendo uma miniatura da Torre Eiffel e um cartão-postal 3D com uma foto lindíssima da cidade.
Depois, descemos as escadas correndo. Por que descer sempre é mais fácil? Enfim, corremos de volta até o carro (que apesar de ter ficado aberto por não termos as chaves, não foi roubado) e assim que Leo fez sua gambiarra para dar partida no veículo, Ryler saiu disparando pelas ruas de Paris. Tive que mandá-lo ir mais devagar, se não seriamos multados e não podíamos perder tempo.
Andamos sem rumo por alguns minutos até eu gritar para Ryler parar em frente à uma loja de departamentos. Era tão grande que me lembrava a Macy’s, só que seu nome era impossível de se pronunciar em inglês. Nós descemos do carro e adentramos o lugar, e como a loja não tinha nada de sofisticado, ninguém pareceu notar o quanto nossas roupas estavam sujas e fedidas.
Algumas vendedoras nos abordaram e Leo nem teve tempo de flertar com elas, pois eu fazia questão de interromper dizendo que não precisávamos de ajuda. Primeiro, fomos até a sessão feminina.
Tive a impressão de que meus olhos brilharam quando eu vi uma jaqueta de couro preta maravilhosa. Andei até ela e procurei pelo meu número.
– Sério que você vai comprar um jaqueta de couro? – Ryler perguntou, de braços cruzados. – Caso seja necessário lutar, é uma péssima escolha. Isso vai te atrapalhar.
– Nós temos que ficar apresentáveis, não é? – indaguei – Então, tem como ficar mais apresentável do que com uma jaqueta de couro? E além do mais, eu estou com frio. Já é quase de noite. Se você quer saber, consigo me virar muito bem com uma jaqueta. A minha flexibilidade não vai ser afetada.
Ryler resmungou algo e eu dei as costas, procurando por uma calça jeans decente. Na verdade, eu procurava por uma rasgada. Adoro coisas rasgadas. De qualquer jeito, peguei uma jeans preta rasgada no joelho e na coxa, do meu tamanho. Eu estava tentando não me distrair com todas as dezenas de araras cheias de roupas incríveis em volta de mim, mas não pude deixar de olhar alguns vestidos. Ryler começou a me apressar e fui obrigada a pegar a primeira blusa que apareceu na minha frente. Para minha sorte, era uma camiseta do meu gosto.
– Você gosta do Homem de Ferro? – Leo perguntou.
– Quem não gosta do Homem de Ferro?
Leo sorriu.
– Pattie, você está vendo o preço dessas roupas? – Ryler agia como um pai canastrão. Ele pegou as peças de minha mão e segurou-as para mim.
– É claro que estou! – menti. Eu não fazia ideia de quanto custava aquela jaqueta de couro, apenas torcia para que fosse barata.
– Certo, agora eu quero roupas novas para mim também. – Leo falou animado.
Atravessamos a loja inteira para chegar na parte masculina. Ryler parecia perdido ali, e tive a impressão que ele não fazia compras há um bom tempo. Já Leo...
– Pattie, você acha que essa camisa xadrez vai servir em mim? Ou eu sou muito bombado para isso?
Ele examinava uma camisa xadrez cinza e preta, como se ela fosse uma máquina com defeito. Leo tinha essa péssima de mania de examinar tudo como se estivesse lidando com peças ou ferro velho. Pelo menos, ele não tinha mal gosto para roupas.
– Acho que vai ficar linda. – disse. Ryler me olhou de rabo de olho e andou em direção a uma arara de calças jeans. Deuses, às vezes ele conseguia ser tão irritante!
Acabei seguindo Leo e perdi Ryler de vista. Mas não seria difícil encontra-lo. Era só perguntar por um jovem forte e bonito com cara de briguento, e a pessoa já saberia dizer onde ele se encontrava. Ou como Leo disse, era só perguntar se alguém tinha visto o Capitão América do mal.
Ajudei Leo com a roupa e logo tínhamos um modelito formado: camisa xadrez, camiseta branca de gola V e uma calça jeans acabada. A cara de Leo Valdez.
– Putz, eu vou ficar um gato com essa roupa.
– Cala a boca, Leonardo. Cadê o idiota do Ryler?
– Serve aquele? – Leo indicou alguém atrás de uma arara perto de nós.
Ryler veio em nossa direção, com roupas em ambos os braços. Elas não pareciam pesar, porque ele sequer havia pegado uma sacola para colocá-las.
– Vocês tem certeza que essas roupas vestiram? – ele questionou.
– Sim. – eu e Leo respondemos juntos.
– Legal. Vamos pagar.
Tivemos que andar até a entrada da loja para chegar aos caixas. Suspirei aliviada por não haver filas, pois isso seria motivo forte o suficiente para fazer Ryler desistir de comprar as roupas e ir embora. Ryler pagou a compra e chiou com o valor gasto. Bom, prefiro não comentar quanto foi, mas posso dizer que minha jaqueta foi a peça mais cara de todas.
Antes de sairmos da loja, passamos nos provadores para vestirmos as roupas. Me vesti numa velocidade impressionante e soquei a roupa fedida dentro da minha mochila. Só fiquei com o tênis, que não estava tão nojento. A roupa serviu direitinho em mim. Um bom sinal de que eu não havia engordado ou emagrecido.
Leo e Ryler já haviam se trocado. Ryler optou por peças básicas: jeans, camiseta cinza lisa e uma jaqueta de moletom azul marinho. Olhar de Ryler para Leo era um contraste e tanto! Leo se vestia de um jeito bem mais jovem e descolado.
Ryler observou minha roupa com uma careta, mas não disse nada. Tive certeza que pensava em como eu iria lutar com uma jaqueta de couro, caso fosse preciso.
Saímos da loja e andamos até o carro. O sol estava se pondo e o clima ficava gradativamente mais frio. Leo colocou o motor do carro para funcionar mais uma vez e adentramos o veículo.
– Onde está o cartão da loja? – Ryler pediu.
Abri um bolso de minha mochila e entreguei o cartão. Ele fechou os olhos e bufou.
– Nós nunca vamos encontrar essa rua. – ele resmungou, com a cabeça encostada no volante.
Leo riu no banco de trás.
– Cara, você sabe o que é esse negócio em cima do rádio? É um GPS! De última tecnologia, por acaso.
Nem eu havia notado que aquilo era um GPS. Ryler fitou o aparelho como se fosse uma coisa de outro mundo.
– Por favor, não me diz que você não sabe mexer num GPS. – Leo grunhiu, olhando para o céu, como se ponderasse o que fazer com a burrice de seu companheiro. – Santo Hefesto, onde esse mundo vai parar!
– Não enche, Valdez! – Ryler esbravejou. – Já que você entende tanto de tudo, por que não vem dirigir também?
– Ah, cala boca Ryler! Eu poderia dirigir essa porcaria, mas não tenho habilitação e estamos numa cidade grande. E se você quer que eu mexa no GPS, tire esse seu tronco exagerado da minha frente!
As bochechas de Ryler assumiram um tom avermelhado e ele deu espaço para Leo se enfiar no meio do banco. Em menos de um minuto, Leo já havia colocado o endereço na tela e a voz automática do GPS nos apontava as coordenadas.
– Prontinho! É só escutar e dirigir. Você consegue fazer os dois ao mesmo tempo, Ryler? – Leo provocou.
Ele se virou, pronto para dar um soco no meio da cara de Leo, mas eu o impedi. Continuava vermelho de raiva e suspirou pesado quando se recompôs. Lancei um olhar de censura para Leo, e o mesmo deu uma risadinha baixa. Ele não tinha medo de brincar com fogo. Literalmente.


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Notas finais do capítulo

Hahaha o Leo é um douchebag com o Ryler, pelo amor! O que uma garota não faz com a cabeça de um garoto? rs Até a próxima, leitores!



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