A Filha Do Sol escrita por Let B Aguiar, Taty B


Capítulo 15
O ataque dos abutres gigantes


Notas iniciais do capítulo

Olá seus lindos(as)! Como vão? E agora sim, podemos dizer que a fic chegou à metade. Espero que vocês curtam o capítulo e comentem, se possível! Boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/343062/chapter/15

Leo, Ryler e eu embarcamos na incrível biga automatizada. Os assentos em seu interior eram confortáveis como os de um carro de luxo, isso sem falar do mini frigobar que Leo abasteceu com muita água, refrigerantes e chocolates. Leo sentou-se no lugar do condutor e digitou a rota no sistema de GPS. Depois, pegou as rédeas dos autômatos e puxou-as delicadamente. Os animais de bronze fizeram um barulho semelhante a um relincho, e correram por alguns metros na grama até abrirem as asas magníficas e alçarem voo. A biga deu apenas um pequeno solavanco ao subir, mas mesmo assim eu decidi me segurar firmemente no braço de Ryler.
– Relaxa, Pattie! A biga é perfeitamente segura, a não ser que algum monstro voador a ataque. – Leo me tranquilizou, em partes. Não foi legal imaginar a biga sendo atacada por monstros voadores gigantes. Íamos todos morrer estatelados no chão como tomates podres. E isso seria nojento.
– Quanto tempo até Ocala? – Ryler perguntou para Leo. Um braço seu estava sobre meus ombros, o que me deixava bastante calma e bem disposta.
– São doze horas até Ocala, na Flórida – Leo respondeu – Mas vamos ter que fazer uma parada antes.
– Por que? – questionei.
– O óleo dos autômatos precisa ser trocado de oito em oito horas quando eles estão em uso contínuo. Do contrário, eles podem entrar em pane. Pelos cálculos do computador de bordo, vamos ter que fazer essa parada em alguma cidade da Georgia.
– Certo... Então isso vai ser por volta das duas da tarde? – Ryler foi inocente em sua pergunta, e não notou que tinha feito a conta errado.
– Não, cara! São oito da manhã, oito mais oito é igual a dezesseis, ou seja, quatro horas da tarde! – Leo sufocou uma risada. Os dois já não se gostavam, e se Ryler ficasse dando motivos para que Leo zombasse da sua cara, não ia ser uma viagem muito agradável.
– Tá me achando com cara de burro? – apesar do pouco tempo de convivência com Ryler, tinha que admitir que ele não era a pessoa mais inteligente do mundo. Seu negócio se restringia a atividades que não exigiam muito raciocínio, apenas força e trabalho manual. Ficava imaginando como eram suas notas da faculdade.
– Bem... Você errou uma conta de adição. – Leo disse, usando o máximo da sua habilidade de irritar as pessoas.
– Você sabe o que eu faço na faculdade, garoto? – Ryler empertigou-se – Eu faço Engenharia Bélica! E acha que eu não sei fazer contas?
Leo deu uma risada repleta de escárnio, e antes que replicasse, eu me intrometi.
– Leo, por que você ainda não começou a fazer faculdade? Já vai fazer dezoito anos.
– Eu preciso completar o ensino médio para entrar numa faculdade – ele falou – Vou entrar para o terceiro ano agora. Segundo o governo, eu sou órfão. É difícil encontrar um internato ou uma escola em Nova York que aceite adolescentes órfãos, sabe.
– Eu também sou orfão. – Ryler completou, e não sei se foi coisa da minha cabeça, mas pareceu se solidarizar com Leo por alguns instantes – Sua mãe morreu?
– Sim, ela morreu. Do mesmo jeito que a sua, já que nós somos órfãos.
– Obrigada por fazerem eu me sentir péssima! – exclamei. Eu era a única ali que tinha uma mãe viva e presente. Senti-me realmente mal pelos dois. – Podemos mudar de assunto agora?
– De preferência, vamos mudar para um que não envolva matemática. – Leo gargalhou dessa vez. Não gostava da maneira como ele incomodava Ryler, mas foi engraçado vê-lo rindo do próprio sarcasmo, e eu quase dei risada também. Ryler não retrucou, apenas bufou e me puxou mais para perto de si.
– Ok, vamos nos conhecer melhor então. – eu sugeri, tentando quebrar o clima pesado que pairava sobre nós – Eu dou um tópico e respondo, e vocês também tem que responder.
– Como assim? – Ryler indagou, com cara de dúvida.
– Por exemplo – comecei a explicar – Eu digo: comida preferida. E respondo que a minha é um prato brasileiro chamado feijoada. Aí você e Leo respondem também.
– Ahhhh – agradeci mentalmente por ele ter entendido de primeira – A minha é costela de porco com barbecue e mel. As que a minha tia faz são ótimas.
– Eu gosto de qualquer comida mexicana – Leo respondeu, digitando algumas coisas no computador de bordo. Logo depois, a cadeira dele girou e virou-se para nós – Ah, coloquei no piloto automático.
– Pégasos no piloto automático? – fiquei um pouco surpreendida, e Leo assentiu, como se isso fosse normal. – Bem, próximo tópico... Banda preferida? Nesse momento, a minha é The Killers.
– Eu não sei! – Ryler exclamou – Não escuto muita música...
– Ah, você tá brincando! Como assim você não escuta muita música? – fui pega de surpresa mais uma vez com essa confissão, e Leo rolou os olhos.
– Pattie, eu fico o dia inteiro na base militar do exército. Quando eu chego em casa, só quero dormir, não penso em escutar música. – ele justificou. Porém, isso não colava, já que é possível escutar música em qualquer lugar.
– Mas Ryler, há música na televisão, no rádio... Em qualquer lugar! – tentei argumentar.
– Eu já escutei tanto Rolling Stones, que diria que eles são minha banda preferida... – Leo interrompeu, retomando o assunto – E você tem cara de gostar de The Killers mesmo. Aposto que gosta de The Strokes também. E todas essas bandas mais alternativas.
– Sim! – exclamei, animada. Era preciso dizer que eu amava conversar sobre música? – Mas eu também sou bastante fã de bandas clássicas. Gosto muito dos Stones, dos Beatles, AC/DC, Deep Purple, Led Zepellin, Pink Floyd...
– Se você não tivesse bom gosto musical, ia sofrer bullying do seu próprio pai. – Leo comentou, e eu me imaginei gostando de Lil Wayne ou 50 cent. Meu pai daria um fim na sua caçula com as próprias mãos, de tanta vergonha.
– Seria o mesmo que eu me interessar por design de interiores. – Ryler falou, pensativo.
– Pelo menos você não usaria tanta matemática. Seria um ótimo design de interiores. – e quando eu pensei que conseguiríamos manter uma conversa agradável, Leo fez questão de soltar uma provocação dessas.
– Sabe de uma coisa, Valdez? – Ryler elevou um pouco seu tom de voz – Não vou mais perder tempo respondendo as suas provocações. Você faz isso porque assim se sente um pouco menos perdedor.
– Perdedor? Cara... odeio fazer esse tipo de coisa, mas você está pedindo. Já parou para pensar quem foi um dos sete semideuses que salvou o Olimpo? – Leo adotou uma postura menos sarcástica – Eu consertei o dragão de bronze que poderia ter destruído o acampamento, desenvolvi o maior navio de guerra voador que você com certeza viu na vida, e ah... Também reformei toda essa biga em que você e sua namorada estão voando agora. Tem certeza de que pode me chamar de perdedor? Se não fosse por mim, você nem estaria aqui agora.
Nunca imaginei Leo deixando Ryler sem palavras, mas ele conseguiu. Ryler engoliu seco e desviou os olhos. Provavelmente tentou pensar em algo para responder, só que na falta de palavras, preferiu permanecer calado. O clima pesadíssimo voltou a cair sobre nós, e Leo abriu o frigobar, tirando de dentro dele duas latas de coca. Entregou uma para mim e voltou a dar as costas para nós, reassumindo o controle dos pégasos. Não foi por menos que a partir daquele momento a viagem se tornou desconfortável. Ryler não olhava mais na direção de Leo, e vice e versa. Trocávamos poucas palavras, e o tédio acabou tomando conta de mim. Até tentei ouvir um pouco de música no meu iPod mini contrabandeado, mas Ryler não tinha paciência para ouvi-las junto comigo. Por volta do meio dia, me rendi ao sono e acabei cochilando encostada em seu ombro.
Lembro-me que tinha começado a sonhar com um jardim bonito e familiar, quando a biga balançou violentamente e acordei com Leo xingando em espanhol.
– Abutres! Abutres gigantes! Eu pensei que águias fossem o suficiente! – ele gritava, irritado, enquanto fazia manobras com os pégasos, desviando-os das garras afiadas das aves que tentavam nos atacar. Aqueles abutres tinham, no mínimo, uns três metros de comprimento. Ryler levantou-se ao meu lado, a espada em mãos. Leo olhou brevemente para trás, com sua habitual expressão enlouquecida. – Vocês vão ficar parados aí mesmo? Eles vão destruir a biga!
– Leo, deixe eles se aproximarem. Pare de desviar! – eu disse, pegando minha aljava no banco de trás – Abra o teto solar.
– Espero que você saiba o que está fazendo. Estamos a 200 metros de altura. – ele me alertou e clicou num botão que abriu o teto solar da biga. Eu fiquei de pé no banco, o que me permitiu colocar metade do meu corpo e o arco e flecha para fora. Cerca de seis abutres rodeavam a biga, e suas garras tinham quase o tamanho da minha cabeça. Eu preparei uma flecha o mais rápido possível e a mirei em um que tentava cortar as rédeas grossíssimas que prendiam os pégasos. A flecha atravessou o tronco do bicho e ele guinchou, jorrando sangue e caindo em queda livre céu adentro. Um tentou arrancar minha cabeça fora, e tive que me abaixar para não ser atingida. Não fez diferença, porque segundos depois eu também o matei com uma flechada certeira. Quando notaram que não tinham muitas chances, eles começaram a apelar. Tentavam a todo custo derrubar o meu arco, mas eu me abaixava antes que conseguissem. Um deles me arranhou feio, bem no pulso, porém, eu tive que engolir a dor e desferir mais flechas para conseguir aniquilá-los. Ouvi Leo gritar de dentro da biga e me abaixei a tempo de ver um abutre, o único que ainda estava vivo, puxá-lo pelos ombros a fim de lança-lo para fora. Ryler segurou as duas pernas dele, e eu conseguia ver as garras da ave se fincando em sua pele. Sem hesitar e apesar do espaço pequeno, eu mirei uma flecha bem no meio da cabeça do bicho e ele soltou Leo imediatamente, cambaleando para trás, numa tentativa inútil de ainda se manter planando. Seu fim, com certeza, foi uma queda livre de 200 metros de altura.
Ryler foi rápido ao puxar Leo antes que ele também tombasse para trás. Vi lágrimas se formando em seus olhos. Os cortes nos seus ombros foram bastante profundos. Eu larguei a aljava e o arco, e ajudei Ryler a deitá-lo no banco da biga enquanto ele gemia de dor e perdia bastante sangue.
– Calma, calma, calma. – eu tentei tranquiliza-lo, apesar de estar desesperada em vê-lo nesse estado – Eu vou resolver isso. Ryler, pegue a minha mochila ali no outro banco, por favor!
Ele fez o que pedi, e com as mãos trêmulas eu tirei de dentro da mochila o cantil de água, o néctar, a pomada e as ataduras que Will me dera. Não sei de onde consegui forças para rasgar a camiseta de Leo, mas comecei a limpar seus ferimentos com água, usando os próprios pedaços da camiseta para estancar um pouco do sangue. Ryler observava a cena com certa tensão. Depois de limpar superficialmente, pinguei algumas gotas de néctar nas feridas, que arderam como ácido e foram cicatrizando, mesmo que pouco. Leo falava coisas sem nexo em espanhol, o que não me ajudava a entendê-lo. O sangue estancou de vez, e a dimensão dos ferimentos diminuiu bastante. Agora pareciam cortes que precisariam de pontos falsos, não de uma sutura. Passei uma boa camada da pomada cicatrizante sobre os cortes e os enfaixei com as ataduras. Instintivamente, coloquei minhas duas mãos em cima das áreas que acabara de enfaixar e fiz uma prece a meu pai, o deus dos médicos e curandeiros. Tive a impressão de que não disse nenhuma palavra em inglês, e sim em grego antigo. Não pude pensar muito nisso, pois ao terminar eu cambaleei para trás, me sentindo tonta e a ponto de desmaiar.
– Pattie! – Ryler pareceu assustado e correu para me segurar – Você está bem?
– Ah não, não precisamos de mais um nocauteado em ação – escutei Leo falar, sua voz rouca.
– Estou. – respondi com dificuldade, me apoiando em Ryler. – Preciso sentar.
Ele me conduziu até o outro banco da biga e eu me sentei, apoiando o rosto nas mãos. Aos poucos, a vertigem começou a passar e minha força foi voltando ao normal.
– Meu pai avisou – falei para mim mesma, sem nem notar que Ryler se sentara ao meu lado – Eu sou muito teimosa!
– O que seu pai te avisou? – ele perguntou, com as sobrancelhas franzidas.
– Que utilizar um dom que não é meu poderia me fazer passar mal. – respondi, olhando para um Leo deitado no outro banco de olhos fechados, com uma mão sobre a testa – Leo, como você está? Pelos deuses, eu me assustei.
– Tirando a sensação de que estou sem ombros... – ele abriu os olhos castanhos, me fitando – Eu estou bem, Pequena Miss Sunshine. E você me salvou de sangrar até morrer. Obrigado.
– Não iria deixar você sangrar até morrer, Tocha Humana. – eu sorri, e Ryler olhou de mim para Leo um tanto desgostoso.
– Começamos bem... – ele resmungou. – Pattie, você está mesmo bem? Está pálida. E tem um corte no pulso.
– Eu vou melhorar. Vou enfaixar esse corte. – tentei passar confiança. Fiquei tão preocupada com os ferimentos de Leo que me esqueci do corte no meu pulso. Ryler sorriu timidamente e me deu um beijo na testa.
– Ninguém vai me dar um beijo na testa? – Leo podia perder os ombros, mas não perdia a piada – Estou brincando. Ok? Ok.
Ri baixinho e ao notar isso, Leo sorriu abertamente, piscando para mim. Ryler não percebeu, apenas se levantou e foi fechar o teto solar. Enquanto isso, eu limpei o corte do meu pulso e o enfaixei cuidadosamente.
O resto da viagem seguiu sem abutres gigantes ou algo mais ameaçador. Ryler tomou a dianteira da biga, enquanto Leo ainda se recuperava. E de certa forma eu também, pois a minha tentativa de ser curandeira por um dia me deixou abalada. Leo conseguia mexer os braços devagar, e não teve paciência para continuar deitado. Ele sentou no banco, colocou uma camiseta reserva do acampamento que eu trouxera (ficou um pouco apertada, é claro) e nós começamos a conversar.
– Alguém enviou esses abutres fedidos e ranhosos. – ele comentou, enquanto comia um dos pacotinhos de ruffles que eu havia trazido – Deve ter sido a feiticeira feminista.
– Concordo. – eu assenti – A essa altura, ela já deve saber que há alguém a sua procura. Antes de acordar, tive a impressão de que ia sonhar com a missão novamente.
– Seus sonhos são como uma bússola. Ainda bem que você sonha, porque se dependesse de mim e de Ryler, morreríamos tentando achar Eros. – Leo foi realista, e vi Ryler olhando feio, de rabo de olho.
– É, eu voltei a tê-los na hora certa. Só espero que eles não continuem depois dessa missão acabar.
– Você tem medo de pesadelos, escuro... Vai me dizer que tem medo de travesseiros também? – Leo zombou de mim, e eu dei uma risada sarcástica.
– Tenho medo de semideuses hispânicos com cintos de ferramentas mágicos. – fui bem sucedida na minha resposta.
– 1 à 1, Pequena Miss Sunshine. – ele disse, em tom de desafio – Me de alguns minutos para pensar numa tréplica.
– Desafio aceito. – falei, e Leo jogou um pedaço de ruffles em cima de mim, virando-se para frente.
– Ry, quer comer alguma coisa? – eu tive a intenção de soar como uma namorada fofa e prestativa. Ryler clicou no botão de piloto automático, sentou ao meu lado e comeu os dois pacotinhos de ruffles restantes. Meninos e seus estômagos sem fim.
Quando parei para olhar as horas, já se aproximava das três da tarde. Leo avisou que as quatro, teríamos de fazer uma parada para repor o óleo dos pégasos. Sobrevoávamos o estado de Georgia, segundo ele. A biga não tinha janelas, para nossa própria proteção, e como era feita de um material muito resistente, o máximo que os abutres conseguiram fazer foi amassar um pouco da lataria. O sol já tinha baixado bastante, e agora quem sentia fome e vontade de ir ao banheiro era eu.
Agradeci aos deuses quando Leo assumiu as rédeas e conduziu os pégasos até terra firme. Fomos descendo com velocidade, e mais uma vez eu me agarrei em Ryler. Precisava me acostumar com os meios de transporte olimpianos.
A biga aterrissou e descemos esticando-nos, cansados de passar horas sentados. Quer dizer, eu e Ryler fizemos isso... Porque os curativos que fiz em Leo não permitiam que ele se espreguiçasse.
– Essa foi a viagem mais longa que eu já fiz na vida. – Ryler comentou, alongando as pernas.
– É porque você não teve que atravessar o oceano atlântico. – Leo andava em círculos e balançava as pernas, enquanto bebia uma garrafa de água. Estacionamos bem em frente à entrada de uma cidade tão pequena que não deveria ter mais de 2000 habitantes. Na placa de boas vindas, lia-se ‘Bem vindos a Abbeville, Georgia’. A placa nem sequer tinha um desenho decorativo ou propaganda turística. Não ouvíamos barulhos de carros nem de pessoas, apenas um silêncio incomum.
– Não estou sentindo boas vibrações... – comentei, enquanto olhava em volta, analisando o ambiente. Senti um calafrio percorrer meu corpo. Leo começou a trocar o óleo dos pégasos com certa dificuldade, mas Ryler não moveu um músculo para ajuda-lo. Incomodei-me e eu mesma fui ajudar.
– Seu namorado é um doce... tão solidário! – Leo ironizou, enquanto eu o ajudava a virar a lata de óleo no compartimento do primeiro pégaso.
– Não posso fazer nada se vocês se amam tanto que precisam brigar a todo instante! – repliquei, e percebendo a conversa, Ryler decidiu intervir.
– Pattie, por que você não aproveita essa parada para conversar com a sua mãe? Tem uma fonte mais ali a frente, numa praça. Talvez seja difícil que você tenha outra oportunidade dessas. – Ryler falou sinistramente, e suas palavras me fizeram refletir. Depois de abutres gigantes, as coisas só tendiam a ficar mais perigosas. Aceitei sua sugestão.
– Ok, eu farei isso. Mas você tem que ajudar o Leo aqui. Vou ficar esperando vocês lá.
Ambos concordaram, desprezando as caras feias, lógico. Peguei minha mochila e andei pela avenida principal até chegar numa praça que ficava a poucos metros dali. No percurso todo, se avistei cinco pessoas andando pela calçada ou em algum estabelecimento, foi muito. A praça que abrigava a fonte estava maltratada e esquecida. Da fonte, jorrava uma água amarelada, e a estátua em seu centro não tinha um braço. Sentei-me na borda, tirei um dracma do bolso externo da mochila e o joguei na água.
– Oh Íris, deusa do Arco-Íris. – falei num tom praticamente inaudível – Mostre-me Olivia Veloso.
Uma névoa se ergueu da fonte e tremeluziu. Segundos depois, ela se materializou numa imagem perfeita de minha mãe, sentada à mesa do seu escritório impecavelmente organizado. Mamãe era gerente de uma loja da Victoria’s Secret, em Los Angeles. Ela batalhou muito para chegar aonde chegou. Já tinha sido até faxineira.
– Mamãe! – eu exclamei, e ela, que estava de cabeça baixa fazendo algumas anotações em planilhas, se assustou e soltou um grito abafado quando viu meu rosto suspenso no ar bem na sua frente.
– Patricia, é você? – ela arfou – C-como...O que é isso?
– Calma, dona Olivia ! – não pude deixar de sorrir ao ver o rosto dela, que parecia tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. – Isso se chama mensagem de Íris, e é o único meio da gente se falar. Não consegui usar o celular desde aquela última vez.
– Você quase me matou do coração! Mas bem... isso lembra Skype. – ela se acalmou e sorriu de volta. – Como você está, minha princesa? Onde você está? Eu nem sei dizer o quanto sinto sua falta!
Ok, ela podia ter dispensado o ‘princesa.’ Ela sempre dizia esse tipo de coisa quando ficávamos longe uma da outra.
– Eu estou ótima, mãe! Também sinto saudades! – respondi – Melhor impossível, de verdade. Eu estou...hum... no tempo livre das atividades do acampamento! Daqui a pouco vamos jantar.
– Que bom que você está feliz. Isso é o mais importante. Está sendo bem tratada?
– Sim, até demais. – não gostava de esconder coisas dela. Mas aquele não era o momento apropriado para dizer que eu arrumei um namorado bonitão e me encontrava no meio de uma missão perigosíssima. – Por favor mãe, não fique se preocupando. Dá pra notar como você está triste.
Apesar do sorriso, eu sabia muito bem que minha mãe não estava aguentando de saudades e não parava de pensar que algo perigoso poderia acontecer comigo. O que não deixava de ser verdade.
– É difícil, Pattie... você é minha única filha! – a sua voz saiu embargada – Mas vou tentar!
– Olha, não temos muito tempo para conversar... Quando alguém puder me emprestar o celular, eu te ligo, ok? Se cuida, manda um beijo para Lara por mim! – bom, como vocês sabem, Lara é minha beagle. E eu simplesmente a amo como se fosse uma filhinha.
– Pode deixar, meu amor. – mamãe deu uma fungada, tentando controlar as lágrimas. Isso me matava. – Eu te amo, não se esqueça.
– Eu também te amo! Nunca vou esquecer, mãe... Tchau! – acenei para ela, e a névoa se desfez num piscar de olhos. Falando em olhos, não notei que os meus encheram-se de lágrimas. Eu pisquei, tentando evitar as lágrimas de saudade, e quando virei para trás, Leo e Ryler me encaravam com curiosidade.
– O que foi? – indaguei.
– Em que língua você estava falando? – Ryler devolveu com outra pergunta. Eu dei um sorriso fraco e respondi.
– Português! Já esqueceu que eu sou brasileira? Que memória boa, hein! – vi suas bochechas corarem, e ele não respondeu. Leo riu silenciosamente. – E então, o que vamos fazer?
– Procurar um lugar para ir ao banheiro... – Leo falou – Seu namorado está desesperado.
– Eu não consigo ficar sem fazer xixi o dia inteiro. Não sou mutante! – Ryler ralhou, fazendo sua habitual carranca nervosa. Ir ao banheiro parecia a melhor ideia naquele momento. Me levantei, e decidimos procurar uma lanchonete onde poderíamos ir ao banheiro e comer alguma coisa. Tudo parecia tão calmo naquela cidade. O que poderia dar errado, não é mesmo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E agora, rufem os tambores...É com muito prazer que anuncio a vocês que A Filha do Sol vai ter uma segunda temporada!!! YEY, eu estou muito animada e já comecei a escrever. Prometemos não deixar vocês caírem no tédio! É isso aí... Au revoir! Taty x



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Filha Do Sol" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.