Alice

Eu tentei disfarçar o susto porque a armadura se desfez, a menos que Doutor K tivesse brincando comigo, eu ainda havia ficado com o poder do veto.

- Você ainda não sabe quem eu sou né?

- Dr. Jefferson.

- O pai do seu irmão. Eu fiz parte do PM, fui atingido pela explosão e ganhei o poder da sugação. Desde que descobri meu poder suguei o primeiro mutante e então não parei mais. Você nem imagina o tanto de poderes que eu tenho, quase quinze anos sugando, imagine só... Mas é uma pena que todos esses poderes sem o seu não são nada.

- Mas por quê?

- O poder do veto, não tivemos tempo o bastante pra estudá-lo, mas você já provou que ele existe e funciona.

- Eu provei... Como você sabe?

- Adivinhe.

- Você... Como? Por que...

- Mutante morto não tem poder, pra quê você serviria se estivesse morta?

- Eu devo lhe dizer obrigada?

- Não se sinta obrigada a isso.

Quase ri.

- Pra quê tudo isso? Porque você não foi até o hospital e sugou todo meu poder enquanto eu estava desacordada? Porque você não fez isso quando eu ainda era bebê? Você teria me poupado de muita coisa, muita discórdia que a droga desse poder me causou! Eu cresci sem minha mãe por isso, perdi minha irmã... Eu não tive infância... Você podia ter acabado com isso, só eu sairia perdendo... Mas não. Kevin Jefferson prefere armar um grande circo e ferir o máximo de pessoas possíveis... Você é um louco. Por que não resolveu isso logo quando teve a chance? Eu não me importo em perder meus poderes. Mas EU me importo com a vida dos meus amigos.

Ele observava em silêncio, e isso me irritava.

- Fale alguma coisa! Faça alguma coisa!

Doutor K, ou melhor, Doutor Kevin Jefferson suspirou profundamente e começou.

- Sabe, há muitos anos atrás...

- Me poupe disso!

- Não, não, você vai me ouvir. Eu conheci sua mãe, fomos muito íntimos. Eu a amava, e ela correspondia, mas ela amava mais do que a mim, a ciência. E quando fizeram pra ela a proposta para ser a progenitora da mutante mais poderosa... Ela não resistiu, não pensou duas vezes, e nem se importou com quem seria o pai. Porque eles não queriam a mim novamente. Eles queriam testar uma nova combinação de genes... Eu já era pai de Jeff, eles queriam outro resultado então me descartaram...

- Quem é meu pai?

Ele fez que não tinha ouvido minha pergunta e continuou a falar.

- Mas Keybe nem pestanejou. Eles a deram pra um dos generais que estavam patrocinando o projeto, e assim ela concebeu você, eu não queria aceitar isso, mas ela disse que era só pela ciência, que não ia rolar sentimento, mas ela te amou e consequentemente sentiu algo pelo cara que ajudou ela a te fazer, e quando você nasceu... Não tinha mais espaço pra mim na vida dela, eu fui tomado de um ódio que eu não estava mais conseguindo conter, logo depois a explosão aconteceu e eu fui contaminado, você foi roubada pelo Alex, pros braços de quem ela veio? Pros meus, então eu achei que era a deixa pra vivermos juntos e felizes com Jeff, o nosso filho... Mas não. Ela não descansou enquanto não localizou você, quando finalmente te encontrou, ela foi atrás de você, mas Alex usou de todos os seus artifícios pra mantê-la longe. Por muitas vezes eles se confrontaram ela queria vocês duas de volta, Alex se livrou da outra, mas não de você, então ela continuou tentando e foi em um desses confrontos que ela morreu...

- Quer dizer que Alex...

- Sim. Ele matou sua mãe, quando ela tentava salvar VOCÊ!

Agora andava de um lado para o outro com raiva. E o seu olhar carregava um brilho macabro que me deixava apavorada.

- A culpa foi toda sua! Foi por sua causa que a minha Keybe morreu era você que ela queria proteger!

Eu não podia acreditar no que eu ouvia. Kevin Jefferson me culpava pela morte da minha mãe, eu nem sabia que ela estava morta... Não. Eu não tinha culpa nenhuma.

- Para de falar assim! Eu nem sabia de nada!

Ele não estava me ouvindo, parecia que aquelas lembranças lhe causaram muita dor. Kevin andava de um lado pro outro mexia nos cabelos. O semblante sereno de Doutor K não pertencia a Kevin Jefferson. Parecia que eu não estava ali, ele murmurava coisas até que finalmente despertou da sua raiva e olhou para mim furiosamente.

- Vamos acabar com isso agora mesmo. É por você Keybe...

Raul

Eu rolava no chão com o petrificador, parecia que Match resolvera ser justo e bloqueara os poderes dos dois, estávamos lutando do modo tradicional, Levi continuava a disputar com André que estava prestes a ceder, Rogeslane cuidava de situar o irmão que não entendia nada do que acontecia ao seu redor, Marcelo ficava em sua defesa mas sempre atento a qualquer ataque de mais força contra Levi. Jeff estava alheio  nós, ele apenas rodeava Bruno, e era dele que eu iria cuidar assim que terminasse com o petrificador. Eu dava socos nele, mas o cara era melhor e mais velho, devia ter uns trinta anos.

- Marcelo... – pedi

Ele moveu a mão de longe concentrando o ar gelado que tinha no petrificador. Foi perturbador, ele começou a tremer de frio, me levantei e corri ao encontro do meu irmão e Jeff se impôs na minha frente.

- Jeff. Sai-da-minha-frente!

Alice 

Doutor Kevin me acertou com choques, eu me ajoelhei no chão, a única coisa que havia sobrado pra mim era o veto,  eu ainda não sabia como usá-lo... Seria um massacre.

- Você não vai nem se defender?

Como se eu conseguisse fazer alguma coisa, meu corpo inteiro doía, eu estava quase desistindo, iria cair e me entregar à morte, mas ele não merecia isso, eu ainda tinha muito pra fazer. Mantive-me firme agüentei a dor.

- Onde estão seus poderes A25?

Não respondi;

- Estou lhe fazendo uma pergunta. Responda! Por que não se defende? Você foi criada para ser o predador, não a presa! Ataque!

Ele dizia isso e não parava de lançar ataques e mais ataques contra mim.

- Já entendi tudo... Achou que i me enganar por muito tempo? Que ideia boba essa sua. Sabe o que você fez? VOCÊ SABE O QUE VOCÊ CONSEGUIU?! Você está me obrigando a matar Levi, era isso que você queria?

Juntei minhas forças pra ficar de pé e falar.

- N-n-n-não faça nada con-con-contra Levi. É-é-é-é é o meu poder que você quer. – minha voz era quase um sussurro

- Isso é patético. Eu vou à busca do meu poder.

Ele saiu da dimensão onde estávamos, e eu tentei ainda com muita dor e sem força nenhuma fazer o mesmo, mas não consegui nada além de cair pra trás. E então eu comecei a ouvir vozes em minha mente.

"É só fazer o que você faz de melhor Alice, papai precisa disso."

"Cale a boca."

"Me dá dó só de pensar que você vai enfrentar ele sozinha."

"Não tem medo de perder seu poder?"

"Eu NUNCA, NUNCA MESMO vou deixar alguém te machucar de novo"

"Você não vai mais morrer?"

"Você tem o poder do veto."

"Nunca mais faça isso..."

As vozes vinham distorcidas em minha cabeça junto com a imagem das pessoas. Levantei-me um pouco e toquei o chão com minhas mãos, e focalizei o que eu queria fazer, talvez o poder do veto funcionasse.

- Eu... Vou... Salvar... Levi, e os meus... Amigos!

Raul

Eu gelei quando Doutor K saiu de sei lá aonde sem Alice. Quer dizer, eu acho que era Doutor K, sem máscaras era impossível reconhecê-lo, mas pela lógica, só podia ser ele. Iria largar Jeff par atacá-lo, mas ele mesmo ordenou que parassem, e ordenou que Match bloqueasse todos os poderes com exceção do dele, do de Bruno e do de Levi, meus pais me disseram uma vez que poderes bloqueados não podem ser sugados, fiquei desesperado, não me controlei e pulei pra cima dele, mas ele me parou no ar, flutuei.

- O meu assunto não é com você.

- Você não vai machucar meu irmão! Match! – pedi ajuda a ele

Match liberou meu poder e Doutor K me deixou cair.

- Match! – Doutor K gritou – Não se ponha no meu caminho. Você sabe o que eu posso fazer.

Uma luz acendeu-se em minha mente.

- Bloqueie os poderes dele.

Corri pra perto de Levi e segurei firme em suas mãos. Ele estava com medo. Eu o abracei.

- Vai ficar tudo bem.

Levi se aninhou em meus braços. E Doutor K não parava de ameaçar Match.

- Você perdeu a noção do perigo?

- Quer saber?! Vá em frente Doutor K! Sugue meus poderes.

"Continue assim Match e salve a gente"

- Você quer? Então é isso que eu vou fazer.

Ele sugou tudo de Match, poder e vida. E virou-se pra nós.

- Agora é a vez de vocês.

Coloquei Levi atrás de mim e me preparei, a qualquer momento o bloqueio faria efeito;

- Você acha que pode me deter?

Projetei a ilusão de uma floresta escura e fria.

- O quê?! Eu tenho super-visão acho vocês fácil... O que está acontecendo? Porque eu não consigo ver?! Vou matar todos vocês! Todos vão tremer na presença de Kevin Jefferson!

Levi me abraçou mais.

- Tá tudo bem...

- Eu vou destruir tudo isso!

Nesse instante tudo voltou ao normal, por mais que eu me esforçasse pra manter a ilusão não consegui. Estávamos na antiga clínica novamente. Bruno caído no chão desacordado e em pé ao seu lado com arranhões em todo o corpo e vários hematomas, Alice, minha Alice. Se não estivesse com Levi teria corrido pra socorrê-la, mas Jeff fez isso em meu lugar.

Alice

Jeff correu pra me abraçar e quase quebrou meus ossos, principalmente porque eles estavam muito fracos.

- Calma mano.

- Me desculpa. Eu te entreguei pra morte, me perdoa, eu nunca mais farei isso, eu nunca mais vou ser um covarde.

- Tudo bem Jeff. – tentei abraçá-lo, mas lembrei que ainda tinha que terminar Doutor K, e primeiro usei o poder do veto pra ter meus outros poderes de volta – Agora sim. – disse lançando Doutor K contra a parede.

- A25! Você tinha...

- Perdido o poder, é eu também achava que sim, mas eu descobri que o poder do veto, é insugável, incopiável... Em fim, é como você mesmo disse, eu fui criada pra ser o predador, não a presa! – falei mantendo-o na parede e jogando ondas magnéticas sobre ele

Ele sussurrava algo como "Isso não vai ficar assim...", li sua mente. Kevin queria fazer com que tudo ali explodisse. Ele tirou algo do bolso e apertou um botão, com o resto de forças que tinha, e uma voz estranha avisou.

- Autodestruição em 30, 29, 28...

- Se é pra morrer, vamos todos juntos.

Eu deixei que ele caísse no chão. E corri pra Raul e Levi.

- Vamos!

Raul pegou Levi no braço, Anderson e Rogeslane atravessaram as paredes com Marcelo segurando-se neles, Jeff e eu corri até a porta, mas estava trancada, e por mais que fizéssemos força não conseguíamos abrir.

- Droga!

- Desista Alice. Nós vamos morrer. Eu vou dar cabo da maior experiência do PM...

Doutor K ria.

- Abre a porta como você abriu a porta da casa de festa do Marcelo.

Fiz força mentalmente, mas nada podia abrir a porta. Raul esmurrou a porta. Jeff tentou também, mas foi tudo em vão.

- 10, 9, 8...

- Venham pra perto de mim. – chamei - Acho que eu posso fazer um escudo. Todos bem perto, perto mesmo, vou fazer o máximo de força que eu puder. Ainda temos uma chance.

Sentamos no chão e ficamos bem juntos, minhas mãos apenas ficaram livres para projetar o escudo. Levi estava com medo.

- Vai ficar tudo bem, não se mexa pra fora do escudo, nós vamos ficar bem.

- 3, 2, 1... 0.