Leo estava prestes a cometer uma loucura. Não fosse por Frank o ter segurado, ele teria se machucado muito. Mas o grandalhão se afastou bem rápido quando fumaça começou a sair das mãos de Leo. Não foi intencional, ele só... Bem, ele estava sentindo um turbilhão por dentro. E se seu fogo se tornasse tão incontrolável como as emoções, ele temia que piorasse tudo.

Precisava manter a calma e consertar as coisas. Sim, consertar as coisas! Um filho de Hefesto conserta as coisas o tempo todo. Mas como ele podia consertar Piper? Ele queria tanto ter nascido filho de Apolo, quem sabe assim pudesse fazer alguma coisa. O procedimento padrão ambrósia-néctar não a fez acordar. E ferimentos apareciam de tempos em tempos e desapareciam gradualmente.

À essa altura, eles já estavam de volta ao hotel de Poseidon, e Piper jazia na maca da enfermaria, ainda desacordada. Quanto tempo se passou desde que ela apagou, Leo não tinha idéia. Dois dias? Talvez três ou quatro. Ou talvez fossem segundos. Ele não saberia responder essa pergunta. Apenas continuava ao lado dela, e abraçá-la lhe dava a falsa, porém minimamente reconfortante idéia de que seguraria sua alma lá.

Leo não sabia se chorava por Piper ou se gritava de raiva por Jason ter abandonado todos eles quando mais precisavam.

Frank tentava sempre dizer algo sobre ligação, ou Tártaro, mas Leo nunca ouvia o que ele dizia quando entrava no quarto. Apenas continuava abraçando a menina que tanto amava. Não importava que alguém entrasse no quarto, e lhe fizesse perguntas que não eram respondidas, ou pedisse para que ele parasse de sufocá-la.

Ela era linda. Tão linda, mesmo dormindo. Leo só precisava esperar ela acordar. Não ia perturbar seus doces sonhos. Apenas continuaria ao seu lado, e permaneceria ali para sempre se necessário. Nem percebeu quando o sono ganhou a guerra, e caiu ali mesmo, dormindo ao lado dela.

***

–Hazel! HAZEL! HAZEL, PELO AMOR DOS DEUSES ME AJUDA!

–Espera, eu já estou indo!

A morena correu e correu para chegar até a área da piscina. Nico estava sentando como um índio, abrigado pela sombra da palmeira. Seus olhos estavam fechados, e estava tão parado e branco que quem olhasse rapidamente o confundiria com uma estátua de marfim vestida de preto.

Eles não se comunicavam por fala, e sim por pensamento. Nico não poderia falar nada, estava tão concentrado em manter Piper viva que Hazel temia que não tivesse capacidade para trazê-la de volta. Tinha momentos que ele ficava tão exausto, que pedia ajuda à irmã. Ela não sabia fazer a magia da ligação, mas conseguia emprestar pelo menos um pouco da sua energia para ele.

E assim ela já se sentia cansada. Como Nico agüentou três dias fazendo isso direto? Ele não comia nem bebia nada. E dormiu menos ainda que isso. Hazel se sentou e deu as mãos para ele, fechou os olhos e se concentrou.

Pensou em Leo, e em como ele estava perturbado. Esse era outro que não comia, dormia ou bebia. Tudo o que conseguia fazer era ficar naquele quarto segurando Piper. Hazel pediu pra Frank explicar pra ele a situação, que Piper estava “bem” e que “voltaria logo”. A verdade é que Hazel não sabia se ela estava bem ou se voltaria logo. Não sabia nem ao menos se voltaria. Mas positividade é bom.

Nico dividiu a mente com ela, e foi como um choque. Foi como nos flashbacks que ela tinha. Hazel enxergou um lugar escuro, ou melhor, tentou. Havia três silhuetas andando lado a lado, abraçadas. A única luz vinha de duas adagas de bronze. O Tártaro, compreendeu. Percy, e Annabeth! E Piper!

–HAZEL! É A HAZEL, OLHA PERCY! – Annabeth se agitou, e ergueu sua adaga para enxergar melhor a projeção dos irmãos.

–Meus deuses, como é bom te ver! Como você está? E nosso amigo Frank? –Percy realmente estava com muita saudade da amiga. Desde o tempo no Acampamento Júpiter, ela havia se tornado parte da família. Eram uma família, afinal, os sete.

–Eu estou ótima! Muito melhor agora, com certeza! Esperei muito por esse momento! Quando Piper desacordou, eu juro que amaldiçoei todos os deuses possíveis, mas sem isso não poderíamos estar conversando agora. Poxa, como tem sido aí? E a Piper está bem?

–Ela está bem sim! Piper, olha só, a Hazel. Vem dar oi pra ela. –Annabeth mal chamou Piper para dar um tchauzinho e já continuou. – Ah, estamos bem até. Tudo isso por uma estátua estúpida... Foi o que eu pensei no início, mas agora estamos no caminho para as Portas da Morte. Cada vez mais monstros aparecem e há momentos que eu duvido que vamos conseguir sequer chegar lá... É preciso, Hazel. Só assim vamos impedir Gaia completamente. A parte que não consigo resolver é o que faremos pra voltar. Eu não tenho idéia, e não há nada no laptop de Dédalo, não há nada na minha cabeça nem na de Percy. É incrível que estejamos vivos. Suponho que Hades esteja nos ajudando de alguma forma.

Os cabelos loiros da filha de Atena, antes tão vivos, estavam com um aspecto fantasmagórico, como se ela fosse apenas um espírito. Isso deixou Hazel um tanto incomodada.

–Entendo, e a gente está tentando fazer o mesmo. A Piper está com o cinto né? Pelo amor dos deuses, realmente precisamos dele. Acho que ela te contou o que aconteceu.

–Sim, e eu tenho um plano. Algo me diz que esse cinto deve ser usado junto com a Atena Parthenos. Os dois objetos de que precisamos são esses. Não faço idéia do que vai acontecer com a combinação deles, ou o poder da estátua separada. Mas de acordo com a Pipes, é poder de persuasão. Meu palpite é que a estátua quita a dívida e o cinto convoca a união novamente. Não podemos vencer sem a ajuda dos romanos. Eu vou mostrar para Reyna.

–Ei, acho que se esqueceu de mim, né? Hazel, me fala, por que eu estou sentindo abraços e calor o tempo todo? Não tem ninguém me abraçando. Tem espíritos aqui? Achei que eles iam para lugares diferentes que o Tártaro. E porque eu ouço o Leo chorando? Ele está bem?

–Bem... Deve ser porque nesse momento, e em todos os outros ele esteve na enfermaria do hotel, esperando você acordar. Não vou mentir para você, ele está inconsolável. Tentamos explicar a situação, mas ele não ouve nada, só fica repetindo o seu nome. É meio bizarro, triste, e fofo ao mesmo tempo. –Hazel deu um sorriso, mas ele logo se transformou em uma expressão triste. –O problema é o Nico. Não entendo como ele continua agüentando isso. Já são três dias que ele está mantendo a magia de ligação, não come nem dorme. Cada vez mais branco. Tenho medo, muito medo mesmo que ele não suporte mais. Por ele e por você, Pipes. Se um de vocês morrer, o outro também morre.

–Deuses... Pobre Nico! Eu sempre soube que ele era incrível, mas fazer algo assim... Tomara que ele consiga, eu não suportaria perdê-lo... –Percy disse, com tristeza na voz.

–Nem nós. –As meninas disseram em uníssono.

–Ele está possibilitando a nossa conversa, mas não vai conseguir se comunicar também. É demais segurar Piper, eu, e ele. Então esperem algum tempo, ele vai melhorar. Estamos tentando trazer a Pipes de volta, mas Percy, é muito difícil. Aquela porcaria de guardiã estava com certeza fazendo serviço para Gaia. –A imagem tremulou. –Temos pouco tempo... O que eu queria dizer é que... Bem, tentem dar seu melhor, estamos tentando também. E... por favor, mantenham-se vivos. Não podemos perdê-los. Piper agüente, e Annie e Percy continuem agüentando. Eu realmente amo muito vocês. São meus amigos mais verdadeiros desde o tempo que vivi pela primeira vez.

Quando eles iam responder, a imagem tremulou novamente e sumiu. Hazel estava novamente de volta à borda da piscina, agachada ao lado do irmão, na sombra da palmeira.

***

–Ela não vai voltar. O filho de Hades não tem poder suficiente nem para mantê-la direito, quanto mais para trazê-la. Não se preocupe, minha patrona.

Gaia disse-lhe que era um tolo. Um tolo tão grande, que realmente servia apenas como peão. Mas um peão bem forte. Gaia o tinha transformado em um deus menor. Ele estava tão poderoso, que nunca mais perderia para Percy, muito menos para Leo. Poderoso o suficiente para fazer Piper lamentar ter feito a escolha errada. Jason não a perdoaria, e o momento de se vingar estava próximo.