Três anos depois

– Babi, já está pronta?

– Quase amor. Só mais alguns minutinhos.

Renato revira os olhos olhando no relógio. Já estava acostumado aos minutinhos de Barbara. Dificilmente sairiam de casa antes de meia hora.

Foi até a sacada do apartamento e ficou observando as crianças que brincavam no playground.

Era um sábado de sol e as crianças corriam de um lado para o outro. Olhar aquela cena fez com que Renato pensasse no futuro, um futuro que evitava falar com a esposa por alguns motivos que eram claros pra ele, apesar de Barbara se esforçar para não deixar transparecer. Seus olhos se prenderam em um ponto fixo quando sentiu mãos enlaçarem seu pescoço.

– Agora estou pronta, podemos ir.

Ele se vira e se depara com Barbara usando um vestido branco rendado na altura dos joelhos e uma sandália tipo rasteirinha da mesma cor. Já ele estava com uma bermuda jeans, tênis e uma camisa polo listrada em branco e azul.

Renato a abraça pela cintura e lhe dá um beijo no pescoço, fazendo com que ela risse.

– Cheirinho doce.

– Eu sou doce. - diz convencida.

– Eu sei que é. Em todos os sentidos.

Ela morde o lábio inferior envergonhada e dá um tapa no ombro do marido que se divertia a cada vez que a deixava sem graça.

– Pegou o presente?

– Está em cima da mesa, do lado da chave do carro pra ter certeza que não vamos esquecer.

– Sempre esperta. Vamos então? A festa já deve ter começado.

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Era o aniversário de dois anos de Olivia. Raquel e Everton decidiram fazer um churrasco para não deixar a data passar em branco.

A grande maioria dos convidados já estava presente, mas Raquel não parava de andar de um lado para o outro com a filha no colo. Vendo a impaciência da mulher, Everton resolve perguntar o porquê de tanta ansiedade.

– A Bah e o Renato não chegaram ainda. Será que aconteceu alguma coisa?

– Você colocou que horário no convite?

– Duas da tarde.

Everton olha o relógio e em seguida para Raquel.

– Magrela, são duas e vinte! Quem vê você falando pensa que a festa está pra acabar. Daqui a pouco eles estão aí.

Ela não parece dar muita importância para o marido, que faz um sinal para a filha que sorri e se joga nos braços dele.

– Vem Vivi, vamos brincar com seus coleguinhas antes que sua mãe faça um buraco no chão e caia dentro dele com você. - diz rindo ao dar um selinho em Raquel se afastando em seguida.

Outros convidados começaram a chegar e Raquel foi recepcioná-los. Todos perguntavam pela aniversariante e ela apontava na direção em que Everton estava com a filha. Pouco tempo depois Barbara e Renato chegaram. Raquel os cumprimentou com um sorriso de orelha a orelha.

– Pensei que não vinham mais!

– Culpa da sua amiga que ficou enrolando pra se arrumar.

– Ai como vocês dois são exagerados... - Diz Barbara revirando os olhos. - E a aniversariante mais linda do mundo, cadê?

Antes que Raquel falasse, Barbara viu a pequena garotinha correndo com as perninhas curtas até ela enquanto era "escoltada" por Everton.

– Ela largou todo mundo lá quando ouviu sua voz.

Barbara sorriu e abaixou esticando os braços para Olivia que literalmente se atirou neles.

– Nossa como você está linda, parece uma bonequinha.

A pequena falou algumas frases mostrando empolgação, mas Barbara não entendeu metade delas.

– Essa fala igual à mãe! - brinca Everton.

Barbara ficou mais um tempo com a garotinha no colo até outros parentes aparecerem para começar a sessão de fotos.

– Fique a vontade gente, daqui a pouco damos uma atenção melhor pra vocês.

– Não esquenta com a gente, podem ir.

Barbara e Renato sentam em uma mesa próxima de onde as crianças brincavam. Após um tempo Raquel se aproxima com a filha no colo.

– Vocês estão comendo? Os pratos de vocês estão vazios!

– Claro, já comemos!

– Eu até repeti. - brinca Renato.

– Acho bom mesmo! - brinca Raquel quando ouve Everton a chamar, pedindo ajuda em alguma coisa que ela não conseguiu entender.

– Vocês podem ficar com a Olivia um pouquinho? Só até eu ver o que ele quer.

– Claro que sim, vai lá.

Raquel entrega Olivia a Barbara, mas ela mal fica com a criança, pois Renato a chama fazendo um gesto com as mãos e ela se joga no colo dele.

– Minha vez agora.

Eles ficam conversando enquanto brincam com a menina. Renato a coloca sentada em seu colo de frente para ele segurando suas mãozinhas e começa a brincar de "serra serra".

– Cuidado Renato, não vai deixar a menina cair!

– Relaxa. - responde despreocupado enquanto continua a brincadeira com Olivia que gargalhava.

Barbara encosta a cabeça no ombro dele e também começa a rir com as gargalhadas de Olivia.

Renato ficou brincando com a pequena por vários minutos, mas ela não parecia se cansar.

– Você tem bateria recarregável mocinha? - pergunta ele.

Barbara para de sorrir e encara o marido.

– Re?

– O que foi?

Ela olha Olivia sorridente e em seguida olha nos olhos de Renato, dizendo sem rodeios.

– Eu quero ser mãe.

Com o olhar surpreso Renato para os movimentos da brincadeira deixando uma Olivia confusa e esperando para brincar mais.

– O que foi?

– Nada, só fiquei surpreso com o jeito que você falou.

Uma jovem se aproxima do casal.

– Oi, tudo bem? Sou a prima do Everton e a Raquel pediu pra eu vir aqui pegar a Olivia pra tirar umas fotos com a minha vó.

Barbara olha para a direção de onde a amiga estava e vê Raquel acenando positivamente, só então deixa a garota levar a criança.

Quando ela já estava distante Renato volta ao assunto de momentos antes.

– Você tem certeza?

– Tenho. Mas pelo o que estou vendo você não...

– Não, não é isso. Claro que eu quero ser pai, ter um filho com você. O que não quero é que você aja por impulso ou por cobranças.

– O que quer dizer?

– Eu sei que muita gente da sua família e da minha também ficam perguntando por que não temos filhos ainda. Ficam falando que já passou da hora e blá blá blá, acabam fazendo pressão em cima de você. Não quero que você se sinta cobrada por isso.

– Muita gente já me falou coisa do tipo sim e também quase todos os meus amigos e conhecidos já têm filhos menos eu... Mas não é por isso que tomei essa decisão. Quero ser mãe porque agora me sinto pronta pra isso.

– Acha que é hora pra termos um filho então?

– Sim. Mas se você quiser esperar um pouco mais, tudo bem. Não quero ter a minha vontade realizada passando por cima da sua, ainda mais em um assunto desses.

Renato fica mudo por um tempo com a cabeça baixa. Dá um longo suspiro assumindo a posição de antes, já olhando para Barbara.

– Você está tomando remédio?

– Estou. Não poderia parar sem falar sobre isso com você antes.

– Falta muito pra terminar a cartela?

– Uns quatro ou cinco comprimidos acho. Por quê?

Ele apóia os cotovelos nos joelhos e olha Barbara que não entendia mais nada daquela conversa.

– Você não vai precisar começar uma cartela nova mês que vem. Considere essa a última.

Ela o olha confusa.

– O que foi? Como você vai engravidar tomando remédio? Vai ter que parar com ele.

Ela dá um beijo rápido em Renato.

– Re, se você acha que não é a hora ainda...

– Babi, estou pronto pra ter um filho faz tempo... Mas nunca toquei no assunto porque sabia que você não estava. Como falei não queria pressionar você. Mas mesmo assim vou perguntar de novo. Você tem certeza?

– Tenho pensado nisso há meses Renato. Pesando cada pró, cada contra. Minha resposta é definitiva. Sim, tenho certeza.

Ele a encarava. Ela estava séria. Renato se perguntava quando a garota medrosa que ele conheceu na faculdade se tornou tão forte. Forte, decidida, linda e tantas outras qualidades que agora eram só dele.

Tirou o cabelo do rosto dela e a beijou, pouco se importando com as pessoas em volta. Termina o beijo e a olha sorrindo.

– Mas tem uma coisa. Se for menina quem escolhe o nome sou eu. Você só gosta de nome de gente velha!

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Raquel e Everton seguravam Olivia enquanto batiam palmas e cantavam parabéns pra você atrás de uma mesa com a decoração dos Minions. Parentes e amigos acompanhavam as palmas e tiravam várias fotos.

Ao fim dos parabéns Raquel e Everton se inclinam junto com a filha na direção do bolo, ajudando a garotinha a soprar a vela.

O bolo é cortado e distribuído entre os convidados. Raquel faz questão de entregar o primeiro pedaço para Barbara.

– Esse é especialmente pra tia Bah.

Ela já estava pronta para levar um pedaço do bolo à boca quando Renato a impede, deixando a jovem frustrada.

– Primeiro temos que tirar uma selfie. Vai gente, junta aqui.

Raquel, Everton com a filha no colo, Renato e Barbara se posicionam e tiram a foto. Após todos olharem, Raquel faz um comentário sorridente.

– Se no primeiro dia de aula da faculdade me dissessem que estaria vivendo esse momento eu não acreditaria.

– Muito menos eu. Mas também se me perguntassem se em algum momento da minha vida eu já me senti tão feliz como me sinto agora, provavelmente eu também diria não. E pensar que tudo isso aconteceu porque nos permitimos ter uma nova chance.

– Sim. Uma chance de recomeçar, sem medos, sem traumas.

Enquanto as duas conversavam Olivia começa a chamar Barbara, apontando para Renato. Ele estava comendo o pedaço de bolo dela.

– Muito bonito hein senhor Renato? Cara de pau!

– Baixinha fofoqueira!

– Eu não disse que ela saiu igualzinha a mãe?

– Everton!

Os dois casais começam a rir, deixando explicita a bonita amizade que havia sido cultivada ali e que se manteria por tantos anos além.