Adriano Costa.

Ela saiu sem nem olhar para trás... Sem nem ao menos me dar uma chance sequer. Sei que eu merecia esse tratamento, mas queria apenas uma chance de explicar tudo e não deixar tudo mal entendido.

Sequei uma lágrima solitária que insistia em cair, e voltei para a classe que ainda estava vazia, mas logo todos foram voltando do recreio, menos ela.

"Cadê a senhorita Lia Martins?" perguntou o professor Jorge.

"Então, professor, a Lia estava com uma enxaqueca muito forte e não se sentia bem, pediu permissão para o Mathias para sair mais cedo..." respondeu Ju.

Ela não estava bem, eu não havia feito bem... Droga, porque sempre sou tão estupido? Porque sempre faço tudo errado? Inferno. Graças a Deus as aulas passaram mais rápidas após o recreio, eu queria apenas ficar sozinho e pensar.

Estava indo para o ponto de ônibus, quando escuto Fatinha me chamando.

"Pô, nem espera hein, Dinho!" disse chegando ofegante.

"Perdão, Fatinha. É que o ônibus demora um pouco e queria pegar logo..."

"Pra onde você tá indo? Aonde cê tá morando? Precisamos conversar!"

"Dormi em um Hotel no Centro da cidade... E estava indo de volta para lá. Afinal, estou sem rumo."

"Não! Não está. Porque não fica na casa do Orelha?"

"Ah, sei lá, nem falei com ele, e..."

"Então fica no Hostel..." disse Fatinha me cortando. "Eu posso pedir para o MIchel dar um descontão e tal, hein? Vamos, vamos, por favor!"

"Eu estava mesmo pensando em ir para o Hostel, mas rola mesmo o descontão? Não dá pra eu pagar muito, ainda vou procurar emprego, tô sem grana, e não dá para os meus pais mandarem muito dinheiro... Cê sabe, né..."

"Relaxa, eu consigo. Pode deixar que eu sei convencer o Michel, meu charme é uma ótima arma." disse rindo.

"É, pior que eu sei. Você não tem jeito mesmo!" acabei rindo da sua cara de pau, não tinha como ficar sério do lado da Fatinha.

"Então, gato, cê vai lá e busca suas coisas."

"Ok, gata." pisquei para ela. "Agora deixa eu ir, senão chego só amanhã no Centro." disse dando um beijo em sua testa e indo para o ponto.

Fui para o Hotel buscar minhas coisas. Devido ao trânsito voltei muito tarde, mas consegui chegar a minha 'nova casa', aonde Fatinha me acomodou no meu quarto. Pedimos uma pizza e jogamos conversa fora, conversamos sobre tudo o que havia acontecido em todo esse tempo. Seu namoro com o Bruno, os problemas dela com a sogra, minhas aventuras...

"E foi isso, Fatinha. Eu apenas 'peguei carona' com a Valentina, mas não segui viagem com ela. Na verdade, eu dei um perdido nela e nunca mais a vi... Fiquei rodando vários lugares com alguns amigos que eu fiz... Eu tentei falar tudo isso para a Lia, mas ela não quis me escutar."

"Caramba... Todo mundo jurando que tu foi embora com a vadia gringa, inclusive o Orelha para provocar fez um bolão de que lugar do mundo seria a maior loucura sexual que você iria fazer com a Valentina." Fatinha disse rindo.

"Penso seriamente em matar o Orelha. Mas me conta do tal Vitor..."

"Ah, então, ele veio de Brasília, foi transferido do QuadranteBSB para o nosso... Quando ele chegou foi um vuco-vuco só, todas as meninas estavam babando nele, porque né, ele é lindo, príncipe e..."

"Chega, Fatinha." disse sério.

"Ok, foi mal. Então, ele chegou causando já, para não atropelar um garoto que estava atravessando a rua, ele pulou da moto e acredita que a moto foi para cima de quem? Da Lia! Ai ela torceu o pé e foi um drama todo, e assim eles se aproximaram... Acho que isso aconteceu um dia antes de você ir... Mas enfim, antes de namorar o Bruno, eu tive um casinho com o Vitor, nós ficamos e tal, mas ele tava mesmo é interessado na sua marrentinha e eles viviam, aliás, ainda vivem, pra cima e pra baixo juntos. Ele é uma boa pessoa, sabe? Ele me ajudou muito mesmo, praticamente meu psicologo."

"Você está me traindo, Maria de Fátima?" perguntei me fazendo de bravo.

"Ah poxa, Dinho, cê tinha ido embora... Mas você é meu melhor amigo! Cê sabe..." Fatinha disse fazendo um bico.

"Acho bom." apertei seu bico. "E sabia que rolava algo desse Colírio para com a minha marrentinha. Mas vem cá, e o Bruno, tá te tratando bem né?"

"Tá sim. Tô super feliz, Dinho." Fatinha disse com um brilho nos olhos.

"Fico feliz por você." disse sincero.

"Eu vou te ajudar com a marrentinha, pode contar comigo." disse Fatinha sorrindo e me dando a mão.

Apenas sorri e apertei sua mão, e assim jogamos mais um pouco de conversa fora, matamos a saudade, logo nos despedimos e fomos dormir. Fiquei pensando em algumas coisas que a Fatinha havia me contado, eu estava inseguro, muito inseguro, mas não iria desistir da minha marrentinha.