A manhã do dia seguinte foi tranquila, terminamos algumas tarefas e nos recolhemos para nos preparar para o jantar com Horácio. Entrei no meu quarto e fui procurar uma roupa decente para ir. Achei um vestido antigo, preto com alguns laços, bem delicado, uma bota com um salto plataforma e uma luva de renda. Concentrei-me bastante e consegui deixar meus cabelos na altura dos ombros, lilás e mais enrolados. Coloquei os brincos e o anel que tinha ganhado de presente e também uma antiga gargantilha.  Olhei no espelho e me achei bonita.

Sev já me esperava no  salão. Vestia novamente suas roupas de trouxa, porém com um paletó cinza muito maior que ele.

—Pronta?

—Sim, vamos.

Saímos de lá. Lilían apontou no corredor. Quando chegou mais perto, pude ver o quanto ela estava bonita.Vestia um vestido rosa, de um ombro só, com detaçhes de brilhantes na cintura. Os cachos ruivos estavam presos apenas na parte de cima, com uma pequena presilha. Um par de sapatilhas creme lhe calçavam os pés.

—Lílian, você esta linda! – falei.

—Obrigada, você também está!

Severus a olhava fixamente, como no dia em que os conheci, na Floreios e Borrões. Peguei os frascos que trazia dentro da minha pequena bolsa e entreguei a eles.

—Toma, esse é um frasquinho do meu perfume. Enfeiticei-o para que não acabe.

—Mas..

—Nem mas, nem meio mas. É um presente e faço questão que aceitem.

Por fim, concordaram tímidos e passaram um pouquinho. Em seguida Sev guardou os dois dentro das vestes. Seguimos para a sala do professor, bati na porta e fomos recebidos por Slughorn, de paletó roxo, por cima de uma camisa amarela e de um colete xadrez, excessivamente apertado.

—Ora bem, ora bem, são meus alunos do primeiro ano! Bem-vindos! Sentem-se e fiquem à vontade, só aguardo a Srtª Black para começarmos.

Nos indicou a mesa onde deveríamos ficar. Havia muitos alunos mais velhos, éramos os únicos novatos. Acomodamo-nos em cadeiras com um estofamento extremamente confortáveis, Lílian entre Severus e eu, que também estava do lado de uma Corvinal.

Ciça chegou e pediu desculpas pelo atraso. Estava encantadora, com um vestido curto verde claro na parte de baixo e preto rendado em cima,  tipo “tomara que caia”. Parecia um pouco irritada e seu coque soltava alguns fios bagunçados.

Um pato foi servido à nós enquanto Slughorn fazia um interrogatório sobre cada um de nós. Descobri que havia muito mais filhos primos, sobrinhos e netos de gente importante em Hogwarts do que eu havia imaginado.

—Então, Elizabeth, seu pai andava trabalhando no que, atualmente.

—Pelo que sei, professor, ele está agora numa parceria com Dâmodes Belby, em uma pesquisa cujo tema eu não sei ao certo.

—Que magnífico, magnífico! Foi um dos meus melhores alunos, o Camilo. Você parece ser tão boa quanto ele.

—Ah, obrigada, mas Lílian e Severus me ajudam bastante, na verdade.

—Nós nos ajudamos mutuamente – corrigiu Lily, ela era realmente um doce.

— E você, Snape? O que seus pais fazem?

Ele engasgou um pouco e depois falou bem baixinho:

—Minha mãe cuida de casa e meu pai trabalha numa usina de trouxas.

O clima ficou um pouco tenso. Alguns alunos começaram a olhar Sev com cara de riso e outros, pior ainda, olharam para ele com dó, pena, que definitivamente sãos os piores sentimentos que alguém pode ter, e meu amigo não merecia isso. Ele era digno de admiração, pois estávamos no primeiro ano e tenho certeza que ele sabia muito mais do que certos alunos do 7º.

—Interessante. – o professor respondeu, tentando em vão cortar o clima rompendo o silêncio constrangedor que se formara, - soube que pretende se casar, Narcisa.

Ela parou de brincar com a colher de pudim e olhou para o professor.

—Sim, pretendo. – Um fio de seu coque que estava fora do lugar lhe caía no meio da testa.

—Com o Sr.Malfoy, suponho. Isso deve representar uma das maiores uniões da casa dos Black! Deve estar muito orgulhosa.

—Sim, estou – algo na voz dela me fez acreditar que ela mentia. O que é estranho, já que eu a tinha visto mais cedo, feliz e abraçada ao namorado. Percebi no rosto de minha amiga uma frustração enorme, resolvi ajudá-la a sair de lá.

—Professor, já é tarde, tenho bastante atividades para fazer. Se me dão licença. Sev, Lily, vocês ficam? – eles se levantaram para me acompanhar.

—Espere, vou com vocês, também tenho muitas tarefas a terminar de aritmancia. Obrigada por tudo, professor.

—São sempre bem-vindos, aviso a vocês quando for fazer de novo.

Ao sairmos, nos separamos de Lily, que foi para sai casa. Entramos no salão comunal, Lucius estava numa parede, ao ver Narcisa, se recolheu para seu quarto. Sentamos numa poltrona, eu pronta para perguntar o que havia acontecido assim que Sev saísse, no entanto, foi ele que quebrou o silêncio:

—Aconteceu alguma coisa com você. – ele não estava fazendo uma pergunta, estava afirmando.

Com o silêncio que voltou a se instaurar, ele tornou a insistir.

—O que o Lucius te fez?

—Nada, boa noite. – Ela ia se levantar, mas meu amigo o fez primeiro.

—Está acontecendo alguma coisa, nós queremos saber o que é.

—Vocês não iam entender, são crianças.

—Fomos maduros o suficiente para saber que alguma coisa estava errada. Liza, você realmente tem dever de casa? – neguei com a cabeça. Narcisa ,que já estava em pé, sentou-se e inspirou fundo.

—Lucius...

—O que foi que ele te fez? – perguntei já preocupada.

—Não...quer dizer, sim...ah, sei lá...

—Explica essa história direito.

—Ah, como sabem, pretendo me casar no fim do ano letivo. E, bem... Enquanto ia para o jantar o hoje, me encontrei com ele num corredor, Ele me puxou num canto e começou a gritar comigo, disse que o vestido estava muito curto, que era decotado demais – ela tinha ficado muito vermelha e engasgava ao falar – e que não era assim que uma mulher casada deveria se portar. – fez uma pequena pausa e recomeçou – Eu perdi a cabeça, disse que eu não era casada com ele e que não tinha o direito de fazer isso comigo, disse que não ia obedecer as ordens dele. Eu não devia ter dito isso. Minha irmã Andrômeda se casou com um maldito sangue-ruim, Bela não vai ter filhos, eu sou a única esperança na casa dos Black! Eu vou...ou ia... me casar com um Malfoy! Isso é perfeito! Mas...agora... Além de que eu não quero me casar com um homem controlador, ora! Eu sou uma Black! Não cedo aos caprichos de qualquer um. Ai, Merlin, eu não sei o que pensar!

—Ciça – minha voz saiu quase como um sussurro. – você ainda quer se casar com Lucius?

—S-sim.

—Você o ama?

—Sim. –Ela foi mais confiante nessa reposta do que na primeira.

—Então tudo vai se acertar. – Severus emendou. Aquilo me surpreendeu tanto, afinal éramos realmente crianças. Até engoli o papo dele sobre maturidade, e creio que eu até pudesse ter ajudado, já que sou uma garota, mas ele? Poxa, eu nunca tinha visto um garoto realmente se integrar numa conversa tão íntima.

—Obrigada meninos, vocês são uns amores- Ela deixou um beijo na testa de nós dois e seguiu para o seu quarto.

            Esperei até que ela não estivesse à vista para me virar para Severus.

            —Impressionante!

—Anh?! O quê? Ahh... Isso? Ora, estava na cara dela que era o que ela queria e precisava ouvir...

—Mesmo assim é impressionante!

—Ah Liza, vai dormir, vai!!! Boa Noite! – disse rindo, indo em direção ao quarto. Fiz a mesma coisa.