Apenas Amigos. escrita por Yang
– O que tá fazendo? – perguntou Apolo encostado à porta do quarto de Júlia.
– Arrumando algumas roupas. Vou passar uns dias na casa da Gabi. – respondeu.
– Porquê? – indagou ele.
– Não tá suportável ficar aqui com esse clima entre a gente. Desde a besteira de ontem e a briga de hoje. Precisamos de uns tempos afastados, Apolo.
– Entendo... – ele olhou ao redor do quarto antes de voltar a atenção à Júlia. Sorriu timidamente e saiu.
Alguns minutos depois, Júlia havia terminado a mala. Decidiu despedir-se dele.
– Então, daqui a algumas semanas eu volto, acho. – disse ela.
– Faça o que for melhor pra você. Se acha que se afastar de mim é a solução, vá em frente. – ele sentou-se no sofá e começou a folhear um livro.
Júlia ficou calada por um tempo, procurando alguma coisa boa o suficiente para ser dita naquele momento. Revirou a memória e lembrou-se de algumas promessas de Apolo.
– Lembro de quando você disse que não importavam os problemas, as brigas ou as discussões idiotas. Que seríamos sempre eu e você contra o mundo. E que tudo acima disso era detalhe. E veja agora Apolo: somos eu e você, um contra o outro. Não é suportável pra mim.
– Nem pra mim. – disse ele enquanto levantava-se e ia em direção à garota. – Mas eu tentei de todas as maneiras possíveis fazer isso dar certo. Não foi suficiente. E às vezes parece que tudo o que eu fazia pra você não bastava.
– Eu esperei muito de você. – comentou ela.
– Você criou expectativa sobre mim. E foi aí que você errou. – continuou ele.
– Nós erramos! Não jogue a culpa pra cima de mim. – replicou ela.
– Não estou fazendo isso. Mas Júlia, se nós erramos ainda temos tempo de concertar. – ele observou o rosto dela enquanto ela desviava o olhar para o nada.
– Antes disso, eu preciso do meu tempo. – ela seguiu para a porta da saída.
Virou a chave na fechadura da porta e então, enquanto seu coração doía por tomar uma decisão talvez errada, ele sussurrou para ela.
– Eu nunca descumpri minha promessa. Sempre fomos você e eu contra o mundo. E tudo mais foi detalhe. – a voz dele soou pesada e triste. Júlia virou o rosto para Apolo, e enquanto uma lágrima quente descia em seu rosto, ela respirou fundo e saiu. A porta batendo atrás dela foi o único barulho que ela conseguiu escutar. Depois disso, um vazio lhe invadiu, como se estivesse deixando uma parte sua pra trás.
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#Casa da Gabriela#
Júlia saiu do trabalho direto para a casa da amiga. Gabriela esperava ansiosa por ela na porta.
– Boa noite. – cumprimentou Júlia à mãe de Gabriela.
– Boa noite querida! Como você está? – perguntou Luana, mãe de Gabi e de Lucas.
Júlia poderia responder a verdade, dizer que estava mal, que sofria e que havia uma confusão de sentimentos rondando sua vida. Podia dizer que sentia a falta da família, e que a cada três pensamentos que tinha por dia, dois eram para desistir da faculdade e voltar para São Paulo. Mas antes que o silêncio da pergunta ficasse constrangedor, ela respondeu a típica e mentirosa resposta repetitiva:
– Estou bem. – disse ela enquanto sorria forçadamente.
– Você já jantou? – perguntou Gabriela.
– Não, ainda não. – respondeu a garota.
– Vamos pedir comida Japonesa então? – sugeriu a amiga.
Júlia lembrou-se da primeira semana dividindo apartamento com Apolo, quando os dois apenas comiam comida chinesa, e riu ao lembrar-se de Apolo comendo Sushi.
#flashback#
– Nossa, isso aqui está muito bom. – disse Júlia enquanto comia o sushi com a maior delicadeza que alguém poderia demonstrar ao comer alguma coisa. A forma como segurava os palitinhos perfeitamente era devido ao pai, fascinado por culinária japonesa.
– Eu não faço ideia de como comer isso. – disse Apolo enquanto espetava de forma bruta o sushi.
– Apolo, o que você tá fazendo? – Júlia ria da cena. Ele então desistiu dos palitinhos e pegou o sushi com as próprias mãos. – Não é assim! – exclamava ela entre gargalhadas.
– É o jeito exótico d’eu comer. – disse ele. – Devia experimentar.
Ela então largou os palitinhos e o acompanhou. E a cada mastigada, um riso ou uma palhaçada.
#final do flashback#
– Tudo bem Gabi, pode ser comida chinesa sim. – respondeu Júlia.
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– Esse aqui é meu quarto, onde você vai ficar nos próximos dias. – disse Gabriela.
– Nem sei como te agradecer. – comentou Júlia.
– Pode me agradecer tirando a ideia absurda de ir embora. – a amiga olhou para Júlia que em seguida abaixou a cabeça em sinal de desolação.
– Eu estou tão confusa. – Júlia sentou-se na beira na cama e levou as mãos ao rosto enquanto milhares de pensamentos atordoavam sua mente. Ela fechou os olhos e respirou fundo. Gabriela queria ajudar, mas temia sugerir algo que a fizesse sentir-se pior.
– Não pode ficar apenas parada, esperando que a solução para essa confusão aí caia do céu. Pode parecer clichê, mas quando estamos assim precisamos seguir nosso coração.
– Estou tentando. – Júlia fechou os olhos novamente.
– Você o ama, não é? – perguntou a amiga.
– Amo. Com todas as minhas forças. Com todas essas desavenças e problemas. O amo demais. E talvez esse seja o problema. Talvez amar tanto assim o assuste...
– Então o deixa pensar por esse tempo, e antes de você pirar, se abra pra ele e diga tudo o que você tá sentindo. E aí ele vai te dizer o que sente também, por que não é possível que alguém sinta prazer em cultivar dores assim. – disse Gabriela.
– Também acho.
– Isso ainda vai dar em muita história... – Gabriela sorriu para Júlia.
– De tantas histórias que já rendeu, não sei quantas foram erros e quantas foram acertos.
– Acho que todas foram erros. O acerto ainda está por vir. – disse a amiga. A garota apenas assentiu, e sentiu-se segura de seus pensamentos pela primeira vez. E naquela noite orou antes de dormir e pediu proteção a Apolo. E pediu proteção para si mesma. E que o acerto viesse logo, por que os erros já estavam cansados de se repetir.
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