Vinte e três de Julho.

Para Sasuke, sinceramente, era apenas mais um dia riscado em seu calendário; não costumava comemorar o seu dia de nascimento desde a chacina dos Uchiha, e da partida de Itachi. Isso porque quem sempre trazia um monte de doces para ele nesse dia era seu irmão mais velho. Com tanta frustração, a única coisa que o dia do aniversário de Sasuke trazia para ele eram más lembranças. Sendo assim, não havia motivo para estardalhaço.

Depois de voltar de uma missão, cada membro do time 7 dirigiu-se às suas respectivas casas. Nem Kakashi, Naruto ou Sakura citaram o fato de ser aniversário do Uchiha porque já sabiam que ele não gostava disso, mas naquele ano, Naruto tinha algumas novas ideias.

Sabendo que Sasuke sempre se demorava para voltar para o seu apartamento, uma vez que não ficava sozinho na mansão Uchiha, Naruto teve um tempo extra para parar em uma loja que vendia diversos tipos de doces – desde chocolates à dango. O loiro encheu um saco de plástico com dezenas de balas, pirulitos, bombons e outras porcarias que ele costumava comer e que mesmo sabendo não serem do gosto de Sasuke, ele faria mesmo assim.

Sakura havia concordado em fazer um bolo e Kakashi seria uma distração extra para atrasar Sasuke. O levou para dar uma volta e conversar sobre novos treinos que poderiam ter enquanto os dois outros ninjas se preocupavam em organizar o apartamento do amigo.

Não iam fazer faixas ou balões, bastava colocar o bolo na mesa, jogar os doces em volta e colocar uma velinha. A melancolia de Sasuke sempre deixou Naruto um pouco triste, e ele queria que o amigo ficasse feliz pelo menos nessa data. Assim como Sakura, que desde os mais remotos tempos ansiou por um sorriso vindo daqueles lábios.

Cansado do papo-furado de Kakashi, Sasuke se desviou do sensei e informou que iria direto para casa. Não demorou mais de cinco minutos para chegar no conjunto de apartamentos, subir as escadas e fazer um click ruidoso com a chave na maçaneta.

Quando empurrou a porta, avistou o punhado de cabelos cor-de-rosa curtinhos sacudirem de leve quando Sakura deu um pulinho. – Parabéns, Sasuke-kun! – Ela exclamou, feliz, e os olhos de Sasuke se arregalaram.

Naruto, por outro lado, batia palmas e incentivava Sasuke a se aproximar; Kakashi estava parado entre os dois e sabe Deus como havia chegado tão rápido assim. Bem, havia uma ideia quanto a isso, mas não importa. – Feliz aniversário, Sasuke. Eu sei que você não comemora isso nunca, mas tomei decisão por conta própria.

– É mentira, Sasuke-kun, a ideia foi minha também – Sakura se defendeu e Naruto coçou o alto da cabeça.

Com a conversa, os dois distraíam-se do rosto pasmo de Sasuke diante daquela surpresa que no primeiro momento, pareceu mais desagradável do que ele podia imaginar. O bolo redondo de morango era pequeno, mais do que suficiente para os quatro e todos aqueles pirulitos e chocolates deixavam Sasuke muito triste.

Ele respirou fundo e apertou os olhos, sendo imediatamente amparado por Naruto e Sakura. – O que foi, Sasuke-kun? Não gostou?

– Não é isso... – Sasuke sacudiu a cabeça e afastou-se dos amigos, ou ao menos tentou, uma vez que Naruto não deixou de segurá-lo pelas costas. Eles se encararam por uns instantes e surgiu então um largo sorriso feliz no rosto do loiro. O Uchiha não entendeu o que aquilo significava, ao menos não à princípio, e sendo assim, franziu as sobrancelhas.

– Eu sei o que é, Sakura-chan. Ele está emocionado, olha só. Ele gostou, eu sei!

– Eu não falei nada assim também, Naruto. – Sasuke se desvencilhou do toque de Naruto e Kakashi aproximou-se dos três, pousando a mão no alto da cabeça do moreno.

– Não seja tão amargurado, Sasuke. Fique feliz por ter amigos que se importam tanto com você.

Os olhos do garoto passaram de Sakura até chegarem em Naruto e seu olhar sustentou-se ali um instante. O loiro ainda tinha um sorriso orgulhoso e feliz no rosto, iluminado pelos olhos azuis e do outro lado, Sakura sorria com a boca fechada, os olhos verdes cerrados de maneira adorável.

– Eu não gosto de doces...

– Claro que gosta! – Naruto afastou-se de supetão e foi até a mesa procurar por um chocolate. Ele atirou na direção de Sasuke, que pegou o doce no ar e deu uma olhada. – É impossível não gostar de doces. Tem algo que te faz sentir mal sobre eles? – Continuou o menino em seguida, abrindo um chocolate para si e mordendo um pedaço grande.

Sasuke não respondeu, porque não quis, simplesmente. Mesmo assim, o loiro aproximou-se e depois de levar o segundo e último pedaço do bombom à boca, deixou o papel de lado e apertou o Uchiha num abraço pelo pescoço; isso desmontou Sasuke de um jeito que até hoje, ele jamais conseguiria explicar.

– Se te faz pensar em algo ruim, acho que assim as coisas mudam, né? – Os olhos azuis de Naruto olhavam para o lado, como se pudesse realmente enxergar seu amigo. Sasuke estava estático e só depois de longos segundos de insistência do loiro, é que ergueu as mãos para segurá-lo na altura das costelas num abraço meio frouxo, mas foi um abraço. Uma demonstração de afeto.

Sakura fez um movimento para afastar Naruto do moreno e o abraçou também, com o triplo da força que Naruto havia aplicado sobre ele. Sasuke tossiu e Sakura se afastou, visivelmente constrangida. – Me perdoe Sasuke-kun. Sabe que eu desejo o melhor pra você.

Kakashi moveu o rosto de forma que indicava que estava sorrindo e Sasuke o encarou com o olhar profundo e calmo.

– Naruto...

– Fala, Sasuke!

O moreno esticou o braço, o punho cerrado e deu um sorriso fraco, mas sincero. – Obrigado.

Naruto sorriu largamente e bateu o próprio punho fechado no de Sasuke, num gesto de cumprimento e cumplicidade que havia entre eles, também, desde que conseguiam trabalhar em conjunto no time 7.  – Obrigado a você também, Sakura. E Kakashi.

O sensei respondeu com um suave aceno da cabeça.

– Tudo bem, eu faço o que precisar por você, Sasuke-kun.

– Ain, Sakura-chan, assim você me deprime. Vai fazer algo pro meu aniversário também?!

– Não seja idiota, Naruto!

Sasuke balançou a cabeça com a infantilidade dos amigos e olhou novamente o bombom que Naruto havia lhe entregado. Ergueu o olhar para observar o loiro proteger o rosto após falar alguma bobagem qualquer e como Sakura ficou vermelha de irritação. Naruto estava sempre ali. Ele sempre fazia de tudo para que Sasuke sorrisse e não ficasse com sua velha obsessão com o irmão. Sakura também, estava ali por ele.

Mas Naruto... Ah, Naruto. Seu idiota.

– Parem de brigar, imbecis. A ideia inicial não era comemorar meu aniversário?

– Ah, é mesmo! Sakura-chan, cadê os fósforos?

– Bem aqui. – A garota adiantou-se até a mesa e estalou um dos objetos para acender a vela solitária no bolo. Não perceptível, mas dentro do peito de quem fazia anos, sentia-se tão sozinho quanto aquela vela. Ou ao menos, às vezes. Aquele era um dos momentos que se fazia exceção.

Vendo como Naruto, Sakura e Kakashi batiam palmas para cantar parabéns, ele sabia que não estava sozinho.

Depois de assoprar a vela com a ajuda de Naruto, que o fez simplesmente porque quis, Sasuke abriu o bombom com um ruído de papel característico e olhou o doce redondinho. Trazia más lembranças, é verdade, mas o sorriso de quem lhe entregara era uma lembrança muito mais gostosa do que sua eterna ferida.

Ele mordeu um pedaço do chocolate e o loiro fez um gesto amplo com as mãos, em comemoração.

Sasuke somente sorriu. Não havia dor – e sua predileção por chocolate ao leite foi acertada na mosca por Naruto, que parecia conhecê-lo sem nem saber direito disso.

– Só você mesmo, Naruto...