O distrito inteiro teve sua rotina drasticamente mudada nos últimos dias, e com certeza, mudada para bem melhor. Afinal, temos um casamento para aprontar.

Finnick e Annie finalmente iriam se casar, Coin acabou por aprovar a ideia- grassas a Boggs- e finalmente, temos um motivo pelo qual vale a pena comemorar.

No dia em que recebemos a notícia que o casamento seria feito, eu vi Finnick e Annie quase não se contendo de alegria, ambos estavam quase explodindo de felicidade, e é claro, conseguiam contagiar todos ao seu redor.

Primeiramente, Coin se recusara a fornecer a festa, já que por mais simples que fosse a comemoração, comprometia o distrito financeiramente e também afetaria a rotina do distrito.

Mas Boggs finalmente conseguiu convence-la dizendo que o distrito precisava de mais alegria, precisava de cor e de alguma felicidade. E ele estava certo.

Por mais que estejamos vencendo a guerra, pois além de termos já os distritos 4, 8 e 12 (ou o que sobrou do último), agora também tendo entrado na guerra o 3, 11 e 6.

Os 3, 11 e 6 entraram em guerra a pouco tempo, acabei por ficar sabendo deles por Haymitch, que tem cumprido sua palavra e me posto a par da situação, depois de, é claro, ter gritado comigo depois de saber da minha briga com o Gale, o que eu até achei justo.

Mas, mesmo que estejamos indo bem com a guerra, isso não significa me nada que as mortes diminuíram. Ao contrário, as mortes tem aumentado a medida que a guerra tem se espalhado, e a ironia é que parece que só indo mais fundo e causando mais mortes, que podemos conseguir para-las de vez.

Boggs tem razão quando diz que a melhor forma de dar esperanças para o povo tanto dos distritos em guerra quanto os que já passaram por ela e perderam suas famílias com a construção de uma nova.

Um casamento em meio à guerra? A construção de uma nova família, de uma nova vida em meio de combates e mortes. De fato é no mínimo irônico. O que torna a coisa ainda mais interessante.

É claro que uma coisa dessas não sairia de grassa, e é claro que Coin exigiu que toda a cerimonia seja filmada e colocada ao vivo para a Capital e todos os distritos, o que Finnick e Annie aceitaram sem pestanejar.

Demorou um pouco para que todos entrassem em um acordo, na parte financeira, pois de um lado não poderíamos gastar muito, já que estamos investindo muito dinheiro na guerra. Mas também deveria ser uma festa de casamento, era necessário impressionar a Capital, como quem dissesse: Estamos em guerra, estamos vencendo, estamos nos unindo, estamos comemorando!

E de fato estávamos, não nessa ordem necessariamente, mas estávamos.

Alguns detalhes foram mais fáceis de se conseguir que outros. O paletó de Finnick foi fácil de se providenciar, já o vestido de Annie foi um pouco mais complicado.

Por sorte, parece que um simples vestido branco esquecido pode ser emprestado, e Greasy Sae, uma mulher sobrevivente pobre da costura do distrito 12 que conheci a pouco tempo, se ofereceu para fazer o bordado do vestido.

É claro que Delly se recusou de ficar de fora, e se ofereceu para ajudar a fazer o cabelo de Annie. Annie é bem quieta, não fala muito a não ser com Finnick, mas Delly sempre conversa com ela, Annie mais escuta do que conversa, mas parece ficar bem equilibrado, uma vez que Delly ama falar.

Fora os noivos, todos iriamos com nossas roupas do dia a dia.

Tudo foi providenciado rapidamente, o distrito inteiro saio de sua rotina e passou a se concentrar em um novo objetivo: um casamento. Isso provavelmente nunca havia acontecido antes, mas o distrito era perito em construir e organizar na velocidade da luz. De modo que, uma semana depois, tudo já estava praticamente pronto.

Bem, nem tudo. Ainda tinha o bolo.

O detalhe do bolo foi o último a ser decidido, já que a comida foi bem generalizada, não terão doces, nem um bufe, mas conseguimos convencer Coin a permitir o bolo, eu eu mesmo terei a honra e o prazer de fazer.

Já estamos no dia do casamento, ainda esta de manha e o casamento será feito durante a noite. E tive pela primeira vez permissão de ir até a cozinha do ditrito fazer o bolo.

Geralmente bolos de casamento são preparados com mais calma, mas não disponho de tanto tempo, nunca fiz algo tão grande em tão pouco tempo.

Então, já na cozinha, eu preparo o bolo.

Fazia tanto tempo que eu não cozinhava que já havia até esquecido a sensação, de fato, cozinhar e pintar são a minhas atividades favoritas, e as únicas que me dou bem.

Já está quase tudo pronto, o bolo tem 3 andares e possui uma coloração azulada, só falta fazer os detalhes com o glace, minha parte favorita.

Estou concentrado em minha tarefa, de modo que não noto a mulher parada no outro canto da cozinha, e pelo seu rosto surpreso, ela não parecia estar me procurando.

-Mãe? –ela não me responde, apenas vira-se se costas para sair do comodo. –quanto tempo mais voce vai me ignorar assim?

A pergunta para-se surpreende-la, de modo que se vira para me encarar, com puro desprezo nos olhos.

-Escuta, eu já estou realmente cansado de tudo isso. –eu digo. – não quero que tudo isso se torne um problema muito maior do que realmente é.

-Maior do que já é? –Ela fala.- Eu acho difícil as coisas ficarem piores do que já estão.

-Eu não consigo entender o motivo para ter tanta raiva, juro que não.

Ela deu alguns passos em minha direção,  me olhou com os olhos carregados de desprezo.

-Eu disse para o seu pai  que isso iria acontecer, eu soube no momento em que apresentou aquela garota para nos que ela seria o problema. –ela fala e eu mal posso acreditar no que ouço.

-Katniss nunca fez mal algum a voce ou a qualquer outro para falar dela desse jeito. – eu a defendo.

-A nenhum outro? E todas as pessoas que ela matou na arena?- ela exclama.

-Caso não tenha notado, esse é o objetivo a arena, forçar as pessoas a matar ou morrer tetando. –eu digo.- eu mesmo também matei muitas pessoas que não gostaria!

-Voce também costumava não responder para mim, foi a sua namoradinha que corrompeu voce!

-Ela não me corrompeu e ela não é minha “namoradinha”. –eu falo. – ela é minha esposa.

-Quer mais motivos para eu ter raiva? Ai está, voce se casou com ela e ainda escondeu de sua família. – ela se refere a Katniss com ainda mais desprezo do que se refere a mim.

-Nós... – ela me interrompe.

-E pior, ainda escondeu que ela estava gravida. –ela fala.- voce foi irresponsável, jamais estaria pronto para ser marido, quanto mais para ser pai. Não conseguiu protege-la, não conseguiu nem tirar a própria “esposa” da arena. Acha que seria um bom marido, um bom pai? Eu acho que não.

Eu abro a boca para retrucar, mas nenhum som sai dela.

-Voce é fraco, irresponsável e indisciplinado. Sorte sua ela ter perdido a criança.

Eu a olho horrorizado .

-Como voce pode dizer uma coisas dessas?- eu digo. – era meu filho, era seu neto! Como voce pode dizer que foi sorte meu filho ter morrido?

Ela me ignora.

-Seu pai acreditava em voce, sabia? Depois da entrevista, onde voce contou a todos sobre a criança e o casamento, ele falava que voce iria conseguir traze-los de volta. –ela fala.- e ele nunca chegou a ver o fim dos jogos, pelo menos nunca chegou a ver o filho fracassar tao miseravelmente.

Eu já não conseguia pronunciar nem mais uma palavra, mal pudia acreditar que minha própria mãe estava me dizendo coisas tão terríveis.

-Seu pai, Brood e Simila ficaram tão triste quando Katniss sofreu o acidente, tristes por ela, pela criança e por voce. –ela continua. – o que Brood e seu pai pensariam se soubessem que mesmo depois de tudo isso, voce anda conseguiu perde-la para a Capital, e que agora ela está sendo torturada? Eu não aprovo, nunca aprovei e nem nunca irei aprovar aquela garota, o casamento e nem a criança. Mas não há nada que eu me envergonhe mais do que ter voce como filho.

-Eu não ligo para o que voce fala ou pensa de mim.- digo. –mas me importo com meu filho e com Katniss, e se for para ouvir voce falar mais uma palavra sobre ambos eu não quero ouvir, voce não tem o direito de critica-los, me xingue e me bata como quiser, mas não volte a critica-los, por que eles não merecem isso.

Ela da dois passos em minha direção, e me estapeia no rosto. Em seguida, se vira de costas e sai da cozinha, me deixando sozinho com um bolo de casamento semi-pronto.