POV Narrador.

-Vamos! Ande logo! - os gritos do pacificador ecoavam pelo corredor de calabouços enquanto jogava a garota com violência em sua cela.

 Katniss quase cai com a cara no chão, mas por já estar muito bem familiarizada com o movimento brusco, já previa o golpe, e consegue se manter em pé apenas pisando em falso.

O pacificador vai em bora, e Katniss senta-se no chão.

Há algum tempo ela já havia parado de resistir durante as torturas, descobriu também que ao se manter em pé por tempo suficiente para conseguir sentar-se e evitar um possível desmaio, a livrava de uma boa quantidade extra de dor de cabeça.

Dolorosamente ela se senta, deslizando com cuidado com as costas apoiadas na parede.

-Dia difícil? - Johanna a pergunta da cela ao lado.

-Estão variando um pouco. -Ela responde e o olhar de Johanna para na marca roxa exposta na perna de Katniss.

-É, comigo também. – ela mostra a marca do braço que combina com as do roxo e muitas outras que as roupas escondiam. Katniss entendia, ela também tinha as suas.

-Estão mudando as regras do jogo.

-Esse jogo nunca teve regras. – Johanna diz. – sempre foi um cada um por si.

-Eu sei, mas do mesmo jeito está mudando. – ela diz. – afogamento, espancar...

-Mas os choques continuam sendo os clássicos. -fala. -eles deveriam ir pro inferno.

-Nós já estamos nele. – Katniss fala e Johanna sorri sarcasticamente, assim como Katniss.

-Tem razão.

Muito tinha mudado no vale-tudo das torturas, o próprio presidente Snow havia parado de comparecer as torturas de ambas, e os pacificadores agora encarregados já haviam parado de fazer perguntas. Já não há mais motivo para faze-las.

 Snow poderia saber a muito tempo que ambas não sabiam de nada, mas pelo visto agora já havia se cansado da tortura, que agora era apenas rotineira e sem nenhum motivo aparente, apenas pelo puro prazer proporcionado a Snow em saber que as garotas continuavam a sofrer.

Katniss solta um grunhido de dor ao tentar se mover no chão, havia abrido um corte que proporcionava uma enorme dor, o local era todo manchado de roxo e sangue.

-Ai, passe um pouco de água nisso. - Johanna aconselha.

Katniss pega um pouco da água que guardou do almoço e joga um pouco sobre o ferimento. Mais uma técnica que tinham aprendido por lá, nunca tomavam toda a água, depois das torturas sempre havia uma ferimento pior que a sede.

-Tenho uma boa notícia para você. - Johanna fala e Katniss ergue as sobrancelhas em questionamento e espanto.

-Frase incomum e pouco provável. - ela diz.

-Mas é verdade, tenho uma boa notícia.

-Eu duvido muito. – ela responde. - mas vamos lá, qual seria a notícia?

-Consegui isso. – Johanna lhe estende a mão, e por trás das grades da cela Katniss vê uma porção de cigarros espalhados pela palma da mão da garota.

-Onde você conseguiu isso? – ela pergunta surpresa.

-Temos pacificadores novos de guarda. – ela responde.

-Mas como...

-Tenho minhas maneiras, ok Docinho? –diz.

A primeira reação de Katniss é revirar os olhos com o apelido, e logo de pois, perguntar-se por que fez aquilo.

-Me chamou do que? - ela pergunta.

-Docinho, te irritou? Se a resposta for sim então o objetivo está completo.

-Não é isso... É só...- A frase morreu na boca de Katniss, que revirava o cérebro em busca de uma resposta para uma pergunta que nem mesmo tinha.

-Esqueça isso. –Johanna fala, dando de ombros.

-Tudo bem. – diz. – Mas como você espera fumar aqui? Vão lhe pegar na primeira tentativa.

-A muito tempo não somos mais a prioridade dos Pacificadores. - ela fala. -já deve ter caído a ficha que não sabemos nada, e além do mais, eles tem carne nova para cuidar.

-Como sabe?

-É bem simples, os novatos sempre gritam quando são tirados das celas, eles resistem mais. - ela fala. -além do mais o que poderiam fazer se nos pegassem? Nos torturar?

Ela ri do próprio sarcasmo, o que é de seu costume.

-Podem nos matar. -Katniss sugere.

-Se tivessem a intenção já o teriam feito a muito tempo.

-Tem razão.

-Sempre tenho, Katniss. – ela pega um de seus cigarros. -Quer um?

-Claro. – Johanna o passa pelas grades da cela. – Mas como você espera acender, gênio?

Johanna revira os olhos.

-Tem alguma pedra na sua cela?

-Varias, por que? – pedras com certeza era algo bem simples de se achar, sendo que o lugar era quase todo feito delas, como uma grande caverna subterrânea.

-Faça faíscas, como um pequeno começo de fogo com elas ué! – ela exclama. - qual é Katniss, não é a coisa mais difícil do muito.

Johanna acende o cigarro com uma pequena faísca causado pelo atrito das pedras e acende o cigarro. Katniss faz o mesmo.

-E a fumaça? Não vai atrair atenção?

-Os desgraçados dos pacificadores fumam o tempo todo, seria impossível dizer de onde vem. – Johanna diz. – Relaxe Katniss, eu pensei em tudo.

-Sempre pensa. -ela murmura para si mesma. -Você já fez isso antes?

-Já. –ela fala.

-Quando?

Johanna parece bem confusa com a pergunta, elas ficam silencio por alguns poucos segundos, enquanto vasculhava seu cérebro atrás de uma resposta.

-Não sei, não me lembro. - ela confessa. –O que importa, afinal?

-Nada, besteira. – Katniss coloca seu próprio cigarro na boca, engasgando com a fumaça.

-Serio que você nunca fez isso? -Ela nega com a cabeça. -Você seria a pessoa meais pura do mundo se não fosse por...

Johanna não completa a frase, deixando a mesma morrer em sua boca, ao ver que começaria um assunto perigoso.

-Se não fosse pelo que?

 -Pela sua “surpresa inesperada” na arena. – Johanna fala, mas Katniss permanece confusa. – Quer saber? Esqueça. Não tem por que pensar nesse tipo de coisa.

A história da gravidez e o aborto de Katniss nunca era citada, Johanna não forçou, conseguia entender perfeitamente em Katniss nunca tocar no assunto, e não gostaria de fazê-lo sabendo que isso apenas traria a Katniss aborrecimento, pois estranhamente, Katniss e Johanna haviam se tornado amigas, e Johanna se preocupava com Katniss

Mas o mais estranho para Johanna foi o fato de Katniss não ter ficado aborrecida, mas sim completamente confusa. Provavelmente apenas não tinha   entendido a indireta e a piadinha de mal gosto e mal pensada.

A própria Johanna já havia se arrependido do que tinha dito, então decidiu deixar o assunto de lado.

-Não importa. – Johanna diz. – esqueça isso, foi bobagem minha.

Ambas ficam mudas por um momento.

-Você ainda tem esperanças? – Johanna fala e Katniss a encara. –Eu digo, de sair daqui?

-Não, há muito tempo na verdade.

-Nem eu. - ela diz. -só me pergunto as vezes: se não tem esperança de sair, o que vai fazer então?

-Sentar e esperar pela morte, talvez. - Katniss sugere.

-E desejar que ela demore a chegar. - Johanna completa.

-Ou não. -ela fala.

-Como assim?

-Para que desejar uma vida longa aqui dentro? Consegue se imaginar velha aqui sendo torturada? Provavelmente morreremos antes, se tivermos sorte. – Johanna examina Katniss de cima a baixo, tentando decifrar algo. – O que foi?

-É só que... Quando chegou aqui, acreditava tanto que seriamos resgatas pelos rebeldes. É estranho pensar que mudou tanto.

-As coisas mudam. Principalmente aqui.

-Não acredita mais que Peeta poderia vir lhe salvar?

A pergunta de Johanna fez Katniss arregalar os olhos, surpreendida pela pergunta, então ri sarcasticamente, e logo depois passar o olhar para a dúvida, ao ver que a garota falava sério.

-Ahn... E por que ele faria isso? – Katniss pergunta com cuidado.

-Está brincando, não é mesmo? – Johanna fala e Katniss nega. Mas ela a ignora. –tem tão poucas esperanças assim?

-Eu deveria ter mais?

Ambas agora se observam e estudam, cada uma achando que a outra poderia estar enlouquecendo, talvez, ou quem sabe pregando uma peça de mal gosto.

-Porque Peeta Mellark me resgataria? – Katniss continua a perguntar

-Depois de tudo que passaram você ainda me pergunta isso? – Johanna retruca. -Não confia que ele possa lhe ajudar?

Johanna não acreditava de fato que Peeta simplesmente chegaria voando em um aerodeslizador e as salvaria. Mas a intrigava o fato de Katniss não pensar nisso, e o mais importante, sentir-se tão confusa com a ideia.

-Nunca fui do tipo que confia muito nas pessoas. –Katniss diz.

-Ah Deus, esse assunto está me deixando confusa e com dor de cabeça! -Johanna exclama levando o cigarro a boca.

-Tem razão. Você está me confundindo. – Katniss fala também experimentando um pouco do seu.

-Talvez seja efeito do cigarro.

-Bem provável. – Katniss fala. – mas, sobre o que você disse...

-Esqueça isso. –Johanna fala. – E jogue um pouco mais de água nesse ferimento antes infeccione, sua desmiolada.

-Claro, Gênio. – ela fala sarcástica, e Johanna apenas revira os olhos enquanto Katniss treme de dor ao toque da água em sua perna.