Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 47
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Como prometido aqui está o epílogo.Mais uma vez eu agradeço a vcs leitores! Obrigada ao Samuel Castro e a Bia Barbosa pelas recomendações.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/337667/chapter/47

“Não direi que me encantas mais do que o silêncio

Porque é assim que despertas as aves e os caminhos.

Meus olhos também nascem pelo parto da esperança

Porque vivo na imortalidade

Renascendo em cada dia.

Deixa-me rever em prece tua face ressurgida

Porque tua luz é sempre uma catarse.

Teu olhar estende as linhas do horizonte

E toda paisagem então é uma ventura

E já não és mais nada

Porque desfaleces no seio da beleza.

Repara como sou pequeno diante do teu rosto amanhecido

Mas como é grande o que em mim te contempla.

Para renascer basta-me apenas teu momento

Tua humilde majestade

Tuas pétalas de fogo

E essa corola ardente

Porque não peço nada mais que a tua luz

Inaugurando o mundo em cada alvorecer

E que nunca me encontres cego ou vencido”.


Aurora - Manuel de Andrade






Boba, era a palavra que vinha em minha mente sempre que eu me sentia assim: eufórica, estúpida, e loucamente apaixonada. Não que eu não estivesse apaixonada sempre, mas ler coisas como este poema, no livro em minhas mãos, que parecia tão intrinsecamente falar por mim, e por ele, desatinavam minhas emoções.

_Nessie, Jake chegou_ falou Rose espreitando para dentro da biblioteca de meu avô. Com quase três meses eu ainda estranhava a normalidade com que Rose falava de Jake e dos outros lobos, quase com carinho. Um carinho que mesmo velado, ela não adquirira em oito anos... A presença de Drika (o apelido de Seth para Adryelle) fez sérias transformações na personalidade dela, extinguiu o vazio que não permitia que ela seguisse e se conformasse, apesar de tanto tempo, com sua condição.

Eu sorri, fechando o livro e deixando-o na mesa, caminhando ainda devagar demais para meu gosto, mancando com a perna do joelho enfaixado, é mais fácil e menos incômodo com a esquerda, a do tornozelo. Porém, sempre ansiosa para vê-lo e senti-lo em meus braços, eu forço a velocidade escada abaixo, passando por Rosalie, que murmurou avisos de cuidado.

Era sempre como se hoje fosse o dia seguinte, eu sorri com o pensamento. O dia seguinte ao que Jake me contou sobre ter tido imprinting por mim, foi tão chocante quanto o momento em que ele me contou tudo. Acordei nos braços dele, e fiquei eufórica ao constatar que tudo era real, que minha vida havia ganho um novo caminho, ou melhor, que eu descobrira esse caminho que sempre esteve lá, e não havia dor e perda, eu poderia tê-lo. É, claro que a partir daí Jake não pôde dormir comigo como ocorreu, mas Edward também não criou muitos problemas, satisfeito que eu estivesse feliz. A euforia do primeiro dia sempre fazia eco em meu peito, mas hoje era diferente, mais especial, e um pouco estressante.

14 de janeiro.

Jake completava 24 anos, e eu não fazia idéia de como presenteá-lo. Toda idéia e sugestão que me era dada, parecia inadequada, muito pouco em comparação ao que eu sentia e ao que ele já fez por mim; não encontraria nada na mesma proporção.

Eu ouvia os risos de Drika, provavelmente brincando com Seth na frente da casa, e eventualmente um riso baixo e gutural... Meu peito esquentando em ondas no momento em que toquei a porta, abrindo-a. Jake se virou para mim, de pé no primeiro degrau da escada que levava ao quintal, vestindo apenas uma calça de brim bege e tênis, sua blusa jazendo na mão esquerda, eu sorriu. Foi o bastante para que eu respirasse. Vinha sendo assim: como se eu só pudesse sentir o ar entrando satisfatoriamente quando eu o tinha por perto.

Avancei para seus braços, ele encurtando meu caminho com um longo passo.

_Senti sua falta_ ele falou antes de mim, em meu ouvido. Senti-me sorrir contra a pele de seu peito, seus braços me apertando contra si.

_Dramático! _ me afastei para olhá-lo, revirei os olhos, e ri. Ele estreitou os olhos e beijou a ponta de meu nariz, antes de seus lábios encontrarem os meus docemente. Porque, afinal, não poderíamos passar a eternidade nos beijando, nos separamos.

_Parabéns!_ falei me sentindo ridícula, imaginando que ter comprado um par de tênis bacanas, como Alice sugerira, era melhor que ter as mãos vazias agora.

Jake me puxou para a escada, me sentando em seu colo com um sorriso enorme nos lábios

_Muito obrigado, mesmo_ disse-me ele com a expressão exultante! Refleti um segundo fitando-o e enfim demandei:

_Pelo quê?_ ainda me sentia ridícula, meu cérebro folheando em minha mente as possibilidades que eu tinha, das mais simplórias as mais drásticas e constrangedoras.

_Por existir e ser minha. Não há presente melhor que esse._ Disse sinceramente. Eu tentei dizer algo plausível, mas só pude sorrir. Mas enfim suspirei derrotada e suplicante:

_Gostaria tanto de dar algo a você_ pensei na pulseira de titânio que vi na internet... Era rústica, simples, e eu acho que combinava com ele... Talvez eu tivesse tempo, ainda... Desembolsado um pouco mais do que ela valia eu conseguiria tê-la ao fim da tarde e com nossos nomes gravados...

A risada borbulhante e infantil me tirou de meus pensamentos. Seth, na forma humana, trotava com Drika de um lado para o outro na frente da casa. Ela não respirava, de tanto que ria.

As risadas de Sophie Adryelle agora sempre enchiam a casa, como as minhas um dia. Apesar dos últimos meses de uma rotina calma e agradável, ainda era estranho ter um bebê em casa, e ainda mais estranho era ver como isso mexia com os imutáveis vampiros. Especialmente Rosalie, eu não me cansava de me surpreender com quão amável ela podia ser. Sim, se eu achava que ela estava sendo mesmo amável, é porque ela estava, afinal, ela nunca fora outra coisa comigo, eu não devia estranhar... Claro, certas coisas nunca mudariam, mas passaram a um segundo plano, era notável, por exemplo: ela ainda era extremamente vaidosa, sempre se olhando mesmo que rapidamente em qualquer superfície reflexiva que estivesse ao alcance, no entanto a pequena Drika era sem dúvida a primeira de suas prioridades, seguida de Emmett e então ela própria, se tratando de Rosalie isso era mais que se podia esperar.

_Deixe que a garota respire, Seth_ falou Jake, risonho. Seth por sua vez, olhou por sobre o próprio ombro, ansioso para o bebê que tinha a pele vermelha de tanto rir. Eu ri e mandei um beijo para ela, sua mão gordinha voando para a boca, imitando meu gesto.

Rose e Emmett então saíram e Drika se agitou, batendo em Seth com os calcanhares, como se faz com cavalos, antes que ele reagisse Rosalie a tinha nos braços.

A menina já falava embora pouco o fizesse, ela preferia gestos de cabeça e mãos, rápidos, embora às vezes deliciasse tia Rose ao chamá-la de mãe, e nos encantasse com as impecáveis e sucintas expressões do que queria. Ela agora poderia se passar por uma criança de quase um ano, seu tamanho físico era o exato de um bebê de cerca de 10 ou 11 meses. Seu cabelo dourado caía em ondas até o queixo, e agora tinham uma fita vermelha impedindo-os de cair nos olhos.

_Se Alice e Jasper aparecerem, digam-lhe que fomos caçar_ pediu Rosalie.

_Duvido que apareçam hoje, devem estar derrubando meia floresta, em algum lugar_ Emmett riu, o que fez Seth e Rosalie olharem feio para ele, já que a menininha o olhou com curiosidade.

_Porque fariam isso?_ perguntou ela com sua vozinha aguda e doce. Se ela tinha se dado ao trabalho de perguntar, é porque estava mesmo intrigada.

Mordi o lábio para evitar uma risada, Jake “tossiu”.

_É, que... _ tentou Seth.

_Seu pai às vezes, se confunde com tantos pensamentos, não foi isso que ele quis dizer_ emendou Rose, beijando a ponta do nariz da criança. Era engraçado ver Emmett aprendendo a ter tato e papas na língua, ele estava pegando o jeito.

Eles acenaram e partiram numa caminhada pouco mais rápida que a velocidade humana, a cena me era familiar, mas do ângulo errado, lembrei rapidamente das tantas vezes em que meus pais, Jake e eu fizemos o mesmo trajeto.

Jake sorriu, segurando meu rosto e aproximando o seu, me fazendo pensar que estávamos sozinhos... Esme e Carlisle estavam em Seattle, eram os últimos meses de meu avô no hospital de lá, ele já ficara tempo o bastante. Minha mãe e meu pai estavam fora há dois dias, haviam ido passar alguns dias na Ilha, Alice e Jasper... Bem, sabe-se lá... Os lábios grossos e quentes de Jake tocaram os meus levemente, meus braços envolvendo seu pescoço, por algum tempo não houve nada mais além do som de nossos corações e o sussurro de nossos lábios se movendo em harmonia.

_Está na hora de seu remédio_ murmurou contra meus lábios afagando a atadura acima de meu joelho direito, suspirei, ele era pior que minha mãe sobre esses remédios.

Tão forte quanto eu sempre fora e ainda tinha que tomar remédios, uma vez que as mordidas que tomei ainda não se curaram. Elas não eram mais de um roxo asqueroso nem tinham mais as secreções de cheiro adocicado. Tinham uma cor amena e eram mais secas, pareciam porosas a quem visse, como se possuíssem areia lilás e brilhante, a pele em volta das feridas tinha agora a cor marfim, normal de minha pele e não o vermelho pútrido que tinha antes, parecia bem melhor, ao todo. O veneno destruiu minhas células, como Carlisle imagina faria a um lobo-quileute, e agora demorava a se regenerar.

Levantei do colo de Jake e com saltinhos num pé só cheguei à porta da frente entrando na casa em direção à cozinha. Claro que Jake me alcançou facilmente, me pegando pela cintura e me sentando na mesa, indo em seguida até o armário, onde estavam guardadas as pílulas que eu precisava tomar, passando pela pia e trazendo um copo d’água, que colocou ao meu lado na mesa para que pudesse alcançar minha mão e despejar as três variedades de antiinflamatórios e antibióticos que eu estava tomando diariamente.

Olhei para o copo ao meu lado e ainda com a mão estendida, onde jaziam as pílulas coloridas, falei:

_Tem certeza de que eu agüento o copo...? Parece tão cheio de água!

Ele deu de ombros, sorrindo, pegou o copo e me fez beber como se fosse criança, uma criança humana, diga-se de passagem...

_Bobo_ desci da mesa, após ser medicada pelo enfermeiro mais dedicado do mundo.

Aliás, dedicação era o segundo nome de Jake, principalmente se tratando de mim. Às vezes eu pensava que morreria afogada, sufocada, com tanto amor em meu peito, e às vezes, quando eu o olhava nos olhos como estava fazendo agora, tinha a impressão de que nada do que eu fizesse por ele, não importando o quanto dissesse ou apenas sentisse, nunca seria o bastante. Eu não o amaria como ele a mim, e isso me dava medo, alegria e tristeza também, pois eu o amava com tudo que podia, e a única forma de amá-lo mais era se este amor vazasse de mim pelos poros, se multiplicasse ou sei lá, e ainda assim, não me parecia o suficiente.

_É possível que você esteja ainda mais linda?_ Jacob tinha as duas mãos em meu rosto, fitando-me profundamente, suas palavras não soaram como um elogio ou arrulho, porém, mais pereceram com como quando Carlisle faz especulações científicas. Sorri inclinando-me para beijá-lo, afetada pelas ruminações ardentes de momentos antes.

O beijo começou tão bom como todos os outros, mas me surpreendi com a intensidade imposta por Jake em um dado momento, no entanto não foi surpresa alguma que eu retribuísse imediatamente, tão eficaz e de repente quanto o riscar e o acender de um fósforo.

O conforto eu reconheci, a intimidade eu reconheci, a sede eu reconheci, a paixão eu reconheci, e ainda o eco de algo mais eu reconheci. Mas não esperava que naquele momento eu fosse acometida por luxúria, como nos pensamentos vagos noite após noite antes de adormecer ou como o calor passional ao tocá-lo, e ainda uma pitada de alguma outra coisa, eu não estava pronta nem esperava a intensidade de tal sensação. E estava feito.

Aprofundei ainda mais o beijo, mordendo-lhe o lábio inferior. Ignorei o desconforto em meu punho, quando minha mão girou enchendo-se dos cabelos de sua nuca. Houve um mínimo vibrar as minhas costas, virei um pouco a cabeça para ver, a boca de Jacob indo parar em minha jugular, eu tremi com a sensação dos lábios em minha pele enquanto percebia que ele apertava demais a mesa de Esme. Peguei suas mãos trazendo-as para minha cintura, aproveitando e com um pequeno “pliê” voltando a sentar na mesa.

Suas mãos hesitaram em minha cintura, mas seus lábios não.

Envolvê-lo com minhas pernas foi instintivo, quando percebi o que estava fazendo apenas esperei a dor por dobrar meu joelho enfaixado, mas não foi nada comparado a tantas outras sensações. Jake me abraçou mais forte.

Nesse exato momento ouvimos um carro se aproximando pela estrada de terra que levava a casa de meus avós. Jake interrompeu nosso beijo, nossas testas coladas enquanto normalizávamos as respirações, até o carro chegar e parar em frente à casa.

Jacob me ajudou a descer da mesa, e fui em direção à sala, imaginando quem seria, pois a única opção era que fossem meus avós, mas descartei isso momentos antes ao ouvir o motor do carro e depois pelos dois corações humanos que batiam.

Abri a porta e caminhei pela varanda observando, ainda sentindo meu rosto corado de calor, apesar do inverno e da neve, Jake bem atrás de mim. Um furgão dos correios aguardava, dentro o motorista e seu ajudante olhavam em volta parecendo assustados, provavelmente sentindo inconscientemente o cheiro de vampiros. Os homens nos viram e um deles, o ajudante, saiu do carro trazendo consigo um envelope pardo e uma prancheta com papéis.

Senti Jake se mover atrás de mim, enquanto o homem atravessava o gramado seco e cheio de tufos brancos de gelo, engolindo em seco e o coração disparado. Eu lamentava que o engano com endereços os tivesse trazido a cripta vampiresca de Forks, lhes atormentando com um medo desnecessário e principalmente interrompendo a Jake e eu.

_Renesmee Cullen?_ disse o homem, os olhos fixos em meu rosto. Jacob passou um braço em minha cintura, eu não podia ver seu rosto, mas o homem voltou um degrau em sua subida na escada da frente.

_Sou eu_ respondi aturdida, pegando o envelope recheado que o homem oferecia.

_P-pode assinar aqui, por favor?_ entregou-me a prancheta.

_Obrigada_ disse-me quando devolvi a assinatura e ele saiu apressado.

_Nossa!_ ele suspirou ao entrar no carro.

_Que princesa! Pena que poderia ser minha filha_ disse o motorista dando partida.

_Ou neta!_ resmungou Jake ao me abraçar pelas costas ainda fitando o furgão que se distanciava enquanto eu buscava o remetente _ Itália?_ sua voz agora era tensa em meu ouvido.

_Paris_ falei no momento em que vi carimbado no papel, junto ao selo. Uma onda de emoções me dominou. Agachei-me no chão rasgando o papel e despejando seu conteúdo ali. Sentei. Eram fotos. Fotos minhas se derramaram e espalharam pelo chão. Algumas eu reconheci, pois eu estive ao lado de Chris no quarto escuro de seu apartamento enquanto eu mesma surgia no papel algumas vezes. Mas o que achei serem no máximo vinte fotos era numa contagem rápida mais de cem. Meu cabelo, minhas mãos, meus olhos focados em outra direção, coisas relacionadas a mim, os lugares onde estivemos juntos, museus, a cafeteria, seu quarto... Coisas assim estampavam as fotos que eu não conhecia.

_Christopher_ balbuciei, fraca de alívio e medo, eu não saberia dizer o que era maior. A data de envio era de dois dias atrás, significava que ele estava vivo, afinal, que os Volturi ainda não foram em sua busca, ou que (o que era menos provável) não o encontraram.

Eu definitivamente não estava pronta para voltar e pensar em tudo o que ficara para trás e em tudo o que viria pela frente por mera conseqüência, a miríade de pensamentos e erros me fez tremer um pouco e ficar zonza, como quando eu estava mais doente e me esforçava muito.

As mãos de Jake que eu vagamente via examinando as fotos tocaram meu rosto e sua expressão irritada a que eu pouco estava dando importância se suavizou ao sustentar meu olhar.

_Você está bem?_ assenti sentindo-me ausente a mim mesma. _ Possessivo, não?_ Jake grunhiu então me trazendo para o momento; um fio de gelo cortando meu estômago, ele segurava uma foto, onde eu estava amarrando o cabelo, era na cafeteria, eu lembrava desse dia, estava conversando com Tifany, mas ela não aparecia na fotografia. Eu suspirei, tentando pensar em algo para dizer.

_Você parece... Feliz? Aliviada...?_ especulou ele, os olhos dúbios, indecifráveis.

_Ele está vivo! Não faço idéia do que houve, mas Aro não fez nada a ele como deu a entender que faria_ me vi dizendo com alegria. Ele assentiu para si mesmo, minimamente.

_Jake?_ murmurei.

_Ele não a esqueceu_ sua voz era baixa, mas eu me encolhi ao ouvir a fervura contida nela_ Ele ama você, como um homem comum, mas humanos também são capazes de cometer loucuras_ Silêncio.

Jake largou a foto junto das outras e desviou os olhos para as árvores do outro lado do gramado.

_ O que você sente com isso?_ murmurou ele sem me olhar, por baixo da calma havia mais.

_Ele está vivo, Jake! Como quer que me sinta? Não vou dizer que não me importo, que ele é irrelevante para mim, além disso é por mim que ele corre perigo.

_Sei como se sente sobre isso, estou falando sobre ele amar você o bastante para ter descoberto seu endereço e mandado todas essas fotos de você, ou ainda o bastante para ele ter todas essas fotos.

_Amo você, Jacob. _ era toda a minha certeza_ Bem, talvez o endereço seja culpa minha também_ lembrei do dia em que enviei a tela para casa, logo após a morte de Jodelle, Christopher estava comigo. Era possível que ele tenha visto o endereço quando eu preenchi o formulário de envio... Jake não me olhou, isso me magoou.

Catei todas as fotos do chão e me levantei o mais rápido que pude, ignorando a dor no joelho e no tornozelo e, irritada e amedrontada, corri para dentro de casa.

Eu estava atordoada, ainda não estava pronta para enfrentar a realidade. Queria me manter presa ao sonho que estava vivendo desde que escapara da morte. Continuar sendo a jovem apaixonada. Não queria abrir os olhos em enfrentar as coisas, as conseqüências das minhas escolhas e dos erros que cometi.

Não queria ter de lidar com a iminente morte de Christopher nem com o fato de que todos corriam perigo, não só eu, não só minha família, mas todos os clãs amigos. Ficara subentendido no passado que os Volturi nos buscariam um a um, sozinhos e vulneráveis, não aconteceu. Ainda. Talvez o que aconteceu ano passado tenha sido apenas parte de um plano para desencadear tudo, sem que eles sejam vistos generalizadamente como os vilões. E o que houve há três meses reforçava isso.

Isso queria dizer que havia muito por vir, que não estávamos seguros e que tínhamos que estar prontos para quando eles atacassem, fosse como fosse. Estava apavorada, pois eu era o alvo, fora eu quem contou a um humano sobre vampiros, a um humano que continua humano e sobre o qual eu não tinha controle ou proximidade alguma. Logo eu, cujo estava sobre a jura de crescer sob a proteção da obscuridade de nosso mundo, longe de olhos humanos... Eu descumprira uma lei. Não haveria forma de evitar uma luta quando chegasse o momento, e esse momento chegaria, inevitavelmente.

Eu não estava pronta.

Farejei o álcool pela cozinha, estava dentro do balcão com produtos de limpeza. Peguei uma bacia de aço para misturas e despejei as fotos dentro delas, antes que eu ateasse álcool uma mão grande e quente me conteve, tirando a garrafa de combustível de minha mão, não me movi, não respirei.

Jake estava atrás de mim, seu braço esquerdo envolveu minha cintura, sua mão direita abrindo a gaveta do armário a minha frente, pegando a bacia e vertendo as fotos dentro, fechando-a audivelmente em seguida.

_Desculpe-me_ disse em meu ouvido, os dois braços agora a minha volta. _ Não tenho direito de me chatear com você porque ele a ama. Como não a amaria se a conheceu?!_ ele cheirava meu cabelo enquanto falava, o hálito quente e ferino entrelaçando-se nas mechas de meus cabelos, me causando arrepios ao chegar a minha pele _ Você está bem aqui agora_ ele estreitou os braços_ E é só o que importa. Devo agradecer de ser eu a ter você, e não reclamar por não ser o único que a ama.

Não consegui impedir que meus olhos se enchessem de lágrimas de emoção e de medo também, pois Jake também estava em perigo.

Jacob me virou em seus braços, escorei-me na pia, cruzando os braços e tentando me controlar e não chorar, não deu certo quando olhei seu meio sorriso. Ele se desfez quando me percebeu chorando.

_Desculpe-me, eu não quis magoá-la, eu sou mesmo um estúpido!_ ele enxugou uma lágrima que caiu, eu o abracei.

_Não foi você_ murmurei_ Bem, é que... _ respirei fundo e o olhei_ Tenho medo. Chris ter me mandado essas fotos, me fez perceber que eu tenho ignorado muitas coisas, coisas sérias, e que todos sabem. Estamos em perigo Jake, haverá uma guerra e eu tenho medo disso.

_Nada vai acontecer a você_ disse ele, a voz séria, a expressão grave_ Eu não vou permitir.

Sua declaração foi só mais uma razão para que eu sentisse medo. Verdadeiro pavor.

Jake faria qualquer coisa para que eu estivesse segura. Seria capaz de me dopar e me mandar para a Antártida. E eu não seria capaz de fugir e deixá-lo. Claro que minha mãe tão pouco facilitaria as coisas para mim. Senti meu rosto franzir, Jake beijou minha testa.

_Não tenho medo por mim... A morte não é assim tão assustadora_ tentei sorrir_ Não posso viver sem você. Tenho medo também por minha família... Nossos amigos!

_É cedo para pensar nisso, Nessie, estaremos prontos, estamos prontos!

Jake me abraçou forte, fazendo-me sentir protegida. Ainda que minha garganta estivesse apertada.

_E sobre o tal cara... Não acho que precise deixá-lo morrer... Poderíamos procurá-lo!

Esperança me encheu, mas então senti minha expressão murchar...

_E fazer o que? Avisá-lo? Não seria muito útil. E tentar protegê-lo provavelmente faria mais vítimas do que qualquer outra coisa_ percebi.

_Sinto muito_ disse Jake beijando a ponta do meu nariz_ Vai ficar tudo bem. Está tudo bem_ disse ele distribuindo beijos por meu rosto antes de beijar meus lábios, minando toda angústia, me fazendo esquecer tudo. Preenchendo minha mente e todos os meus sentidos.

Eu só o sentia e nada mais. Embora ao fundo, vago e indistinto algo quisesse gritar e se revolvesse em mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha dado uma ideia de como será Second Sun.Ainda não tenho previsão, mas prometo avisar a quem comentava quando começar a postar.Bjos e até logo.Quem gostou da minha escrita pode ler Dusk, é só ir lá na minha conta. :*