Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 37
Presente


Notas iniciais do capítulo

"Temos vivido nossos momentos altos e baixos
É, como a vida pode dar voltas tão rapidamente
Em um instante
Parece ser tão bom reunir
A sua alma e a sua mente
Vamos achar a paz lá
Quando você está comigo
Me sinto livre
despreocupado
eu creio
Que por cima de todos iremos voar
E isso traz lágrimas aos meus olhos
Meu sacrifício
Só queria dizer olá novamente
Só queria dizer olá novamente"
—My Sacrifice,
Creed



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Ponto de vista de Renesmee

De volta a Forks mais uma vez, eu tentava encontrar o caminho de volta para aquela que eu fora um dia. Não consegui lembrar como era. E uma vez mais percebia a falta que sentira daquele lugar. Dos meus amigos, dos rostos deles, não era algo que se pudesse apagar ou substituir por mais que conhecesse do mundo ou por mais que se viva. Sentia falta e nem acreditava no quanto. Apesar disso, aquele lugar era um lugar difícil de estar tanto quanto difícil de deixar.

—Pensei que abandonaria seu velho avô_ disse-me Charlie cingindo-me num abraço.

—Perdão vovô, prometo estar mais presente.

— O que fez com o cabelo?_ indagou ele, parecendo ofendido.

—Água fria resolve_ defendi-me.

—Charlie!_ Sue o repreendeu_ Você está linda _acrescentou ela.

—Claro que está_ defendeu-se ele.

—Eu gostei_ disse Seth me abraçando.

—Quem é vivo aparece_ disse Leah entrando em casa.

—Nossa, você está muito bonita!_ falei sinceramente. Ela sempre fora bonita na verdade e não havia nada de muito diferente, seu rosto adorável era o mesmo e seu corpo também, mas era algo na expressão, uma sutileza na disposição dos olhos.

—Obrigado, sobrinha. Gostei do seu cabelo, ficou sexy_ respondeu ela sorrindo. Leah nunca fora aversa a mim, porém tampouco éramos próximas, na verdade ela era a mais distante, demorara mais a aceitar a estranha fusão entre lobos e vampiros. Sua reação tão aberta e casual me confundiu, especialmente por causa da situação com Jake.

—É que ela está namorando_ explicou Seth percebendo minha confusão. Rapidamente a mão de Leah voou para a parte de trás da cabeça do irmão causando um estalido seco. O garoto rosnou.

—Meninos_ avisou Sue.

No dia seguinte Bella tornou a visitar Charlie e eu fui até a casa de Emily. A casa parecia ter ganho alguns cômodos a mais e seu jardim estava repleto de flores como sempre. Havia pouco mais de um ano eu estivera ali.

—Emily_ chamei à porta, que estava entreaberta.

—Nessie_ Claire surgiu me abraçando, a garota estava muito diferente desde que nos vimos pela última vez, não parecia estar para completar doze anos.

—Claire_ falei espantada. Ela já não era tão pequena com relação a mim, os cabelos negros caíam como seda pouco abaixo dos ombros, os lábios bem desenhados e cheios estavam esticados num sorriso caloroso, e seu corpo não parecia tanto com o de uma criança, ela até já tinha busto_ Como cresceu!

—Quil disse que foi um surto de crescimento_ ela riu.

—Entre Renesmee_ a voz de Emily soou dentro da casa. Ela estava na mesa da cozinha, servindo um lanche pra Raymond.

—Seu garotinho está grande_ falei sentando.

—Sim, logo ele faz quatro anos_ ela sorriu orgulhosa para o filho. Ray se parecia com Sam, mas tinha os olhos amendoados de Emily.

Conversamos um bom tempo, sobre tudo e sobre todos, com uma exceção é claro.

—Que surpresa_ disse uma voz familiar entrando na sala_ Renesmee_ Sam me cumprimentou, sorrindo para Claire, passando a mão nos cabelos lisos do filho e indo até Emily, beijando o lado desfigurado de seu rosto antes de selar-lhe os lábios. Desviei os olhos, sem entender a súbita onda de mágoa.

Minha família parecia satisfeita comigo, estavam animados para a festa. Alice não me deixou envolver muito, e não fiz questão. Porém ao que parecia seria uma espécie de festa de debutante, já que eu faria tecnicamente 18 e meus 16 ainda estavam longe.

Eu estivera tensa sobre ter os quileutes e Nicolas, carinhosamente chamado de Nick, na festa, mas Edward assegurou que sairia tudo bem, no restante eu preferia não pensar. Não sentia que havia algo a ser celebrado, entretanto, quando eu partisse novamente queria que minha família tivesse bons momentos recentes, estava cansada de ser um fardo para eles, e não queria dar mais motivo de preocupação.

Embora a sede fosse mais forte do que já fora um dia, foi uma surpresa muito boa que estar com meus amigos humanos, fosse melhor administrável que há meses; isso havia me preocupado.

Enfim era o dia de meu aniversário. Querendo o contrário, abri os olhos para a manhã anormalmente clara. Num gesto automático passei a mão no pescoço, só para encontrar o espaço vazio: meu medalhão ainda não estava lá. Prometera a mim mesma que só voltaria a usar quando me sentisse merecedora do que ele significava. Sentei-me olhando ao redor. Esme havia tirado o tema infantil do quarto, a cama atual era igualmente grande, branca e possuía um delicado padrão floral no dossel. A barra para exercícios de balé havia sido retirada, restando apenas o espelho que ocupava meia parede. O computador, os livros e fotos permaneceram, e sobre minha cama, na parede, agora jazia um lobo a velar minha porta. No todo, se via que o quarto já não pertencia a uma criança.

Passei parte do dia no chalé, Alice não me queria no meio de seus preparativos. No fim do dia resolvi que iria a La Push...

Fiquei na praia, evitando as pessoas, só pensando, não pensado, deixando minha mente vagar e vez ou outra pousar em algo, revendo erros, acertos, chegando a conclusões que na verdade não concluíam nada de fato... Eu estive algum tempo tentando me convencer, tentando aprender que eu não precisava pertencer a lugar nenhum, que eu estava bem sozinha, me desfazendo de meus ídolos e matando meus heróis... Não era certo, mas serviu para que eu aprendesse que nós e apenas nós mesmos somos responsáveis pelo que fazemos, que a pior punição é a que você mesmo se impõe, e aprendi que no fundo em nossa essência, todos, vampiros e humanos, podemos ser tão monstruosos quanto bons.

Suspirei, sentando na areia úmida, voltando a pensar em Jacob. Com muito esforço meu, Edward não descobrira minha paixão platônica e absurda por Jake. Se isso não mudasse, se eu não voltasse ao normal nesse aspecto, teria de aprender a conviver, independente de rever Jacob. Quer dizer, se absurdamente, como em meus loucos e audaciosos sonhos Jake me quisesse em algum remoto dia, não acho que eu gostaria de passar pelo mesmo que Leah. Tinha certeza que quem tem de ser dele o encontraria, ele merecia isso, e não valeria à pena arriscar nossa amizade, se é que ainda existia alguma, não o recriminaria se não houvesse.

Não conseguia imaginar o que seria de meus restos quando ele encontrasse alguém... Se não soubesse que o tal imprinting só acontece entre quileutes, diria que Jake encontrara parte de si em algum lugar distante.

A tarde se afastava e o céu cinza dava lugar ao púrpura. Espessas, mas poucas gotas de água começaram a cair, parecia que o céu chorava o que eu já não conseguia, até que decidi deixar os lamentos de lado. Levantei, tirei a areia do jeans e comecei a voltar. Alice me mataria se me atrasasse. Por minha família eu estaria bem.

—Posso saber onde você está?_guinchou a vampira pequenina no telefone.

— Chegando_ respondi, desligando o celular e pulando o rio no exato momento em que escurecera por completo. Subitamente alguém me pegou, cobrindo meus olhos, Emmett, de acordo com a “delicadeza” e o cheiro.

—Nada de trapacear, pestinha_ ele riu me levando no colo.

—Alice mataria você se não fosse a aniversariante_ disse Jazz em algum ponto a minha direita.

—Está cheia de areia_ reclamou Rose já dentro de casa, enquanto eu era colocada no chão.

—Subindo_ anunciei. Corri para o banho antes de encontrar Alice. Enquanto eu era sua boneca pude ouvir carros chegando, portas abrindo, risos, conversas. Parei de prestar atenção: ninguém que chegasse daria fim a minha espera.

Não discuti com Alice, eu estava ok com tudo.

—Vou manter a franja, mas liso ou cachos, preso ou solto?_ indagou, surpresa que ela tenha me deixado escolher, refleti rapidamente.

—Liso, penteie como quiser.

—Tudo bem por aqui?_ surgiu Bella, linda em um vestido preto, justo, que se soltava a partir do joelho. O cabelo pesado, em ondas pelo ombro. Sorri admirando-a.

—Falta pouco_ disse Alice desaparecendo e voltando em seguida.

—Nossa!_ foi só o que pude dizer ao olhar o vestido que ela segurava na minha frente. Eu ainda não tinha visto. Parecia o de uma noiva, com a saia volumosa, porém era de um vermelho exuberante, com pedrinhas miúdas e cintilantes formando um padrão em diagonal descendo por todo ele em uma espiral. Era lindo e luxuoso.

—Ficou perfeito_ disse Bella ao me ver vestida, os olhos de jóia cheios de carinho.

Olhei-me no espelho, percebendo que ficara mesmo muito bem. As alças largas em cetim envolviam meus ombros e costas na horizontal, deixando meu colo nu, conferindo-me um ar adulto complementado com a maquiagem e o batom do mesmo tom do vestido e ainda o coque alto e trabalhado, parecia-me uma cantora de rádio dos anos 30, uma Pin Up.

Rose e Esme entraram, ofegando.

—Não me olhem assim_ pedi.

Logo Esme desceu com Bella, Alice pediu que Rose ficasse comigo enquanto ela se vestia. Rosalie me olhava com orgulho, além disso, seus olhos continham a mesma contemplação instintiva e genuína que costumava ter quando via a si mesma refletida. Ela estava deslumbrante usando um vestido salmão. Alice surgira vestindo um longo azul escuro, perfeita.

—Todos estão aí_ anunciou. Achei que devia ter ficado nervosa, mas não, não senti nada.

—Como estão as coisas entre humanos, lobos e vampiros?_ perguntei a Edward ao pé da escada.

— A tensão é mínima, não se preocupe_ meu pai parecia... Nervoso?

—Tem certeza?_ insisti.

—Sim. Você está absolutamente linda e, se quer saber, é preocupante para qualquer pai_ eu ri.

Assim que irrompemos pela porta de vidro, Emmett no microfone me apresentou como se faz com debutantes, mesmo. Achei engraçado, quem ali não me conhecia? Aplaudiram enquanto eu dava meu melhor sorriso. Alice caprichara, como sempre. Em um contraste vivido com as impecáveis toalhas brancas da mesa havia frondosos arranjos de rosas vermelhas enchendo o lugar de perfume. Lanternas japonesas brancas formavam uma espécie de tenda sobre a pista, iluminando tudo, observei enquanto meu pai nos dirigia para a pista de dança.

Enquanto valsávamos, pude olhar todos. O bando de Sam estava presente, os Denali, agora com Nicolas, Benjamim e Tia. Surpreendentemente, Zafrina e suas irmãs, entre elas na mesa, havia mais duas pessoas... Huilen e Nahuel, percebi. Não lembrava quão bonito ele era.

—Ele também não imaginava que você é bonita demais mesmo para uma híbrida_ disse Edward, me fazendo revirar os olhos.

Dancei com Carlisle, Jasper e depois com Charlie. Fui falar com os quileutes, agradeci pela presença de Sam, Emily, Claire e principalmente de Billy, que parecia ansioso, talvez desconfiado por termos um recém criado tão perto.

—Zafrina_ cumprimentei, dando as mãos e beijando-as no rosto como com Kachiri e Senna.

—Já não é tão criança, criança_ disse ela me admirando com seus olhos rubis astutos e selvagens_ Recordas de Nahuel?

—Claro_ ergui a mão em cumprimento enquanto ele se levantava_ Bom revê-lo.

—É maravilhoso revê-la, Renesmee_ o rapaz inclinou-se cordialmente beijando minha mão. Perguntei-me intrigada se minha voz era tão melodiosa aos outros como a de Nahuel parecia a mim.

—Sintam-se em casa_ pedi, indo falar com os lobos que chegavam. Eram Embry com Jade e Paul com Rachel. Paul não parecia muito à vontade, mas certamente não deixaria que Rachel fosse sozinha. Fiquei sentada do lado quileute da festa conversando com eles.

—Leah não vem?_ perguntei a Seth.

— Foi encontrar o namorado, acho que virá com ele.

—Isso é muito bom_ falei surpresa.

—Posso perguntar uma coisa?_ demandou ele.

—O que quiser_ respondi distraída com os casais na pista: meus pais, meus avôs, Charlie e Sue, Sam e Emily, Rose e Emmett.

—Você estava mesmo namorando? É que eu subentendi isso ouvindo Bella e Sue falarem, desculpe-me.

—Não. Sim. Bem, é complicado_ hesitei.

—Não é complicado_ Quil se meteu_ Você está ou não saindo com alguém?_ sua expressão era quase acusatória, assustei-me.

—Não estou mais. É complicado, sim...

—Então esteve namorando?_ Embry perguntou da outra mesa, se retraindo ao olhar reprovador de Jade.

— Para ele, sim. Para mim, não_ defini.

—Como com Bella e Jacob_ concluiu Seth. Todos o olharam, perplexos. Quil rosnou baixinho, eu já ia interferir por Seth quando a voz veio por trás de mim:

—Dançaria comigo, Renesmee?_ Nahuel elegantemente postou-se a minha frente, ignorando os olhares hostis dos lobos. “Diga que relaxem, ele não é inimigo”, projetei na mente de Seth. Reação exagerada, ele não era perigoso.

—Tornou-se uma bela mulher, Renesmee_ Disse ele, iniciando a dança.

—Obrigado, bem, você parece o mesmo de que me lembro_ ele riu.

—Devia tê-la visitado antes_ ele sorriu_ Embora, certamente, tivesse estragado a surpresa, agora.

—Huilen e você ficarão, como as amazonas?_ mudei de assunto, sorrindo. Ele riu, eu não fora muito sutil.

—Acredito que sim_ antes que pudesse falar mais:

—Posso dançar com minha amiga?_ pela pose de Embry ao lado de uma Jade corada imaginei que estivesse propondo uma troca de pares, mas no momento em que (contente) peguei sua mão livre, Quil surgiu levando Jade num timing perfeito.

—Não acredito que armaram isso_ acusei tentando não olhar Nahuel recuando na pista.

—Claro, protegemos nosso território_ demandou Embry.

—Não faço parte do território de ninguém_ respondi ultrajada.

—Não se chateie, é que nós não gostamos dele.

—Nós quem, cara vermelha?_ falei percebendo o coletivo da alcatéia.

—O bando todo, cara pálida_ ele riu e eu sorri intimamente agradecida.

Emmett então colocou uma música mais agitada e moderna, eu saí de fininho da pista vendo ele e os lobos dançarem e rirem uns dos outros.

—Vocês sabem dar uma festa_ a voz de Leah veio de trás de mim.

— Um dos talentos de Alice_ respondi. Ao seu lado havia um rapaz de pele pouco mais clara que a de Leah, os cabelos levemente desgrenhados_ Você está linda_ observei.

—E você então, parabéns pelo aniversário_ disse-me.

—Obrigada, e aproveite a festa_ acenei enquanto ela ia em direção a mesa de Sue.

Era mesmo uma bela festa, todos pareciam felizes, de certa forma, tudo parecia no lugar, exceto eu, observando tudo ao longe. Seria reconfortante lembrar deles assim quando eu partisse. Eu sabia que meu pai captara algo sobre isso e seu silêncio a respeito só me fazia mais certa do que fazer, embora ele na verdade estivesse só esperando o momento certo de tentar me fazer ficar.

A dança voltara a ser em pares, com a visão periférica vi Nahuel se aproximando de mim, então Edward fora mais rápido:

—Desculpe-me, talvez na próxima_ disse ele ao híbrido pegando minha mão e me guiando para a pista. Nahuel sorriu e assentiu educadamente, como um lorde.

—Obrigada_ murmurei, meu pai riu, um som apreensivo, estranho. Seriam os pensamentos de Nahuel?

—Pode-se dizer que sim_ respondeu ele. Sorri para Tanya e Nick num giro. _ Noite agradável, não?

—Sim_ o ar frio não era o bastante para incomodar ninguém e Alice jurou que não choveria antes das três horas.

—Não que isso fosse acabar com a festa da maioria_ meu pai riu e ri também.

—O que Nahuel está pensando?_ demandei.

—Que você é tão linda quanto protegida_ ele fez careta.

—Devia superar o ciúmes.

—Nunca vou superá-lo, mas estou administrando.

—Sério?_ perguntei sarcástica_ Porque não me deixou falar com ele?_ enquanto conversávamos, Edward nos afastou da pista e sem me responder, rápido como só ele é capaz, pegou-me no colo e nos afastamos da festa.

Quando me colocou no chão olhou sugestivamente entre as árvores, acompanhei seu olhar por um longo segundo. Quando ia perguntar, alguém surgiu no meu campo de visão.

A figura que caminhava lentamente para fora da floresta trouxe com toda intensidade a tristeza que tanto me custara controlar. Tinha a sensação de que apenas as mãos de meu pai me seguravam firme e ereta, fiquei zonza, mas nada perdera o foco, recusava-me a não ver a cena diante de mim. Em um segundo a dor esmagadora deu lugar a uma raiva muito maior, e conforme lágrimas espessas turvaram minha visão, uma alegria eufórica me inundava.

—Que não se forme uma tradição_ Edward murmurou atrás de mim. Só então me dei conta de que me livrara das mãos de meu pai e marchava violentamente na direção dele, meus dentes estavam trincados e eu podia sentir a força e a homogeneidade de raiva e felicidade correndo quentes e atordoantes em minhas veias.

Jacob estava imóvel, a expressão indecifrável enquanto eu me aproximava. Quando a proximidade era o bastante, meus punhos cerrados foram de encontro ao seu peito com um som estranho do contato violento de nossas peles peculiares, eu bati e empurrei com toda minha força, sendo atingida com força semelhante: seu cheiro quente e pulsante incinerava minha garganta, embriagando meus sentidos. Meus golpes foram o bastante para fazê-lo cambalear para trás enquanto eu avançava batendo e empurrando.

Idiota! Você é um idiota, Jacob! Idiota! Porque me deixou?_ berrei enquanto batia_ Não podia ter ido! Porque fez isso, idiota?!_ o empurrava indignada. Ele segurou meus pulsos e nesse instante joguei-me contra ele: meus braços e pernas cingindo seu pescoço e cintura, num abraço de aço.

Perdão, por favor, perdoe-me! Ah, Nessie! Minha Nessie, minha pequena, Nessie, Nessie. — ele entoava em meu ouvido, balançando-nos como se me ninasse. Suas lágrimas misturando-se as minhas em meu pescoço.

—Nunca mais me deixe_ ordenei.

—Nunca, nunca, nunca!_ afirmou. Suas mãos espalmadas percorreram minhas costas e eu tremi com uma sensação diferente, decidindo em seguida privar minha mente. Mal conseguia raciocinar... Comecei do início: afrouxei as pernas e deslizei para o chão. As mãos de Jake não me deixaram um segundo.

—Senti sua falta_ balbuciei piscando furiosamente para as lágrimas grossas que não me deixavam ver perfeitamente.

—Você não faz idéia_ disse ele numa voz rouca e estrangulada, puxando-me para seus braços. Inalei fundo.

—Desculpe-me_ o pranto ameaçava me tirar do controle_ Eu fui má com você, não mereço que esteja aqui_ dizendo isso me agarrei a ele mais forte, não suportando a idéia de tê-lo longe_ Nunca devia ter dito aquilo.

—Shh... Algumas coisas não mudam_ ele riu, mas foi estranho, era o som errado_ Além da teimosia e de tudo o mais, você herdou o complexo de culpa da sua mãe_ Jake tinha as mãos enormes em meu rosto, tornei a abraçá-lo.

—Então, quem está casando? Você não casaria de vermelho, casaria?_ ele limpou o rosto, tentando brincar, um sorriso fraco no rosto, que não era mais que lábios repuxados sobre os dentes, era tão errado...

—É meu aniversário_ murmurei ainda chorando. Seu rosto se retorceu no que parecia dor e meu coração recém encontrado pareceu murchar.

—Sinto tanto, querida_ lamentou esforçando-se para não chorar mais. Ergui a mão para seu rosto, tocando seus olhos fechados, afagando seu cabelo despenteado e sujo, agora grande como nunca vi.

—Jacob_ a voz de meu pai foi baixa e firme, quase como um comando, mas ainda possuía calor, ele também estava feliz que Jake estivesse de volta. Jake acenou uma vez, sério.

—É melhor não fazermos alvoroço_ murmurou Alice atrás de mim. E me tornei ciente da calmaria que se instaurou, me dando conta então, da platéia as minhas costas.

—Traga-a_ disse Edward, por um instante pensei que estivesse falando de mim, mas então Jake se fora.

—Pelo outro lado, vamos pela frente da casa_ orientou Edward. Alice puxou-me seguindo ele e Jasper, e me colocou nos braços.

—Não quero que estrague o vestido_ disse ela antes que eu começasse a reclamar. Em segundos estávamos na sala escura da casa branca. Jacob entrou quando eu ia começar a fazer perguntas.

Não me movi nem disse nada. Jacob carregava um corpo adormecido. Uma mulher jovem que apesar de adormecida tinha uma expressão cansada e sofrida no rosto. Meus olhos arderam. Quem seria ela? Porque ele a trouxe? Esforcei-me quase dolorosamente para privatizar minha mente e não cometer deslizes.

—Nessie, chame Carlisle_ pediu Alice, entendi que ela queria discrição, do contrário faria ela mesma, então visualizei meu avô pela vidraça e projetei o chamado de Alice em sua mente. Subiram todos, e eu fiquei na sala, perdida, um tanto chocada, mal acreditando que Jake estava no andar de cima, que ele não me odiava... Alice desceu com Jazz e foram para fora, logo depois Edward desceu, sorriu para mim e seguiu para fora. Não passara nem dez minutos que eu o tinha tocado...

—Ela só está cansada e desidratada, aparentemente, vou ter certeza quando ela acordar_ dizia Carlisle no andar de cima.

—Não acho uma boa idéia, Alice_ dizia minha mãe seguindo Alice para dentro de casa. Bella sorriu para mim e continuou seguindo minha tia escada a cima.

—Acredite em mim, Bella_ rebateu ela.

—Renesmee_ era Edward me chamando, caminhei até ele sem pensar, minha mente estava um caos. Meu pai me guiou para fora, em direção a pista.

—Acalme-se, as coisas vão se ajustar_ falou ele.

—Está me ouvindo?_ indaguei frustrada, deixando que ele me conduzisse pela música.

—Seu silêncio me diz muito_ ele sorriu. Assenti girando automaticamente. Ninguém parecia se dar conta, duvidava que o que estava acontecendo fosse importante só para mim, seus irmãos, toda a família de Jake estava ali. Eles já sabiam? Não, acho que não... Alguns lobos, talvez. Meu pai riu, tenso, de repente e num giro sugestivo de Edward vi Nahuel se levantar...

Eu não queria dançar! Foi então que percebi os sorrisos e os murmúrios do lado da pista onde os quileutes estavam. Nahuel se aproximava, porém estancou, Edward me girou mais uma vez e então meu coração deu um salto quase dolorido: Alice trazia pela mão um Jacob agora muito bem vestido, de cabelos penteados e cuidadosamente arrumados para trás. Meu estômago parecia cheio de farpas de gelo. Não tinha certeza sobre o ar entrando e saindo, o que estava havendo comigo? Qualquer um ali tinha consciência de minhas reações involuntárias. Senti-me vulnerável, boba, mas esqueci tudo quando Jake pegou minha mão, Alice e Edward imediatamente começando a dançar.

—Gostei do seu cabelo_ falei futilmente, percebendo que isso era uma ótima maneira de não deixar todo o drama acabar com a festa. Era um momento incomum de comunhão.

—Você cortou o seu_ ele franziu o cenho.

—Só aqui na frente_ respondi envergonhada_ Senti sua falta_ a frase era o que eu queria dizer, embora parecesse simplória demais, não expressava tudo que eu realmente sentia.

—Estou aqui, agora_ ele sorriu debilmente enquanto nos balançávamos com a música.

—Não precisava fazer isso, se vestir como Alice disse, quero dizer. Sei que não gosta_ falei.

—Não... Não tive presença de espírito o bastante para dizer não_ deu de ombros.

Era isso. Como se não tivesse espírito, como se não fosse o Jake, ali. A voz com pouca entonação, os olhos fixos em meu rosto e ainda assim distantes. Embora eu soubesse que ele estava exatamente como sempre fora, parecia-me mais velho. Tudo parecia perfeito demais, e por isso muito estranho como em um sonho onde você sabe que está sonhando.

Éramos como dois estranhos, ambos hesitantes, embora não nos soltássemos, não falamos mais, até Sue e Charlie virem cumprimentar Jake e se despedir de mim. Depois disso não demorou até a festa “acabar”, Jake falou longos minutos com seu pai e irmã, depois mais algum tempo com os amigos. Os vampiros saíram para caçar, os vegetarianos e os convencionais, outros iniciaram a volta para casa.

—Nessie encontrou seu cãozinho fujão_ Emmett gargalhou, e eufórica como estava fiz o mesmo.

—Estamos muito contentes em recebê-lo de volta_ disse Esme genuinamente alegre, isso depois de dar puxões de orelha, literais, em Jake.

—Estou curioso_ Carlisle olhou furtivamente para mim_ Como... Bom você simplesmente resolveu voltar para Forks?_ tive a impressão de que essa não era a pergunta exata.

—É uma longa história_ murmurou Jake pouco interessado, afagando minha mão. Estávamos os dois sentados em cadeiras, Alice sentada na mesa ao meu lado, com Jazz ao seu lado, servindo-lhe de escora, o restante da família estava de pé, casualmente em um círculo irregular. Rosalie era a mais distante, sentada fora do círculo. Olhava com uma indiferença um tanto agressiva, isso estava me incomodando.

—Todos temos longas histórias_ insistiu Alice com um olhar sorrateiro para mim.

—Agora não, Alice, temos planos, lembra?_falou meu pai. Rose até então quieta fez um som de desdém, todos olhamos para ela.

—Rose_ pediu Edward, ela jogou os cabelos e o encarou:

Eu não esqueci. Não posso ignorar os dias de moribunda que Renesmee passou. Nove dias sem comer ou dormir, mais morta que nós_ Os olhos de Rose fulminavam Jacob, enquanto ela falava tão rápido que era difícil para mim discernir as palavras, Jake por sua vez vibrava ao meu lado, a mão que estava na minha era uma bola estreita.

—Meu bem_ tentou Emmett enquanto Edward rosnava o nome de Rosalie. Ela continuou:

—Não vou fingir que está tudo bem, que nada aconteceu. Não vou esquecer que por mais de um ano Renesmee não falou, ou ouviu música, ou tocou. Não esqueci que nenhum de nós conseguia dirigir a palavra a ela temendo magoá-la, ou dos seus gritos noite após noite, quando ela conseguia dormir. Ele tem de saber de quando você tremeu quase inconsciente nos meus braços por uma estupidez dele. Não vou aceitar só... Por esse cachor...

—Chega Rosalie_ a voz de Carlisle estava longe de ser um grito, mas foi o suficiente. Ele interrompeu antes que Bella, que tinha as mãos crispadas em garras pelo instinto de me defender, fizesse algo contra Rose.

Jake não tremia mais, encarava o chão, o rosto enrugado de agonia, o meu estava paralisado de choque, enquanto meus olhos derramavam toda a dor que Rose acabara de descrever.

—Não se trata de você_ rosnou Edward para ela, que me olhou por um longo segundo, onde arrependimento tomou a máscara dura que era seu rosto, antes de expirar furiosamente e virar-se rumo à floresta com Emmett em seu encalço.

—Esqueça, Nessie, venha, sei que está louca para se livrar desse vestido_ Alice sorriu um pouco e me estendeu a mão, que peguei acompanhando para dentro de casa, limpando com a mão livre as lágrimas recentes.

— De que planos meu pai falava?_ perguntei enquanto ela abria meu vestido.

—Vamos caçar aos redores de Hoh, nossa festa particular_ ela sorriu_ Quer ir?

— Não_ apesar da confusão de sentimentos não me deixarem cogitar a idéia de dormir, sentia-me exausta.

Além disso, eu mal podia esperar para ter um pouco de paz ao lado de Jake, nem que fosse por mais alguns instantes daquela noite, eu queria desfrutar do meu melhor presente.


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Notas finais do capítulo

Ele voolltooooouuuuuu!!!
O que acharam das reações de todos?