Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 3
Curiosidades


Notas iniciais do capítulo

Mais um. Vou postar os 05 primeiros assim, antes de colocar ordem na casa.



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Ponto de vista de Renesmee.

 Pela manhã, ouvi meus pais conversando. Seus tons de voz chamaram minha atenção. Concentrei-me em manter meus pensamentos vazios e sem sentido, para que Edward não percebesse que estava desperta. Era uma coisa que eu vinha treinando há algum tempo. Nem sempre é legal ter um pai que ouve pensamentos.

 Nunca deu muito certo, mas parecia que quando eu dormia meu pai se desconectava de mim em certo nível, principalmente quando ele estava com a minha mãe.

 Muito silenciosamente, fui até o lado de fora de meu quarto, ouvindo atentamente o que diziam. Dei graças a todo o espaço inumano em minha mente.

-Porque nunca me contou isso?  Deve ter sido assustador para você. -a voz de meu pai continha algo parecido com pesar.

-Não achei necessário. Mas não... A necessidade de protegê-lo era maior que o medo. - respondeu Bella.

-Agora percebo. Você sempre foi muito intuitiva! -Meu pai calou-se e mamãe suspirou. -E agora...

-Acho que está acontecendo como houve com nossos poderes. -Não entendia a conversa deles... Concentre-se: mente vazia...

-Admita Edward, está chegando a hora. Temos de nos acostumar de uma vez por todas...

-Renesmee?! -Edward chamou, me fazendo congelar no lugar. -Não tenho certeza... -ele respondeu uma pergunta mental de minha mãe.

 Minha mente ficou em branco com o susto. Ele pôs a cabeça para fora de seu quarto, fitando minha figura imóvel à porta do meu quarto e riu. Meu estômago roncou.

Salva pelo gongo. Concentrei-me na fome.

-Com tanta fome assim? -Perguntou meu pai divertindo-se. -Quer sair e caçar ou...

“Ovos e queijo”, eu pensei.

-Certo. -Ele concluiu enquanto íamos para a cozinha.

-O que vai fazer hoje, Nessie? -Perguntou minha mãe entrando na cozinha já vestida. Jeans, camiseta e uma jaqueta. Pelo menos eram novos, ou Alice teria um ataque.

 Edward sorriu para mim. Não sei por que Alice implicava tanto com Bella, tia Rose disse que ela é bem mais exigente com suas roupas que antes de eu nascer, e afinal, ela é linda de qualquer forma.

 Emmett diz que ela era desajeitada, uma coisa que eu não consigo imaginar. Bella é muito graciosa, mesmo para uma vampira, às vezes nem parece tocar o chão quando caminha. Papai me olhou com uma expressão que julguei querer dizer para respondê-la logo. E ela fingiu que ele não fez isso.

-Acho que vou ajudar minha avó com a restauração de umas telas.

 Com uma família tão grande nunca falta o que fazer. Compras com Alice, horas na garagem com Tio Emm e Rose, meu pai e Jake. Biologia e história com meu avô Carlisle. Às vezes pescar com meu avô Charlie, Jake e Seth. Literatura e Inglês com Esme. Mamãe e eu aprendemos a tocar piano juntas e ela sempre me dava lições de geografia. Também aprendemos juntas a lutar - Edward achou melhor, depois do episódio com os Volturi. E claro: quem ensinou foi Tio Jazz. Sem falar nas décadas de histórias que todos têm para contar. Emmett é o campeão em contar histórias (a sua maneira, é claro).

 Ele me contou a história da humana que se apaixonou pelo vampiro... Sei que ele editou muita coisa. Será que ele me contaria tudo agora?

-Nessie. -meu pai pigarreou parecendo assustado. -Marcou hora com Esme? Pois ela deve estar esperando para começar o trabalho.

-Terminei de comer. –falei, levantando para lavar o prato. -Vou me vestir e vamos.

-Deixa que eu lavo, filha. Vá se vestir. -Disse Bella. Beijei seu rosto gélido e fui pensando em minhas roupas, secretamente ansiosa para poder pensar sozinha.

Escolhi Jeans, um suéter branco e botas (as preferidas de tia Rosalie). A manhã estava escura, mas não chovia, então correríamos até a casa branca.

-Renesmee. -chamou minha mãe. -Temos que ir. Jazz está esperando seu pai, pois eles vão a Seattle resolver umas coisas.

-Mãe... -Falei em tom comum, pois ela ouviria. -Não combinei nada com Jake ontem... Pode ligar para ele?!

-Não quer um dia de garotas hoje? -Bella perguntou já em meu quarto. -Alice vai, podemos chamar Rose, e vamos a Seattle também...

-Sem Jake...?! –Refleti. Ela revirou os olhos e murmurou algo que eu entendi como “Jake, chiclete!”, então falou mais alto:

-Tudo bem, eu ligo. Como se precisasse... -Eu ri de seu tom derrotado.

 Antes que eu me sentasse no sofá da sala os dois apareceram prontos. E partimos em seguida.

 Eu adorava correr, a floresta se desmanchando em verde escuro a minha volta, pular das raízes grandes nas árvores mais altas, quase com a mesma precisão dos vampiros completos. Pular o rio era a parte mais divertida. O melhor era sentir meu coração disparado e meu rosto quente com o sangue pulsando rápido e cheio de adrenalina. Só correr pela floresta me fazia sentir assim, já que não me deixavam correr de carro com tio Emmett nem de moto com Jacob. “É perigoso!” meus pais diziam. Como se alguma vez na vida eu tivesse conseguido mais que alguns hematomas, ou nas piores quedas um arranhão.

Chegávamos à casa branca quando vi Jasper, Alice e Jake na varanda. Ele se levantou e veio a nosso encontro, na velocidade humana e com seu habitual sorriso. Vê-lo acalmava uma angústia que eu não percebia quando estávamos longe.

-Ei Bells, como está seu humor hoje? Melhor que ontem, eu espero. Hey Edward... E como está minha monstrinha hoje?

 Sorri e corri para abraçá-lo, como em todos os dias desde que nasci. A diferença é que eu era menor e Jake me pegava no ar quando eu saltava em sua direção. Não que ele não pudesse fazer isso, com toda aquela força de lobo.

-Quando é que você vai deixar de ser este lobo-adolescente-encrenqueiro hein, Jacob? - Bella fingia ralhar com ele.

-Sabe como é, enquanto eu viver perto de sanguessugas - a palavra crítica não teve a menor influência no clima zombeteiro da conversa- vou continuar congelado no tempo, me transformando no lobo-alfa que vocês tanto amam.

-Bem, amores da minha vida. -Disse meu pai, puxando-me do abraço de Jake. -Tenho de ir. Volto o mais rápido possível.

-Bella, vamos! A gerente daquela loja que eu adoro ligou falando que chegaram coisas novas! -Alice estava animada. -Vamos, por favor...?

-Hoje não, Alice. Obrigada. -respondeu Bella.

 Tia Alice mostrou a língua para ela, piscou para mim e seguiu em direção a garagem. Jazz e meus pais a seguiram.

 Saí puxando Jacob para a casa. Avisei-o, silenciosamente, do que ouvi meus pais falando. Da porta ouvi Esme cantarolando no andar de cima, usei meu dom para que ninguém ouvisse o que eu dizia a Jacob. Será que meu pai havia captado o que mostrei ao meu amigo? Droga!

 Ouvi o carro sair da garagem e entramos na casa. Ao mesmo tempo minha mãe, Emm e Rose entravam pela cozinha e Esme descia a escada.

-Bom dia crianças. -Disse a avó mais linda e jovem. -Já tomaram café da manhã?

-Sim. -Jake e eu dissemos. -E as telas, vovó? -eu quis saber.

-Houve um problema com o transporte. Não chegaram.

 Rosalie veio até mim fazendo careta para Jacob, que a ignorou. Ela me abraçou. Notei que estava mais arrumada que o normal.

-Vai a algum lugar tia? -Percebi que Emmett também estava mais bem vestido.

-Vamos passar alguns dias com o clã de Denali, meu bem.

-Mande beijos meus a todos, por favor! –pedi.

-Sim, e levarei fotos suas ou ninguém vai acreditar em como você está ainda mais linda! -Todos olharam para mim sorrindo, com ar de admiração e orgulho. Mas ninguém parecia mais bobo que Jake.

 Ah, por Deus! Como, olhando aqueles rostos perfeitos, eu seria o objeto admirável?!

 Tia Rose me pediu para ajudá-la com suas malas. Ela obviamente não precisava da ajuda, era só uma maneira de ter-me perto e irritar Jacob. Mas fui sem argumentar.

 Subimos nós duas e Emmett. Será que eles me diriam se eu perguntasse? Todos eram sempre muito claros com tudo, mas especialmente Rose era empenhada em me agradar. Não seria muito nobre me aproveitar disto... Mas eu queria entender... O que eu sabia? Sabia que com exceção de Rosalie todos os Cullen aceitaram minha mãe. E que Alice e Jacob eram amigos de Bella desde o início. Também sabia exatamente porque Rosalie não gostava de Bella e porque passara a gostar. Haveria algum hiato nesta história também?

 O que minha mãe precisava proteger? O que deve tê-la assustado? E o que os dons de meus pais tem haver com o assunto misterioso? Que momento iminente eles temiam?

-Em que está pensando princesa? -Indagou Rose me sobressaltando com sua voz penetrante. -Está tão distraída...

 Emmett deu risada com o pulo que dei, quando Rosalie me interrompeu os pensamentos. Decidi não fazer firulas.

-O que escondem de mim? -Ele encarou Rose como quem pede socorro e voltou a me olhar.

-Nessie, de que está falando? -indagou-me

-De toda a história de meus pais. -respondi impaciente.

-Devia perguntar a eles, Nessie. -Meu tio soou grosseiro na tentativa de livrar-se do assunto.

-É nisto que está pensando? -Perguntou Rose parecendo comovida com o que quer que ela tenha visto em meu rosto. Talvez eu tenha começado no lugar certo. Suspirei começando a irritar-me com a situação.

-Ah, tia! Eu sei que existem muitas coisas que não sei por que pensam que sou criança demais para saber! -Lágrimas já brotavam de meus olhos pela irritação. Não era uma coisa costumeira. -Não sou criança! As coisas não são como antes... -Em meio segundo Rose voejou a cama em meio ao quarto e estava me puxando para seus braços frios e gentis.

-Ah querida, nós a amamos... -A interrompi contendo o pranto exagerado e irracional.

-Desculpe-me, tia. -Falei contra seu ombro frio e liso como vidro. -Não sei o que deu em mim. Desculpe-me também tio Emmett, não contem a ninguém!

 Nós cochichávamos, então eram boas as probabilidades de que ninguém tivesse nos ouvido.

-Vamos tentar, mas você sabe, Nessie... Seu pai... -Emmett parou a frase bruscamente. Ergui a cabeça e entendi a razão. Rosalie o encarava assustadoramente. Ela me olhou logo em seguida:

-Não se preocupe, Renesmee. Não pensaremos nisso, mas talvez alguém tenha nos escutado. -Advertiu.

-Obrigada, tia! Agora vou descer. Tudo bem?! -Falei tentando clarear minha voz. Rosalie sorriu assentindo. Atravessei o quarto, me estiquei na ponta dos pés para beijar o rosto de Emm, que me deu uma piscadela.

 Desci as escadas devagar, tentando encontrar uma razão para que minha família tenha editado a história de como meus pais se conheceram e casaram. Pela forma como agiram, certamente havia algo. Que bobagem! Talvez eu não insistisse tanto se eles não estivessem reagindo tão estranhamente. Jacob não disse uma só palavra quando lhe mostrei o que ouvi, e tio Emmett ficou todo atrapalhado...

 Eu insistiria no assunto misterioso.

 Notei que estava tudo muito quieto. Esme talvez tivesse saído. Mas e Bella e Jake? Parei no último degrau farejando e ouvindo. Senti seus cheiros ao mesmo tempo em que ouvi murmúrios rápidos vindos da varanda. Fui até a porta ouvindo. Minha mãe falava tão rápida e baixo que eu não distinguia as palavras, não acompanhava. Mas não resisti em tentar ouvir a conversa. Então de repente Jacob a interrompeu, me assustando com sua voz rouca que continha um misto de irritação e angústia.

-Tudo bem, Bella! -Ele quase gritava. -Eu nunca disse isso, entenda! Quase me enlouquece que as coisas sejam assim. Você talvez não, mas eu ainda me sinto humano! É terrível acordar às vezes sem ter noção de quanto tempo passou, sendo que foram apenas cinco anos, e eu ainda estou congelado, como era aos dezesseis. Há muita coisa envolvida, é confuso! -Jake soava apavorado e não pude deixar de sentir o mesmo.

-Ah, Jake... Eu sei que é difícil para você também, todos a amamos, mas é revoltante que meu bebê seja obrigado a aceitar uma vida decidida antes que nascesse. Ela não viveu nada, não conheceu nada...

 Quando pensei que Bella voltaria a falar naquela velocidade, sua voz foi sumindo... E pelo que a compreendi falava de mim, mas o quê?

-Bells. -Jake parecia menos irritado. -Essa coisa toda não tira o livre-arbítrio de ninguém. Ainda lembra como era difícil afastar-se de mim? -Ouvi minha mãe suspirar. -Sinto-me um pouco pior que isso quando a imagino fazendo outra escolha. -Houve um breve silêncio. -E não pense que é fácil aceitar que pode estar perto, quando sei que ela é, embora não pareça, uma criança.

 Eu não sabia do que falavam, mas estava claro que era sobre mim. E se antes era apenas curiosidade -e não tenho certeza se era- agora era indignação. O quê e porque eu não sabia sobre minha vida?

 Senti um nó doer seco, como sede por sangue, em minha garganta. E meus olhos umedecerem novamente. Ouvi um pigarrear atrás de mim. Eram Emmett e Rose, parados como estátuas, com suas malas ao pé da escada. Vê-los imóvel daquela forma me fez pensar que o assunto misterioso devia mesmo preocupar os dois lá fora, pois ainda que não ouvissem meus passos deviam ter ouvido meus batimentos cardíacos, minha respiração.

 Emmett estava sério -o que era mais do que raro- e Rose tinha a testa vincada de preocupação. Eles provavelmente ouviram o mesmo que eu.

-Nessie... -Disseram ambos enquanto eu corria me acomodando no sofá.

-Não se preocupem. -Sussurrei. Então minha mãe irrompeu pela porta com Jacob logo atrás. Precisava falar com ele ou não agüentaria...

-Mãe, se importa se eu for caçar com Jacob? Estou começando a sentir sede e quero ver Charlie amanhã... -Não era um argumento muito forte, mas...

-Com Jake? Sim, tudo bem. Amanhã Charlie estará de folga. -Surpreendi-me que ela não tenha querido vir junto, apesar de ser o que eu queria. Ótimo, Jake me deixaria pensar o tempo que eu precisasse, e talvez me dissesse algo.

 Saímos pelos fundos, e rapidamente atravessamos o rio. Corremos em silêncio. Jacob ainda na forma humana. Quando julguei que a distância era boa diminui a velocidade e parei.

-Você não está com sede está, Nessie? -Indagou Jake desconfiado, parando meio segundo depois de mim.

-Minto tão mal assim? -perguntei.

-Melhor do que deveria. -Afirmou cruzando os braços e se posicionando diante de mim. -O que há Nessie? Sabe que pode me dizer qualquer coisa, não sabe?

-Eu sei. -Claro que sabia.

-Você confia em mim? -Sua pergunta e sua seriedade me intrigaram. Claro que confiava em Jacob. Mais do que em mim mesma. Já o tinha visto disposto a estar numa guerra para me proteger e não conseguia imaginar uma maneira de estar sem meu amigo. Levei menos de um segundo para concluir isto; talvez porque eu não precisava pensar para saber.

-Claro que sim! Que pergunta é essa? -Ele estava me assustando de tão sério que estava.

-Então me conte tudo o que está tramando. -Ele ordenou. Eu suspirei.

-Segredos Jake! Sobre mim, ao menos foi o que entendi. Coisas que me escondem. Eu sinto. E isso me irrita, pois é sobre mim! Porque tanto mistério? -Eu sentia meu rosto ficando vermelho de raiva.

-Odeio vê-la assim, minha pequena. -Jake me abraçou. -Se eu pudesse fazer algo por você... -Ele falava enquanto eu afundava o rosto em seu peito num abraço que quebraria nossas costelas se fôssemos humanos. Então decidi fazer como com Rose e Emmett.

-O que você e mamãe estavam falando, na varanda, antes? -Me afastei e fiquei na ponta dos pés para olhar em seu rosto.

-Estava mesmo ouvindo atrás da porta, Renesmee? -Ele nunca me chamava pelo nome. Senti o sangue se aglomerando em minhas bochechas enquanto ele me encarava de olhos estreitos. Estava quase lamentando ter perguntado, eu encarava minhas botas afundando na terra úmida e escura.

-Nessie, você disse que confia em mim. -ele disse com a voz firme, indo sentar-se em um ronco caído. Eu continuava olhando para o chão. -Então acredite, por favor, você vai saber e não vai precisar que ninguém te fale. Você vai saber. -Jacob falou com mais ênfase a última frase, parecendo querer convencer mais a si mesmo do que a mim sobre o que dizia. A verdade é que eu não entendia a razão para ele dizer isto. Odiava a idéia de que algo estava sendo escondido de mim.

-Mas Jake, não é justo que...

-Por mim, Nessie?! Pode fazer isso? -Ele não me deixou terminar e eu não tentei novamente. Que eu lembrasse, ele nunca havia pedido nada, e era incontestável que eu o atendesse.

 Além disto, algo me dizia que ele estava certo; por mais que eu quisesse insistir no assunto. Certo de como eu me chamava Renesmee, eu deixaria de lado, por ora. Por Jacob.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?