Murmúrio escrita por bundadopatch


Capítulo 52
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Sabe aqueles dias em que você acorda e se pergunta ” Por que e pra que eu vivo?” então, eu estava encarando essa crise há alguns dias. Eu procurava por fotos e lembranças, mas nada parecia se encaixar. Eu tinha uma mãe bonita e saudável que trabalhava muito, mas que eu sabia que me amava. Eu tinha uma melhor amiga que por mais que fosse doida e até animada demais era na medida certa pra ser perfeita. Tinha um cara bonito e legal que gostava de mim, apesar de não retribuir, Scott nunca me deixava na mão. Eu tinha planos para faculdade e duas meias irmãs, mas eu sabia que faltava algo.
- Droga. - Rugi, jogando a papelada pro alto.
- O que foi, amor? - Scott perguntou, colocando a mão sobre a minha coxa.
- Nada. - Respondi, recuando. Eu sabia que não era certo, eu e Scott não fomos feitos um pro outro. 
- Você parece preocupada, meu doce. - Ele tinha um sorriso malicioso. - Ele me puxou para perto , subindo e descendo a mão pela minha perna. - Tão linda.
- Er… obrigada. - Agradeci, puxando minha perna.
- Vai fugir de mim? - Ele se levantou e me encurralou na parede, colocando as duas mãos acima de mim. Seus quadris estavam pressionados contra mim.
- Scott, não devemos apressar as coisas. - Sussurrei, ofegante.
- E porquê não? - Ele estava fazendo beicinho, mas logo desceu a boca para o meu pescoço.
- Não parece certo. - Falei, tentando jogar meu corpo contra o dele para empurrá-lo.
- Por que? - Ele voltou a me encarar, passando a língua pelos lábios. - Você é sexy, eu sou sexy, nós dois estamos solteiros… - Ele não terminou a frase e logo voltou com os lábios para minha pele nua.
- Pare. - Minha voz saiu como eu queria, forte e determinada.
Ele me encarou por alguns segundos, passou a mão pelo cabelo e voltou a se sentar.
- Me desculpe. - Ele falou, da boca pra fora.
- Você acredita em almas gêmeas? - Perguntei, de forma direta e clara.
- Depois conheci, sim. - Ele sorriu. Canalha.
- Ah, qual é Scott?! - Zombei. - Você me fazia comer aquelas porcarias!
- Mas nós crescemos. - Ele riu.
- Eu sei. - respondi, sentando sobre a mesa. Scott devorava minhas pernas com os olhos o que me fez corar e descer para o chão novamente.
Eu estava usando uma saia bandage preta com uma blusa de renda ensacada, scarpins, maquiagem completa e um par de diamantes nas orelhas. Eu estava me vestido como uma verdadeira líder.
- Você se importa se eu der uma saída? - Perguntei, passando os dedos pela saia. - Eu preciso comprar algumas coisas pro jantar, minha mãe volta hoje.
- Ah, claro. - Ele deu de ombros. - Mande lembranças à Blythe.
- Mandarei. - Gritei do corredor, enquanto dava as costas para Scott.
Comprei verduras, frutas, massa e vinho. Eu adorava cozinhar quando minha mãe estava em casa, por alguma razão estranha hoje eu estava com inspiração para fazer tacos, era simples, fácil e delicioso. 
Minha cabeça estava pegando fogo, era como se centenas de sinos resolvessem badalar ao mesmo tempo. O que resolveria? Álcool.
Estacionei meu carro no acostamento e sorri quando os mariates vieram me cumprimentar.
- O Borderline, lhe dá boas - vindas señorita. - Um homem com um bigode enorme cantarolava ao ritmo de lacucaracha. Não pude deixar de soltar uma gargalhada, era incrível como esse lugar me relaxava e me fazia tão bem.
- Tem reserva? - A moça da recepção me perguntou.
- Não - respondi, rapidamente. - Na verdade só quero beber um drink rápido.
Ela sorriu e me entregou um catálogo com os pratos da noite. 
Caminhei rapidamente até o banheiro para retocar o gloss e molhar minha nuca com água gelada. 
- O que vai querer? - Um cara mal encarado, apareceu no balcão.
- Um daiquiri de morango. - Respondi, observando a quantidade de garrafas a mostra do outro lado.
Eu já estava na metade do segundo copo, quando alguém bateu contra minha perna. Era um criança . O que ela fazia essa hora acordada? Num bar?
- Ei bebê… - Sussurrei, segurando os dedinhos que ele esticou pra mim. Ele tinha cachos totalmente negros, pele morena clara e olhos tão negros quanto o cabelo. Suas bochechas eram grandes, o nariz e o queixo eram parecidos com o meu, seus dentição não estava completa, mas ele tinha um sorriso encantador. - Qual seu nome?
- Tony. - Ele balbuciou, olhando pra mim com aqueles enormes olhos negros.
- Onde está sua mãe? - perguntei. Eu iria levá-lo até ela.
Ele não me respondeu, apenas apertou minha perna mais uma vez e sumiu pelo restaurante. Eu sorri.
- Me vê uma Cherry Coke. - Um rapaz havia se sentado ao meu lado. Sua voz provocou um calafrio em minha espinha. - Não corra, Tony! - Ele gritou pra criança.
- Mais um - Bati com o copo no balcão e o rapaz ao meu lado sorriu. 
- O que? - Virei para encará-lo.
Ele estava de cabeça baixa, mas quando seus olhos se alinharam aos meus seu corpo ficou tenso, como se recebesse uma descarga elétrica.
Nossa, ele era bonito. Tinha uma maxilar marcado e um rosto anguloso, devia ter quase uns dois metros e porte atlético. Seu cabelo negro escorria quase até os olhos, mas não impedindo de revelar a intensidade. Sua boca carnuda se escancarou.
- Nora. - estendi a mão, mas ele apenas acenou com a cabeça. - É seu irmão? - Perguntei, apontando com a cabeça para Tony.
- Filho. - Ele respondeu, enquanto o homem mal encarado colocava um copo de Cherry Coke perto de suas mãos.
Ele era casado? Mas era tão jovem. Logo que o pensamento me veio a cabeça, notei um anel em seu dedo, tinham dois dizeres e um coração, não consegui distinguir.
-Hm. - Murmurrei, enquanto olhava para os meus dedos. - Cherry Coke é o meu refrigerante favorito.
- Eu sei. - Ele deu um gole e logo depois socou o balcão.
- O que disse? - perguntei.
- Nada. - Ele tomou mais um gole. 
Ficamos em silêncio por um tempo, até que resolvi quebrar o gelo.
- Ainda não me disse seu nome. - resmunguei.
- Me chame de Patch. - Ele deu um sorriso deslumbrante. Meu coração parou.
Tomei meu último gole e resolvi ir pra casa.
- Foi bom vê-lo, Patch. - Estendi a mão e fui ignorada mais uma vez. - De um beijo em seu filho por mim, ele é uma criança adorável.
Ele não respondeu, dei de ombros enquanto deixava o dinheiro no balcão e caminhava de volta do carro.
Eu estava preste a abrir a porta, quando ouvi passos atrás de mim. Era Patch.
Eu girei de forma que pudéssemos nos encarar, ele estava nervoso. As mãos em punho, as veias do pescoço saltadas.
- Olhe em meus olhos e diga que você não lembra de mim. - Ele sussurrou.
- O que? - perguntei, levantando uma sobrancelha.
- Diga. - Sua voz exalava angústia. - Diga, por favor.
- Patch, eu acho que você está me confundindo. - Eu falei, puxando a porta. Mas ele foi mais rápido e a fechou novamente. Apenas um fio de ar restava entre nós.
- Você não se lembra de nada? - Ele parecia estar prestes a chorar.
Eu não tive tempo de responder. Os lábios de Patch me silenciaram e logo um mar revolto e negro se desprendeu dentro de mim. Aulas de Biologia, Arcanjo, Sacrifício, Fliperama, Nossa casa, Nosso filho, oh meu Deus Tony é a pequena criatura que eu carreguei. Eu me lembrava de tudo, Marcie não gostava de mim e Scott já não me matou por pouco. Ele tinha um hálito quente e com sabor de menta, sua língua era feroz e exploradora assim como as suas mãos que fincaram em minha cintura. Eu me lembrava daqueles lábios, a última vez que senti aquele sabor foi antes do nascimento de Tony. Quanto tempo havia passado? Dias? Meses? Anos? Eu não sei.
Ele parou e encostou sua testa na minha, a respiração ofegante.
- Diga. - As lágrimas brotaram em seus olhos negros.
- Eu te amo, Patch. - Eu gritei, queria explodir de alegria. - Você é a melhor coisa que já foi minha.
- Eu ainda sou seu, Anjo. - Ele também gritava em meio a soluços. E é por isso que eu venho guardando isso já faz um tempo. - Ele tirou uma caixa preta de veludo do bolso de trás da calça.
Seu corpo vacilou e ele se ajoelhou diante de mim.
Oh meu Deus.
- Nora, durante anos eu venho perguntando porquê e pra que vivo, mas tudo isso mudou depois que conheci você. - Ele voltou a chorar. - Eu nunca me senti um homem completo, eu nunca fui bom,mas você me mudou e eu agradeço por isso. Eu pretendo amar e cuidar de você enquanto eu viver, eu prometo fazer jus ao seu nome e mimar você cada dia mais. Eu vou te fazer feliz, Nora, eu posso. Só preciso de uma chance. Você me daria a honra de se casar comigo? - Ele finalmente perguntou.
- Sim! - Eu gritei. - Sim! Sim! Sim! 
Ele colocou o anel do meu dedo e me tomou em seus braços, não era possível distinguir onde um começava e outro terminava éramos um só.
Eu não precisava mais me perguntar, era isso que faltava, era isso que me completava. Era ele, era Tony e agora era a eternidade


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