- Foi um ótimo negócio. – Ian Kabra diz ao seu cliente, trocando um aperto de mãos com ele. O homem de meia-idade o leva até a porta do escritório. Ali as maiores negociações de obras de artes eram feitas. Ian entra em um camaro preto blindado e liga o potente motor. O sol já desaparecia no horizonte. Ian passou pelo enorme portão da mansão onde os leilões aconteciam. Um Janus comandava aquele lugar. Para falar a verdade, Ian sabia muito bem que, nos porões, reuniões ultrassecretas eram realizadas.

  Ele dirigiu até o seu apartamento. Aos 24 anos, morava sozinho em um enorme apartamento. Ninguém sabia onde Natalie estava. Com exceção dele. A irmãzinha nunca desapareceria sem avisá-lo. Ela quis mudar de vida. Mudou seu nome e passou a viajar pelo mundo para relaxar, divertir-se.  Viajava pelo mundo tentando esquecer as atrocidades da mãe.

  Ian entrou no banheiro e saiu logo depois, os cabelos longos para os seus padrões grudados na nuca, a água pingando pelo chão. Ele vestiu uma de suas roupas caras e pegou as chaves do carro. Era assim quase todas as noites. Ia para alguma balada, encontrava algumas mulheres gostosas e ficava com elas. Mas no fundo, por mais que ele tivesse tantas mulheres aos seus pés, ele se sentia sozinho. Buscava nas garotas algo especial, algo que ele já tinha encontrado no passado, mas não deu valor...

  Antes mesmo de virar a rua, Ian já podia ouvir a música estrondosa da balada que frequentava. Parando o carro e deixando a chave com o manobrista que sempre o atendia, ele entrou passando sem problemas, enquanto uma enorme fila de pessoas circulava o quarteirão à espera de poder entrar na cara balada. Ele foi direto para o bar e pediu um uísque 15 anos. Uma garota alta, de cabelos em um tom loiro claro e de olhos castanhos sentou ao seu lado. Ela se apresentou como Lola. Ou seria Lily? Ian esqueceu o nome dela quase que imediatamente. Eles conversaram um pouco, mas digamos que Ian não estava com muita paciência hoje: fazia mais ou menos dez anos nessa época em que ocorrera o incidente na Coréia, e ele não conseguia parar de pensar nisso. Ele não conseguia parar de pensar em uma certa garota adorável... Então ergueu o queixo da loira delicadamente e a puxou para um beijo. Era bom, ele não podia negar, mas faltava aquela coisa. Sempre faltava aquela coisa. Aquela coisa que ele não sabia o que era, mas sabia a quem pertencia. Aquela coisa que ele quase tivera, mas deixara escapar por ordens de sua mãe.

  O beijo com a loira “sem nome” estava ficando mais quente, mas Ian não se importava, ele não estava sentindo nada com aquilo. Com um beijo desses ele não sentia nada, mas com um simples roçar de lábios...

  Então Ian percebeu o que esteve fazendo durante toda essa noite, durante esses 10 anos: ele sempre comparava tudo à ela. Nada era bom porque nada era ela, ninguém era ela. Então, no o intervalo entre um beijo e outro, ele concordou com a letra da música que tocava no ambiente e disse baixinho para si mesmo:

  - Hoje eu vou te esquecer, Amy.

  - O que? – Perguntou a loira insignificante. Ele simplesmente voltou a beijá-la.

***

  Ian se acordou de 5h00, vestiu suas roupas silenciosamente e saiu da casa da loira sem deixar nem mesmo um bilhete. Pos seus óculos escuros e dirigiu em seu camaro com as janelas abertas enquanto cantava (leia-se: gritava maravilhosamente) uma de suas músicas favoritas. Ele se sentia livre. No fundo ele sabia que aquela liberdade era falsa: não tinha esquecido - superado ou seja lá como ele quisesse chamar – ninguém (ou melhor, alguém), mas preferia não pensar nisso agora. Chegou em casa e foi dormir, coisa que ele não havia feito na noite anterior.

***

  Às 16h, Ian já estava vestido com seu terno sua gravata (que tinha o brasão dos Lucian em sua estampa, mas era tão minúsculo que era quase imperceptível) impecáveis. Estava em um restaurante muito refinado para um encontro de negócios. Iria se encontrar com o Sr. Tolliver e sua futura esposa. Não havia sido informado do primeiro nome de nenhum deles, mas não se incomodava, não gostava de decorar nomes.

  - Sr. Kabra? – Uma voz atrás de Ian pronunciou e ele se virou para ver quem o chamava.

  - Sim?

  - Sou o Sr. Tolliver. – Os dois trocaram um aperto de mãos. – A minha esposa já está a caminho.  Está no trabalho, virá direto de lá. Perdoe o atraso dela.

  - Não há problema algum, Sr. Tolliver. – Ian respondeu. Os dois se sentaram e esperaram. Poucos minutos depois, ouviram o barulho de saltos e uma voz feminina falou:

  - Desculpem o atr... – A frase da mulher pairou no ar quando os dois olhos se encontraram pela primeira vez em 10 anos.