Ally

Eu segui sua ordem e sentei na cama ao seu lado, olhei para o rosto da Sra Moon e vi uma expressão preocupada, tentei manter a calma para esperar ela abrir a boca. Alguns segundos que pareciam horas passaram e ela decidiu falar algo.

-  Eu não sei por onde começar. – ela me olhou e pegou em minha mão levemente ao dizer tais palavras, meu corpo gelou em sinal daquele toque, afinal porque ela seria tão gentil assim comigo? Estou sonhando ou estou imaginando coisas?

- Preciso muito te dar uma notícia. - ela deu uma leve pausa e meu coração quase saltou pela boca de tanta curiosidade- Hoje, por volta das cinco da manhã me ligaram da polícia – ela me olhou e continuou- e disseram que encontraram um ônibus que voltava do interior caído em um barranco por conta de um acidente de trânsito.

- Como assim? Do que você tá falando? – entrei em choque, eu já imaginava o que ela iria dizer a seguir.

- Calma querida – ela disse passando a mão em meus cabelos, seu olhar era preocupante.

- Não me diga pra ter calma! – eu falei quase gritando- Quero que me diga agora onde está a minha mãe! Me diga agora!!! – levantei-me da cama completamente exaltada, meus olhos vermelhos.

- Ela não resistiu e sua Avó também não. – ela disse por fim e eu senti que tudo aquilo fazia parte de algum filme de terror, que era só acender a luz e tudo voltaria a ser como antes, mas eu estava enganada... não tinha filme nenhum! O que realmente havia era uma menina sem ninguém no mundo.

Minhas pernas fraquejaram e eu cai de joelhos no chão, as lágrimas pareciam um mar completamente agitado. Não consegui ver mais nada ao meu redor, entrei em estado profundo de choque.

- Ally??? Allycia!? – alguém dizia sem parar e depois ouvi gritos ecoando pela casa- Chamem um médico, chamem um médico!!!!!

O dia passou e eu nem percebi, pra mim as horas nem estavam passando e eu estava presa no meu luto. Dona Olive chamou um médico para me examinar...eu estava completamente transtornada e em choque, ele me deu alguns calmantes e eu finalmente consegui dormir.

Quando acordei já estava tudo escuro, logo alguém bateu a porta de meu quarto.

Toc toc- eu não tinha vontade de abrir, acredito que a pessoa também percebeu que eu não iria me mexer então entrou de qualquer jeito.

-Ally? – eu abri meus olhos ao som da voz, era ele... Austin. Não tive forças para responder, ele apenas deitou-se ao meu lado na cama e eu não reclamei nem disse nada, apenas fiquei quietinha e calada.

Ele se aconchegou do meu lado e me envolveu por completo em seu abraço, me proporcionando um calor confortável, me olhou fixamente e eu nem pude acreditar que realmente estava vendo bondade e carinho naqueles olhos castanhos. Ele enxugou muitas lágrimas, beijou algumas vezes o topo da minha cabeça, mas em momento nenhum disse uma palavra se quer. Ele respeitou o meu momento e ficou comigo durante o restinho da noite e por toda a madrugada até que eu peguei no sono novamente.

Austin

Havia acabado de sair do quarto de Ally, logo depois de saber da morte de sua mãe fui consola-la, eu não podia ignorar a dor que ela está sentindo, mesmo que eu ainda continue confuso sobre o que sinto e sobre tudo que tem acontecido entre eu, ela e meu irmão.

- Filho? – minha mãe disse ao entrar no quarto.

- Oi – a olhei, ela se aproximou e passou a mão em meus cabelos.

-Triste o que aconteceu não é? – eu assenti e ela continuou- O enterro será hoje por volta das cinco horas da tarde.

- Eu vou – afirmei.

- Austin não é hora pra gracinhas. – ela me disse achando que o que eu havia dito era alguma piada.

- Eu falei sério mãe.

- Meu amor, não acho que um rapaz como você deva frequentar esse tipo de ocasião. – ela me disse e eu nem acreditei.

- Mas no enterro daquela tia do meu pai nós fomos e porque nesse eu não posso ir?- perguntei a desafiando.

- Austin, meu filho, acho que não preciso nem responder... lá só vai ter gentinha. – ela torceu o nariz, eu revirei meus olhos e pedi para que ela saísse pois gostaria de ficar sozinho.

Eu não podia acreditar que ela havia dito aquilo, na verdade...  Não acredito que eu mudei tanto assim, até algumas semanas atrás eu não pensaria dessa maneira. Sorri ao pensar que essa mudança só tinha uma razão, Dawson. Mesmo sabendo o suposto motivo, eu ainda não entendia o porquê e nem a rapidez na qual eu me transformei.

Mais tarde...

Elliot

Minha mãe fez de tudo que podia para que eu e Austin não fossemos ao enterro da mãe e avó de Ally, mas nós fomos mesmo assim. Apesar das desavenças com meu irmão, esse não era um momento para não desejar sua presença.

Logo que chegamos avistamos um pequeno grupo de pessoas que chorava silenciosamente, acredito que Ally não tinha muitos parentes, não vi uma tia ou irmão apenas alguns amigos.

Prestamos a nossa solidariedade e ficamos de pé assistindo a toda a cerimônia até o momento de descida do caixão. Eu a abracei e ela se deixou ser abraçada e em como todo bom enterro pingos de chuva começaram a cair do céu, ela não ligou. Seus cabelos e suas roupas se ensoparam assim como as minhas também e eu fiquei ali do lado dela enquanto Austin estava do seu outro lado. Ally estava completamente arrasada, tanto que não dizia uma única palavra apenas chorava em silêncio por todo o enterro até o momento de irmos pra casa.

- Ally, temos que ir. – Austin disse tentando levanta-la do tumulo de sua mãe.

- Não quero ir- ela disse séria, apenas suas lágrimas escorriam.

- Temos que ir Ally, vai ser melhor pra você. Esse lugar não está mais te fazendo bem, você precisa descansar. – ele prosseguiu, eu não sabia o que dizer numa hora como aquela então apenas fiquei calado e a observei teimar com meu irmão.

- Vamos Ally- ele falou mais uma vez e a levou em seu colo, ela se agarrou em seu pescoço e por mais que aquele não fosse o momento adequado eu senti ciúmes.

4 messes depois...

Ally

Meu luto será eterno, a morte de minha mãe ainda é muito recente, mas a medida em que os messes vão passando eu consigo me conformar aos poucos, pois sei que sofrer como estava sofrendo não era o que minha mãe queria. Muitas coisas mudaram, Dona Olive contratou uma nova empregada que dividira o quarto comigo, ela provavelmente chegará amanhã, passarei a estudar a noite para entrar na Universidade de Música de Miami, as aulas começaram próxima semana...  O que continua do mesmo jeito é a minha relação com os meninos, problemática e confusa como sempre.

Desci as escadas, havia acabado de limpar o quarto do Sr e Sra Moon  e logo iria fazer o almoço, foi quando ouvi uma melodia. Fui em direção à sala de música, era a única explicação para o som que eu estava ouvindo.

- Austin? – disse surpresa ao entrar e me deparar com ele sentado ao piano.

- Gostaria de me acompanhar? – ele disse olhando- me fixamente com aqueles olhos castanhos.