My Heart Is Bleeding escrita por Mimia R


Capítulo 17
Insuperável


Notas iniciais do capítulo

Então gente, mais um capítulo. A partir daqui o tempo já passou um bocado, ok. E as coisas vão realmente começar a acontecer com a nossa nossa vampira Joy. Espero que gostem. Boa leitura! :DD



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O tempo voa quando se é imortal. Eu não sei quantas, mas já se passaram muitas, e muitas semanas desde que eu fui sequestrada e transformada em vampira. E ainda não consigo acreditar em todo rumo que minha vida tomou. Só consigo pensar em meus amigos. Todos devem achar que eu estou morta, quando na verdade estou em situação pior.

E então, como estou lidando com o fato de ser uma vampira?

Eu nunca vou conseguir aceitar. Mas não posso reclamar, por enquanto. Eu consegui convencer o Marcus a ficar me trazendo aquelas bolsas de sangue. Ele protestou no começo, disse que ia me deixar morrer de fome se eu não fosse caçar. Eu disse que não me importava, e ficamos nesse impasse por um tempo. Mas logo depois ele cedeu. Eu me dei conta de que não é só ele que tem poder sobre mim. Eu também tenho sobre ele. 

Isso soou um pouco estranho.

 Desde aquela vez que o Marcus e eu... ficamos juntos, aquilo nunca mais se repetiu. Amém e fim de estória. Então voltando ao sangue, eu ainda não matei ninguém e não saí desse quarto.

O Marcus trouxe algumas coisinhas novas para eu poder me distrair. Ele me deu um iPod cheio de músicas que eu nunca tinha ouvido, mas que fui aprendendo a gostar com o tempo, e passei a ouvir o tempo todo.

Ele trouxe livros também. Alguns sobre vampiros. Não dava para ser mais sínico? Ele gosta de tirar sarro com tudo que os autores inventam sobre... nós. Eu me lembrei de tudo que lia quando era criança, mas não consegui achar mais a graça.

Eu resolvi me isolar aqui no quarto porque eu estou com medo. Não só de sair e acabar matando uma pessoa inocente. Mas de encontrar com o Estaca de Sangue. Mesmo que não fosse o meu grupo, qualquer um me reconheceria.

E se eu acabasse matando algum deles? Eu nunca me perdoaria. Mas ficar trancada também era bem difícil. Foi por isso que eu me entreguei às músicas, tentei me perder dentro das letras para esquecer os problemas.

Mesmo com os fones nos ouvidos eu ainda consegui ouvir passos se aproximando. O Marcus estava vindo. Mas eu não consegui sentir cheiro de sangue, ou seja, ele não estava trazendo uma bolsa. Fiquei um pouco decepcionada, mas eu estava conseguindo me segurar bem. Ele só me trazia sangue duas vezes por semana, como um “castigo” por eu não sair pra caçar. E eu passava um bom tempo me corroendo por dentro, com essa vontade horrível.

Enfim o Marcus abriu a porta e entrou no quarto.

– Você não larga mais esse iPod, não é?! – Ele disse.

Eu o ignorei. Fechei os olhos e comecei a balançar a cabeça ao som da música. Marcus ficou calado só me observando por um tempo. Comecei a me incomodar com o silêncio dele, então abri os olhos. Ele deu um sorriso malicioso.

– Pensei que não gostasse das músicas que eu coloquei aí.

– Se são as únicas, tenho que me contentar.

Ele riu e se aproximou de mim. A risada dele me irritava. E sua aproximação... mexia comigo. Tentei não demonstrar, ficar o mais normal possível. Mordi o lábio por um segundo.

– E as novidades? – Perguntei só para deixá-lo irritado.

– Sobre os seus amiguinhos? As mesmas de sempre. Mas estou começando a achar que eles estão quase desistindo de você.

Quando ele disse isso eu desviei o olhar. Não queria que ele visse como me senti magoada só de pensar naquela possibilidade.

– Sabia que eu estou me virando dos pés à cabeça para encobrir a morte do Luke? – Marcus falou.

– É mesmo? Pensei que você fosse o líder e poderia resolver isso fácil, fácil.

Ele ficou mais sério.

– Não é tão simples, caçadora. Líder ou não, nós não podemos ficar matando uns aos outros sem um real propósito.

Aquilo foi uma novidade para mim. Levantei a sobrancelha em surpresa.

– E é óbvio que se eles soubessem que você matou o Luke para me sal... – Eu comecei a dizer, mas parei. Ele tinha entendido o fim da frase. Apenas deu um leve aceno de cabeça e não disse nada. Resolvi mudar de assunto.

– O que você quer? – Perguntei.

Ele cerrou os olhos.

– A pergunta é: o que você quer?.

Eu franzi a testa. Mas depois me liguei no ele queria dizer.

– Não estou precisando de sangue. – Menti.

Ele não riu dessa vez. Aproximou-se e agarrou meu braço com força.

– Você está sim, e hoje não tem desculpas. Vai sair para caçar comigo.

Eu arregalei um pouco os olhos.

– De jeito nenhum!

Ele forçou mais o aperto em meu braço, arrancou os fones dos meus ouvidos, jogou o iPod na cama e começou a me arrastar para fora do quarto. Eu tentava me soltar, mas é claro que a força dele era maior que a minha.

– Já faz muito tempo, e você já me enrolou demais. Você tem que começar a agir como uma vampira de verdade. E vai começar hoje.

– Não sei se você percebeu, mas eu não quero ser uma vampira! – Eu falei alto. Pensei que ele fosse me calar, mas não fez nada.

Não consegui me safar. Marcus foi me arrastando por vários corredores, descemos escadas e andamos e andamos. Acho que nem dessa vez consegui decorar o caminho todo.

Depois de alguns segundos comecei a ouvir barulhos e vozes. Estávamos chegando perto de outros vampiros. O Marcus parou de andar antes de a gente entrar naquele grande salão. Virou-se para me olhar.

– Eles vão ter uma surpresa quando virem você. – Ele disse. – É só agir naturalmente.

Eu olhei para ele e depois para o corredor que nos separava dos outros vampiros. E por um instante me senti bem ao pensar na cara de espanto deles. Depois de tudo o que me fizeram passar, agora eu estava tão por cima quanto eles, se não mais. E eu pensei comigo, eles vão pagar. Assim como o Luke pagou. Mas dessa vez seria pelas minhas mãos. Comecei a ficar um pouco animada. Eu me soltei do Marcus e caminhei para o salão. Ele veio logo atrás.

Quando eu apareci, as conversas foram sendo silenciadas. Vários vampiros arregalaram os olhos ao me ver. Outros se afastaram e se posicionaram em defesa. Vi várias presas serem expostas para mim. E eu só senti vontade rir da cara deles. Eu olhei nos olhos de cada um, e eles perceberam que não tinha nem um pouco de medo em mim, só ódio. Marcus passou por mim e todos desviraram sua atenção para ele.

– O que significa isso, Marcus? – Uma vampira falou. E eu a reconheci. Foi aquela que deu uma cotovelada em meu nariz. 

De repente eu senti que agir naturalmente seria maravilhosamente fácil.

– O que você acha que significa? – Eu perguntei.

A vampira me olhou com raiva. Eu dei um passo em sua direção e ela se afastou automaticamente. Eu não consegui segurar um sorriso, que só a fez ficar com mais raiva.

– Está com medo? – Perguntei.

– Medo? – Ela falou. – Você não é nada perto de mim. Eu sou mais velha do que você imagina...

– Eu não perguntei sua idade. Não faz diferença para mim.

Tinha surgido uma insanidade dentro mim. Uma coragem maior do que nunca.

– Ela é uma de nós agora. – Marcus falou ao meu lado.

Eu não gostei de ouvir aquilo, mas também não protestei. Estava adorando mexer com aquela maldita vampira.

– Eu não sou obrigada a conviver com ela. – A vampira disse. – Você esqueceu que ela já matou mais vampiros do que podemos contar? Ela nunca vai fazer parte dessa sociedade. Quem foi que a transformou, afinal?

Alguns vampiros se juntaram a ela concordando. Eles estavam pensando que eu ia me deixar abalar porque não me queriam no grupinho deles? Eu comecei a rir de verdade. Mas um riso que vinha misturado com fúria.

Aquela era o momento de eu extravasar.

Quando menos aquela vampira esperava, eu agarrei as roupas dela e a encostei com toda força na parede. Ela arregalou os olhos e suas presas cresceram para mim. Todos os vampiros ao redor ficaram chocados e fizeram menção de se aproximarem, mas pararam. Acho que por causa do Marcus.

– Acho que dá pra perceber que eu não sou mais aquela coitada a quem você aproveitou para torturar.

– Para mim você continua sendo o mesmo lixo. – Ela disse e me jogou do outro lado do salão.

Acho que ela esperou que eu fosse me espatifar na parede. Mas para a surpresa dela e de todos, eu dei um salto no ar, meus pés tocaram na parede e eu me agachei no chão, sem nem um dano causado. Minhas presas tinham crescido também, fazendo todos soltarem mais uivos de surpresa, como se aquela fosse a prova final do que eu tinha me tornado.

Eu corri novamente para onde a vampira estava e a agarrei pelo pescoço. Ela segurou meu braço e começou a enfiar as unhas na minha carne. Eu sentia a dor, mas conseguia suportar muito facilmente. Apertei o pescoço dela mais e mais, ameaçando quebra-lo, até que ela foi soltando meu braço. Eu a joguei contra a cela onde eu tinha ficado presa. O impacto foi tão grande que as barras de ferro se entortaram todas.

A vampira soltou um gemido de dor. Eu olhei para o meu braço onde ela tinha enfiado as unhas e vi sangue escorrer. Mas eu podia sentir que o machucado estava começando a se curar sozinho. Voltei a atenção para a vampira e dei um sorriso debochado.

– Matar vampiros ensina muita coisa. – Eu disse.

A raiva da vampira só aumentou, e eu pude ver como ela se sentia humilhada também. Ela se levantou rapidamente e veio para cima de mim novamente. Eu deixei que ela me agarrasse. Ela me virou para a cela e me prendeu entre seu corpo e os ferros. Ela se afastou só um pouco e deu uma joelhada em meu estômago. Mais uma vez senti dor, mas totalmente suportável. Soltei um leve gemido.

– Sorte de principiante. – Ela disse rindo. – Mas acho que a sua já acabou.

Ela ia quebrar meu nariz novamente. Eu soube mesmo antes de ela tentar. Deu uma vontade imensa de rir, mas eu me segurei. Quando vi a mão dela se aproximando, eu a agarrei e torci o seu pulso. O grito dela ecoou pelo salão. Ela caiu de joelhos no chão e eu segurei seu maxilar. Notei como era simples arrancar a cabeça dela bem ali. Mas eu não o fiz.

Muito rápido eu quebrei um pedaço de uma barra da cela e coloquei sob o peito da vampira. Não era uma estaca de madeira, e não ia matá-la, mas ia doer pra caramba. A vampira ficou rígida. Levei o braço para trás e dei o impulso em direção ao meu alvo.

– Pode parar. – Marcus falou. Meu braço estancou no meio do caminho.

Eu tinha ficado tão focada naquela “luta” que tinha esquecido do Marcus. Eu não olhei para ele. Meu maxilar estava enrijecido e minha mão tremia, ainda querendo fazer o movimento. Mas eu consegui me controlar.

– Não me subestime. – Eu disse a vampira e me afastei, soltando o ferro no chão.

A vampira se recompôs, depois olhou para o Marcus e falou indignada:

– Você a transformou.

Um coro de choque e indignação surgiu entre os vampiros. Marcus olhou para cada um deles bem lentamente, como se estivesse os desafiando a questioná-lo. Nem um deles se moveu, mas não pareciam satisfeitos.

– O que você estava pensando? – A vampira perguntou. – Isso não podia ter...

– Eu disse que já chega. - O Marcus a interrompeu antes que ela continuasse. Ela se calou contrariada.

Todos os vampiros estavam perplexos e quando eu comecei a andar, eles se afastaram com medo de mim. Eu lancei um olhar para cada um deles, avisando que era para tomarem cuidado comigo. Apesar do medo, eles ainda tinham ódio de mim. Mas eu vi que não ousariam chegar perto.

– Vamos. – Marcus disse e eu o segui. Alguns vampiros vieram atrás, mas com cautela pra ficarem longe de mim. A vampira não nos seguiu.

Quando eu saí daquele lugar, vi o céu escuro e estrelado e senti o ar frio da noite. Foi uma das melhores sensações que já tive. Eu me senti livre. Realmente livre depois de muito, muito tempo. E com toda a força que eu tinha agora, eu me sentia insuperável. Era como se o mundo pudesse ser meu para eu fazer o que quisesse.

Eu puxei o ar só para ver o que sentiria. E foi diferente lá fora. Eu quase gostei de respirar. Mas ainda não fazia muita diferença.

– Você está se sentindo invencível, não é?! – O Marcus falou.

Eu não queria admitir, mas dava para notar que eu estava.

– Eu estaria melhor se você não tivesse interrompido minha performance. - Falei.

– Eu sou mais velho do que qualquer um daqueles vampiros, e isso faz de você tão poderosa quanto eu, porque é minha cria. Mas você não pode usar isso para passar por cima de outros vampiros. Existem regras.

– Eu só estava me divertindo. – Eu falei. Não queria um sermão dele sobre o que eu podia ou não fazer. – Não foi você quem disse que eu tinha que começar a agir como uma vampira?!

Ele me analisou por uns segundos, depois olhou para o caminho a frente.

– É. Mas vamos ver como vai se sair no mundo aqui fora.

Eu o encarei, até que ele falou novamente:

– Eu posso até te recompensar depois se você fizer tudo direitinho.

Eu vi um sorriso malicioso surgir em sua boca. Me arrepiei com as palavras dele. Eu sabia que ele estava tentando me provocar com insinuações. Ignorei.

Eu olhei para o caminho à minha frente também e de repente não me senti mais tão poderosa.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Estão afim de ver a Joy bebendo sangue de um pescocinho mesmo? Será que ela vai conseguir? REVIEWS! REVIEWS! :DD