Naya: Crônicas de Atlas escrita por Antonio Filho


Capítulo 3
Capítulo I: Contos de Fadas parte 2




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Tédio.

Isso resumia as aulas de etiqueta com o a professora Melith. Segurar copos, escolher talheres, manter postura. A fada não tinha o menor interesse nessas lições, expressando esse sentimento claramente revirando os olhos quando era corrigida. Por sorte, a fada ranzinza que ministrava a aula dispunha da permissão para ver o tormento por de trás do Véu Régio, permitindo que a esperança de que ela ensinasse algo menos chato continuasse viva.

Lecionavam-se atividades relativamente simples para quem já havia aprendido a escrever runas de poder em sílfico arcaico, mas a monotonicidade de assimilar um conhecimento sem utilidades mágicas fazia com que o tempo passasse mais vagarosamente que o usual. Identificar qual talher deveria ser usado para cada prato e, qual mão utilizar para segurá-lo, se tornava mais complicado que memorizar um ritual de conjurar tempestades.

‒ Naya, concentre-se mais! Uma princesa da sua idade já deveria fazer tudo isso até de olhos fechados! ‒ Rosnou a mestra, tentando não elevar o tom severo para gritos. Ambas já estavam impacientes das três horas de aula aparentemente sem sentido.

‒ Eu estou tentando, mas é impossível memorizar essas coisas! – “Talvez não fosse difícil se não fosse tão chato...”.

Melith já cansada lança um longo suspiro: o típico anúncio da desistência pelo dia. A idosa liberava frustrada a garota para ir, afinal, investiam tempo desde o término do almoço.

Elegantemente, de modo claramente provocativo, Naya limpou a boca com um guardanapo, levantou-se em reverência e abandonou a sala. Ao sair do campo de visão da professora, seu corpo se libertava das convenções que ela tanto exigia, iniciando uma corrida pelos longos corredores do castelo.

A fada sempre se desafiava nessas correrias, apostando consigo mesma que não riria ao passar pelas alas em que achavam-se os quadros das primeiras monarquias. Dezenas e mais dezenas de pinturas das mais diversas ocasiões. Como sempre, perdia: impossível não soltar gargalhadas ao ver as roupas e poses ridículas daquelas pessoas nas telas. Finalmente algum tempo livre.

O grande pórtico de cristal. A entrada do castelo mais parecia uma obra de arte, portando 25 metros de altura. Guardada por dezenas de soldados armados até os dentes, não transmitia menos que a agradável sensação de segurança absoluta. Que infelizmente acompanhava-se da de confinação.

As duas grandes colunas flutuantes de suporte eram mais que merecedoras de guardarem a passagem principal da cidadela, afinal, contavam com mais puro diamante branco em sua massa. Digno de admiração, os pilares de sustentação giravam lentamente, sem danificar os portões mágicos: vitrais rúnicos cem vezes mais resistentes que o mais poderoso aço forjado pelos gigantes de Jotun.

Por questão de segurança, precisava-se de permissão para entrar ou sair da fortaleza.

‒ Alteza, Sua Majestade está ciente que a princesa abandona o castelo? - Indagou o capitão dos guardas de vigília, dirigindo-se da forma reverencial reservada aos Elvellons.

‒ Não. Não pretendo sair das propriedades reais.

‒ Quantos guardas deseja?

‒ Nenhum. Estou bem.

O Capitão a olhou receoso. Encarou de volta seu batalhão, apontando-os:

‒ Tem certeza, senhorita? Meus melhores homens estão aqui.

‒ Sim, Capitão Tylan. Pode dizer ao meu pai que eu não vou a lugar algum.

‒ Eu não estava insinuando... Muito bem. Liberem a passagem! – Ao anunciar, os magos responsáveis pela abertura iniciaram em conjunto um ritual que lentamente abria o pórtico com o levantar das mãos, erguendo toneladas de forma tão simples. Os movimentos suaves da terra para o céu não transpareciam o esforço que aqueles quinze magos deveriam suportar para manter o equilíbrio mágico do ritual, afim de evitar o risco de danificar a perfeição da obra numa queda. Certamente seria desastroso: paredes cederiam e o chão afundaria.

Era imediata a sensação da brisa de outono, carregada de presságios de um inverno que nunca chegaria. Afinal de contas, Valerian agraciava-se com os encantamentos da família Vecchis, os nobres portadores da magia da vida. Assim, espantando os ventos do norte e estendendo uma primavera duradoura e multicolorida, os feéricos conviviam eternamente com a vitalidade de apenas três estações.

Sussurrando um feitiço para revelar seus dois belos pares de asas translúcidos, Naya decolou em direção aos bosques reais, um de seus locais preferidos.

Havia algo em seu coração que a dizia que parte dela pertencia a esse lugar. Os momentos que vivera lá, possivelmente. Naya não tinha certeza. Meio termos como esse a incomodavam. Não eram tudo nem nada, mas um talvez. Uma continuidade improvável e hesitante. Para sua sorte, quando voava só isso existia.

O voo libertava, embora fosse muito dispendioso. Permitia a visão e o tato da paisagem arbórea de Valerian do modo como os pássaros eram tão mais acostumados a captar. Não fazia esse passeio por menos: nessa época do ano, o outono deixava o reino ainda mais mágico que o normal, transformando as folhas das árvores naturalmente vermelhas numa bela queda alaranjada.

Como de costume, a fada pousou suavemente numa clareira construída para os homens da nobreza que caçavam por esporte nessas terras, seguindo a pé por uma trilha.

Percorrendo o caminho demarcado, quase completamente encoberto pelas folhas secas, a fada se sentia muito mais confortável nessa floresta, cheia de pássaros cantarolando e esquilos à procura de comida, que nas luxuosas salas do castelo de sua família. Dos caules e galhos desbotados, grossos e regulares, às folhas multicoloridas que caíam como a neve, carregas pelas brisas frias sazonais: tudo acontecia mais serenamente. Porém, hoje não estava no bosque apenas para desfrutar dessa tranquilidade. Viera em busca de alguém. Adentrando a mata e comparecendo ao lugar marcado para o encontro, os Lagos Safíricos, ela esperou.

Um belo local invisível pela densidade florestal para aqueles que avistavam de longe. Uma pequena cachoeira jorrava água cristalina, tomando cor azul límpida que se estendia até o fundo infinito, cercado por inúmeras lagoas menores. Não se via nada além de profundezas ao olhar para baixo, mas medo algum surgia. Haviam boas razões para isso.

Era ao mesmo tempo mundano e nostálgico visitar esse local. Lembrava-se de quando o tempo permitia, vinha se divertir com os proibidos “amigos da cidade”. Rubi Aimere, Gerard Melanar e tantos outros. Quantas loucuras esse lugar presenciara.

Proibido, claro. “A herdeira direta do trono não deve expor-se em público e, em caso de necessidade, sua identidade deve ser preservada”. Em outras palavras, não havia possibilidade de abandonar o palácio sem antes assumir outra identidade. Logo, fazer amigos se complicava, ainda mais com dezenas de guarda-costas a quase todo momento no mundo exterior. Mas por sorte, Naya podia contar com alguém para trazer um pouco da vida de fora para a quase impenetrável bolha de isolamento Elvellon. Lá estava ela.

‒ Adna! Você veio!

‒ Naya, há quanto tempo!

Correndo uma em direção a outra, as fadas se abraçaram apertado, como se não vissem há séculos. Primas e melhores amigas, carregando o mesmo sobrenome, ambas comportavam um peso similar. Tinham que cumprir diversas obrigações régias, porém, Adna não tinha o fardo de no futuro ser a próxima rainha. Sim, um fardo. Naya enxergava a coroação como mais alguns milhares de obrigações, tais como deveres diplomáticos, visitas internacionais e mais regras de etiqueta.

Naya jamais conseguira se ver como uma governante igual sua mãe, uma mulher de verdade. Poderosa não apenas politicamente, mas também em sua magia. A soberana das fadas combinava graciosidade e rigidez perfeitas, que ao lado de Oberon, seu marido, homem que à primeira vista poderia parecer ríspido e frio, mostrava-se um mago honroso que buscava a paz no Mundo Mágico. Um universo político desinteressante. Mágico, mas sem encantos.

Acreditava-se desde que se conhecia Magicália como a Terra da Magia, que a nobreza nascia com o dom nato da governança. Tal fato fazia com que Naya pensasse se havia alguma possibilidade de ter sido adotada. O poder das decisões não a seduzia: sequer conseguia decidir sem titubear os rumos de sua vida, o que a faria pensar que poderia ser melhor tratando-se de guiar milhões de pessoas?

Sentando à beira do lago sobre os pedregulhos que margeavam a água cristalina, via-se até os pequenos peixes a dezenas de metros de profundidade. Apenas as pernas mergulhadas sobre a água morna.

‒ Então, gostou do Anthor, não é mesmo? ‒ Perguntou Adna, já certa da resposta.

‒ Você tinha razão. Ele é diferente, meio... esquisito.

‒ Por isso achei que vocês se dariam bem.

‒ Ah... Ei! ‒ Ralhou Naya, inconformada, atirando água contra a prima.

As garotas conversaram por muito tempo, marcado e testemunhado unicamente pelo sol. Embora Adna também fosse uma Elvellon, seus pais haviam sido transferidos há 10 anos para a sede administrativa do condado de Lítia, local famoso pela arquitetura moderna de traços orgânicos e originais. Infelizmente, no extremo noroeste de Valerian, longe da capital peninsular ao sul.

A ancestralidade da família atribuía algumas semelhanças às garotas, como suas peles claras e estatura baixa, comum entre fadas, mas terminando aí. Enquanto Naya possuía longos cabelos negros repletos de ondas que emolduravam seus olhos castanhos, Adna era dona de um invejável semblante lunar: cabeleira de neve e olhar esmeralda.

Ela poderia ter qualquer homem a seus pés, desde burgueses até a mais alta nobreza. A princesa de Lítia, a mais adorada pelos professores e aristocratas de Valerian. Naya sabia, com certeza, que o cavalheiro que ganhasse a mão e o coração de sua prima seria o sujeito mais feliz do mundo, visto que além de uma nobre perfeita, Adna era doce e gentil. Seu porte de fato amedrontava pretendentes: sempre elegante, fina e altiva. Mas Naya entedia os motivos de tanta postura, e não lhe tirava a razão. Sequer tocava no assunto, evitando ressuscitar lembranças desnecessárias.

As garotas não tinham mais tantas oportunidades para se encontrar e sair para se divertir como faziam antigamente. Claro, o tempo passava de maneira diferente para sua raça devido a longevidade, mas a saudade que se sente por amigos verdadeiros surge sempre que palavras de despedida são pronunciadas.

‒ Aulas de etiqueta com a Melith? Essa é persistente. ‒ Zombava a garota, imitando o modo como a professora batia seu báculo na mesa para chamar a atenção de suas alunas.

‒ Se fosse apenas ela... A maioria dos professores aqui enche demais! – Naya reclamava enfurecida. – Se ao menos essas aulas tivessem alguma utilidade, mas quem é que precisa saber com que mão você tem que segurar um maldito garfo?!

Adna ria dos comentários, levando sua prima ao mesmo caminho. Ela sabia que Naya nunca havia gostado das convenções sociais nobres, mas ao menos tentava aprender, mesmo contra sua vontade férrea. Ser da realeza significava muito mais que apenas desfrutar de dinheiro e poder: precisava-se manter a imagem perfeita, pois nela que a sociedade se espelharia. Uma missão digna de poucos. Ditar os rumos da sociedade. Ser o responsável por manter a imagem de um povo para o mundo consistia num dos deveres das aristocracias. Os valerianos remetiam exemplo de elegância e requinte para todo o planeta, fruto de trabalho duro e complexos rituais desenvolvidos com o tempo.

‒ Você nunca pensou como deve ser a vida de uma pessoa normal? Sem todas essas obrigações, sem essa expectativa... Ter apenas as preocupações de uma fada comum. Precisar pensar que em poucos anos suas decisões vão influenciar a vida de milhões de pessoas é... Assustador... ‒ Murmurou Naya, mirando as águas.

Percebendo a mudança súbita na expressão da amiga, que estava com os olhos cheios, Adna viu-se numa situação empaticamente complicada. Ela fitava o fundo do lago, lutando para não deixar as lágrimas escorrerem.

As garotas já não se viam ou conversavam bem há muito tempo. Naya deveria estar carregando estresse que poderia levar uma pessoa comum ao suicídio: a prima conhecia plenamente a pressão que existia sobre as pessoas da capital em relação à perfeição. Mas também sabia que não se tratava de algum tipo de crise emocional, mas de uma batalha que há anos envolvia desde sua identidade até sua independência.

Colocando-se em seu lugar, Adna conseguia imaginar como deveria ser difícil desenvolver seu o próprio eu quando sequer era permitido que fosse revelado o rosto para outras pessoas, salvo raras exceções. O Véu Régio se fazia no mínimo supérfluo e ultrapassado. Tradições que não deveriam ser questionadas, mas isso não impedia sua reflexão.

Sacrificar tudo pelo seu país. Isso significava ser uma princesa. Naya sabia que a posição em que nascera para ocupar tinha um grande valor simbólico. Não apenas de honra e realeza ele se construía, mas de deveres e responsabilidades com toda uma nação. Não havia nada mais digno no mundo dos feéricos que servir ao seu país, contribuir com a glória e a eternidade dos reinos das fadas.

Naya pensava nesse sentimento. Compromisso. Talvez fosse essa uma das únicas motivações que a mantivesse firme por todos esses anos. Muitos príncipes e princesas já haviam ocupado a posição que a pertencia, cumprindo essa tarefa com perfeição e, agora, sua vez de repeti-la acontecia.

Pensar no povo com altruísmo deveria estar no coração das altezas para assim, quando majestades, pudessem assumir o trono com plenitude. “Você compreenderá o seu destino quando olhar nos olhos do povo e perceber que as esperanças de todos estão depositadas em ti, meu amor. Para cumpri-lo com perfeição, você precisará contar com muito mais que apenas a si mesma”.

Naya lembrava das palavras ditas pela mãe naquela dia cômico de verão. Pretendentes dos reinos de Valrose e Aurea haviam viajado até Valerian para uma série de exibições de magia e destreza, saborear banquetes e cortejar a herdeira. Se fazia importante manter as monarquias feéricas de Magicália próximas diplomaticamente.

Tudo correu maravilhosamente bem. Todos os quinze silfos se mostraram poderosos e galantes, mas da mesma maneira voltaram para casa. A princesa recusou um a um, até voltar sozinha para o castelo, espantando toda a alta-sociedade. “Como eu posso me casar com alguém que eu acabei de conhecer e sequer pode me ver como eu realmente sou?”.

Sua mãe não pensava da mesma maneira, envergonhando-se pela petulância da filha diante de todos aqueles olhos que julgavam. Ela enxergava com profundidade os laços de união entre os países: coisas como o amor não faziam parte das regalias que um nobre poderia esperar.

Adna estava ciente de que Naya era alguém tão cabeça dura quanto seu pai. “Talvez tenha aprendido com ele mesmo”. Para não pensar em palavras como ousada, agressiva e pavio-curto, a prima preferia acreditar noutra hipótese. Que ela não se abria facilmente para pessoas porque não confiava em damas e companhia ou nos poucos íntimos. Essa postura aumentava o peso carregado ainda mais, que deveria ser aliviado das costas em desventura.

Ela pensou um pouco e tentou resolver o problema:

‒ Eu sei que às vezes, você pode ficar aborrecida com todas as exigências da sua família, todas essas tarefas. Mas acho que sei um jeito de te distrair, nem que seja só por algum tempo. Você precisa descansar um pouco. Teremos que esperar até o anoitecer.

‒ Tudo bem, mas o que...

‒ Você vai ver.

‒ Mas...

‒ Só espere. ‒ Cortou Adna, risonha com a impaciência curiosa dela. ‒ Vamos aproveitar o momento. Você sabe quem vai aparecer logo.

Naya não entendeu muito bem, mas esperou com expectativas infladas, aproveitando o espetáculo do pôr do sol que caia no horizonte, dando lugar ao luar que iluminava a superfície do lago. Não apenas refletia-se a luz pálida e mortiça, mas também revelava as pequenas Damas da Floresta que habitavam os bosques.

Como se as luzes das estrelas caíssem sobre Atlas, as beldades da família Weissen estavam se revelando mais uma vez. Pequenas como borboletas, mostravam-se durante as noites de lua cheia, piscando na quase escuridão, alternando entre o estado material e etéreo. Corretoras de distúrbios naturais e guardiãs das florestas, as “fadas de véu” dançavam como bailarinas ao vento em seus vestidos brancos. Seu espetáculo promovia ondas de vida e morte, mantendo o sutil equilíbrio do reino. O baile regia-se pelo orquestral de sons da naturais, que clamavam por ordem ao fortuito.

‒ É hora.

A lua cheia refletia seu espectro no lago principal, profundo, agora sombrio. Adna ajoelhou-se sobre seu vestido e firmou as mãos na água. Num toque gentil e mágico, tornou a congelar lentamente a superfície com apenas um sussurro inaudível de encantamento, enquanto sua mana fluía invisível. A magia acontecia, erguendo sobre o estalar do gelo um grande espelho frígido, envolto em névoa e geada invernal. Apavorados pelo som desconhecido dos cristais de gelo em formação, todos os pequenos animais das redondezas fugiam.

Recitando palavras mágicas de feitiçaria, o centro do espelho passou a emitir um brilho púrpuro, rotativo e pulsante, que aos poucos, tomou a forma de uma mulher presa na lâmina vítrea e espelhar. Ela foi rapidamente reconhecida pela coroa prateada que decorava sua bela cabeleira negra.

‒ Olá garotas, a que devo a honra? - A voz da feiticeira soava de modo doce e malicioso, assim como o sorriso esboçado em seu rosto suave.

‒ Sinandrin! Há quanto tempo. Eu e Naya gostaríamos de pedir um favor a Vossa Majestade.

‒ Por favor, Adna, nos conhecemos há anos, não são necessárias formalidades! ‒ Protestou a maga, que se sentia da idade do Monte Eras quando pessoas próximas a chamavam-na por nomes reverenciais. ‒ Então, diga-me, em que posso ajudá-las?

‒ Sabe, é que minha priminha está com alguns problemas. Ela está enlouquecendo com isso de virar rainha. Será que você poderia nos ajudar? - A fada falava com um sorriso irônico estampado no rosto, acompanhado pelos protestos enérgicos de Naya.

Pensando por alguns breves segundos, coçando o queixo com a unha afiada do dedo indicador, a rainha começou:

‒ Querida, você gostaria que eu fosse ai para conversar com vocês pessoalmente?

‒ Eu acho que...

‒ Já entendi a situação, querida. Seu problema. Pelo que te conheço, você gostaria de sumir por um tempo, uma aventura de uma pessoa normal, correto?

“Ninguém vai me deixar terminar uma frase, céus?!”.

‒ Sim, eu acho que sim... Mas eu não estou “enlouquecendo” tá? ‒ Esclarecia indignada, olhando para Adna, que continha as risadas, apertando os olhos verde-esmeralda.

‒ Muito bem. Uma aventura. Vocês têm certeza que é isso que querem?

‒ Sim! - Ambas responderam sem dúvida alguma ‒ Mas, nossos pais vão notar se não voltarmos hoje - Lembrou Adna, subitamente e desesperançosa.

‒ Não se preocupem. Enviarei uma carta avisando que estarão comigo pelos próximos dias. Porém, primeiramente vocês terão que trocar essas roupas.

Sinandrin estava certa, as roupas da realeza eram muito chamativas. Ao perceber a intenção de que elas preparariam uma magia para se trocarem, a feiticeira sinalizou em negativa. Após um mísero segundo de concentração, os olhos da elfa emitiram uma forte luminosidade azul. Num instante, sem qualquer recitação ou movimento, as glamorosas roupas da realeza valeriana haviam sido trocadas por simples vestidos florais. As garotas se espantaram: Sinandrin conseguia lançar suas magias mesmo estando em outro continente.

‒ Agora, deem as mãos. Quando o portal surgir, entrem.

Após alguns momentos, a imagem do espelho desapareceu, dando lugar a um vórtex de energia barulhento como uma tormenta em alto mar.

Intimidadas, as fadas pensaram duas, três vezes, mas confiaram em sua amiga de longa data. Segurando as mãos, como ordenado, fecharam os olhos e entraram, gritando todo o medo e emoção. Era agora ou nunca. Talvez essa fosse a única oportunidade que Naya tivesse de sair pelo mundo sem seus pais controlarem todos os seus movimentos.

Sinandrin, a rainha suprema de Pandora. Sentada absoluta em seu trono de prata, o rosto apoiava-se leve e tediosamente numa das mãos. Ela observava numa esfera a viagem das garotas. Sorriu novamente, de seu modo doce e malicioso, ao observar as garotas entrarem no portal.

‒ Bem-vindas a Nimphos. – Sussurrou para si mesma.


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