Contos De Gaveta escrita por Mamy Fortes


Capítulo 3
Olhos verdes.


Notas iniciais do capítulo

As notas desse capitulo foram editadas. Primeiro, porque eu levei muitas broncas pelo pessimismo delas. Segundo porque agora eu gosto muito mais desse texto do que quando o postei, então tomei a liberdade pra mudar.



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Cutucaram-lhe na rua. E bastou que ele encarasse os olhos verdes para que se lembrasse: São verdes os olhos da cobra.

Na memória, voltavam-lhe as batidas na porta às 5 horas da manhã. E os mesmos olhos verdes ocultos por um frio sorriso e pelas duras palavras: “Por que você não me avisou que acabou?”

Lembrou-se de por a moça para dentro, desentendido por sono, ou por fazer-se assim, e perguntar a ela sobre o que dizia. Lembrou-se dos olhos verdes o encarando na cama, temerosos, e depois de não encará-los mais. Nunca mais. Lembrou-se de estar sozinho ao acordar, e de não mais ter batidas na porta às 5 da manhã.

Apenas lembrou-se, de súbito, e preferiu esquecer. E então esquecido, perguntou:

– Quem é, afinal, você?

E pôde ver os olhos verdes se tornando apáticos, e ouviu num tom de deboche:

– Prazer, sou a sua vilã.

~'~

Tristes olhos verdes dobraram a esquina, não se importando com o atordoamento que deixavam para trás. A dona dos olhos pensava nos motivos que a levaram a cutucá-lo na rua. Já fazia tanto tempo, e ela já tinha sido esquecida. Agora, porém, ele se lembraria dela como a vilã que dizia ser. Esperava ela que ele fosse reencontrá-la aos abraços? Talvez só quisesse se explicar.

Por trás dos olhos verdes, incômodos flashes. Ela surtando as quatro, batendo na porta dele às 5 da manhã. Se fazendo distante, e percebendo-o distante, sem considerar o sono que o fazia assim. Lembrava-se de si própria fugindo na calada da noite e de não saber mais com que cara voltar.

Se arrependia. Não era a vilã, afinal. Mas os olhos verdes jamais renunciariam o orgulho de cutucá-lo novamente para tentar se explicar. Então, sumiram na multidão os belos olhos verdes. A luz do dia, dessa vez.

Foram fitar o mar. Belos olhos verdes que encontrariam alguém de quem ela não mais fugiria, naquela mesma praia, dia desses. E aceitariam que o jovem a quem deixaram de admirar jamais os considerara cruéis, nem mesmo por um instante. E voltariam a sorrir, os olhos verdes.


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Notas finais do capítulo

Conversem comigo, tá? Eu gosto de quem conversa comigo sobre os meus contos.