Contos De Gaveta escrita por Mamy Fortes


Capítulo 17
Ao pé da escada.


Notas iniciais do capítulo

Ahm, oi. Eu sei que demorei uma enormidade pra voltar a postar, e, juro juradinho, tô morta de saudades. Mas estava (e ainda estou, na verdade) enfrentando uma crise de criatividade bem brava. Vou poupar vocês dos detalhes. Esse capítulo ainda é um rascunho bem frágil do que eu queria dar pra vocês, mas é tudo o que ando conseguindo. Portanto, talvez eu volte e edite, não só esse capítulo como todos os outros da história, com risco de que um ou outro seja excluído. É isso.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/334699/chapter/17

– Sabe, minha filha, - dizia ele à enfermeira, enquanto ela lhe trocava o cateter - quando minha Leonor era viva, sábado era dia de ir ao parque, e não de trocar o cateter. Nós ficávamos inventando vidas para os que passavam, como deuses velhos sem mais o que fazer. Mas agora, minha filha, eu tenho que ficar aqui, deitado, só com essa maldita escada como única vista.

Era fato o que dizia. Depois da morte de Leonor, os filhos o mandaram para o melhor asilo da região, onde ele, debilitado, passava os dias sobre uma cama, frente a uma janela de vista para uma grande escadaria. Não era, para ele, um tempo muito feliz.

As enfermeiras, que sempre sorriam ternas, já se cansavam das mesmas histórias e respondiam, em resignação, sempre as mesmas palavras: “Sinto muito, Seu Joaquim”. Essa enfermeira, porém, fugiu ao roteiro, dizendo:

– Joaquim, por que é que você não brinca de Deus com essas pessoas que vivem passando aqui, por essa escada? Creio que Leonor aprovaria. Vamos, eu começo. Aquela moça, bem ali, não lhe parece que foi abandonada pelo noivo? Digo pelas olheiras, que parecem demonstrar uma insônia amorosa, não?

O senhor encamado logo comprou a ideia, e entrou no jogo. Nos dias que se seguiram, uma mulher, que ganhou o nome de Juliana, parecia esperar o retorno do filho, no exército. Um casal franzino ganhou uma declaração muito bem dublada, que dizia que a moça estava grávida, e que em breve se casariam. Uma família, visitando um senhor, ganhou uma história de arrepiar os pelos da nuca, embora parecessem inofensivos. Joaquim não poupava nem mesmo as enfermeiras, fiando-lhes as mais complexas tramas ali, ao pé da escada.

Certo dia, um par de brincos apareceu no parapeito da janela. A enfermeira, sobre esse acontecimento, nada disse. Mas Joaquim, reparando nas pérolas lustrosas, comentou:

– Sempre há uma tristeza em brincos esquecidos, reluzindo inutilmente e pegando pó, não? A moça que os esqueceu talvez tenha se atrasado e por isso tenha-os esquecido.

– Ou talvez não tenha ninguém para reparar em suas orelhas vazias, Joaquim. – Retrucou a moça.

– É, pode ser. Fato é que eles sempre terão uma história para contar, mas esquecidos sobre o parapeito é que jamais serão ouvidos.

Joaquim nunca chegou a conhecer a dona dos brincos.

Ao chegar novamente sábado, a moça do cateter não encontrou o paciente, senão ao pé da escada. E desta vez, ninguém precisou esforçar-se em criar uma história. Sabia-se exatamente o que acontecera. Um senhor ousara visitar o palco de suas histórias, num último suspiro. A causa da morte pouco importava.

No dia seguinte todos vestiam preto. Uma enfermeira, de orelhas nuas, chorava copiosamente ao jogar as pérolas por sobre o caixão. Na lápide ao lado, “Leonor Pinheiro”. Na recém colocada, “Joaquim Pinheiro”. Em letras garrafais a história se resumia: “E foi ao pé da escada que concluiu a própria história.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Só pra lembrar, meus títulos horriveis tudo entregam, eu sei. Gente, mais uma vez, desculpa. (Penny, tô trabalhando no seu capítulo, tá?)
É isso. Obrigada por carregarem com os olhos minhas palavras ocultas na gaveta.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos De Gaveta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.