Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 6
Capítulo V - Something so beautiful that everytime I look inside


Notas iniciais do capítulo

Oi. Desculpem pela demora. Problemas na família. Provas. Bloqueio criativo. Mas consegui.Espero que gostem de ler assim como gostei de escrever. (dia 6 foi aniversário da Marcella. Eu queria ter postado isso aqui naquele dia. Bem, feliz aniversário atrasado! Dedico esse capítulo a você ♥)



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– Quer dizer, eu tive motivos para ficar irritado. – digo. – mas não queria ter falado com ela daquele jeito. Piper tem a cabeça dura, mas eu sou pior. Ela é minha melhor amiga! E sempre vai ser. E… Eu disse isso para ela. Tipo, há dez minutos. Fiquei batendo na porta de seu quarto e comecei a tagarelar. Ela pode até ter ouvido, mas uma boa parte de mim acha que estava no quinto sono e me fez pagar de idiota. Porém, devo fazer isso sozinho. Sabe, pagar de idiota. Afinal, quem é que fala com a Lua e as estrelas?

Eu olho para cima, esperando por uma resposta que nunca irá chegar. A brisa fria me dá calafrios, mas gosto disso. A sacada no final do corredor tem vista para o lago e é aconchegante.

Já se passa das 03:00. A insônia é uma velha amiga, afinal.

– Gosto de como a Rainha da Beleza se preocupa comigo. – continuo. – é que… Não sou mais criança. Sei me virar sozinho. Assim como… Assim como sempre me virei. E, cara, como sou estúpido. Agora tudo parece uma briga boba e infantil. Eu devia… Devia agradecer por alguém se importar comigo.

A Lua brilhante, lá em cima, de certa forma me irrita.

– Não vai responder? Ah, cara, sei que fui idiota, mas algumas palavrinhas amigáveis seriam muito legais no momento.

Me apoio no parapeito da sacada, observando as águas calmas do lago. Leo Valdez, o cara que, além de ser órfão, ter medo de fogo, ser o antissocial da turma e trabalhar numa livraria mesmo sendo disléxico, é esquisito a ponto de conversar com a Lua. E com as estrelas.

– Não sou a Lua, mas acho que você devia conversar com Piper. De novo. E, de preferência, quando tiver certeza de que ela está acordada.

Meu coração dá um pulo e me viro, surpreso. Reyna dá um sorrisinho. Ela substituiu o vestido por calças de moletom e uma camiseta de pijama do Mickey Mouse. O cabelo está um pouquinho bagunçado e o sono está estampado em seu rosto. Mas continua linda. E muito.

– Acordei você? – coço a cabeça, completamente sem graça.

Dios mío, que eu não esteja corando.

– Bem, eu já tinha decido tomar um copo de leite. – ela boceja. – e então ouvi uma voz. Pensei que estivesse louca. E acabei por ouvir sua conversa. Ou monólogo.

– É um monólogo. – concluo, sorrindo amarelo.

– Está frio aqui. – ela esfrega os braços de uma forma adorável. – você gosta de chocolate quente com marshmallows?

E me pego sentado na bancada, balançando os pés como se eu fosse uma criança feliz. Reyna me entrega uma caneca laranja fumegante com uma quantidade generosa de marsmallows. Ela se senta ao meu lado, com uma caneca igual. Mas, ao invés de laranja, roxa.

Fazemos aquele brinde estranho, o tal do tim-tim. Ela comenta algo sobre isso ter surgido por meio dos romanos, que brindavam para selar o fim de um conflito. O vencedor tinha que dar o primeiro gole para provar que não iria envenenar o coleguinha.

– Então, se por algum acaso você tivesse colocado cianureto na minha caneca – brinco. – ia morrer também ou eu teria que voltar para puxar o seu pé na cama?

– Ah, o rapaz da Lua descobriu meu segredo. – Reyna dá de ombros, tomando o primeiro gole. – prefiro morrer com você, se é assim.

Suas palavras me fazem sorrir.

– Então, sobre aquele seu monólogo com astros. – ela gira a caneca em seus dedos. – não se preocupe. Você, mais do que ninguém, deve saber que Piper não é de guardar rancor. Ela é doce e gentil, sempre leva tudo na boa.

– Até alguém irritá-la. – completo.

– É. Mas garotas são assim. Mulheres são assim, afinal. Instinto protetor. Você é como um irmão para ela, é normal que o proteja. E também é normal que se sinta, ahn, sufocado com isso.

Silêncio. Apenas assinto com a cabeça.

– Sabe, nós não nos falamos muito... – continua. – mas, se você precisar de alguém para conversar, ou simplesmente ficar olhando pra algum ponto fixo na parede, falando sobre tudo e não dizendo nada, eu estou aqui.

Ela abre a boca novamente, e então torna a fechá-la. E depois de alguns segundos, decide continuar.

– Porque é fácil falar com você, Leo. Sempre achei que fosse aquele tipo de garoto fechado em seu próprio mundo, até o dia do poema. E depois o desenho. Eu adorei, sabia? Você é talentoso.

Eu murmuro um "Obrigado" num tom tão baixo que duvido que ela escute. Tudo que quero fazer é puxá-la para meus braços e, sei lá, ficar desse jeito para sempre.

– Ah, por favor! – ela deixa a caneca de lado e me dá uma cotovelada nas costelas, rindo. – isso não é um monólogo.

Seu sorriso é lindo. Ela devia sorrir mais.

– Obrigado. – repito, sorrindo. – por me livrar do monólogo com a Lua, pelo chocolate, por tudo.

Não é como se eu tivesse um daqueles planos completamente insanos onde há coisas do tipo "Fase 1: respirar perto de [insira aqui o nome]". Mas, se tivesse, estaria no "Fase 327: falar com Reyna de forma civilizada e sem falar besteira. Ou gaguejar. Ou pior".

Nós conversamos sobre coisas completamente inúteis até o amanhecer, e tudo passa tão rápido que nem noto. Quando os primeiros raios de sol entram na cozinha dos Stoll, percebo que Reyna é mais do que a garota do frappuccino com muito creme e pouco caramelo.

Ela é Reyna, que também gosta de conversar com a Lua. Que lê romances policiais de madrugada, tem medo de espantalhos e que não come aspargos. Reyna, que coleciona chaveiros e deu risada quando eu disse que nunca colecionei nada porque acho que vou acabar perdendo tudo.

Noto que tem essa mania de colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha toda hora. Enquanto ela fala, observo o formato de seu nariz, a linha do queixo, as sobrancelhas em arco, os cílios longos.

Ela é praticamente um anjo.

– Quem é um anjo? – pergunta, erguendo uma sobrancelha.

– Ninguém! – exclamo, envergonhado. – e-eu só estava... Falando sozinho. Só isso.

Reyna dá de ombros, meio que rindo. Ela comenta algo sobre ter ouvido passos no andar de cima, mas algo me distrai. Seus olhos.

Vidro vulcânico. Obsidiana. Olhos negros, profundos, misteriosos.

Olhos que escondem tristeza. Conheço esse olhar.

– Se eu perguntar uma coisa, promete que não vai quebrar a minha cara? – meu tom é baixo.

– Manda. – ela dá de ombros, mas seu tom é desconfiado.

– Você foi adotada?

Ela arregala os olhos para mim. E encara o chão. E volta a olhar para mim. Seus lábios formam uma linha fina. E respira fundo.

Você é uma anta, Valdez.

– Como você... Como você sabe? – a voz de Reyna é tão baixa que mal escuto.

Prendo um suspiro de alívio. Ela analisa meu rosto enquanto levo algum tempo para pensar no que dizer.

– Seus olhos. – respondo. – conheço esse olhar. É o olhar de quem, uma vez, perdeu a família. Ou parte dela. De quem tinha a ideia fixa de que nunca teria outra casa.

– Os Muñoz me adotaram quando eu era muito nova. – ela fala tão rápido que quase se atrapalha com as palavras. – Hylla e eu... Nossa mãe nos deixou. E-eu não...

Reyna para, e uma coloração vermelha tinge suas bochechas. Ela encara as meias de cores diferentes que está usando.

Laranja e roxo.

– Eu não me lembro do rosto dela. – diz. – não tenho nenhuma foto. Nenhuma. Hylla diz que me pareço com Belona, mas tudo que vejo ao me olhar no espelho é... Reyna. No fundo, sei que não quero me parecer com ela. N-não com alguém capaz de abandonar os filhos.

Fico surpreso ao vê-la secar uma lágrima teimosa no canto do olho esquerdo com a ponta dos dedos. Meu desejo é puxá-la para meus braços e dizer que tudo está bem.

Mas, não posso.

– E não sei quem é o meu pai biológico. – conclui.

– Bem, somos dois. – meu tom é surpreendentemente baixo. Dessa vez, ao olhar para ela, vejo uma garotinha órfã. Assim como eu. – não sei nem o nome dele. Não sei se está vivo ou até se sabe da minha existência.

Ela dá um sorriso fraco.

– Fico imaginando se minha mãe... A biológica, sabe. – diz. – fico imaginando se gostava de fazer as mesmas coisas que eu. Às vezes me pergunto se tínhamos algo em comum. Me pergunto como ela e meu pai se conheceram. E se chegaram a se amar...

– Me desculpe. – digo, baixinho. – não queria trazer esse assunto à tona.

Ela dá de ombros, pegando a caneca das minhas mãos. Reyna pula da bancada, colocando os dois recipientes de porcelana na pia.

– Não tem problema. É até bom falar sobre isso. Parece que um peso foi retirado das minhas costas. Me sinto... Bem?

Ela esfrega os olhos, murmurando alguma coisa sobre como o tempo passou rápido demais. É quando suas mãos caem, balançando ao lado do corpo. Os olhos de Reyna parecem perfurar minha alma.

– Como você reconhece esse tal olhar? – pergunta, lentamente.

Eu dou um sorriso fraco, observando piso de madeira da cozinha. O silêncio preenche o cômodo. Ergo os olhos a tempo de ver o esboço de um sorriso solidário surgir nos cantos dos lábios de Reyna.

E eu sei. Sei que ela sabe, e sei que ela sabe que sei. Sei que entende. E que compreende.

– É o mesmo olhar que vejo, todos os dias, no reflexo do espelho.

Para o almoço, faço tacos. A cozinha se enche de risadas e conversas aleatórias, piadas ruins e questões dos testes de história.

O som das tortillas sendo fritas me faz lembrar das tardes tumultuadas no Taco Bell.

– Ei. – Piper se apoia na bancada. – quer ajuda com a guacamole?

– Se você não jogar o caroço do abacate na minha cabeça, como da última vez, – digo, tentando parecer sério. – sim.

Ela ri.

– Foi sem querer!

Trabalhamos em silêncio. Recheio algumas tortillas com frango, outras com carne e pelo menos três com peixe (Connor pediu com jeitinho, então, cedi). E alface em tirinhas, tomate picado, cheddar ralado e coentro picado.

Naquela manhã, depois que Reyna voltara para sua torre, descobri que não tinha frango na geladeira. Suas palavras se repetiam em minha mente "Depois de um mal estar horroroso após um almoço no rodízio perto da escola, decidi virar vegetariana. Mas como frango. Isso é estranho?".

Ah, falem sério. Eu não faria a desfeita de fazer só tacos de carne e peixe. E ninguém percebeu que sumi com o carro por meia hora para ir até o mercado.

Em algum momento, Grover entra e pede por algumas enchilladas. Ele faz bico e ergue as sobrancelhas, suplicando.

– O que você não nos pede chorando, que não fazemos sorrindo? – Piper dá de ombros, rindo. – ou ao contrário. Da última vez que Leo fez enchilladas, o negócio queimou e ele chorou por dias.

– Foi extremamente chocante. – retruco. – agiliza, chica, essa guacamole tá muito capenga. Quero muita pimenta malagueta nisso aí! E os nachos? Percy simplesmente exigiu nachos e não estou a fim de enfrentar o lado irritado dele...

Ela olha para uma pilha de caroços de abacate no canto da bancada, e então para mim. É um claro sinal de "Seria muito divertido fazê-lo engolir essas coisinhas".

– Pips – digo, em certo momento. – me desculpe por ontem.

– Está desculpado. – ela bagunça meu cabelo. Não que já não estivesse num estado crítico. – é isso o que amigos fazem, certo?

– É sério – eu apoio as mãos na bancada, encarando o recheio dos tacos. – não deveria ter falado com você daquele jeito. Fui estúpido. Sou estúpido. Eu devia ter algum tipo de filtro. Ou simplesmente uma mordaça.

Ela ri. Eu sorrio. O som de sua risada comprova que tudo está mesmo bem.

– Mas ao invés da mordaça você podia escrever um livro Como Entender As Garotas. E eu quero que a minha edição seja autografada e com uma dedicação bonita, por favor.

– Você não presta, Valdez.

Quando a mesa está posta e não há mais "Tô com fome" ou "Não me faça ir até aí, Valdez" e até "Cala a boca, Jason. Estou contando os minutos para Leo vir aqui e enfiar o vidro de pimenta malagueta no seu..." (er, bem, vocês entenderam), Piper se senta na cabeceira da mesa e eu fico entre Percy e aquele tal garoto, que descubro se chamar Peter.

Reyna está sentada do lado oposto a mim. E ela sorri.

– Os tacos de frango estão ótimos, Leo. – diz, se servindo de mais um.

Ela não é uma daquelas garotas que come algo e conta as calorias logo depois. Certa vez, nós fomos a uma pizzaria... Tá, não eu e ela. Eu, ela, Jason, Piper, Annabeth, Percy, Rachel, Connor, Nico Di Angelo e o time inteiro de futebol. Não me pergunte o por quê. Enfim, ela encarou três pedaços de margherita, um copo de coca cola e dividiu um sorvete com Jason. E é magérrima.

– Obrigado. – que eu não esteja vermelho, que eu não esteja vermelho, que eu não esteja vermelho.

Percy dá tapinhas nas minhas costas.

– Estaríamos perdidos sem você, Leo. – diz, sorrindo. – acho que ninguém aqui sabe sequer estourar pipoca sem explodir algo. E a comida da Annabeth... Não é recomendável.

– Perseus! – ela lança um olhar mortal para ele, o rosto atingindo a coloração da camiseta vermelha de Grover.

– Desculpe, amor, mas é a verdade. – Percy pisca para ela, se servindo de um dos tacos de peixe. – ei, largue essa faca. Não se come taco com faca. Quem colocou facas na mesa?

Travis murmura algo antes de dar um tapa na mesa.

– Ei, caras! O que acham de nadarmos no lago depois do almoço? – ele sorri. – vai ser divertido. Marco polo! E não vale afogar namorados, Annabeth.

Todos concordam (e a loira apenas resmunga algo sobre regras inúteis) e eu sorrio para mim mesmo. O fim de semana não será tão ruim assim, afinal.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Não aceito pedradas, muito obrigada.Ah, ontem fiz uma playlist sobre o Leo. Geralmente escrevo ouvindo-a. Pra quem quiser, aqui está o link ---> http://8tracks.com/reynavaldez/badboy-supremeQueria agradecer por todos os comentários fofos, e pelo apoio. Vocês não tem ideia de como fico feliz ♥