Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 18
Capítulo XVII - I bite my tongue but I wanna scream out


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece, certo?
Eu queria dedicar esse capítulo pra Pyetra e pra Gabi, porque essas duas lindas recomendaram a fic e eu fiquei super feliz. Obrigada!! :-)



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Certa vez me disseram que você precisa pensar antes de agir ou falar.

Porque há pessoas que agem completamente por impulso. Aquele tipo de pessoa que sente a adrenalina correndo nas veias e não perde a oportunidade. Aquele sentimento de liberdade que faz você achar que pode fazer tudo.

Geralmente, as coisas dão errado depois. Copos quebrados, multas de trânsito, uma tatuagem feia, amizades desfeitas ou corações partidos.

Digamos que eu seja esse tipo de pessoa. Talvez seja o TDAH, ou talvez eu seja assim mesmo e pronto. Sempre fui o tipo de criança que não conseguia ficar parada e acabava quebrando alguma coisa, ou estragando algo, ou fazendo qualquer coisa que fosse irreversível. Ao decorrer dos anos, o negócio não melhorou, mas não vamos entrar em detalhes.

Eu nunca, de fato, pensei antes de agir.

Eu deixo minhas costas se chocarem contra as portas fechadas de uma loja qualquer, apertando as têmporas com as pontas dos dedos.

– Você realmente não tá se saindo muito bem nesse negócio de não desistir. – é o que Jason diz, os braços cruzados, do lado esquerdo.

– Ela me afastou, Jason. – digo, baixo. – disse que era melhor eu ir embora. Ela me confunde...

Ele revira os olhos, mas segura o riso. Por que todo mundo tem prazer em rir da desgraça dos outros? Da minha desgraça, na maioria das vezes?

– Vocês se falaram depois disso?

Eu balanço a cabeça, ele suspira. Jason dobra o joelho e apoia o pé no muro. Ele parece um daqueles caras de filmes colegiais. O capitão do time, o mais desejado pelas garotas, as notas boas, bonitão.

Por que Reyna olharia para mim quando se há Jason?

O namoro deles era tão... Fácil. Ele fazia palhaçada, ela ria. Jason só fazia esse tipo de coisa quando ela estava por perto. Reyna o mudava de um jeito maravilhoso. Ele deixava de ser tão sério e centrado. Ele ria mais. Brincava mais. Sorria mais, até.

Eles eram o tipo de casal que todo mundo quer ser. Aquele tipo que, além de namorados, são amigos. E brigavam, e gritavam, e puxavam o cabelo um do outro, e depois começavam a rir como se não tivesse sido nada de mais.

Dios, ela é tão doce. Reyna faz qualquer garoto entrar na linha. Aquele sorriso, os olhos, o jeito com que ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. Como ela anda, e fala, e como seus ombros se movem quando ela respira. Os cílios, seus dedos longos, a curvatura de seu pescoço e como a voz dela fica mais fina quando está surpresa. A temperatura de sua pele, o gosto de seus lábios.

Eu estou completamente, verdadeiramente, inevitavelmente apaixonado por ela.

– Eu pensei em mandar uma mensagem. – completo. – mas achei que ela fosse ignorar. Eu duvido que queira falar comigo.

– Do jeito que Reyna é, – Jason dá de ombros. – ela vai procurar você e pedir pra conversar na primeira oportunidade.

– Assim espero. – suspiro, os olhos fechados.

Ele se despede com um aceno de cabeça, sumindo na esquina mais próxima.

Enfio as mãos nos bolsos, respirando fundo e perambulo pela cidade.

(09:41 am)

N sei onde vc está, mas a gente precisa conversar. - reyna x

Um timing perfeito, como sempre. Fecho os olhos com força, apertando o celular entre os dedos e sentindo pequenos pontos gelados em meu rosto.

(09:43 am)

parque. cinco minutos? - leo

(09:43 am)

Agora. To indo. - reyna x

Quando ela chega, eu já estou abrigado debaixo do único carvalho no parque inteiro. A neve cai em floquinhos fofos, como se alguém estivesse jogando açúcar de confeiteiro sobre Bristol.

Reyna, com uma touca de lã, esconde o nariz no cachecol vermelho, empacotada num casaco grosso e cinza.

Minhas mãos se mexem, inquietas, dentro dos bolsos do meu casaco. Suo frio. Ela dá um pequeno sorriso antes de se sentar ao meu lado, sem se importar com a grama gelada e sua meia-calça fina.

– Hey.

– Hey. – desvio o olhar, sentindo o rosto queimar. Ah, ótimo.

Seus dedos brincam com os cadarços das botas, um ar distraído. Passamos algum tempo em silêncio, cada um observando alguma coisa diferente. Ela, os flocos de neve. E eu... Ela.

– Escuta – a voz de Reyna adquire um tom um tanto baixo, mas ela pigarreia e continua. – me desculpe por ontem. Eu não queria ter dito aquilo. De verdade.

– Você me confunde. – solto uma risada seca, sem humor. – de verdade.

– Eu... – e aperta os joelhos contra o corpo, escondendo o rosto nos braços cruzados. Por algum segundos, penso que está chorando e isso me deixa péssimo, mas sua voz não está alterada e seus ombros não estão trêmulos. Ela ergue o rosto depois de algum tempo, um sorriso fraco. – desculpa. Eu só... Eu só queria que você entendesse os... Os meus motivos.

– Eu nunca vou entender se você não disser. – brinco, tentando quebrar o gelo.

Reyna coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha, olhando para mim por alguns segundos e então voltando sua atenção para a neve.

– Eu não sou eu, Leo. – diz, simplesmente. – isso aqui... É uma casca. Película. Maquiagem. Falso. Uma mentira.

Permaneço em silêncio, digerindo suas palavras. Há dor em sua voz e isso me faz querer abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem. E talvez fazer chocolate quente e assistir Mamma Mia! debaixo das cobertas.

"Eu não tenho nenhuma foto da minha mãe biológica. Eu mal me lembro do rosto dela. Eu não sei quem é o meu pai, ou o que ele fazia. Não sei se eles se casaram, se ainda estão juntos ou sequer vivos. Como você acha que eu me sinto se a única coisa que sei sobre mim é que vim de um orfanato de Porto Rico? Como eu vou ser alguém se eu não tenho um passado?

Eu acho que deixei Reyna Avila Ramírez-Arellano para trás há muito tempo. E o engraçado é que sem... Sem ela, não há eu.

E então todos vocês apareceram. Eu fiz amigos. E havia Jason... E eu gostava tanto dele. E quando nós terminamos... Eu fiquei despedaçada. Os pequenos pedaços quebrados se quebraram em mais pedacinhos e por aí vai."

Eu devo ter feito uma cara horrorosa, o que a fez rir de modo tímido.

– Mas passou. – deu de ombros. – sempre passa. Eu sou grata por Jason e eu ainda sermos amigos. Ele é um cara legal.

– Você não parece só uma casca para mim, ou uma mentira. – murmuro. – você é real. Você está aqui. Agora. E você vive, e pensa, e age, e existe. E me faz sorrir.

Reyna move os ombros, mas eu a corto antes que comece a falar novamente.

– E você se veste desse jeito único. E gosta de trilhas sonoras de filmes não tão conhecidos, e frappuccino com muito creme e pouco caramelo. Você lê livros de autores que eu nem me atrevo a tentar pronunciar o nome, usa meias de cores diferentes sempre que dá. Você gosta de bandas legais e nunca se importa com o que as pessoas vão dizer sobre qualquer coisa e...

Uma pausa. Eu desvio o olhar, tentando usar um tom mais alto.

– E eu gosto de você. – concluo. – assim, do jeito que você é.

Ainda sem olhar para ela, sinto seus dedos apertarem meu ombro. Quando me viro para encará-la, seu rosto está vermelho e ela tem um sorriso bobo no rosto.

Sorrio, também.

– Você não me deixou terminar. – diz, baixinho.

– Então continue.

Ela pigarreia.

– Você apareceu. – e, de fato, continua. – sorrindo todo brincalhão, fazendo as pessoas rirem. Gentil. Educado. Muito hiperativo. Leo. two years now since I met you and I just can't forget about you...

You don't know what you do to me, oh you don't know what you're doing to me... – complemento, sorrindo. – eu não acho que “Leo” seja um adjetivo também.

Ela revira os olhos, tentando não rir.

– Eu gosto de você, Leo. De verdade. Daquele jeito. – seus dedos deslizam por minha bochecha por alguns segundos e sinto minha pele formigar em contato com a dela. – esse só não é o melhor momento, entende? Mas eu gosto. Muito.

É como um daqueles sonhos que você tem quando se está apaixonado por alguém. Você fica imaginando a pessoa dizer isso de várias formas diferentes, mas não é como você espera. É melhor, e mais bonito, e você passa a achar que é a melhor coisa que já ouviu. Como a trilha sonora perfeita para o filme da sua vida.

Porque Reyna está aqui, dizendo que gosta de mim. Daquele jeito.

Mas, acontece que quando você quebra um copo, ele não se conserta sozinho e muito menos com palavras gentis.

Reyna é um copo que talvez tenha sido quebrado há muito tempo atrás, pelo mundo e pelas pessoas. Ela quer juntar os cacos sozinha, porque sabe que é capaz. Não quer ser metade de si mesma. Ela sabe que eu sinto algo por ela inteira. E quer ser inteira. Completa. Cem por cento.

Completa e inteiramente minha.

– Quando eu souber quem sou – ela ajeita a touca em sua cabeça. – nós poderemos, de fato, pensar em um "nós".

– E podemos trabalhar juntos nisso, sabe. - eu coço o nariz, tímido. – se você quiser conversar ou simplesmente sair pra tomar sorvete de pistache. Porque sorvete de pistache faz tudo ficar melhor.

– Eu adoraria.

Nós ficamos ali. Conversando e rindo pelo que pareceu séculos. Eu poderia ouvir sua voz pelo resto da vida e ainda acharia que foi pouco. Em algum momento, quando ela diz que precisa ir, eu adquiro um tom quase infantil ao pedir para que ela não desistisse de um “nós” que sequer existe.

Reyna sorri, as bochechas coradas por conta do frio.

– Não vou desistir, Leo.

–x–

Em meu sonho, Bristol está coberta por nuvens negras e raios cortam os céus como se pudessem atravessar a cidade inteira em menos de um segundo.

Além dos trovões, o silêncio é incômodo. Como se não houvesse mais ninguém ali.

A sensação me dá calafrios mesmo durante o sono. Eu nunca gostei desse negócio de sonhos realísticos demais para o meu gosto mas, infelizmente, sempre os tive.

Continuaremos, então.

Depois de algum tempo andando pelas ruas vazias e cinzentas... Para falar a verdade, tudo parece preto e branco. Como num filme de terror.

Posso sentir minhas pernas doerem por andar tanto assim. Isso me aterroriza.

Tá, tudo bem. Todos tem sonhos estranhos, eu certamente não sou o único.

A parte estranha é aquela sensação ruim. Aquela que te sobe um calafrio desde a base da coluna até a última vértebra, e que faz você ter certeza de que algo ruim vai acontecer. E então você para, esfrega os braços numa tentativa inútil de fazer aquele frio repentino passar, e pensa: quem?

Meu celular toca. Desperto quase que imediatamente, suando frio. Que p.. ?

– Alô?

A chuva que bate na janela me incomoda mais do que deveria.

Leo.

De início, não reconheço ninguém. Ainda grogue de sono, faço uma lista mental de pessoas que poderiam me ligar no meio de um temporal.

Leo. – repete a voz, e seu tom é quase desesperado. – sou eu.

Trovões ribombam no céu, fazendo com que o vidro da janela trema de modo violento.

Ei – meus olhos se arregalam e eu puxo as cobertas, pulando do beliche imediatamente. – Reyna? Tá tudo bem?

Não posso vê-la por conta da chuva torrencial, mas a luz de seu quarto está acesa. Nico murmura qualquer coisa, completamente adormecido. Espero que não acorde.

E-eu – ela chora e isso faz com que meu coração se aperte num nó. – e-eu estava pesquisando algumas c-coisas...

– Que coisas? Sobre quem?

Reyna permanece em silêncio por tanto tempo que chego a pensar que desligou o celular. Mas, num fio de voz, continua.

Sobre os meus pais.

–x–

Segunda feira. Almoço. Eu e Reyna nos sentamos numa das mesas do jardim, e ela tem olheiras profundas debaixo dos olhos.

– Hylla tinha me dito pra não fazer isso. – admite, baixo. – mas... Eu tinha que fazer isso, Leo.

– Eu entendo. – digo, entregando minha sobremesa para ela com o objetivo de animá-la.

Vejo um sorriso tímido surgir no canto de seus lábios, mas ele some tão rápido quanto apareceu.

– Você vai me contar exatamente o que encontrou ou eu terei que te torturar com a faca de plástico? – ergo uma sobrancelha, apontando o utensílio para ela de forma ameaçadora.

Reyna revira os olhos, mas ri. Segundos depois, assume uma expressão séria, cruza os braços e se inclina sobre a mesa como se o assunto fosse extremamente confidencial.

E realmente é.

Ela adquire um tom baixo, e diversas vezes olha por cima do ombro para ter certeza de que ninguém está ouvindo.

Diz percorreu diversos sites e fez anotações sobre qualquer coisa que pudesse levá-la até os pais biológicos. Um nome, uma data, um endereço, qualquer coisa.

E, de fato, encontrou.

Seu pai havia morrido há muito tempo, talvez antes mesmo que ela tivesse completado um ano de idade. Reyna contorna essa parte, dizendo que realmente não lhe interessava.

– Acontece que – ela entrelaça seus dedos e os encara, mas posso ver pequenas lágrimas se formando no canto de seus olhos negros. – Bellona está viva.

Abandono meu almoço, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta numa tentativa falha de aquecê-las. O céu acima de nós é negro como meu sonho.

O clima parecia tão frio e obscuro quando o assunto.

– Ela atualmente mora em Nova York. – ri, seca. – trabalha num museu de história greco-romana. Casada. Tem filhos.

Eu arregalo os olhos, o que faz Reyna suspirar.

– Engraçado, não? – diz, depois de algum tempo. – eu tenho irmãos. E eles nem sabem da minha existência.

Ela está prestes a chorar novamente. Me inclino sobre a mesa, afastando as bandejas e puxando suas pequenas mãos. Aperto-as contra as minhas.

– Ei – murmuro. – não fica assim...

– Eu aposto meu rim que ela nunca contou a ninguém sobre mim. – o tom de Reyna é amargo e isso não combina nada com sua personalidade. – tão perto... E ao menos se dignou a, sei lá, mandar uma carta? Não!

Silêncio, novamente. Ela segura minhas mãos de um modo quase desesperado.

– Por que ela teve mais filhos, Leo? – a voz embargada. – por que não Hylla e eu? Por que?

– Olha – acaricio sua pele com o polegar, tentando encontrar as palavras certas. – às vezes as coisas acontecem porque tinham que acontecer. Não estou dizendo que você e sua irmã mereciam serem... Deixadas para trás. Mas, olha só, a minha mãe morreu e eu estou aqui e não posso exatamente dizer que tá tudo uma droga. As coisas poderiam, sim, ser diferentes se Bellona tivesse ficado com vocês e se Esperanza Valdez não tivesse morrido...

Reyna ergue uma sobrancelha para mim.

– O que eu quero dizer é que – suspiro, franzindo o cenho. Eu definitivamente não sei explicar as coisas. – às vezes é melhor que tudo esteja como está. Se eu te perguntasse o começo que você quer para o filme da sua vida, o que você diria?

Ela para e pensa por algum tempo, os longos cílios tocando suas maçãs do rosto quando pisca.

– Eu diria que escolheria morar com os meus pais. Digo, os Muñoz. Os meus pais.

Sorrio.

– E, sinceramente? – concluo. – mesmo que pareça difícil, é possível mudar um filme inteiro. Você é a diretora, Reyna. E é claro que você vai precisar de ajudantes, porque é assim que um filme é produzido. E eu sou o primeiro a me candidatar a um dos cargos, não importa qual seja a sua decisão.

Ela sorri, também.

– Espero que você não cobre um salário muito alto, Valdez.

–x–

N/A: Se vocês quiserem dar uma olhadinha na tag da fic, clique aqui. ehe

O Nyah! comeu as notas do capítulo, então vou falar aqui mesmo.

Dia 16/02 PR completou um ano de fic. Um. Ano. Meu. Deus.

Eu sei que não deve ter muita gente que acompanha a fic desde o comecinho. Talvez a Sara, a Marcella, ou sei lá. Queria agradecer a todo mundo, não importa se vocês acompanham a fic desde o começo ou se começaram a ler esses dias: vocês fazem os meus dias mais felizes. Obrigada, mil vezes obrigada, por não ter desistido nem de mim e nem de Pouring Rain. ♥


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Queria pedir que vocês //por favor// lessem isso aqui: http://partylikeaficwriter.tumblr.com/post/77724667672/nao-sei-se-voces-notaram-mas-desde-a-ultima
Anyway, see ya. x