The Light In The Darkness escrita por Omoplata Errada


Capítulo 1
The Light in The Darkness


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! =)
Apenas uma one-shot que me assombrou o pensamento, porque às vezes dá-me para estas coisas =P
Minha segunda fic, se chegaram até aqui, prometo que não vai custar ler as poucas 1000 e tal palavras que escrevi. =)



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Sabe aquele túnel colossal engolido pela enorme escuridão? Aquele túnel em que você entra, atravessa e parece não haver meio de chegar ao final? E o pior, é que no meio disso tudo, você comete um delito que te irá prejudicar durante toda a travessia. Você esquece de ligar as luzes dos faróis do carro.

Isso me aconteceu, e me acontece vez atrás de vez, como se fosse um ciclo vicioso sem fim. O túnel acaba por não ter fim, ou pelo menos, eu não enxergo uma saída em torno da enorme escuridão.

Eu coloco o pé bem fundo no acelerador, tentando atravessar, tentando furar por meio da velocidade aquela escuridão que me persegue e abraça como uma noite negra. Sem fim.

O túnel é imenso, em largura e comprimento. E parece que quando eu estou prestes a alcançar a meta, a barreira invisível que transpõe a saída do túnel se revela diante do meu ser, impedindo-me de alcançar a luz. A luz, que embora eu desesperadamente deseje, não a enxergo, nem apenas por um mero vislumbre de segundo. É aí que eu percebo que o túnel que eu pensara ser temporário, que eu pensara conseguir chegar ao final só para depois retornar para a luz, se dobra. Se dobra, e eu acelero mais ainda em busca de uma saída. É aí que ele se triplica, se transformando em outro túnel, se colocando um à frente do outro. E é sempre assim, sucessivamente. Ciclo vicioso. Minha vida.

Houve um tempo em que eu pensara ser temporário. Pensei mesmo que transpondo aquele primeiro túnel, eu me libertaria. Pensei que a escuridão fosse momentânea, e que não me consumisse da maneira que aconteceu. Pensei tantas coisas, umas de forma ingénua e imatura, outras mergulhadas já no desespero. Sabem … eu já tive esperança. No final daquele primeiro túnel, e talvez bem no meio do segundo, eu ainda pensava conseguir alcançar aquilo que deixei à entrada do primeiro túnel. A minha luz. Sim, ainda estava posicionada num dos primeiros estágios da minha vida: ingenuidade. Por alguns, confundida com estupidez. Como fui estúpida, eu vejo agora.

E pensar que tudo começou porque eu queria ser livre. Porque eu queria ser livre para correr e perseguir os meus sonhos. Não vou colocar a culpa em terceiros, embora eu tenha plena noção que em alguma altura alguém me deva ter empurrado para dentro deste carro. Mas eu sei que a ignição fui eu que liguei, e que enquanto pisava fundo no acelerador, eu mergulhava mais e mais adentro da escuridão.

Eu confesso. Eu achei que este caminho, que este túnel me pudesse levar mais rápido e mais depressa, como um atalho, até aonde eu quisesse chegar. Fui fraca e estúpida. E descobri que há erros que cometemos em que o preço é alto demais.

Por esta altura, eu já decorei cada curva, cada reta e cada guinada que eu tenho de dar no volante para não esbarrar contra as paredes do túnel. Eu viajo em piloto automático. E como todo o piloto automático, eu não vejo nada além da rota que memorizei no meu sistema no início da viagem. Pena que eu esqueci de ligar os faróis.

Eu juro que procurei desligar esse mesmo piloto robótico, que tentei de alguma maneira enxergar outro caminho, uma porta escondida algures dentro do túnel, eu não sei. Qualquer coisa, tudo. Mas as luzes do meu carro, agora um Mercedes Benz, queimaram feio. E olha que foram bem caras as malditas. Foi aí que eu aprendi outra lição valiosa: preço e valor são coisas bem diferentes. O preço é alto, está certo, mas o valor não tem preço, pois se tivesse, eu teria conseguido ligar a porcaria das luzes.

Sendo assim, eu continuo dirigindo envolta na escuridão. Sem qualquer lampião para me iluminar o caminho. Mas eu não vou contra as paredes, não. Nem contra outro veículo. Nem era possível, porque este túnel é só meu, e a escuridão abarcada por ele é a única coisa que me faz companhia e seduz. O meu destino.

Tudo nesta vida se torna num hábito, e quando isso acontece, você deixa de sentir ou se importar. Você apenas conduz da mesma forma de sempre todo o percurso de novo no dia seguinte. E no seguinte. E no seguinte ao seguinte. E no seguinte a seguir ao seguinte do seguin…

- Eu te amo. – uma voz ecoou no meio do túnel. Não compreendo de onde vem, nem para onde foi. Estreito mais os meus olhos na penumbra da minha escuridão, tentando enxergar. Não vejo nada, como sempre. Apenas o vazio envolto em negro, em fundo, em nada.

Olho para as minhas mãos, presas ao volante, nem sei como as consigo ver, mas os nós dos meus dedos permanecem brancos da força que faço para não largar o volante. Não posso correr o risco de me despistar. O Mercedes fora caro demais. Mereceu o investimento.

- Eu te quero tanto. – um gemido, embebido em sensualidade, ecoou desta vez. O piloto automático está falhando, consigo perceber pelo ecrã rachado no painel do automóvel. Meu coração dispara. Não. Não posso perder o controlo do Mercedes. Não neste túnel escuro e sem saída. Irei me perder, mais ainda. Abano a cabeça com dramatismo, eu sei. Mas eu aprendi a ser dramática, especialmente quando vejo que estou em vias de perder o controlo sobre aquilo que eu quero. Quero?

- Regina. – a mesma voz, distante e próxima ao meu ouvido. A voz é doce, é quente, e é reconfortante. Mas eu não entendo o porquê dela me chamar. Eu apenas preciso continuar dirigindo, cuidando da minha condução, sem olhar para os lados. Sem distrações deste túnel que continua sempre e sempre. Um a seguir ao outro.

Minha perna, antes dormente e fria, começa a recuperar a sensibilidade. Consigo perceber que meu pé direito, aquele que acelera, parece ganhar vontade própria. Uma sensação quente e boa sobe pelo meu pé, até à minha coxa, sentada no banco. O peso sobre o acelerador parece diminuir, porque eu sinto o carro abrandar a velocidade.

- Me deixa te tocar – novamente a voz, quente e suada no meu ouvido. – só um pouco. – Não sei o que se passa comigo, mas algo está dando errado na condução. Minhas mãos afrouxam no volante, e o meu peito se enche de medo. Não posso parar, muito menos perder a direção. Seria o meu fim. Pior, seria o despertar para algo que eu não sei como conduzir. Não conheço outros caminhos, além deste túnel. Permaneci demasiado tempo decorando cada curva, cada reta, e cada movimento que era necessário para sair ilesa, manobrando este carro, neste trajeto, envolto em escuridão. Eu não sei como conduzi …

- Eu te mostro como. – pisquei os olhos em surpresa. Aquela voz soava cada vez mais ronronante e alta no meu ouvido esquerdo. Meus olhos se encheram de algo que eu não reconheci logo o que era. Água? Sangue? Minhas pálpebras ficaram irrequietas de repente, o que só tornou ainda mais complicado manter focada a direção na estrada. Uma sensação de calor invadiu o meu peito, antes gelado e dormente como as minhas pernas. E um ponto de luz eu consegui ver, bem lá longe, no meio da macha negra de escuridão do qual o túnel fazia parte. Do qual eu fazia parte. Ainda.

- Vem aqui. Me beija. – a voz suspirava, envolta em mais gemidos e ronronos de prazer. O carro guinou, enquanto eu ainda tentava, em vão, recuperar a direção. As minhas pernas coloram-se uma na outra, em cima, onde as coxas se fechavam entre si. Senti pulsar por debaixo do ventre uma sensação desenfreada em bem-estar e prazer. Tentei conter essa sensação, tentei aniquilá-la do meu corpo como sempre me habituei a fazer com tudo que se tornasse demasiado perigoso para o meu pobre coração. Não podia sentir, não me permitiria, porque senão iria bater estrondosamente contra alguma curva do túnel. Não podia perder a direção, porque senão … como eu ia continuar dirigindo?

- Por favor. – um sussurro, mesclado em ansiedade e em desespero. A voz preenchia-me agora, percorria cada pedaço do meu corpo trémulo e tenso. Os pés, incapacitados de cumprirem a função que eu lhes confiei. O pedal do acelerador subiu, enquanto a minha coxa puxava o meu pé direito para cima, o afastando do acelerador. Meu pé esquerdo driblou o direito e o confundiu, pressionando levemente o travão. À medida que os batimentos do meu coração aumentavam, a velocidade do Mercedes diminuía. Abanei a cabeça de forma relutante e ergui o pescoço para cima. Algo parecido a um gemido escorregou através dos meus lábios, enquanto eu senti a zona da garganta sendo humedecida por uma textura rugosa e macia. O carro parava, e eu me perdia. Cada vez mais, a cada nova sensação de júbilo e terror que me assaltava o peito, a mente, e todo o resto do meu corpo contorcido em tensão.

O carro já não guinava mais, porque a velocidade diminuta com que ele se movimentava já não era suficiente para isso. Fechei os olhos com força, não querendo ver o resultado trágico da minha falta de foco e concentração. De certeza que assim que o Mercedes parasse, eu não saberia mais ligar a ignição novamente e ficaria para sempre parada, no meio da escuridão daquele túnel sombrio e sem saída. Para sempre.

Tremi e temi, porque foi nesse instante que eu me apercebi de uma coisa sobre mim que eu havia esquecido durante aquela travessia sem fim. Eu não havia perdido a esperança ainda, porque eu continuava percorrendo o mesmo túnel, vezes e vezes sem conta, porque esperava encontrar a luz no final dele, e com isso, a minha saída. Ilesa.

- Abra os olhos. – a voz doce e límpida me ordenou, com uma maciez tão grande que se revelava como sendo apenas um pedido. Uma oração. – Olhe para mim. – Uma súplica. Eu obedeci, porque não tinha como negar nada aquela voz.

Os meus olhos foram inundados com uma luz incandescente e maravilhosa que cegaria qualquer um que se recusasse a aceitá-la. O carro parou. Minhas mãos largaram o volante por completo. E eu não consegui mais negar aquela luz.

- Emma. – eu me abri para ela. E ela me consumiu e me preencheu no mesmo instante. E ela me libertou no momento seguinte, porque eu olhei para trás por um segundo, por detrás do ombro dela, e o túnel estava lá. Longe e fora de foco, até que eu o perdi de vista. Para sempre.


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Notas finais do capítulo

Estão me lendo ainda? Uauu =P
Mais um esforço e me deixa uma review sim? Obrigada! =)