Não Há Quem Possa Ocupar Seu Lugar escrita por Amanda Catarina


Capítulo 10
Capítulo 10




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Capítulo 10

Renji caminhava, cabisbaixo, enquanto seus subordinados do esquadrão passavam por ele em conversas corriqueiras. Era fim de expediente. Chegando no alojamento, seguiu para a varanda, onde ficou um tempo, olhando a lua.

– O que ela estará fazendo agora? - falou consigo.

Há mais de uma semana, Rukia partira da Soul Society junto de Kurosaki Ichigo para uma missão comum no Mundo Real. Naquele dia, ele entrou novamente em atrito com o adolescente e, desde então, andava mal humorado e irritadiço, descontando sua raiva em quem quer que fosse, tão exaltado que os colegas de trabalho evitavam falar com ele.

Sentado no chão de madeira, curvou mais o corpo, deixando os cabelos soltos penderem e ocultarem sua face.

– Por que isso foi acontecer?

– Hã? Isso o que? - ouviu ao seu lado alguém indagar, num tom esganiçado, e virou a cabeça na mesma hora.

– Ikkaku!?

– Yo, Abarai... - saudou com um aceno e se aproximou – ...me mandaram te entregar isso.

O ruivo franziu o cenho.

– Trabalho? Raios... não podia trazer amanhã?!

– Que?! Eu trago na hora que quiser! Que é, achou ruim!?

O ruivo virou a cabeça e não deu resposta, não estava com paciência para as provocações de um encrenqueiro como o terceiro posto de Zaraki. Ikkaku se atentou a expressão resignada dele.

– O que há? - perguntou tentando dar um tom de seriedade a voz.

– Nada... deixa os documentos aí e dá o fora.

– Hn... - bufou Ikkaku. – Tem a ver com a Kuchiki, aposto...

– Dá o fora, Madarame! - exaltou-se.

– É, bem se vê que você anda estressado... - disse indiferente à zanga dele. – Precisa dar jeito nessa magoa toda...

– Me deixa, Ikkaku...

Como se não estivesse ouvindo o apelo, o terceiro posto sentou-se ao lado do vice-capitão.

– Onde espera chegar agindo assim? - indagou o careca, atrevido.

– Não venha me dar lição de moral! - vociferou Renji. – Você não sabe como me sinto.

– Hunf... nem nunca vou saber porque não sou um sem noção como você!

– Que?! ...some daqui, seu folgado!

– Folgado?! - berrou indignado. – Deixa disso, Abarai! Por que anda todo mordido como se estivesse com ciúmes? Quem te vê assim vai achar que está apaixonado pela Kuchiki!

Renji vidrou os olhos.

– Cala essa boca! Isso não é da sua conta!

– E daí que não é?! E não vem querendo dar uma de bom pro meu lado que se ninguém aqui tem coragem de te peitar, eu tenho de sobra!

O ruivo estreitou os olhos e ficou quieto. Não ia dizer mais nada, que o outro ficasse falando sozinho. Ikkaku inspirou fundo, ponderando. A situação estava mais complicada do que ele imaginara.

– Mas que coisa... vendo que é isso mesmo... - retomou num tom mais calmo. – Ora, desde quando a relação de vocês é desse tipo, seu lesado?

– Como assim?! - retrucou Renji realmente sem entender.

– Não se faça de desentendido! Pensei que você a considerasse como uma irmã. E outra, se você a amasse como mulher, não iria ficar nessa de competição com ela, querendo um alto posto.

– Não... - balbuciou, negando com a cabeça. – Precisei fazer isso para poder olhá-la nos olhos de novo... porque ela virou uma nobre...

– Conversa... você sempre quis se destacar seu metido. Isso sim. Por isso se tornou vice-capitão.

– Claro que não!

– Claro que é!

– Seu miserável! Quem você pensa que é pra falar assim?! Eu te arrebento! - esbravejou e partiu pra cima de Ikkaku na intenção de socá-lo.

Com um olhar sério, o terceiro posto segurou o punho dele, detendo o feroz ataque facilmente.

– Deve estar mesmo muito confuso para sentir ciúmes do Kurosaki - falou bem sério. – Rukia não gostava de você antes de tudo isso. Você mesmo chegou a me dizer! Qual é!?

– Ela gostava sim! Eu e ela... O Kurosaki estragou tudo... - choramingou inconformado.

– Patético... ela é sua protegida e não sua mulher! Você se tornou forte para cuidar você mesmo dela, porque queria estar no lugar do Kuchiki. Que confusão toda é essa agora?

– Não é nada disso!

– Não estou te reconhecendo, Abarai...

Ficaram quietos por alguns instantes.

– É verdade que você arrumou briga com o Kurosaki por causa disso!?

– ...é que ele veio aqui... - gaguejou Renji e não conseguiu concluir.

– Ridículo... eu não estava acreditando, por isso vim tirar essa história a limpo.

O vice-capitão voltou a ficar quieto.

– Rukia encontrou alguém que gosta dela. Você devia estar feliz por ela. Devia proteger esse relacionamento.

– Isso não!

Ikkaku percebia o estado de nervos do amigo, mas sabia também que ele estava entendendo suas palavras, contundo, era teimoso demais para admitir. E, para ele, homens assim só escutavam na base da porrada. Aproveitando então a guarda aberta, deu um belo dum soco bem no meio da cara do ruivo.

Nocauteado, Renji ficou no chão com a cabeça baixa.

– Por que ela devia correspondê-lo?! - Ikkaku ergueu o tom. – Só porque você cuidou dela quando eram jovens? Porque são amigos?! Porque você se preocupa com ela?!

– E não são todos bons motivos?!

Baka... se fez o que fez querendo algo em troca... só pensou em si mesmo o tempo todo.

– Que?! - exclamou desconcertado.

– Se a situação fosse inversa, se você estivesse gostando de alguém, como você iria se sentir se Rukia tentasse te separar dessa pessoa? Isso não seria trair a amizade?

Renji vidrou os olhos.

– Não... eu...

– Pense, Abarai! Você é devagar, mas nem tanto! Essa situação deve estar atormentando a Kuchiki! É isso que você quer?

– Claro que não... é só que...

Are! Pra mim chega. Quer saber? Kuchiki está bem melhor com o fedelho do Kurosaki do que com um patético egoísta como você - finalizou impetuoso e se foi, deixando ali um Renji completamente desconjuntado.

ooo ooo ooo ooo

– Renji! - exclamou Rukia, despertando de um pesadelo.

– Que foi, Rukia-chan? - Karin resmungou sonolenta, esfregando os olhos.

– Nada... - murmurou, temerosa de que Yuzu acordasse também. – Eu já volto...

Minutos depois a nobre estava sentada no telhado, olhando a lua.

– E o Renji? Ainda estará bravo comigo?

– E daí se ele estiver? - ela ouviu atrás de si a voz de Ichigo.

– O que faz aí? São quase duas da manhã... - comentou ele.

Rukia abaixou a cabeça e puxou os joelhos, abraçando-os.

– Perdi o sono...

O adolescente se aproximou e sentou-se ao lado dela.

– E o que o Renji tem a ver com isso? - perguntou levemente irritado.

– Tive um sonho ruim com ele.

– Ah, foi isso...

– Me preocupo com o ele, Ichigo. Crescemos juntos e ele era como um irmão pra mim...

O jovem se surpreendeu com a resposta, percebendo então a gafe.

– Desculpa, acho que deixei o ciúme falar mais alto... - disse e a abraçou carinhosamente.

Rukia apertou os ombros dele.

– Eu não entendo... ele nunca demonstrou... gostar de mim... desse jeito... é como se ele só quisesse me separar de você, mas não para ficar comigo - ponderou ela, mas só teve coragem de dizer aquilo porque não olhava o adolescente nos olhos.

Ichigo acariciou os cabelos dela.

– Se você, que o conhece há mais tempo, não entende, eu muito menos...

Foi um tanto insensível da parte dele dizer aquilo, mas era só um garoto.

– Está esfriando... Vem, vamos entrar - ele a chamou.

bom...

ooo ooo ooo ooo

No dia seguinte na escola, Rukia passou a manhã anormalmente quieta, por isso, Ichigo a chamou para lancharem juntos, só eles dois. Estavam no terraço, recostados na tela de arame, lado a lado. Rukia tinha o lanche ainda intocado sobre um lenço estendido no chão e Ichigo já dera fim ao dele.

– Ainda está chateada por causa daquele lance com o Renji? - perguntou ele.

– É, um pouco...

Num primeiro momento ele se aborreceu em saber, mas logo relevou. Então virando o corpo a ela, percebeu a tristeza em seu semblante e voltou a ficar nervoso. Detestava vê-la com problemas.

– Não quero te ver assim... - falou e levou a mão espalmada ao rosto de Rukia, num gesto carinhoso. – Esqueceu que teremos uma tarde maravilhosa hoje depois da aula?

A shinigami voltou o olhar ao namorado e sorriu levemente, depois pousou a mão por cima da dele. Não disse nada e apesar do sorriso, sua expressão ainda era a mesma.

– Ih... melhora essa cara - pediu, nitidamente zangado.

bom... - murmurou constrangida.

Ichigo aproximou o rosto e, logo, se viu hipnotizado pelos lábios dela, sedento de senti-los sob os seus. Rukia esperou uns instantes pelo beijo e desfrutou dele pelo breve tempo que durou. Não podiam ficar se beijando indefinidamente, afinal, escola não é lugar disso. Depois, ficaram só abraçados.

– Está sem apetite? Fala sério, precisa comer, senão vai ser uma pintora de rodapé pra sempre... - pirraçou ele.

Rukia riu com gosto e depois se desvencilhou dele.

– Você ainda tem esperanças que eu vá crescer? - indagou mais animada.

Ele a encarou por alguns instantes, mas achou melhor desviar o olhar, do contrário acabaria pulando em cima dela. Rukia teria noção que aquele jeitinho gracioso dela, enchia a cabecinha oca dele de ideias nada apropriadas a um jovenzinho de quinze anos? Provavelmente não... tudo que Ichigo tinha de precoce, ela tinha de ingênua.

– Sabe, sendo bem sincera... eu preferia ir pra casa descansar... essa rotina de deveres escolares está puxada.

– Tudo bem... a gente pensa em alguma coisa pra fazer em casa então.

Contente com a resolução, sorriu levemente e então Ichigo beijou-a na testa. Despreocupada, escorou-se no peito dele, que passou um dos braços por seu ombro.

– Vai mesmo largar o lanche da Yuzu? Está uma delícia... - comentou ele, alcançando o sanduíche com a outra mão.

Acabaram dividindo a iguaria, mas Ichigo comeu mais que a pequena.

– É melhor a gente descer... - falou Rukia, no entanto sem fazer qualquer movimento no sentido de se afastar dele.

– Ah, não... - reclamou, estreitando o abraço.

Depois de um longo inspirar, Rukia se levantou.

– Vamos... o sinal não demora a bater. E não se esqueça que temos que passar na loja do Urahara hoje para pegar aqueles relatórios... - lembrou-o ela.

– Tudo bem... Você acha que tem alguma novidade?

– Não sei.

Ichigo se aproximou e passou os braços pela cintura dela, pensava em beijá-la uma última vez, mas então virou a cabeça, sentindo uma reiatsu inimiga.

Hollow! - exclamou ele.

– Vem de lá! - disse ela apontando uma direção.

Ichigo puxou o distintivo de shinigami substituto e Rukia o frasco da pílula gikongan.

– Chappy, cuide do corpo de Ichigo... - mandou ela, já na forma shinigami.

– Entendido, Rukia-sama! - retrucou a maluquinha e foi arrastando o corpo vazio pelos pés.

Oe, Chappy!! Não faça isso! Se estragar meu uniforme, acabo com você!

– Ops... wari... - falou, fingindo inocência.

– Ela está brincando... - apaziguou Rukia e depois puxou Ichigo na direção em que sentiam a ameaça.

Flutuando pelo céu de Karakura, Rukia e Ichigo se depararam com o hollow. Contrariando a rotina dos outros dias, este era muito esquisito. Apesar de não se comparar ao tamanho dos Menos da classe Gillian, parecia ter o mesmo temperamento estúpido. Movia-se apenas, atraído pelas almas das pessoas da cidade.

– Não é um hollow normal - falou Rukia a Ichigo.

– Tem razão... Qual é o procedimento? Devemos apenas purificá-lo?

– Distrai-o enquanto contacto a Soul Society.

– Certo.

– Aqui é Kuchiki Rukia, do décimo terceiro esquadrão, atualmente em missão no distrito de Karakura. Temos um hollow com reiatsu estranha.

Ah, Kuchiki-san, aqui é o Lin, do décimo segundo esquadrão. Estou mandando um dos nossos oficiais para capturar o espécime, por favor, cuidem dele enquanto isso.”

– Podemos liquidá-lo se ele causar problemas?

Sim, a qualquer sinal de perigo, as ordens são para exterminar a ameaça.”

– Entendido...

– Rukia! - gritou Ichigo, desesperado. – Proteja-se é um Cero!

A shinigami virou rápido o rosto e viu um brilho vermelho vindo e sua direção, mas logo um vulto negro surgiu a sua frente e recebeu o ataque em cheio, e em seguida ela escutou um grito de dor.

– Ichigo!! - exclamou assustada.

O shinigami substituto tombou junto dela e uma bolha de sangue irrompeu de sua boca.

– Seu miserável! - berrou Rukia ao hollow, sustentando o corpo de Ichigo, então pousou no telhado de uma alta construção. – Eu vou cuidar dele - disse, ajeitando o jovem na laje.

Ichigo segurou o pulso dela.

– Não o deixe atingi-la... - balbuciou sem fôlego, o peito ardendo de dor.

– Certo - disse e saltou. – Mae, Sode no Shirayuki! - chamou, liberando sua zanpakutou.

Ao mesmo tempo, Ichigo ainda se esforçou para tentar um disparo com Zangetsu, nada preocupado em preservar o hollow e sim em garantir a segurança da namorada.

Some no Mai, Tsukishiro! - disparou Rukia, aprisionando o hollow numa coluna de gelo.

– É minha chance... Getsuga... - deitado no chão, Ichigo movia o punho, mas então este foi agarrado por alguém.

– Não, Kurosaki! A situação já está controlada.

– Renji! - exclamou o garoto, espantado.

– Afaste-se, Rukia! - gritou Abarai, ao lado de Ichigo, e depois lançou um pequeno objeto na direção do hollow.

– Renji?! - exclamou a nobre, igualmente espantada, e ao ver um brilho se desprender do objeto, saltou de lado.

Uma imensa gaiola surgiu e fez a coluna de gelo se espatifar, assim o hollow foi tele-transportado dali.

Atônito, Ichigo mantinha os olhos vidrados na direção onde o hollow até então estava, mas ao vê-lo sumir, despencou no chão, aliviado.

– Ichigo! - gritou Rukia e, rápida feito um raio, veio até ele. – Ichigo!! Fala comigo! Ichigo!!

O tom dela era de um desespero que Renji não se lembrava de ter presenciado antes.

– Calma... - disse o ruivo, num tom brando.

– Mas, Renji, esse ferimento não é normal! Temos que levá-lo para a Inoue e... - dizia aflita, mas ele a cortou.

– Acalme-se - seu tom foi firme, porém ameno. – Vai ficar tudo bem... eu estou aqui.

Rukia o encarou, meio desconcertada, mas logo assentiu. Renji ficou uns instantes olhando os dois com uma expressão indecifrável, até que se aproximou do adolescente caído.

– Então vamos... - falou enfim, jogando Ichigo nas costas.

ooo ooo ooo ooo

Um tanto depois, enquanto Orihime curava o ferimento de Ichigo, Renji explicava a situação. Sado e Uryuu também estavam lá, ouvindo a tudo.

– ...portanto, fiquem atentos. Eles não são mais fortes que os hollows comuns, apenas têm ataques mais perigosos. Assim que a análise do décimo segundo esquadrão sair, vocês serão orientados.

Todos assentiram.

– Sente-se melhor, Kurosaki-kun?

– Sim, Inoue, muito obrigado - retrucou ele.

A jovem não pôde evitar ficar corada e Ishida se atentou bem àquilo.

– Obrigado pela ajuda, Renji - falou Ichigo e estendeu a mão ao ruivo.

Abarai demorou uns instantes para reagir, mas acabou apertando a mão do adolescente.

– Muito bem... eu preciso voltar. Cuidem-se - disse e virou-se para destravar o portal.

– Eu também te agradeço, Renji! - falou Rukia.

Mesmo que não tenha se voltado a ela, soube que estava contente.

– Não foi nada... vocês sabem que podem contar comigo - disse e desapareceu.

Ouvir aquilo foi um alento, tanto para Rukia, como para Ichigo, e ambos sentiram que algo estava diferente com ele.

– O que pretendem fazer agora? - perguntou Uryuu.

– Por hora devemos esperar as ordens da equipe de desenvolvimento... - explicou Rukia. – Mas amanhã podíamos nos reunir na casa do Urahara.

Os estudantes concordaram.

– Certo. Então vamos pra casa - chamou Ichigo, pouco depois todos deixavam a escola.

ooo ooo ooo ooo

Rukia e Ichigo caminhavam lado a lado, Orihime e Sado vinham logo atrás deles, Uryuu por último. Falavam sobre os hollows, até que Sado e Uryuu seguiram por outro caminho, rumo às suas respectivas casas. Orihime seguiu mais um trecho com o casal, caminhando do lado direito de Rukia, enquanto Ichigo vinha do lado esquerdo.

– Inoue, podemos contar com você caso Ichigo volte a passar mal?

– Claro, Kuchiki-san!

– Não se preocupe, Rukia... Foi só um mau jeito... estou bem agora. E você também não precisa se incomodar, Inoue.

– Não! - exclamou de um jeito afoito, gesticulando com as mãos. – Não é incomodo algum, Kurosaki-kun!

– Até parece que eu não vou me preocupar com você... - falou Rukia amena, coisa pouco típica dela e em resposta Ichigo lhe sorriu.

Notando a troca de olhares dos dois Orihime se achou uma boba por ainda manter, bem no íntimo, esperanças em relação ao amigo.

Foi então que, num lampejo, não pôde deixar de pensar em Ishida. Curioso como só naquela situação, junto dos dois, ela se permitiu pensar nele, e se sentiu horrível por ainda não ter tido coragem de esclarecer as coisas com ele, ao contrário, vinha se esquivando e o evitando. Não, aquilo não podia continuar daquele jeito...

– Ah,  eu lembrei que esqueci uma coisa lá na escola... - ela falou de repente, interrompendo Kurosaki que dizia qualquer coisa sobre o hollow. – É melhor eu voltar, então nos vemos na casa do Urahara-san amanhã. Até...

A moça saiu tão apressada, que os dois nem tiveram tempo de reagir.

– Que estranho... - Rukia comentou.

– Foi mesmo.

ooo ooo ooo ooo

Cerca de uma hora depois, na Clínica Kurosaki, Ichigo, em seu quarto, desabotoou a camisa do uniforme e tirou-a, deixando-a pendurada na cadeira próxima, depois abriu o armário em busca de outra roupa, foi então que ouviu a voz de Rukia.

– Ichigo, trouxe um  - dizia, mas enrubesceu ao vê-lo sem a camisa - lanche...

– Ah, obrigado.

– Vou deixar aqui - disse, disfarçando o acanhamento e deixando a bandeja sobre a escrivaninha.

Ele veio sentar-se na beira da cama do jeito que estava, deixando inclusive a porta do armário aberta.

– Não quer mesmo sair hoje? - perguntou a ela, numa última tentativa.

– Melhor não... Temos que estar alerta no caso de aparecer outro hollow... - disse, olhando na direção dele e depois veio fechar o armário.

– Tudo bem...

Lá dentro do móvel, Kon ficou atento ao perceber a reiatsu de Rukia no quarto.

O que? A Nee-san aqui? Junto com o Ichigo? O será que eles vão aprontar?” - indagava-se o pelucinha.

– Está melhor? - perguntou ela, séria.

Devia ser a milésima vez, em menos de uma hora, que ela perguntava aquilo. Ichigo não agüentava mais dizer que sim, talvez por isso tenha resolvido variar a resposta.

– Sabe, estou sentindo uma coisa estranha... um mal estar... - disse e foi se deitando devagarzinho.

Alarmada, Rukia deu um passo na direção dele.

– Eu senti isso daquela vez... - falou e sentou-se ao lado dele, pousando a mão em sua testa.

Ichigo ficou olhando com ternura para ela. Então fechou os olhos e virou o rosto para o lado da janela.

– Eu vou ligar para Inoue... - resolveu-se ela.

Ichigo a segurou pelo, ainda sem olhá-la.

– Não precisa... é brincadeira... só estou fazendo charme.

Ela piscou confusa e riu levemente.

– Sério?

Ele voltou o rosto, abriu os olhos e balançou a cabeça mostrando que sim.

– Seu bobo... - retrucou, mas não parecia tão zangada, tanto que acabou afagando os cabelos espetados dele.

Os dois se encararam apaixonados.

– Desculpa te preocupar...

– Como eu poderia não me preocupar com você, itoshii?

– ...gostei disso de você ficar me chamando assim... - falou baixo.

Contemplar o corpo bem feito do adolescente, estirado ali, com aquela expressão despreocupada, deixou o coração de Rukia acelerado no peito. Inclinando-se, ela o beijou na testa.

– Quer saber? – começou Ichigo – Com esses beijinhos, melhoro em dois tempos...

– Mas você disse que era brincadeira... - retrucou e deu outro beijo nele, no mesmo lugar.

– Ai, que dor, Rukia-hime, ajude-me... - satirizou.

– Meu beijinho faz a dor passar? - indagou charmosa, e o beijou de novo, só que no rosto.

– E como faz... - sussurrou, deliciado, e a puxou para mais perto.

Colaram as bocas num beijo demorado e gostoso, depois do qual riam um ao outro.

Uau! Nem devem lembrar que estou aqui! Que inveja! Ichigo seu sortudo!” - pensava consigo Kon, espiando tudo.

– Deve ser o bastante, não? - indagou Rukia, meiga.

– Não... - reclamou, mas deixou que ela se afastasse.

– É melhor você descansar um pouco, mais tarde vamos pedir pizza e jogar videogame... sugestão da Yuzu.

– Gostei da ideia.

– É, eu também.

Rukia se afastou, com um leve sorriso, e Ichigo, ao vê-la assim, fez o mesmo.

Aqueles estavam sendo dias maravilhosos.

ooo ooo ooo ooo

Cerca de uma hora atrás...

Ao chegar do colégio, Uryuu se atirou no sofá e ficou algum tempo ali, pensativo. A semana estava sendo bem difícil para ele. A situação mal resolvida com Orihime o atormentava e o modo como ela se esquivava dele, não deixava oportunidade para que se desculpasse.

Sentia-se desanimado, mas não adiantava nada ficar se lamentando também, então, se levantou e foi arrumar algo para distrair a mente.

Chegou à cozinha e abriu a geladeira na intenção de fazer um lanche, mas eis que a campainha tocou. Caminhou distraído, certo de que fosse a vizinha querendo alguma coisa emprestada e, ao abrir a porta, tomou um susto ao ver quem de fato era.

– Orihime! - exclamou atônito.

ooo ooo ooo ooo

Após reportar a missão ao capitão Kuchiki, Renji obteve dispensa pelo resto da tarde. Estava novamente na varanda de seu alojamento. As cenas daquela rápida estada em Karakura enchiam sua mente.

– Preciso cuidar da Rukia e do Kurosaki? Devo me tornar forte para proteger a relação deles?! É isso?

Suspirou fundo, se tivesse se perguntado o mesmo um dia atrás, diria que não, mas naquele momento, depois de ter visto os dois juntos, e de refletir melhor naquela sua conversa com Ikkaku, começou a enxergar algum sentido naquela ideia.

– Já não posso ser mais que um amigo dela... só que realmente, sempre foi assim e eu nunca me importei antes. Será verdade então?

Doeu reconhecer que sim, contudo, sentiu-se inegavelmente mais tranqüilo também.

– Abarai, que tal um pouco de sake? - o ruivo levantou os olhos para o dono do convite: Kira Izuru.

Era mais por educação que Kira o chamava, já que Renji vinha tratando a todos com aspereza, e por isso, ficou tão surpreso ao ver o amigo se erguer com o velho sorriso nos lábios.

– Só ser for agora...

Seguiram animados então para uma festinha agitada que acontecia não muito longe dali.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Gostei particularmente deste capítulo.
Espero que não deixem de comentar o que acharam!
Agradeço por todos os comentários até aqui.

Vocabulário
Wari: Foi mal
Hime: princesa
Itoshii: querido
Mae, Sode no Shirayuki: Dance, Luva de Neve. Liberação da zampakutou (dance) mais o nome dela (Sode no Shirayuki).
Some no Mai, Tsukishiro: Primeira dança, Lua branca. É o círculo de gelo.