Daron estava ao meu lado secando um prato que eu havia acabado de lhe dar. Ele me olhava de canto e revirava os olhos. A culpa não foi exatamente minha de nós termos que lavar a louça depois do almoço.

~Flashback on~

Estávamos falando com a Srta. Castelli quando a Vanessa apareceu furiosa e batia os pés no chão. Ela estava diferente, com umas pintas vermelhas na pele. Ao ver aquilo eu não me aguentei e comecei a rir descontroladamente.

— Continua rindo, Megan. Você ainda vai me pagar, garota. — Ela disse apontando o dedo na minha cara.

— Pagar? — Eu empurrei sua mão. — Pagar pelo quê?

— Pelo que você me fez! — Ela apontou para si mesma.

— Eu tenho coisas muito melhores para fazer ao invés de atazanar a vida alheia.

— Olha Srta. Castelli! Olha o que ela fez comigo! — Vanessa virou-se e choramingou.

— Você tem provas de que foi ela quem lhe fez isso? — A Srta. Castelli perguntou.

— B-Bom… — Vanessa gaguejou. — Estávamos só nós quatro lá dentro, certo? Isso não prova alguma coisa? — Ela disse com a voz mais fina do que o normal. — Ou você acha que eu iria me esfregar em uma daquelas plantas que dão coceira só pra sentir essa sensação?

— Estavam só vocês, mas você pode ter passado por uma sem perceber. Pode ter sido apenas isso. — A Srta. Castelli tentou me defender.

— Não tente defender ela. Eu tenho certeza que foi ela quem fez isso.

— E como ela poderia ter feito se estava comigo o tempo todo? — Daron se intrometeu.

— Você deve tê-la ajudado. — Vanessa acusou.

— Você não tem provas. — Cruzei os braços.

Ela respirou fundo.

— Tudo bem. — Ela riu sem humor. — Mas pelo menos, eu não sou uma vagabunda que rouba o pretendente das outras.

— Isso não tem nada a ver! E eu não roubei o seu “pretendente”, garota.

— Não? — Ela riu novamente. — Não. Tudo bem, então foi só o acaso você começar esse “relacionamento” com Daron pouco depois de eu te contar que gosto dele?

— Vanessa…

— Cala a boca! Sua…

— Garotas! Isso não deve ser resolvido dessa forma, tá bom?! — A Srta. Castelli interrompeu.

— Não. Não mesmo!

Eu percebi que ela iria me dar um soco, mas eu aprendi bastante desde a última vez e fiz o que qualquer pessoa normal faria: desviei e me defendi. Aprendi com uns programas que nos ensinam a nos defender de caras grandes e maus. O que eu esqueci era que Vanessa não era um cara grande e mau. Ela é apenas uma garota franzina e meio metida. Mas eu juro que foi o meu instinto que fez com que eu desse uma joelhada na barriga dela. Eu juro que não sabia que isso doía. Mentira, eu sabia sim. Mas não era a minha intenção machuca-la.

— Mas o que é isso? Megan Ryan! — A Srta. Castelli se abaixou e pôs suas mãos ao redor do ombro de Vanessa. — Você será punida, mocinha! — Ela olhou para Daron. — Você e o seu parceiro.

— Mas eu não fiz nada. — Daron defendeu-se.

— Exatamente! Você deveria ter feito alguma coisa.

Daron levantou as mãos ao ar e me deu aqueles típicos olhares mortíferos.

Para a nossa sorte, não havia muitas coisas para se fazer nesse lugar, então a Srta. Castelli nos mandou lavar a louça.

~Flashback off~

Tudo bem, a culpa foi minha, mas a garota me provocou.

Eu respirei fundo e continuei com o serviço o mais tranquilo que a situação me permitia.

— Sabe… Eu nunca pensei que você poderia bater em alguém. — Daron riu pela primeira vez desde que entramos naquela cozinha.

— Tive que aprender a me defender, né?! — Sorri sem graça.

Ficamos em silêncio de novo, mas não por muito tempo.

— Isso tá muito chato. — Resmunguei.

— Estamos lavando a louça. Tem como isso ser divertido?

— Que tal um jogo? — Sugeri.

— Que jogo?

— Hum… — Pensei um pouco. — Laranja.

— O quê?

— Diz laranja e outra fruta.

— Ah. Laranja e maçã.

— Laranja, maçã e banana.

— Laranja, maçã, banana e abacaxi.

— Laranja, maçã, banana, abacaxi e… — Pensei um pouco. — melancia.

— Laranja, maçã, banana, abacaxi, melancia e morango.

— Laranja, maçã… banana, abacaxi, melancia, morango e… — Droga, eu sou péssima nesse jogo. — limão!

— Laranja, maçã, banana, melancia…

— HÁ! Você errou! Esqueceu o abacaxi.

Ele revirou os olhos.

— Esse jogo é estúpido.

— Estúpido é você! — Joguei água nele.

— Pensando bem, você é estúpida! — Ele também me jogou água.

— Idiota. — Murmurei.

— Idiota. — Ele me imitou.

Voltamos a ficar em silêncio.

Nesse momento, Vanessa entrou na cozinha, junto com a sua fiel escudeira, Charlotte, com uma cara de poucos amigos.

— Vim deixar isso aqui. — Ela me entregou o prato e sorriu vitoriosa. A garota devia pensar que eu era escrava dela ou coisa do tipo.

— Que é garota? — Ergui as sobrancelhas.

— Nada não. — Ela sorriu. — É que quem ri por último, ri melhor. — Ela saiu gargalhando. 

— Qual é o problema dela? — Daron perguntou.

— Ela sofre por um amor não-correspondido.  

— Esse amor seria eu?

— Sim.

Ele sorriu.

— E quem disse que não é correspondido?

Sabe o que eu tive vontade de fazer? Socar essa cabeça insolente desse ser acéfalo. Mas é claro que eu não fiz isso. Por quê? Apenas porque eu não faço esse tipo de coisa, embora devesse. O que eu fiz foi ficar calada. E, claro, fechei a cara. Eu prometi a mim mesma que não iria sorrir, de forma alguma.  Ele havia parado de secar os pratos e ficou me encarando.

— Continue a secar. Eu já estou terminando aqui. — Disse séria.

— Megan…

Não respondi. Faltavam apenas dois pratos pra eu terminar. E claro que eu lavei da forma mais rápida possível. Ele ainda estava parado me encarando.

— Eu já terminei. Não vou ficar aqui te esperando.

Virei-me para sair, mas Daron segurou o meu braço. Ele me puxou para perto e eu já sabia o que viria a seguir. Mas eu bati em sua face o deixando completamente surpreso. Acho que depois de tanto tempo, a minha mão está aprendendo o que é bater em alguém. E tudo por causa do inútil, imprestável e idiota do Daron. Eu o empurrei e sai correndo dali. Ao invés de ir pro banheiro do quarto e ficar chorando, eu resolvi ir falar com a Jessica.

Estava cansada de ficar chorando por qualquer coisa. Estava na hora de eu aprender a ser forte e encarar os meus problemas. E não era chorando que as coisas se resolveriam. Claro que não.

Entrei no quarto em que Jessica estava e a avistei deitada na cama com um sorriso no rosto.

— Jessica? Eu preciso falar com você.

— Ah, Megan, eu também preciso falar com você! — Ela saltitou até onde eu estava. — O Scott me beijou! — Ela sorriu e pulou e deu gritinhos.

— Uau, ahn… parabéns! — Dei batidinhas em seu ombro.

— Ih, o que foi que aconteceu? Pelo visto não foi coisa boa. — Ela desfez o sorriso.

— O seu irmão aconteceu. — Respondi irritada. — Ele é um imbecil!

— E só agora você percebeu? — Ela riu.

— Isso não tem graça. Ele… — Respirei fundo e contei até dez. — Eu disse que a Vanessa tinha um amor não-correspondido por ele e o idiota, imbecil, estúpido, desgraçado… — Respirei fundo novamente. — Ele disse: “E quem disse que não é correspondido?” e ainda disse sorrindo! Eu quase matei aquele garoto!

Jessica estava de olhos arregalados e com a boca aberta.

— Megan, quando você resolveu virar tão… violenta?

— Há umas horas… Enfim, eu não sei o que fazer. — Choraminguei.

Ela sorriu.

— Você sabe que ele fez isso só pra te provocar, né?

— Claro que sei e é isso que me deixa irritada!

— Então, sabe o que você faz? — Eu balancei a cabeça em negativa. — Dê um gelo nele.