Não havia pregado o olho uma vez sequer depois que voltamos do lago. Na minha mente havia algo muito pior no meio daquelas folhas e galhos secos. Eu tinha que voltar lá.

-Quer mais suco, filha? – Meu pai me tirou dos meus pensamentos.

-Não. Valeu. – Pus minha tigela de cereais na pia, limpando o resto do leite da minha boca com as costas da mão.

-Hum. Sua mãe me pediu para te lembrar de que a audiência para a guarda é em três dias.

-Ok, apenas diga que eu não vou.

-Silena nós já conversamos sobre isso. – Edward me repreendeu.

-Ok, pai. Estou atrasada. Hoje é domingo, tenho que passar na biblioteca e terminar meu trabalho. – Dei um beijo de despedida nele e sai.

           Andei até a biblioteca da cidade, os fones de ouvido no volume máximo ajudavam a encurtar o caminho.

-Bom dia. Em que posso ajudar? – A bibliotecária me olhou por cima dos óculos redondos.

-Estou procurando um livro sobre a II Guerra.

- Corredor I-35, segundo andar. – Ela apontou para as escadas ao meu lado.

-Obrigado.

            Subi rapidamente os degraus do lugar, procurando o corredor I-35.

-Hey. – Subitamente eu conheci a voz.

-Jason? O que faz aqui?

-Bom, parece que algum idiota passou um trabalho manuscrito, cuja todas as informações tem que ser de livros e não da internet.  – Ele riu de seu próprio comentário.

-Jason, vamos voltar lá? – Perguntei subitamente enquanto caminhávamos entre as estantes de livros.

-Hã?

-No lago, vamos voltar lá?

-Todos nós?

-Não. Henry não vai querer ir, e duvido que seja uma boa ideia deixar sua irmã e a ruiva juntas de novo. – Procurei pelos títulos, até achar um grosso livro de história.

-Me deixa adivinhar. Você não dormiu a noite toda querendo saber o que tinha no lago, e aposto que seu amiguinho sabe, mas não vai contar de jeito nenhum.

-Puxa, você é bom. – O loiro deu de ombros. – Vamos?

-Hoje à noite. Vou passar na sua casa as 10h00min. Ok?

-Ok, estacione nos fundos. – Apertamos as mãos e voltamos a procurar os livros.

                            *                 *                *

        Estava terminado de me arrumar, quando ouvi o carro de Jason de aproximando. Eram 10 em ponto. Minha desculpa era uma dor de cabeça, então Edward dificilmente me incomodaria.

        Pelo som que vinha do andar de baixo, meu pai ainda via TV. Sair com ele na sala seria impossível, então só me restava pular a janela.

        Abri o vidro, olhando para baixo. Merda! Era mais alto do que eu imaginava. Sentei-me no parapeito da janela, ainda mirando o chão abaixo de mim. Puxei o ar lentamente ao mesmo tempo em que fechava os olhos. Cai no chão, o impacto com a grama fria e recentemente regada me fez gemer de dor. No carro Jason se contorcia de rir.

-Olha você poderia ter me ajudado. – Disse batendo com força a porta do Dodge e tirando as folhas do meu cabelo.

-E perder essa cena? Nunca. – Ele continuou rindo. – Foi sua primeira vez pulando uma janela, Indiana Jones? – Comentou com sarcasmo

-Sim, e para sua informação você também teria caído. Agora vamos logo. – Ele deu a partida e rapidamente estávamos no caminho.

-Ok, chegamos. – Saímos do carro, ligando nossas lanternas. O céu estava cinza, sem a lua para nos iluminar.

         Instintivamente cheguei perto de Jason, que apenas sorriu.

-Bom, foi aqui que ouvimos o barulho ontem. – Ele disse apontando o feixe de luz em direção as árvores.

-É... Vai você na frente. – Falei com receio.

-Sabe Silena, se eu não te conhecesse diria que está com medo. – Ele percebeu isso no tom da minha voz.

-Não... – O loiro me olhou. – Tá bom, eu morro de medo do escuro. Feliz? Agora você vai à frente ou não? – Confessei.

              Fazia meia hora que andávamos pela floresta e nada. Já estava cansada.

-Jason, vamos voltar. Não há nada por aqui. Admita, ouvimos um urso ou algo assim.

-Hey. O que é aquilo? – Ele apontou para o chão.

           Entre as folhas, algo dourado refletia a luz da lanterna. Abaixei-me e pequei o objeto. Era um pingente igual ao que eu usava na pulseira.

-Jason, um de nós esteve aqui.