Gabriel

Quando a vi irromper o refeitório, um sorriso se formou em meu rosto. Eu não consegui evitar. Meus olhos analisaram-na e eu não consegui parar de sorrir. Havia algo nela. Ela estava tão linda. Os cabelos castanhos presos desordenadamente em um rabo de cavalo. O short curto deixando a mostra suas pernas torneadas. Um sorriso fraco no rosto. Não era o sorriso que eu tinha me acostumado a ver, mas ela estava sorrindo.

Depois de olhar em seus olhos e inconscientemente falar aquela coisa... “Tá. Tá doendo muito Mel... Não sei se eles têm remédio para o que estou sentindo.”  Percebi o quanto estava louco. Eu precisava falar aquilo. Precisava. Mas sabia que isso não sairia se eu estivesse totalmente são. Mas, ao vê-la... Ao vê-la fitar meus olhos com uma expressão confusa, foi como se eu me embriagasse dela, e as palavras só saíram. No instante em que senti seus dedos tocarem minha mão, foi como se uma certeza preenchesse-me e eu só soubesse que, sim, ela ainda gostava de mim. Eu sabia que ela estava lutando contra o que sentia, e sabia que ia continuar fazendo isso, mas... Foi como se eu voltasse a me encher de esperança. Eu não sei se podia mais escolher desistir dela. Eu precisava da Mel, e ficar sem ela estava me deixando louco. Eu tinha que mudar as coisas, só não sabia como. Talvez mudar o jeito de falar ou de agir. Não sei. Eu precisava dar um jeito. E eu ia dar.

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Quando saímos do refeitório, fingindo que não nos conhecíamos, fomos direcionados a um campo enorme. Todos os professores estavam lá esperando que nos juntássemos. Havia vários grupos de alunos com camisas de cores diferentes.

- Bom dia alunos! – o professor Colin gritou e todos gritaram em resposta. – Vamos fazer uma gincana agora e quero que vocês se juntem com mais dois grupos. - Os alunos começaram a se misturar. Nossa esquipe da cabana Lilás, se juntou com a cabana Azul e a Verde. Sale bateu na minha mão e eu sorri.

O professor explicou a gincana e a primeira prova.

Um jogo de vôlei, onde jogariam doze pessoas de cada lado. Sendo que teriam que formar duplas para que agissem como um só jogador, como se tivessem somente seis pessoas de cada lado. A dupla deveria se prender com um elástico. No nosso grupo de 27 pessoas tentamos separar seis duplas. Eram 18 meninas e apenas 9 meninos. Resolvemos formar duplas com um menino e uma menina. Sale se dispôs a entrar e Zoey agarrou seu braço. Vi Mel se remexer e torci para alguém pegar John. Ellie o fez e eu sorri. Ótimo, minha vez.

Mel

 Eu também queria jogar, mas eu estava sem opções depois de Sale e John serem escolhidos. Só me restavam agora Victor, Orlando, Caio, Filip, David, Marco e Gabe.

- O que acha de ir comigo, aluna? – Gabe perguntou encarando-me de longe. Eu sorri involuntariamente, mas fiquei séria depois.

- Tudo bem, mas e a sua mão? – perguntei de longe e ele sorriu.

- Pra tudo dá-se um jeito. Eu ignoro a dor, sou bom nisso. – ele disse alto para que eu o escutasse. Balancei a cabeça negativamente, tentando não pensar no que ele queria dizer com aquilo. Peguei um elástico na mão do nosso monitor e andei até Gabe.

- Onde quer que eu amarre o elástico? – perguntei e ele sorriu.

Se ele queria brincar eu iria adorar entrar na brincadeira.

Amarrei o elástico em seu braço esquerdo e a outra ponta no meu braço esquerdo, assim eu podia ficar na frente dele e seríamos como um só. Jogador, ok? É só o jogo. Nada mais.

- Vocês estão prontos? – O professor gritou e nós assentimos. Nosso time seria o primeiro a jogar contra o time L.A.C, [ laranja, amarelo e cinza]. – V.A.L contra L.A.C. – ele gritou e nós nos posicionamos do lado direito do campo. Seria vôlei na grama. Uma experiência interessante. Tenho que admitir que me senti incomodada com Gabe atrás de mim. Estávamos exageradamente, a um braço de distancia e jamais seríamos um só jogador assim, mas eu não estava nem um pouco disposta a propor que ele chegasse mais perto de mim.

O jogo começou com a dupla do outro time se matando pra conseguir levantar a bola. Eu ri e o juiz improvisado, resolveu passar o levantamento de bola para nosso time. Zoey permaneceu quieta quando Sale lançou a bola, o jogo começou de verdade e eu e Gabe paramos perto da rede. Quando a bola voltou para nosso lado, Gabe e eu não conseguimos pega-la. Gabe foi para um lado e eu pra outro.

- Ei, vocês precisam conversar entre si. – John gritou.

- É, senão não ganhamos. – Ellie berrou e eu bufei. Outra bola veio e o erro se repetiu. Uma, duas, seis vezes. Os outros jogadores do nosso time já nos olhavam irritados.

- Ok, se a gente não pegar a próxima bola, vamos ser fulminados. – Gabe disse e eu concordei em pensamento. Ele suspirou com minha ausência de resposta e o jogo continuou. Quando a bola veio para nosso lado, Sale jogou-a para o ar, Ellie rebateu para minha direção, e eu puxei Gabe, fazendo-o colar em mim e no mesmo instante pulamos em sincronia, batendo na bola juntos com a mão direita fazendo a bola quicar do outro lado do time adversário.

- É disso que estamos falando. – Sale berrou e eu olhei pra Gabe que sorriu de lado.

- Vamos ganhar. – eu falei pra Gabe que sorriu largamente. As próximas jogadas foram como se nós tivéssemos ensaiado. Tudo em sincronia, pulávamos e batíamos na bola ao mesmo tempo com as mãos certas. O jogo já ia acabar, quando ouvi Gabe gemer baixinho atrás de mim. Encarei-o enquanto ele olhava a própria mão. Quando me viu encará-lo ele sorriu forçadamente e olhou para o outro lado. – Podemos parar se tiver doendo. – eu disse mesmo depois da bola vir para nosso lado. Ele sorriu e eu observei suas bochechas avermelhadas pelo esforço que ele estava fazendo.

- Vamos ganhar, parceira. – ele disse antes de me virar pra frente em um movimento rápido, segurou minha cintura e nós pulamos novamente em sincronia, só que dessa vez ele rebateu a bola sozinho, pondo toda a força na mão esquerda. Nós caímos no chão, e eu vi ele contorcer o rosto numa expressão de dor. – Ok, agora tá doendo mesmo. – ele disse e eu levantei estendendo a mão pra ele.

- O jogo acabou, vamos pra enfermaria. – eu disse enquanto ele levantava.

- GANHAMOS. – John gritou me puxando para um abraço.

- Não John, você está suado. – eu berrei e ele riu me soltando. – Gabe está machucado. – eu disse e vi Gabe me olhar. – Leva ele na enfermaria. – eu disse antes de me desamarrar o elástico da minha mão. Gabe me lançou um olhar indecifrável antes de virar-se em direção a enfermaria. Suspirei.

- Quanta sincronia. – Ellie sussurrou no meu ouvido e eu ri.

- É, sorte no jogo, azar no amor. – eu disse me sentando no banco.