Flawz escrita por ChocolateQuente


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

*-*



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                                    Amélia. Ou, Mel.

Depois de conseguir agir naturalmente com o fingido Gabriel no pátio, fui pra sala, só para descobrir que também não teria o segundo tempo. Resolvi sentar na carteira da sala, para esperar a próxima aula, já que não havia nada mais interessante a fazer. Fiquei alguns minutos tamborilando os dedos na mesa, até que meu celular vibrou dentro da bolsa. Peguei-o e arqueei uma sobrancelha ao ver que a mensagem era de um número desconhecido para mim.

“Estou com saudades. Venha me ver no 3° ano B.”.

Encarei a mensagem por alguns minutos e depois apenas sacudi a cabeça negativamente. Apaguei e resolvi ignorar. Alguns minutos depois eu já estava roendo a pele da lateral das unhas. Quem tinha mandando a mensagem? Eu precisava saber. A curiosidade era meu ponto fraco e eu só não conseguia resistir. Quando dei por mim, estava andando no corredor em direção ao 3° B. Parei em frente à janela da sala e encostei-me para encarar os alunos. O idiota do John. Diego. Drew. Tony. Lucie. Será que ela tinha...? Não. Eu acabo com ela.

- Sr. Johnson? – o professor chamou alto e eu dei um pulo escondendo-me.

- Sim professor. – ouvi alguém responder e voltei para a janela.

- Creio que sua “viagem” fora de hora tenha a ver com o assunto debatido aqui neste recinto. – ele disse e eu segui seu olhar. Gabriel Johnson. Será que ele tinha mandado a mensagem? Não. Porque mandaria?

- Tem razão. – Gabriel respondeu.

- Então você pode fazer um resumo do tema de hoje? – o professor perguntou com um olhar desafiador e eu o vi se endireitar.

- Claro. A Segunda Guerra Mundial provocou um desenvolvimento na indústria bélica e um número exorbitante de mortes, destacando o extermínio dos judeus que chegou a cerca de sete milhões de vítimas. – ele começou e eu senti meu queixo cair. – Além disso, a criação da ONU, o Plano Marshall, que era o plano de ajuda econômica dos EUA para recuperar a economia europeia, e a Guerra Fria. – ele continuou com um sorriso. – Posso continuar se quiser. – ele disse.

- Creio que não é necessário. – o professor falou voltando-se para o quadro e eu tive que rir. Voltei a olhá-lo e vi Lucie sorrir para ele. Bufei. Quem poderia ter mandado a mensagem? Não conseguia pensar em ninguém. O sinal ecoou fazendo-me pular e sair da frente da porta. Os alunos começaram a sair e eu observei Gabriel e John saírem sorrindo. Ele era bem inteligente, e talvez não fosse fingido como eu pensava. Como a Amélia pensava. Sempre tão desconfiada, analisei a mim mesma. Vi John me olhar e virei-me, olhando antes apenas Gabriel encarar-me com uma expressão de confusão. Andei apressadamente de volta para a sala e sentei-me na carteira encarando o celular.

- Porque não esperou que eu saísse da sala? – ouvi uma voz atrás de mim e virei-me rapidamente para olhar.

- Sale! – berrei jogando-me em seus braços. Ele me apertou forte tirando-me do chão.

- Pestinha. – ele sussurrou e eu sorri, afastando-me um pouco dele. Ainda segurando seus braços observei seu rosto. Os olhos verdes minúsculos, e o nariz coberto com sardas marrom avermelhadas. A boca fina rosada repuxada em um sorriso incrível que eu conhecia há muito tempo. Os cabelos alaranjados estavam maiores e caíam levemente sobre a testa. Passei os dedos em seu rosto, analisando a pele branca como papel.

- Você é o ruivo mais lindo que eu conheço. – eu disse e ele sorriu.

- Considerando que eu sou o único. – ele disse rindo.

- Você tem malhado? – perguntei apertando seus braços que pareciam muito maiores. Ele gargalhou.

- Um pouco. – ele admitiu e eu assenti sorrindo.

- Ruivos não são fortes. Ou são gordinhos, ou são magrelos. Não fortes. – eu disse.

- Não seja preconceituosa. – ele riu.

- Eu devia demitir você como melhor amigo! – berrei dando um tapa em seu braço. Ele riu da minha mudança de assunto repentina.

- Me desculpa. – ele riu passando a mão no braço. – Estive muito ocupado, mas eu voltei não é?

- Voltou? Digo, pra ficar? – perguntei encarando-o ansiosa, ele sorriu antes de assentir. Pulei novamente em seu pescoço. – Espera foi você quem mandou a mensagem? – perguntei afastando-me um pouco.

- Sim, quem pensou que fosse? – ele perguntou e eu balancei a cabeça negativamente.

- É que era um número diferente.

- É verdade, perdi meu celular antigo. – ele disse. – O que quer fazer agora? – ele perguntou.

- Como assim? Agora vou estudar. – eu disse dando de ombros.

- Sei. – ele riu. – Hoje eu só vou ter aula de educação física e matemática financeira. - ele bufou. – E quanto a você, sei que quer ir embora nesse exato momento.

- Nossa, que grande amigo você é, deixa a dona Jamie saber que você está me induzindo a filar aula. – eu disse e ele gargalhou.

- Até parece que ela não conhece a própria filha. – fiz careta para ele.

- Ok, vamos logo. Como vou passar pelo inspetor? – perguntei colocando a mochila nos ombros. Ele riu maliciosamente.

- Quem é o melhor em fugas escolares? – ele perguntou levantando a cabeça em um gesto esnobe.

- Olha só como ele se orgulha disso. – eu disse rindo antes de sair da sala.

Com seu plano infalível de pular o muro dos fundos da escola que dava para uma creche, passamos correndo por crianças que gritavam e riam feito hienas doidas e conseguimos fugir da escola.

- Quero sorvete de limão com calda de chocolate. – falei e ele riu.

- Agridoce, é claro. – ele disse quando paramos em frente à sorveteria. Enquanto ele fazia nossos pedidos observei-o. As mesmas manias. O mesmo jeito. O mesmo sorriso. Só eu tinha mudado? Por quê? Eu sabia por que, não precisava ficar repassando isso em minha cabeça. Não? Desde que Sale tinha ido para um mochilão pela Europa, eu tinha ficado sozinha. E então tudo mudou. Ou melhor, eu mudei. – Aqui. – Ele voltou com nossos sorvetes e sentou-se em minha frente do outro lado da mesa pequena. Comecei a comer em silencio e senti seus olhos em mim. Levantei a cabeça e o encarei, depois revirei os olhos.

- Nem vem Samuel Levi, não vou falar sobre isso.

- Eu nem disse nada. – ele falou enchendo a boca com sorvete.

- Mas ia falar.

- Ia? Não. Eu vou. Quero saber qual o problema. – ele disse me encarando seriamente.

- Você sabe qual o problema. – eu disse irritada.

- Não sei não. Isso faz tanto tempo. Minha família e eu viemos pra cá, logo depois sua mãe resolveu vir também, mudamos de escola, mudamos de rotina. Passou. – ele disse suave, mas firmemente.

- Passou pra quem? – perguntei batendo na mesa com a mão fechada em punho.

- Pra todo mundo.  Esquece. – ele pediu segurando minha mão, abrindo-a e entrelaçando seus dedos entre os meus. Apertei os olhos. Suspirei.

- Não consigo. – eu disse e balancei a cabeça. – Não consigo voltar a ser o que eu era antes.

- Claro que consegue. Com exceção de alguns poucos minutos, você foi a mesma desde que te vi lá na sala, há pouco tempo.

- É porque você está aqui. – eu disse forçando um sorriso.

- E vou estar. Sempre. – ele disse sorrindo, abaixei a cabeça. – Ei. – ele chamou forçando-me a olhá-lo. – Estou aqui. A Mel pode voltar. – ele disse e eu sorri largamente. Involuntariamente. Era verdade. Com ele ficava mais fácil. Ele lembrava-me de como eu era e tudo saía involuntariamente. Ele tinha razão. A Mel podia voltar.

                                       Gabriel

- Hey John. – chamei quando o vi passar todo suado pelo pátio. – Viu a esquisita? – perguntei quando ele chegou perto.

- Ela saiu com o Cabelo de Fogo. – ele disse sacudindo a cabeça.

- Ele já voltou? – perguntei e ele assentiu com a cabeça. – A aula dela já acabou?

- Não, acho que ela filou com ele. Vi os dois pularem o muro dos fundos. – ele disse e eu ri. – Vou tomar banho, a gente se fala depois. – assenti e ele saiu.

Então a esquisita pula o muro dos fundos, pensei andando de volta pra sala ao ouvir o sinal. Depois da aula, fui pra casa sem falar com John. Tomei banho e me joguei de costas na cama.

- Filho vem comer! – minha mãe gritou da cozinha. Levantei em um pulo e saí do quarto.

- Qual o rango? – perguntei entrando na cozinha. Abri a geladeira e peguei uma lata de refrigerante, depois me sentei à mesa.

- Strogonoff de frango. – minha mãe disse voltando a cozinha e pondo um refratário grande sobre a mesa. Ela deu um beijo em minha testa e eu sorri.

- Qual o motivo? Strogonoff? Assim em plena terça-feira? Quem vem aqui? – perguntei pegando um prato e pondo uma porção nele.

- Filho, por favor. – minha mãe pediu e sentou-se ao meu lado.

-Deixe-o. – meu pai murmurou do outro lado da mesa. Continuei colocando a comida, ignorando sua presença. – A gente cria filhos para eles crescerem e serem mal educados e ingratos. Faz parte. – ele disse com a voz firme e eu bufei levantando.

- Vou comer no quarto. – falei saindo virando-me pra sair.

- Filho...

- Tenho lição, mãe. – eu disse e saí, voltando ao meu quarto. – Saco! – murmurei fechando a porta.

Coloquei o prato e o refrigerante sobre a mesa do computador e conectei a internet. O telefone tocou e eu já sabia quem era antes de atender.

- Fala cara. – falei atendendo.

- Hey dude, o que tá fazendo? – John perguntou do outro lado da linha.

- Estou comendo e estou tentando conectar a internet. – falei enfiando frango e batata palha na boca.

- Ah tá. Já sabe o que vai fazer com a esquisita? – ele perguntou e eu cocei a cabeça.

- Não. Não faço a mínima ideia. – admiti.

- Fuça o perfil dela na internet, quem sabe você encontra alguma coisa que te ajude.

- Tipo o que?

- Tipo banda que ela escuta, filmes que ela gosta, livros que ela lê. – ele sugeriu e eu ri.

- Ela deve escutar Cody Simpson, assistir comédias românticas e ler revistas de autoajuda para adolescentes. - bufei. John riu.

- Vou entrar aqui também. – desliguei o celular e em alguns minutos o rosto de John apareceu estampado em minha tela. – Achou alguma coisa?

- Não, vou tentar achar o perfil dela agora. – eu disse enquanto ajeitava a câmera. Conectei-me em uma das minhas redes sociais e pus-me a procurar o perfil dela. – Qual o nome dela mesmo?

- Amélia Miller. – John disse. – Mas pode estar Mel Miller. – Procurei os dois nomes e não os encontrei.

- Não tem nenhuma Amélia ou Mel Miller.

- Também não encontrei. – John disse. – Já sei! – ele quase gritou. - Eu tenho o Cabelo de Fogo, vou te mandar o link. Deve ter alguma coisa dela lá. Eles são bem unidos. Só vivem juntos. – John mandou o link e eu comecei a fuçar seu perfil.

- Ela não tem nenhum perfil. Mas tem várias fotos dos dois aqui. – eu disse encarando as fotos. Amélia aparecia em quase todas as fotos fazendo caretas e sorrindo, o que eu não estava acostumado a ver acontecer com frequência. Aquela parecia ser outra garota.

- Nem parece ela. – John externou meus pensamentos. – Será que eles têm alguma coisa? – John perguntou.

- Acho que não. – eu disse. – Se tiverem, eu sinto muito por ele. – John gargalhou.

- Estaca zero. – ele disse e eu entendi. – Você não vai conseguir. E não vai pegar a Lucie também.

- Não me subestime. Quando eu quero eu consigo. – eu disse sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor. *-*