A Primeira Família de Esther escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 15
Destruição


Notas iniciais do capítulo

Bem, bem. Este daqui é o último capítulo, já que o próximo será o epílogo. Estou feliz :) Este será meu segundo trabalho concluído. Mas deixemos essa conversa para o próximo capítulo - espero que gostem deste!



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Enquanto Esther estava no quarto, Rick tentou ligar para o celular de Eliza. Tocou duas vezes antes de cair na caixa postal. Ele estava quase entrando em desespero – ela estava com Leon e Mandy, e Rick sequer sabia para onde eles tinham ido.

Ele andou pela sala por algum tempo, imaginando o que poderia fazer. Não se sentia nem minimamente disposto para preparar o jantar ou mesmo para comer, mas resolveu pedir uma pizza ao pensar que Esther deveria estar com fome.

Arrumou a mesa da cozinha para os dois, ligou para Eliza mais duas vezes – ambas chamadas caíram na caixa postal imediatamente, o que o fez acreditar que ela tinha desligado o celular – e se sentou à mesa, esperando que Esther descesse ou que a pizza chegasse.

O entregador demorou um pouco por causa do trânsito e mesmo assim chegou antes da menina. Rick já estava começando a pensar seriamente que ela estava evitando a conversa dos dois e que era melhor que fosse chamá-la mais uma vez quando ouviu um barulho de porta se abrindo no andar superior e esperou que Esther viesse se juntar a ele. Definitivamente, foi uma enorme surpresa quando ela passou pela porta da cozinha.

– Esther... O que significa isso?

*********

Rick estava surpreso, e eu não podia esperar outra reação dele. Também não podia esperar que ele não me olhasse naquele momento como se estivesse vendo algo absurdo, embora isso fosse ter tornado o começo muito menos complicado.

Mas estava tudo bem – fora complicado chegar até ali, e no entanto, lá eu estava. Eu podia fazer isso agora, e caso Rick não colaborasse, eu também podia dar um fim e recomeçar. Graças ao hipopituitarismo, eu teria aquela aparência de criança para sempre, o que me ajudaria naquilo. Mas eu não pretendia falhar daquela vez.

– Vamos comer aqui na cozinha hoje? – Perguntei, como se não tivesse escutado o que ele mesmo perguntara. Ao passar pela geladeira, a caminho da mesa, pude ver o meu reflexo distorcido nela: Vestido decotado, maquiagem. Muito diferente de tudo o que eu vestira nos últimos meses.

– Esther, eu estou falando sério. Por que você está vestida assim? – Ele tornou a questionar. Gostei do tom cansado em sua voz. Significava que não iria insistir muito naquilo.

Parei em frente à uma cadeira em frente à dele, no outro extremo da mesa, e pousei uma mão no encosto.

– Porque eu gosto. – Respondi. – Você não acha que eu estou bonita com essa roupa?

– Não é uma roupa para ser usada por uma criança. O que aconteceu com seus vestidos?

Rick não estava entendendo. Eu teria de ser ainda mais paciente, vi, mas valeria a pena no final.

– Estão no meu quarto. Mas, pessoalmente, acho que fiquei melhor com esse vestido do que Eliza.

– “Eliza”? Por que você a está chamando sua mãe pelo primeiro nome? Você está me deixando confuso. – Rick colocou o rosto nas mãos por um breve instante. – Veja, acho que não estou bem para termos aquela conversa agora, Esther. Por que você não volta para o seu quarto e deixamos isso para amanhã? Acho que nós dois precisamos dormir um pouco.

Não. Eu não iria parar naquele momento.

– Entendo que esteja confuso. – Andei até outra cadeira, ao lado da dele, e a puxei até estar ainda mais próxima antes de me sentar. – E frustrado por Eliza ter saído com Leon e Mandy. E assustado por causa de John Murray, que invadiu nossa casa e matou Ashley um tempo atrás. Mas você não precisa lidar com tudo isso sozinho. Você pode contar comigo. – Ao que ele não respondeu, continuei: - Quer que eu lhe faça uma massagem?

– Isso é loucura. – Declarou ele, de repente, se levantando. Senti como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir, mas permaneci sentada, olhando-o com inocência.

– Não é loucura, Rick.

– Não me chame de Rick! Eu sou seu pai! – Rick sacudiu a cabeça, exasperado. – Embora depois do que andou acontecendo nas últimas semanas, Esther, eu esteja em dúvida se também sou isso. Eliza, Leon e Mandy foram embora por sua causa!

Foram as palavras mais duras que ele já tinha dito para mim. Minha explosão interna aconteceu, e vi nos olhos dele que Rick tinha reparado no meu súbito olhar de ódio. Ele pareceu que iria falar outra coisa, mas foi impedido por seu celular que começou a tocar naquele instante. Foi como se ele tivesse esquecido de minha presença, então, tirando o celular do bolso, vendo o número, arregalando os olhos e atendendo a ligação com um desesperado:

– El? – Virou-me as costas e começou a andar em direção à sala enquanto a pessoa do outro lado da linha respondia. – Ah, oi, Mandy! Onde vocês estão? Sim. Sim. Mandy, pode passar para a mamãe?

Havia uma longa faca na mesa, que Rick provavelmente tinha pego para cortar a pizza. A peguei – ela não me deixaria na mão. Facas nunca me decepcionavam.

– Eliza! Por favor, não desligue, eu...

Me aproximei por trás. Tão ocupado que estava com o celular, Rick sequer me notou. Odiava quando me menosprezavam.

A faca entrou mais fundo nas costas dele do que tinha entrado no corpo de Ashley. Rick arfou e derrubou o aparelho no chão.

– Rick? Rick? – A voz de Eliza quase gritava no outro lado da linha.

Aproveitei sua fraqueza para puxá-lo ao chão também, e as próximas facadas dadas foram de frente.

– Rick, o que está acontecendo?! Tem a ver com Esther?!

Não tinha a ver com Esther, porque Esther não existia. Meu nome era Leena Klammer. Rick parou de se mexer. Só então peguei o celular e o desliguei, antes de tacá-lo com força no chão, novamente.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Sentei no sofá, observando o corpo. O celular de Rick tocou mais algumas vezes, antes de se silenciar.

Eliza provavelmente estava vindo para casa agora, ver o que aconteceu. Ela poderia estar chegando com Leon e Mandy a qualquer momento. Era típico.

Eu tinha de ser rápida se quisesse dar um fim naquela palhaçada toda sem mais enrolações.

Arrastei o corpo de Rick para a cozinha. Se o encontrassem na sala, logo quando chegassem, iriam correr para fora da casa, e meu plano iria dar errado. Depois, fui para o meu quarto. Velozmente, tirei o vestido de Eliza e vesti uma camisola, como se já estivesse me preparando para ir dormir. Limpei a maquiagem do meu rosto e passei uma nova, mais leve. Deixei as peças de roupa jogadas pelo chão – não iriam ser reconhecíveis quando os bombeiros chegassem, mesmo – e corri para o andar debaixo. Se eu não me enganava, tinha gasolina guardada na garagem. E se não fosse o suficiente, eu também sabia onde ficava guardado o álcool.

*********

Enquanto dirigia pelas ruas de Stanford com Leon e Mandy no banco traseiro, imaginando onde eles poderiam passar aquela noite, Eliza se vira forçada a parar por um momento em uma lanchonete, já que a filha não parava de reclamar de fome.

Ela se aproveitou da pausa para ir ao banheiro, e pediu para os dois a esperarem em uma das mesas. Não ficara feliz ao voltar e encontrar Mandy falando com o pai em seu celular.

– Ele quer falar com você. – A menina tinha dito, lhe passando o aparelho, antes que ela pudesse reclamar. Mas Eliza certamente o teria desligado depois de pouco tempo se não tivesse começado a ouvir do outro lado da linha exclamações de dor e o barulho de algo sendo derrubado.

Aquilo fora mais que o suficiente para ela se esquecer de que tinha brigado com Rick, entrar com as crianças no carro novamente e fazer o caminho de volta para casa o mais rápido possível.

– Está tudo bem com o papai? – Não parava de perguntar Leon. Mandy estava muito assustada para falar qualquer coisa. – Mãe, responde!

– Leon, fique quieto por um minuto!

O trânsito parecia pior a cada segundo, atrasando-os. Eles demoraram cerca de quarenta minutos para chegarem à casa, e ao estacionar, Eliza tinha uma forte impressão de que era tarde demais, mesmo que se recusasse a imaginar para quê.

Os três saíram do carro e correram para dentro. Estava tudo escuro e silencioso, e Mandy e Leon dispararam para o andar de cima, supondo que o pai estaria lá. Eliza, por sua vez, ligou a luz primeiro, e a primeira coisa que enxergou foi a trilha de sangue até a cozinha.

Ela se sentiu horrorizada demais para pensar em como devia agir. Apenas seguiu as manchas no chão, andando devagar, desejando que o sangue pertencesse à Esther e ao mesmo tempo, sabendo que não era o caso.

E, ao chegar na cozinha, lá estava ele. O corpo de Rick, estendido no chão.

A mulher se sentiu tonta, e de repente não sabia mais se aquilo realmente estava acontecendo ou se ela estava sonhando. Em sua mente só havia o corpo, o sangue, e a fumaça...

“Fumaça” não deveria estar nessa cena, Eliza pensou, e isso a tirou do transe. Ela olhou em volta, para ver fogo se espalhando pelos móveis, alcançando-a – impedindo que ela chegasse à escada, e que também impediria as crianças de descerem.

– Mandy! – Berrou, tentando em vão passar pelo fogo. Duas vozes gritavam por ela do andar de cima. – Leon!

O fogo também tinha chegado à porta de entrada da casa, acabando com as chances de Eliza sair da casa também. Não que ela pretendesse sair sem os filhos.

Ninguém escaparia.

*********

Do quintal, observei o quão depressa o fogo engolia a casa dos Sullivan. Não haveria sobreviventes, eu sabia – naquele momento, três pessoas perdiam suas vidas para o fogo, cruel, destrutivo e lindo.

Eu não chorava mais. Era um espetáculo de beleza grande demais para que eu derramasse uma lágrima sequer.

Vieram vizinhos, vieram os bombeiros, veio a polícia. Não dei atenção a nenhum deles até uma policial colocar uma mão no meu ombro, e eu me virar, surpresa.

– Garotinha, o que você está fazendo aqui? É perigoso! Onde estão seus pais? – Perguntou ela, alarmada.

Apontei para a casa em chamas.

– Você morava aí? Ah, Deus. – Murmurou a mulher, antes de se virar e gritar para alguém: - Ei! Temos uma sobrevivente! – E se voltando a mim novamente: - Como se chama?

Lancei meu melhor olhar inocente, como se mal entendesse que minha suposta família estava morta.

– Meu nome é Esther.


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Notas finais do capítulo

Comentários e recomendações são sempre bem vindos ;) Muito obrigada por lerem até aqui! Até o próximo capítulo... Pela última vez nesta história. Quem acompanha minhas outras histórias também, no entanto, continuarão comigo XD Aliás, fãs de Harry Potter, poderiam ler minha nova fic? Vamos ficar juntos por mais tempo, assim. Deixo o link: http://fanfiction.com.br/historia/459044/Alem_do_Sangue/



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