O vento entrava frio, pela minha janela aberta. Só havia meu carro na estrada, e o rock clássico fluía livremente pelo meu radio velho.

Suspirei, e me permiti sorrir.

Esse era um dos meus poucos momentos de paz, minha caminhonete vermelha era meu porto seguro .Mas acho que isso é inevitável, já que ela é a única que não pode me julgar -ela roncou e eu bati no volante-. Montro velho e imprestável.

Sempre fui a garota “estranha”, sem meios termos. Eu era estranha.

Calças rasgadas, e uma blusa do Metálica, oque algumas pessoas chamavam de mal gosto, e nomeava como estilo.

Era certo que, o preconceito diminuiu muito ultimamente- não acabou, apenas diminuiu- em cidades grandes, se você sair na rua vestida de Jack Estripador, os adultos vão rir, as crianças chorar, nada demais ate.

Mas quando você mora em uma cidade pequena e chuvosa, ter um caderno do Kiss, era sinônimo de pacto com o mingote*.

As pessoas de Forks, eram chatas e velhas, e achavam que por ser filha de Charlie, o chefe de policia da cidade. Eu deveria ser um símbolo de doçura e amor. Claro que não era bem assim , então sempre que eu passava com meu cabelo despenteado, elas me fulminavam com os olhos.

Estacionei na minha vaga, xingando a chuva que começara assim que eu sai do carro, coloquei meu casaco, e meus fones de ouvido, me assustei com a voz do James Hetfield, e sorri sozinha, duas meninas que passavam me olharam torto, joguei um beijo pra elas, e sai andando. Esse era o meu inferno particular.

*Não gosto de falar o nome do "de lá de baixo", espero que não se  

importem.