Insônia. Era a única coisa que eu conseguia sentir nos últimos dias, porque eu sequer conseguia me lembrar quando foi a última vez que fiz uma refeição descente. Eu não sentia fome, além de não conseguir olhar pra comida sem sentir enjôo.

Parecia uma mulher, mas eu nunca tive um emocional muito forte. E depois de ser trocado por alguém que julguei ser meu amigo, tudo só piorou. E eu também não conseguia me lembrar quantas vezes ouvi “Esqueça isso, ele nunca te mereceu.” ou “Você devia se alimentar.”. É fácil demais julgar uma situação vendo-a de fora...

Levantei-me da cama e, após calçar minhas pantufas, arrastei-me até a cozinha em busca de um copo d’água. No caminho, senti Chiko roçar em minha perna. Ele sabia que eu não estava bem, mesmo que tentasse de todas as formas me animar. No final, eu só podia confiar em um animal, afinal, ele está ao meu lado há 16 anos e nunca traiu minha confiança. Com algum esforço, estendi minha mão para acariciar sua cabeça, logo sentindo sua língua a deslizar pela palma da minha mão.

Adentrei a cozinha, tendo Chiko em meu encalço, seguindo-me de perto. Peguei um copo limpo sobre o balcão, enchendo-o com água, logo levando-o aos lábios, sorvendo aquele líquido transparente. Não demorou muito Até que eu sentisse meu estômago embrulhar. Deixei o copo pela metade sobre a pia e fui para a sala, me jogando de qualquer jeito sobre o sofá, nem mesmo me dando conta do momento em que voltei a dormir.

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Acordei assustado, olhando ao redor para distinguir onde eu estava, porque minha visão estava turva devido ao sono e ao modo abrupto com o qual fui acordado. Eu odiava o som daquela campainha maldita...

Xingando vários palavrões, que nem mesmo me importei de estar proferindo-os em voz alta, fui atender ao desgraçado que havia me acordado. Chiko havia ficado no sofá oposto ao que eu estava dormindo, porém seus olhos estavam me seguindo, como ele sempre costumava fazer.

Destranquei a porta e, ao abri-la, minha expressão de surpresa não poderia ser mais engraçada. Porque ver meu primo era a última coisa que eu esperava em minha vida. Sem que eu tivesse chance, aquele esquilo hiperativo pulou sobre mim e, devido ao fato de eu estar fraco, acabamos por cair no chão.

E não demorou até que uma tempestade de palavras caísse sobre mim, da qual eu não havia entendido nem mesmo 1/3 da metade...

- Saga-kun! Que saudades!

- Hiroto, dá pra sair de cima de mim? – e eu quase não tinha fôlego pra falar.

- Ah, desculpa. Acho que me empolguei um pouco...

- Então, o que veio fazer aqui?

- É assim que você trata um primo que não vê há anos? – e o bico que havia se formado em seus lábios fora adorável, afinal.

- Desculpe, eu só não estou muito bem.

- Eu tentei te ligar, mas acho que você não estava. Então, eu vim morar com você. Minha avó morreu e eu só tinha você a quem recorrer. Espero que não se importe...

E eu, realmente, ainda não acreditava que aquele ser risonho e alegre demais estava vindo morar comigo...

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