(Des)apego escrita por Nina


Capítulo 2
Capítulo 1 - Dia de Partir


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de agradecer a Soshy e a Annie por serem as primeiras a comentar, quem sabe com essa iniciativa mais pessoas não se animem a fazê-lo, não é mesmo? haha Espero que gostem do capítulo.



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Saí do banheiro envolta em uma toalha, e assustei-me ao perceber que Matthew continuava do mesmo jeito em que eu o havia deixado antes de ir tomar banho. Senti minhas bochechas esquentarem, mas decidi ignorar o fato. Ele olhou em minha direção no momento em que a porta do banheiro bateu atrás de mim, mas parecia não ter visto nada que realmente lhe importasse, pois segundos depois voltou sua atenção para os desenhos no teto do meu quarto que imitavam um céu estrelado. Acho que sequer é necessário dizer o quão frustrante foi aquela situação, não é? Por mais que eu não goste de Matthew e que basicamente não o considere em nada, ser ignorada por um garoto no instante em que acabara de sair do banho não é bom para o ego de qualquer garota, ainda mais levando-se em consideração de que eu me encontrava apenas com uma toalha.

Bufei como se sua presença não merecesse minha atenção ou se sua falta de interesse no meu corpo não me afetasse nem um pouco. Abri a porta do meu guarda-roupa a procura de algo confortável para vestir, seriam longas horas de viagem até Cambridge- Massachusetts, e como meu pai e o de Matthew pareciam desenvolver sérios problemas mentais quando se reuniam, decidiram que seria muito mais empolgante caso fossemos de carro - passando mais tempo que o necessário juntos -, como se o conforto, rapidez e segurança de um avião pudessem ser facilmente substituídos pelo banco revestido de um Zenvo ST1 qualquer.

– Você poderia se arrumar um pouco mais rápido? São pelo menos doze horas de viagem até Massachusetts. - ele dizia de modo impaciente.


– Talvez se você me desse licença, eu poderia me arrumar mais rápido. - disse enquanto fazia acrobacias para conseguir vestir minha roupa íntima e segurar a toalha ao mesmo tempo. Eu até poderia voltar para o banheiro e me trocar, mas como não havia pensado nessa possibilidade antes, eu o deixara de um modo no qual era praticamente impossível entrar lá e encontrar algum espaço no qual não estivesse úmido o suficiente para acabar com qualquer roupa que colocasse ali.


– Se eu sair, você vai enrolar ainda mais. Eu te conheço, Heather. - ele revirou os olhos e eu fui obrigada a repetir o gesto. Eu realmente enrolaria ainda mais caso estivesse sozinha. Qualquer minuto a mais que conseguisse longe daquela máquina mortífera que ele chamava de carro e de sua própria presença seria maravilhoso.



Vestir meus shorts branco com a toalha não foi uma missão impossível. Olhei para Matthew e ele agora abria as gavetas do meu criado-mudo distraídamente. Bufei, ele não saíria dali enquanto não terminasse. Constatei que a borda da minha toalha estava bem presa na lateral e peguei um sutiã que mais se parecia á um top de ginástica, o fecho na frente ajudaria bastante nessa situação. De uma maneira bastante desengonçada tentei fechar o mesmo sobre a toalha, mas não estava dando exatamente certo.



– Sério Matthew, isso não está dando certo. Dá pra você sair? Não estou nem um pouco afim de mostrar meus peitos pra você. - disse cruzando os braços sobre os mesmos. Ele me olhou de maneira divertida, como se estivesse imaginando a situação. Olhei-o com a testa franzida, esperando que tomasse alguma atitude, mas ele apenas se deitou de bruços na minha cama, deixando sua bunda muito bem trabalhada à minha vista. - O que você tá fazendo?



– Você disse que não queria que eu visse seus peitos, dessa forma eu não os vejo. - sua voz saíra um pouco abafada por seu rosto estar amassado contra meu travesseiro. Matthew era mestre em encontrar soluções alternativas e absurdamente estúpidas para conseguir fazer apenas o que ele realmente queria. Virei de costas da direção em que ele estava apenas por segurança, apesar de que eu poderia estar virada em sua direção e bem próxima que provavelmente, ele sequer levantaria o rosto - nem que mínimamente - para espiar. Seu desenteresse em mim era nítido. Talvez por essa razão meu pai confiasse tanto nesse irritante.




Tentei vestir o resto de minhas roupas com rapidez. A regata preta que havia escolhido parecia querer brincar comigo, pois embolou de todas as formas possíveis, atrasando-me ainda mais. Em algum momento desisti de lutar contra ela e apenas joguei um moletom cinza bem fofinho e largo por cima. Sentei-me na cama, em um pequeno espaço que ainda restava - Matthew era grande o suficiente para ocupá-la quase por completo - e apenas nesse instante o senhor perfeição virou o rosto na minha direção. Calcei meus all-star pretos e levantei indo em direção ao espelho para tentar dar uma última ajeitada na regata por baixo do moletom.





– Sério mesmo que você demorou tudo isso para vestir um moletom? - ele perguntou incrédulo. Eu apenas ignorei seu comentário e saí do meu quarto indo em direção à cozinha. Ouvi passos atrás de mim e não precisei olhar para saber que era Matthew. Ele dormira aqui em casa noite passada, com o propósito de que pudéssemos sair o quanto antes, mas acabou que com a minha pequena saída de madrugada às escondidas, eu não conseguira acordar no horário certo. Ao menos uma vantagem tinha nessa estúpida ida de carro - não corríamos o risco de perder as passagens.




Sentei na bancada da cozinha e me abracei à pilastra. Ainda estava com sono e minha cabeça doía. Matthew balançou a cabeça em sinal de negação e começou a vasculhar as gavetas próximas à pia. Eu sabia disso apenas pelo barulho, meus olhos estavam fechados, parecia quase um sacrilégio deixá-los abertos.





– Ei, toma isso. - ele disse logo que me balançou de leve, entregando-me comprimidos e um copo de água. - E vê se come alguma coisa também, não quero ter que parar demais por causa de enjôos.






Apenas assenti e peguei o remédio de suas mãos. Assim que terminei com a água ele tomou o copo de minhas mãos e me puxou devagar da bancada, quase me arrastando para a mesa. Em cima desta havia alguns pães e frutas, olhei com desagrado.






– Onde estão os waffes?






– Marta já foi embora. Sabia que já são quase dezessete horas? Era para termos saído às quatorze. - reclamou.





– Nossa, perdão por estragar seus planos. - disse seca. - De qualquer forma, foi você quem me acordou. Por que não fez isso três horas atrás? - comentei enquanto pegava uma maçã e a comia lentamente.




- Quer ovos? Só uma maçã não vai fazer com que não tenha enjôos. - apenas assenti, ignorando o fato dele não ter respondido minha pergunta.


Matthew é uma pessoa bastante estranha, a nossa relação é algo bastante estranho. Não nos considerávamos realmente amigos, mas quase sempre nos ajudávamos. Acredito que mantinhamos algo por questão de conveniência, e claro, pelos esforços de nossos pais para sermos os melhores amigos para sempre. Claro que aquele era um desejo estúpido, mas eu não os culpava por sonharem alto. Talvez a idade junto com as várias quartas-feiras de chopp tenham afetado o cérebro deles.


Assim que terminei de comer os ovos Matthew pegou o meu prato e os talheres, depositando-os dentro da lava-louças e apertando alguns botões como se já estivesse acostumado com aquilo. Eu estava começando a me sentir ridícula por não saber sequer como usar a lava-louças da minha própria casa, enquanto o Knowels parecia saber usá-la com maestria. Mas é claro, o que o senhor perfeição não conseguia fazer, não é verdade?


Agora eu já conseguia ficar com os olhos abertos sem ter que mover o mundo para isso, sendo assim, levantei-me da cadeira e fui em direção ao meu quarto para pegar duas malas de mão que havia resolvido levar de última hora. O resto das minhas bagagens Matthew já havia colocado nos bancos traseiros de seu carro, juntamente com as suas.



– Tudo certo para irmos? - ele perguntou assim que entrou em meu quarto.




– Hm... Sim. - foi o que respondi. Na verdade, não tinha muito o que se falar com relação àquela pergunta. Não havia como eu simplesmente dizer que não e começar a fazer birra para ficar em casa. Meu pai poderia ser um dos pais mais diferentes, divertidos e compreensivos que eu já conhecera, mas quando se tratava de seus planos revolucionários que visavam a melhoria da minha vida não havia muito o que se questionar para fazê-lo mudar de ideia.





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