POV Amy

Eu ainda não estava bem recuperada em relação ao que tinha acontecido. Não consegui me aguentar, lágrimas escorriam por todo meu rosto. Eu não tinha problema nos meus irmãos me verem chorando. Pelo menos não até ELA aparecer.

Ela estava no chalé lendo algum livro que eu nem me dei ao trabalho de olhar a capa. Seu cabelo ruivo brilhava feito chamas com a luz do sol que passava através da janela. Eu a ignorei afundei meu rosto no travesseiro pra tentar esconder o choro.

Mas um momento depois eu senti uma mão no meu ombro.
- Quer conversar? - perguntou uma voz doce e bondosa. Levantei o rosto e olhei para a pessoa ao meu lado. Luisa.

– Porque quer conversar comigo? - perguntei, tentando esconder a raiva.

– Porque... Bem... Eu tenho um certo dom para sentir as emoções de outras pessoas... Especialmente as ligadas a mim de alguma forma...
Me assustei. Esse não era um dom de filhas de Atena, estava mais para uma filha de Afrodite...

– E eu estou sentindo sua dor, sei que você precisa conversar. Mesmo que você tenha se vingado, isso não te ajudou de forma alguma.

Fiquei ruborizada. Ela estava certa. Resolvi ouvi-la.

– Como você acha que pode me ajudar? - perguntei.

– Seu namorado te traiu se estou certa - disse ela, mas ela realmente parecia desconhecer quem era a pessoa.

– Você... Realmente não sabia, não é?

– Sobre o Connor? Não, não sabia...

– Você já o conhecia? -perguntei cautelosa. Parecia que ela conhecia ele a mais tempo pela maneira que ela falava.

– Sim, eu já o conhecia. Ele estudou comigo até três anos atrás... Eu sempre fui apaixonada por ele... E ele por mim. Nós tínhamos começado a namorar à 4 anos. Durou um ano, até que ele teve que mudar de cidade...

– Vocês já namoraram?

–Sim... Mas ele teve que se mudar, e me disse: Por enquanto está acabado nosso namoro, mas um dia nos voltaremos a nos ver. E então retomaremos tudo. Quando voltei a vê-lo aqui no Acampamento, pensei que ele não se lembrava dessa promessa, mas descobri que ele lembrava. Mas ele não me disse que estava namorando...

– Me... Me desculpe... Eu não sabia disso... - falei.

– Os últimos três anos foram horríveis para mim, eu realmente o amava, não era uma simples paixonite. Hoje quando ele me beijou ele me disse: Você é e sempre será única na minha vida. Eu não devia ter ficado com nenhuma outra durante esse tempo... Não deveria ter destruído o coração de nenhuma outra garota, além de ter destruído o meu.

Eu estava de boca aberta. Ele deveria ter me contado, mas talvez ele não esperasse encontrar seu grande amor tão logo.

– Ele viu você correndo depois de nos ver. Ele foi atrás de você, mas não o ouvistes... Por favor, o perdoe... Ele não fez por mal... E quanto ao fato de ele ter te xingado antes... Ele me pediu que eu pedisse desculpas a você. Ele queria fazer isso pessoalmente, mas pensou que você não iria ouvi-lo, o que eu acho que ele tenha razão, e além do mais eu não o deixei sair da enfermaria. As costelas dele ainda não se recuperaram direito. Eu acho que estou falando demais, desculpe...

– Não me importo - falei. Quanto menos eu tivesse que falar, melhor para mim. Não queria que ela percebesse algo a mais na minha voz...

– Eu estou trabalhando em parte na enfermaria - falou ela, o que me surpreendeu ainda mais - Tenho benção de Apolo - explicou.

– Você tem poderes incríveis - falei para ela, admirada.

– O...obrigada... - falou ela, com o rosto vermelho.

– Eu não sei se algum dia vou perdoar o Stoll... Pelo menos pelo que ele me fez... Provavelmente fiquei mal falada por todo o acampamento... - falei.

- Não ligue para o que os outros pensam... Posso te contar um segredo?

– Você já confia o suficiente em mim para isso? - perguntei em resposta.

– Se você me ouviu depois de tudo que passou, porque eu não confiaria?

– Conte então...

– Antes de eu vir para o acampamento, Atena veio falar comigo.

– O que ela queria?

– Amy, eu sou uma deusa menor. Sou fruto de uma paixão proibida...

Eu pulei da cama.

–Quem é seu pai?

– Meu pai é Poseidon, eu sei que parece impossível, mas... Bom, eu já sabia de tudo antes de vir para o acampamento, fui mandada para cá para treiná-los... E porque mamãe acha que eu posso protegê-los. Pode não parecer, mas ela realmente quer que vocês fiquem bem.

–Connor já sabia na época?

–Sabia. Sempre soube.

–Luisa, eu... Eu agradeço pela ajuda... - falei

– Não há de que. Eu não queria que você me odiasse de um jeito ou de outro.Você precisa tomar um ar, venha, vamos lá para fora...

– Com essa cara de choro? - perguntei

– Lave o rosto, qualquer coisa o vermelho desaparece com maquiagem...- disse

– Okay...

Fui para o banheiro do chalé e lavei bem o rosto. Respirei fundo, penteei o cabelo e sai. Luisa foi logo atras de mim.

Alguns campistas apontavam para nos e faziam piadinha. Fiz o máximo para ignorar. Realmente Luisa não era uma pessoa ruim, pelo contrario.

– Amy, eu... Eu já volto... - disse Luísa, indo em direção a enfermaria. Provavelmente iria ver Connor. Eu nao a culpava, ela nao sabia que eu estava namorando com ele. E eles já se conheciam. Pensei na possibilidade de ir fazer uma visita a ele, mas decidi que isso so resultaria em confusão para nos dois. E talvez eu ainda prejudicasse Luísa. E eu nao queria isso. Ela fazia parte da minha família agora. E família significa nunca esquecer ou abandonar. Ou prejudicar. Eu nao iria ignorar essas regras que havia criado em minha mente.

Fui para a arena lutar um pouco e tentar esquecer, mas quando estava chegando lá, vi quem era o treinador no dia de hoje. Nico. Resolvi fazer a volta e ir para o treino de arco-e-flecha.

Andei até o local da aula de arco-e-flecha e percebi alguém olhando para mim. Ele devia ter me ouvido chegar(não sei como, já que eu estava andando muito silenciosamente tomando cuidado para PISAR nas folhas secas). Meus olhos se encontraram com os dele por um instante, tentei desviar o olhar, as não consegui. Travis me olhava de uma maneira que não era possível fugir.

– Amy... - falou ele, calmamente - Você... Ainda está com raiva? - perguntou.

– Eu... Não, já estou melhor. - falei, incerta agora.

– Tenho, tenho certeza. Eu acho que não devia ter feito aquilo com seu irmão antes de ouvir a outra versão da história... Se bem que ele me xingou, então não me sinto TÃO culpada assim.

– Amy, vamos conversar- disse ele, vindo até mim e pegando minha mão. Não me lembrava de algum outro garoto já ter feito isso, mas não liguei. Ele me levou até um banco afastado onde não se encontrava nenhum campista. Ele se sentou e eu fiz o mesmo.

- É verdade que vocês já conheciam a Luisa antes? - perguntei, agora com tal dúvida.

– Sim, a casa dela era perto da nossa e estudávamos juntos. Connor e ela sempre andavam juntos. Depois de uns anos eles começaram a namorar... Foi então que tivemos que nos mudar. Ele foi rapidamente à casa dela aquele dia e eles ficaram uns minutos na varanda. Não sei o que ele falou para ela, mas eu vi que ela estava chorando. Depois disse: Tudo bem, eu vou te esperar. Não sei se ela teve algum outro namorado depois dele... Conhecendo ela, é bem capaz que não.

Tentei evitar a lágrima que ameaçava escorrer pelo meu rosto. Tentei imaginar como minha irmã se sentiu durante esses anos.

– E você, já teve alguma namorada? - perguntei, curiosa.

Não sabia o que estava fazendo, mas perguntei:

– Você se incomodaria em dizer quem é essa garota?

– Acho que não... Essa garota está bem ao meu lado agora...

Levanto a cabeça um pouco incerta do que fazer, surpresa e um pouco confusa. Travis nunca pareceu gostar de mim.

– Sou eu?

–Não, é minha amiga imaginária que está aqui...

Finjo que afundo a cabeça nas mãos, como se estivesse muito chateada.

–Brincadeira, sim, essa garota é você. Sempre, desde que te vi pela primeira vez nesse acampamento. Eu te amo exatamente do jeito que você é.

Eu senti meu rosto queimar. Eu devia estar tão vermelha quanto uma pimenta agora. Segurei o rosto com as mãos para tentar evitar que ele percebesse, mas ainda assim ele percebeu.

–Quer que eu te dê um tempo para ficar sozinha? - perguntou.

Eu olho para ele rapidamente e então começo a correr sem rumo, só querendo me afastar dele, do acampamento, de tudo.

Meus cabelos correm ao vento e minhas lágrimas escorrem até meu pescoço. Todos os campistas que eu passo perguntam se estou bem, mas não dou-lhes atenção.

Toco minha pequena adaga presa em meu cinto. Isso faz eu me sentir segura.

Quando chego ao pinheiro de Thalia, Nico di Angelo está lá, com seu jeans furado e seu casaco dos Ramones surrado. Ele olha para trás:

– Gilbert?

Eu apenas olho para ele por alguns segundos e passo por ele sem nem ao menos olhar para trás. Chega de Nico, Connor e Travis! Chega de tristeza! Chega de garotos!

Estou fora da barreira do acampamento, mas mesmo assim não paro de correr. Acho que já alcancei uma distancia razoável quando finalmente me sento no chão e afundo minha cabeça nos joelhos. Estou confusa. Enxugo minhas lágrimas com a manga de meu suéter azul velho.

Deito na grama mal aparada e fecho os olhos, tentando limpar a mente.

O sol esquenta minhas bochechas. Suspiro. O sol sempre me faz relaxar.

Já estou deitada há uns quinze minutos quanto sinto que de repente algo cobriu o sol. Como se tudo estivesse escurecido. Sinto o ar quente e o bafo de carniça vindo em meu rosto e abro os olhos.

E lá está ele. O enorme e temido minotauro.

Solto um grito abafado, mas tenho certeza que ninguém pode me ouvir.