POV’ Clara

Os meus sonhos são estranhos. Cara, vou abrir uma barraquinha no centro. Leitura de sonhos. Praticamente tudo que acontecia nos meus sonhos se realizava.

Depois que Lipe foi embora eu fiquei pensativa. Ele me disse muito, mas estava me escondendo alguma coisa. Ele ficou tenso o tempo inteiro, mesmo depois de eu tentar acalmá-lo. Nosso lanche foi silencioso e ele comia devagar.

Contei para a minha mãe quando ela chegou, mas ela me disse que era coisa da minha imaginação. Quando dormi, não tive sonho nenhum.

Lipe estava estranho. Sempre estava com o humor diferente: de um minuto para outro, ele ficava mais radiante que uma estrela; depois ficava depressivo; aí ficava nervoso, agressivo. Ele nunca me bateu ou algo parecido, mas ficava bravo com qualquer coisa.

O fim de semana chegou e eu fui para a excursão. Não foi nada de mais. Um museu e um centro de recreação. Na terça-feira Lipe não foi para a escola, nem na quarta-feira. Eu ligava, mas ele não me retornava, então resolvi ir na casa dele.

O pai dele me atendeu muito triste, e quando a mãe dele me viu, começou a chorar.

- Hum... algum problema? – eu perguntei me sentando no sofá.

- Meu filho! Por que o meu filho?! – a mãe de Lipe se queixou.

- Querida – disse o pai do Lipe –, você sabe alguma coisa do Felipe?

- Eu vim aqui saber dele. Faz dois dias que ele não vai pra escola. O que aconteceu? – eu estava muito nervosa.

 - Na terça-feira de manhã, ele não estava em casa. Ele fugiu.

Eu entrei em choque. Como assim? Ele tinha fugido de novo? As lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Os pais dele me abraçaram.

- Eu... será que eu posso ir no quarto dele?

- Pode. Sobe lá.

Chegando no quarto dele, já pude sentir o cheiro do Lipe. Aquilo me derrubou, literalmente. Eu sentei no chão e coloquei as mãos no rosto. Isso não é verdade, eu pensei, é só um pesadelo. A qualquer minuto eu vou acordar e Lipe vai para a escola comigo. Tive uma idéia, peguei uma foto do mural dele e guardei na bolsa. Dei uma última olhada em tudo e desci as escadas. Me despedi dos pais dele e prometi dar notícias se soubesse de alguma coisa.

Minha mãe veio me consolar. Disse que qualquer hora ele iria voltar e que ele não gostaria de me ver chorando, para eu ser forte.

Peguei uma virose. Nem fui para a escola na quinta-feira e na sexta-feira. Fiquei de cama, chorando e me remoendo de saudade e medo. Ficava olhando aquela foto e me lembrava de cada momento, como um flashback.

Comecei a colocar a minha idéia em prática. Era um sábado, e as ruas estariam movimentadas. Falei para minha mãe que iria estudar na casa da Mel, mas eu fui andar pelas ruas com a foto dele, perguntando para qualquer pessoa que eu visse.

Depois de três horas de perguntas e procuras sem sucesso, eu fui até uma lanchonete comer alguma coisa. Depois de tomar uma Coca-Cola e comer um hambúrguer eu pedi ao dono do lugar se eu podia colocar o aviso na janela dele. Ele deixou e logo depois eu saí.

Depois eu ouvi um tiro e voltei para dentro.